quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

8164 - GUERRA DO PACÍFICO

A GUERRA DO PACÍFICO

Universidade de Brasília, Dezembro de 1999, Departamento de Letras - Tradução, Curso de Licenciatura em Língua Japonesa, Disciplina: Sociedade Japonesa Contemporânea, Professora: Donatella Natili





SUMÁRIO



01 - INTRODUÇÃO

02 - A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, UM ASSUNTO ATUAL

03 - BREVE RETROSPECTO HISTÓRICO

04 - O MILITARISMO NA ERA MODERNA PRÉ-GUERRA

05 - A GUERRA DO PACÍFICO

06 - MIDWAY

07 - O REVÉS

08 - A RETIRADA

09 - CONSEQUÊNCIAS

10 - ...



TOTAL MÉDIO DE CARACTERES: 45.000





Dedico este trabalho a meu pai, Leandro Reis.

De quem herdei o interesse pela Segunda Guerra Mundial e pelo Japão







INTRODUÇÃO



A humanidade possui alguns princípios primários idênticos em todas as suas representações. A maneira como as sociedades se construem e obedecem a regras comuns é facilmente observável, com padrões de comportamento que viabilizam a experiência humana sobre a terra como nós a conhecemos.

Sempre conduzida por minorias na forma de lideranças, as tribos primitivas cedo ou tarde se aglomeram em habitações de grande porte, constroem comunidades cada vez maiores, cidades, nações. Desenvolvidas em paralelo, muitas destas nações quando se encontram não conseguem promover uma coexistência pacífica, a medida que as necessidades geradas por fatores humanos de frentes diferentes se defrontram o resultado pode ser um choque de interesses geralmente levando a relação social denominada conflito.

Em geral refletindo a média potencial das características mentais combinadas de seus indivíduos, nações em desentendimento podem desenvolver características equivalentes a uma indisposição pessoal entre duas pessoas, uma dificuldade de achar uma solução em comum para suas necessidades quer sejam reais, imaginárias ou egóicas. O choque de gênios e propósitos entre duas entidades que representam coletividades pode resumir as razões de uma guerra.

Pelo ponto de vista centrado rigidamente no Ego, as pessoas tendem a minimizar as necessidades alheias e maximizar as próprias, é lógico que dois grupos com essa postura não podem chegar a uma conclusão em benefício bilateral.

No intuito sempre de fugir dos tradicionais "lugares comuns", chavões humanitários ou opiniões populares, podemos chegar através de uma observação fria dos processos humanos, ao papel da guerra no desenvolvimento das nações.

Aqueles que aprenderam desde cedo a repetir conceitos baseados na experiência ou vontade alheia, podem concordar que a guerra é um absurdo, irracional, sem sentido e absolutamente inútil.

Mas se considerarmos a pura e simples realidade da condição humana planetária, principalmente a nível individual, admitindo o atual estágio de desenvolvimento moral e ético de nosso mundo, podemos arriscar dizer que a guerra não só é Útil, mas absolutamente Vital para evolução, Benéfica para a experiência e Indispensável para a correção do curso sempre em desgoverno da história.

Uma guerra é a prova cabal do lamentável estado individual humano médio de uma coletividade. É ilusão tentar considerar que as condições sociais, políticas ou religiosas que levam ao seu acontecimento tenham vontade própria ou sejam obra apenas de alguns indivíduos. Elas são o somatório de todas as nossas naturezas pessoais e todos nós temos uma parcela de culpa.

Deixando de lado toda a bitolada visão já cultural e ainda propagada pela mídia, pode-se concluir que Adolf Hitler jamais levaria a Alemanha à guerra se toda a sociedade não só germânica como de toda a Europa, não estivesse sintonizada num espírito de conflito, resultado de um processo histórico que culminou na eclosão de movimentos peculiares resultando na guerra. O ditador alemão não foi o responsável pela guerra, no máximo se responsabilizou por algo que cedo ou tarde ocorreria. Era inevitável.

