sábado, 15 de janeiro de 2011

7652 - A GRAND DEPRESSÃO DEW 1929 NA ALEMANHA

Rodrigo Constantino
Monday, December 04, 2006
A Crise de 29



Rodrigo Constantino

“O crédito adicional que o Fed injetou na economia se espalhou para o mercado financeiro - provocando um crescimento especulativo fantástico. Em 1929 os desequilíbrios especulativos tinham-se tornado tão exagerados que a tentativa de enxugar as reservas adicionais precipitou uma aguda retração e a conseqüente desmoralização da confiança dos empresários. Em conseqüência, a economia americana desmoronou.” (Alan Greenspan)

Quando falamos da Grande Depressão de 1929, automaticamente culpamos o livre mercado. As conseqüências de tal conclusão precipitada são extremamente perigosas. As políticas interventoras do Estado passaram a ser vistas como necessidade vital para a economia. Os resultados foram insatisfatórios em todos os lugares. Faz-se crucial, portanto, mostrar que não foi o mercado que falhou em 29, mas sim um governo hiperativo.

A inflação costuma ser causada pelo aumento da oferta de moeda e crédito. Desta forma, fica mais evidente compreender porque uma política expansionista de moeda não consegue apresentar bons resultados no médio prazo, já que o aumento das expectativas inflacionárias levará a um aumento dos juros. Inúmeras evidências empíricas corroboram com isso, principalmente nos mercados emergentes, onde os governos sempre utilizaram políticas expansionistas de moeda para estimular a ecomomia e acabaram com as maiores taxas de juros do mundo.

A inflação não é a única conseqüência indesejável de um aumento de oferta de moeda e crédito por parte do governo. Esta expansão costuma distorcer a estrutura de investimento e produção, causando excessivo investimento em projetos ruins na indústria de bens de capital. Somente uma recessão pode corrigir este processo, com a liquidação de tais investimentos realizados durante o boom. A existência de um banco central interventor impede esse ajuste natural, alimentando ainda mais novos investimentos indesejáveis, através de uma política monetária frouxa, adiando o problema mas também amplificando ele.

Para tentar salvar o país dessa recessão desejável para liquidar os excessos, o governo acaba criando novos problemas e potencializando a crise. Quando tenta manter os preços artificialmente altos durante esse processo, apenas faz com que mais estoques sejam criados, evitando o retorno mais rápido à prosperidade. Quando os salários ficam mantidos no processo de deflação, reduz ainda mais as margens das empresas e leva ao aumento do desemprego. Quando aumentam os gastos do governo, conseguem estimular a economia somente por um pequeno espaço de tempo, pois isso apenas reduz a poupança privada necessária para novos investimentos produtivos, retardando bastante a recuperação sustentável. Os governos deveriam compreender que a política mais adequada para adotarem numa fase de depressão é justamente não interferir no processo de ajuste. Claro que isso não acontece na prática, pois cada governo foca apenas no seu curto mandato, e acaba interferindo para se livrar do problema, passando-o adiante. Mas o tempo cobra o preço da irresponsabilidade, e quem paga é o povo.

Com a teoria em mente, vamos aos dados. Durante todo o período do boom, a oferta de moeda aumentou em US$ 28 bilhões, um incremento de 62% num espaço de 8 anos. Isso representa uma média anual de 7,7% de aumento, um grau respeitável de inflação. A reserva de ouro neste mesmo período cresceu apenas 15%. Além disso, o governo reduziu as reservas compulsórias dos bancos comerciais, incentivando uma migração de depósitos à vista para depósitos à prazo, que estimula o crédito. O Federal Reserve foi o principal responsável pelo aumento das reservas bancárias neste período, precipitando uma aceleração do processo inflacionário.

Outros mecanismos utilizados pelo governo foram o desconto de duplicatas e o open market. O banco central induziu um aumento do crédito através da política de redesconto, que ao invés de ter uma taxa de juros punitiva, estimulava novos empréstimos, por ficar abaixo das taxas de mercado. Objetivando estender crédito para a agricultura, o Fed foi extremamente frouxo em sua política de crédito. Mas como o dinheiro não tem carimbo, esse excesso de liquidez se espalha por todos os setores, principalmente para bens de capital e mercado financeiro. O clima de prosperidade eterna foi agravado pelas declarações de importantes nomes da época, como o próprio presidente Coolidge.