Não por acaso os momentos pós guerra tendem sempre as ser os mais prósperos, pacíficos e positivamente revolucionários, o trauma da desagradável experiência recente impulsiona uma autêntica busca pela superação mais harmônica das dificuldades, evitando ao máximo possível novos encaminhamentos que possibilitem resultados similares.

Muitas vezes as gerações posteriores que não conheceram diretamente o sofrimento de seu povo, são as que perdem de vista a lição que poderia ser aprendida, e que muitas vezes marcham para cometer os mesmos erros, seguindo cada vez mais numa direção que não leva ao objetivo teórico que as próprias pessoas acreditam estar buscando, o da paz e prosperidade, vida e felicidade.

Quando um conflito armado eclode é o momento de observar a falha dos processos que vinham sendo seguidos, e independente das condições de vitória ou derrota de uma parte, dos lucros ou prejuízos obtidos por qualquer facção, ela mostra o extremo oposto daquilo que deveríamos estar buscando.

Deixa claro mesmo que não queiramos ou possamos ver, em suma, uma maneira que não dá certo.


A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

UM ASSUNTO ATUAL

Se realizarmos uma pesquisa pública tanto no Brasil quanto na maioria dos países, e indagarmos o que teria causado a guerra entre o Japão e os E.U.A, a resposta mais significativa que mais teremos muito provavelmente seria "O Ataque a Pearl Harbour".

A tendência geral de uma interpretação simplista predomina em qualquer ponto de vista que não seja aprofundado mas a mudança invariavelmente ocorre após uma reavaliação mais detalhada do fato.

Aplicando-se estudos mais precisos do processo histórico poderemos deslocar não só a visão de que, a conflito entre o milenar Yamato e o secular Uncle Sam tenha tido suas razões centradas na Segunda Guerra Mundial ou mesmo nos eventos que brevemente a antecederam, como também veremos que as particularidades nipônicas tais como suas intenções, atitudes e riscos possuem um motivo muito mais recuado no passado e muito mais distante do Oceano Pacífico.

É evidente que qualquer análise mais aprofundada de um fato histórico raramente deixa de levar a uma nova avaliação do mesmo. Observar que as raízes dos acontecimentos penetram muito mais profundamente no ambiente histórico e se entrelaçam com diversas outras raízes de fatos nem sempre aparentemente correlativos, contribuí para uma interpretação mais consciente e menos partidária.

No caso da guerra aeronaval do Pacífico entretanto é interessante vermos algumas peculiaridades tais como a relativa "recência" do assunto e sua influência na visão de mundo atual, mesmo através da interpretação menos precisa de uma opinião pública geral. Tal visão pode ser resumida na perspectiva tradicional de que o Japão pelos menos economicamente dera a volta por cima, após a derrota na Segunda Guerra inclusive pelo uso das tão temidas armas nucleares, e hoje se alastra pelo mundo através de outros meios principalmente culturais e comerciais. Outra peculiaridade, talvez a mais interessante, diz respeito aos próprios Estados Unidos da América e sua opinião popular. Apesar de ter se envolvido diretamente num conflito armado contra o Japão onde teria sido "gratuitamente" atacado, e neste sofrer perdas de patrimônio e de vidas, o ressentimento dos americanos em relação a estes não se compara ao que sentem em relação aos nazistas, apesar da Alemanha nunca ter atacado diretamente os E.U.A.

Há várias explicações para esse fato, o mais notável seria o "terrorismo ideológico" imposto pela perspectiva nazista e sua maximização através do ponto de vista judaico, que domina grande parte da mídia norte americana. Embora tenha dado seus sinais de fascismo, o Japão não apresentava uma ameaça tão assustadora contra o American Way of Life quanto apresentava a Alemanha Nazista.

Vale observar que a nação do Tio Sam é uma das mais medrosas do mundo, com uma cultura de desconfiança e suspeita que se refletiu na paranóia anticomunista, na anti-nazista e até numa paranóia anti-extraterrestre, com raízes comportamentais oriundas inclusive da caça as bruxas, isso sem comentar uma constante paranóia anti-governamental e anti-institucional que vê conspirações em qualquer lugar.

Os Estados Unidos apresentavam inclusive uma resistência psicológica popular contra a China muito maior do que contra o Japão, devido a imigração chinesa desde a época da corrida do ouro. Em suma, Japão e Estados Unidos não pareciam ser nações potencialmente inimigas até pouco antes da guerra.

Hoje em dia as relações entre estes dois países são bem mais pacíficas do as entre E.U.A e Alemanha, que não raro têm representantes envolvidos em movimentos terroristas e Neonazistas. Mesmo com a progressiva invasão pelos produtos manufaturados japoneses e sua indústria de diversão, não ocorre na nação Norte Americana uma sensação de desconforto tão grande quanto em relação ao novo avanço econômico alemão.

As peculiaridades não param por aí, até hoje essa guerra é um assunto atual, tendo sido a única em que se fez uso efetivo de armas nucleares, o que trás a tona toda uma discussão a respeito de razões estratégicas e valores éticos. Para o Japão teve um impacto psicológico terrível inclusive no inconsciente coletivo, servindo entre outras coisas para enfraquecer sentimentos religiosos tradicionais com respeito a divindade do imperador.

De uma psique partilhada nacional onde o arquétipo da origem divina toca o indivíduo bem mais profundamente do que parece, o povo nipônico vinha de um processo histórico que o permitia se sentir bem em relação aos estrangeiros, com um discreto mas presente "Quê" de superioridade. Um sentimento de nacionalismo e orgulho levou a nação a um desenvolvimento primoroso em todos os sentidos inclusive no industrial, e os consecutivos sucessos militares em campanhas pela Ásia refletiam no inconsciente coletivo uma sensação de invencibilidade. Durante a maior parte da guerra, a população em geral acreditava numa vitória certa e fácil mesmo a beira da derrota, principalmente devido a propaganda social que escondia dos cidadãos a verdade.

Com a rendição, o Japão redirecionou suas forças num outro sentido, experimentando um novo sentimento patriótico de ordem diferente. Os japoneses também em contrapartida não apresentam hostilidades ou ressentimentos em relação aos americanos. De uma certa forma o povo nipônico soube reconhecer e aceitar a vitória do adversário mas em momento algum teve seu orgulho diminuído, e souberam o que muitos, inclusive estrategistas militares da época, sabiam desde o princípio.

Que atacar Pearl Harbour seria um erro.



Uma melhor visualização dos aspectos relativos a participação do Japão na Segunda Guerra Mundial trás a necessidade de toda uma bagagem histórica, onde as principais e mais profundas raízes dos eventos estão plantadas. Entretanto como o objetivo desta monografia é preferencialmente o período da Guerra em si, década de 40 século XX, os antecedentes principais terão um abordagem resumida ao essencial. Tal procedimento a torna mais aproximada a proposta da disciplina que é Sociedade Japonesa Contemporânea.

Paradoxalmente o direcionamento desta monografia é destinado a pessoas não exatamente estudiosas da sociedade japonesa, tendo uma abrangência maior.

O objetivo principal é iniciar propostas de estudos de um momento histórico por um ponto de vista neutro ou de tendência mais oriental, uma vez que pelo ponto de vista ocidental, principalmente norte americano, o material disponível em qualquer livraria e biblioteca é vasto.

O mesmo não se dá ao contrário, como um hábito já secular, o Brasil importa obras culturais de origem americana e européia com frequência, herdando por osmose as posturas e pontos de vistas dos mesmos muito além apenas das já naturais concordâncias entre nações ocidentais.

Como já foi explicado há uma tendência muito genérica de se mal interpretar os fatos e simplica-los, a ponto de permitir conclusões precipitadas que justificariam o uso de armas nucleares. Sendo as histórias da guerra sempre escritas pelos vencedores não é de se admirar que estes lhe emprestem uma tonalidade épica heróica.







Dividiremos este estudo em 4 partes principais:



- Um breve RETROSPECTO HISTÓRICO do Japão, até a era Meiji onde a modernização teve início.



- Os principais aspectos da era Meiji no que se refere ao desenvolvimento de uma máquina militar e uma participação externa bélicamente ativista inclusive no período entre as guerras mundiais. A sócio política interna e externa que deflagrou a integração do Japão ao Eixo e sua entrada na Segunda guerra mundial.