Além do foco doméstico, a situação da Europa contribuiu bastante para que o governo americano adotasse políticas inflacionárias. A Alemanha, um dos principais credores dos EUA na época, estava com pouco capital, arruinada pela guerra. Os banqueiros americanos, atraídos pelas enormes comissões de empréstimos a governos estrangeiros, enviaram centenas de agentes para prospectar novos credores. A pressão em cima do governo, tanto desses banqueiros como dos próprios governos europeus, acabaram por estimular ainda mais o crédito abundante e barato, inevitavelmente inflacionário. Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, reconhece o desastre que foi “a tentativa do Fed de ajudar a Grâ Bretanha que vinha perdendo reservas de ouro para os Estados Unidos porque o Bank of England recusou-se a permitir que as taxas de juros subissem quando as forças do mercado assim demandavam”.

Em linhas gerais, deve ficar claro que a responsabilidade pelo período inflacionário que antecedeu e causou a crise de 29 recai sobre o governo, não o livre mercado. O governo dos Estados Unidos plantou as sementes do que foi a Grande Depressão. Infelizmente, a interpretação foi diferente, provavelmente por falta de conhecimento tanto dos fatos como da teoria econômica. O mundo entrou numa nova fase em que a intervenção do governo na economia passou a ser ainda mais desejada. Acreditava-se que se o governo agisse de forma expansionista durante uma recessão, a economia poderia crescer indefinidamente sem grandes sustos. Para um problema criado pelo governo, a solução proposta acabou sendo justamente mais governo.

Os erros do passado devem servir de lições para o presente e futuro. Governo algum em lugar algum do mundo conseguiu alterar as leis econômicas com uma caneta e um papel. Quanto mais o governo tentar artificialmente estimular o crescimento econômico, mais dolorosa será a ressaca inevitável. Ninguém consegue se suspender puxando os próprios suspensórios!

posted by Rodrigo Constantino at 4:32 PM

9 Comments:Rodrigo, otimo artigo.

Vale sempre lembrar que "America's Great depression" do M. Rothbard esta disponivel em pdf.

o endereço é este:

www.mises.org/rothbard/agd.pdf

Abraços, Guilherme.

ps. gostou da forma como a entrevista foi publicada?

By Guilherme Roesler, At 9:44 PM

"Infelizmente, a interpretação foi diferente, provavelmente por falta de conhecimento tanto dos fatos como da teoria econômica". Será que foi por ignorância apenas? E o papel de Keynes e dos socialistas fabianos?

By O Direitista, At 11:31 AM

Caro Rodrigo,
Gostaria de saber se existem livros em Português que tratam do problema da Grande Depressão sob uma ótica liberal, ou melhor, não "keinesiana".
A Grande Depressão, aliada ao suposto sucesso do modelo previdenciário sueco, são os dois cavalos de batalha usados pela maioria dos defensores do intervencionismo estatal quando se deseja discutir a validade deste.
Obrigado pela atenção e parabéns pela alta qualidade dos textos do seu blog.

By Alexandre, At 1:22 PM

Caro Rodrigo Contantino, o artigo está muito bom! Meu amigo Rodrigo arantes, do IL, está me ensinando muito a importância da investigação econômica - incluindo nos estudos jurídicos, posto que tem sido um enorme problema os juristas não terem essa formação econômica! Eles ficam muito presos ao presentismo da legislação estatal, e esquecem a questão da real importância da lei como assimilador dos custos de transação, decorrentes das externalidades! O que seria preciso para renovar essa cultura jurídica, introduzindo fundamentos econômicos?

By José Octavio Dettmann, At 9:52 AM

O livro Ação Humana, de von Mises, fala em um dos seus capitulos sobre a causa dos ciclos economicos e dos boons. Leitura recomendada.

By Eugênio Bruno, At 3:05 PM

Rodrigo, há vários pontos interessantes no que você colocou. 1) A sua correta observação de que o problema da crise ocorreu através da expansão monetária e a expansão do crédito feita pelo governo. Poucas coisas são piores do que a associação de bancos fraudulentos com o governo - que é exatamente o que ocorre quando se abandona o padrão ouro; 2) do ponto de vista da teoria austríaca dos ciclos econômicos (ABCT), a visão da crise é diferente das outras, que consideram que a crise é a diminuição da atividade econômica, ao passo que para os austríacos a crise é vista de um modo mais amplo, que inclui o boom inicial - que ocorre através da expansão do crédito sem o correspondente aumento da poupança. Nessa perspectiva, os problemas advindos da crise não são o ponto realmente problemático, pois é precisamente a etapa necessária para a recuperação dos desvios econômicos causados na estrutura de produção ocorridos pela expansão do crédito e a da moeda. Quanto mais se prolonga o boom, maior é o desperdício de capital; 3) seguindo (2), a crise tem causas monetárias, mas ocorre por efeitos reais. Ou seja, a crise não é apenas inflação. O problema é que os investimentos em bens de capital são mal calculados, porque o governo manipula o sinal que permite o cálculo econômico. Em outros termos, a economia de mercado funciona através do cálculo econômico, que só é possível através da moeda. O governo perverte os sinais. Resultado: as empresas calculam errado. Um ponto interessante é que a ABCT consegue explicar, usando o deslocamento do triângulo de Hayek, o que ocorre que nas crises o setor de construção civil sempre se dá mal!
Um ponto que eu acho que você deveria ter explorado mais é que o próprio Hoover iniciou o New Deal. É claro, nominalmente, o New Deal é um programa do Roosevelt. Mas boa parte das medidas - como o enrigecimento do mercado de trabalho - já havia ocorrido com Hoover e este considerava-se o pai do New Deal. Então, longe de salvar os EUA da crise, o New Deal é uma das suas causas. Além disso, se o New Deal fosse essa coisa tão maravilhosa como os keynesianos dizem, como é possível que a renda dos americanos só tenha chegado aos níveis de 1929 mais de uma década depois?!

By Bernardo V. Emerick, At 11:43 AM

Interessante é que Greenspam é tido como um dos responsaveis pela inundação da economia americana com dinheiro à custo zero. Os americanos passaram a comprar o que não precisavam com o dinheiro que não tinham ( ver Empire of Debt: The Rise of an Epic Financial Crisis ). Um Banco Central não é uma forma de constante intervenção no tal de mercado? O Império Britânico abriu os mercados com sua Marinha: na base do canhão. Greenspan é uma contradição ambulante. Infelizmente, como boa parte dos economistas. O futuro , ou o presente, é a economia evolucionária . Leiam Georgescu Roegen ( Harward) os que vieram em seguida. A economian nunca escapará da coexistência entre os que um chamam de "mercado" e seu controle. A evidência empírica mostra isto

By ebittencourt, At 9:43 PM

O mercado livre acarretará distorções cada vez mais profundas na sociedade. A Teoria Liberal não foi capaz de evitar a Crise de 29 e não será agora, com explicações das mais imaginativas, que retornará ao "glamour" de quase um século atrás.

By Thiago, At 4:48 PM

oi, alguem me ajuda a vencer um debate contra um cara formado em economia que defende que o estado regule o mercado?

By Oilusionista, At 2:37 PM

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AboutIdéias de um pensador independente e liberal ___ "Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos." (Mário Vargas Llosa)

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Rodrigo Constantino é formado em Economia pela PUC-RJ, e tem MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalha no setor financeiro desde 1997. É autor de cinco livros: "Prisioneiros da Liberdade", "Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT"", "Egoísmo Racional: O Individualismo de Ayn Rand" ,"Uma Luz na Escuridão" e "Economia do Indivíduo: O Legado da Escola Austríaca". É colunista da revista Voto, do caderno Eu&Investimentos do jornal Valor Econômico, do jornal O Globo e do site OrdemLivre.org. É membro-fundador do Instituto Millenium e diretor do Instituto Liberal. Foi o vencedor do Prêmio Libertas em 2009, no XXII Fórum da Liberdade.

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