- A ofensiva japonesa, desde o ataque a Pearl Harbour até o revés na batalha de Midway.



- O desenrolar da guerra desde o revés em Midway até a ocupação americana.



BREVE RETROSPECTO HISTÓRICO



O Japão possuí um processo histórico de desenvolvimento incomparável a qualquer outro país, sendo uma ilha relativamente pequena, só poderia ser comparado talvez a Inglaterra mas teve condições muito peculiares como um país continental vizinho muito mais avançado tecnicamente. Desenvolveu-se de forma inconstante, as vezes promovendo grandes avanços em pouco tempo, outras diminuindo o ritmo de sua evolução.

Através dos demais países da Ásia principalmente a China, recebeu a maior parte dos incentivos ao desenvolvimento tanto tecnológico quanto social, importando inovações técnicas e pulando estágios de descobertas e invenções.

Não viveu idades do bronze e do ferro separadamente, como o fizeram a maioria dos países continentais mais avançados, aprendeu a lidar com essas inovações repentinamente, assim como a agregar valores filosóficos, sociais e religiosos estrangeiros na construção de uma identidade própria, mista e sem igual.

Sempre souberam incorporar as novidades as suas tradições, não dando as costas a benefícios de qualquer ordem devido a possíveis implicações morais ou conceituais. Tal capacidade existe até a contemporaneidade, razão pela qual o Japão pôde incorporar o que há de melhor das tecnologias estrangeiras na criação de um padrão mundial de alta qualidade, tornando-se referência.

As bases sociais, religiosas e psicológicas relativas a essas características são muitas, sendo inclusive também imprevisível e inconstante o seu comportamento em momentos especiais da história. Após a chegada dos primeiros europeus no século XVI, inovações e costumes de ordem ainda mais estranha se integraram a sociedade, produzindo resultados diversos como a entrada do cristianismo e seu posterior repúdio, e o advento de armas de fogo.

As relações do Japão com o resto do mundo encerraram-se bruscamente em 1639, com a tentativa de preservar sua cultura e criar um unidade nacional mais identificada com suas próprias raízes, sob o governo de uma classe social de samurais, o Xogunato. Esse isolamento inédito e único na história resistiu até 1853, quando já sob um novo governo imperial assinaram tratados de amizade com os outros países.

As relações Japão e E.U.A já começam aqui, sendo este o primeiro país com quem fizeram contato diplomático significativo após quase 200 anos de isolacionismo.

Seguiu-se a restauração Meiji, que tinha como objetivo modernizar o Japão que sofrera defasagem cultural e tecnológica neste período de reclusão. Uma nova sensação em relação ao mundo se revelou na sociedade nipônica, uma curiosidade a respeito de tudo o que havia no estrangeiro, que após tanto tempo de não relacionamento, surgia como uma interessante novidade. Ao mesmo tempo o objetivo dos Xoguns ao fechar o Japão fora em parte atingido, ao criar um sentimento nativista no povo nipônico que muito contribuiu para seu orgulho nacional a fidelidade ao país e a seu representante, o imperador.

Toda uma contida necessidade de adaptação aos novos tempos foi liberada de uma só vez e o Japão conseguiu em meio século não só se equiparar como superar a maior parte das nações do mundo, revelando mais uma vez sua incrível capacidade de incorporar e aperfeiçoar novidades. Erradicou o sistema feudal e criou um parque industrial com tecnologia de ponta.

O Japão apresenta aqui um tipo de capitalismo único, diferente do processo da ascenção da burguesia, desenvolvimento da indústria e cultura de mercado ocorrido na Europa. O estado nipônico sustentou a implantação do novo meio de produção, não havendo então qualquer resistência ou luta de classes.

De uma certa forma essa industrialização conservou ainda, na verdade até hoje, alguns elementos clássicos da estrutura feudal, como parques industriais sob o controle de famílias importantes, cada qual responsável por determinadas áreas de atuação.

Dessa forma o fundamento básico do capitalismo, a acumulação de capital, não tem com centro uma economia particular mas sim o enriquecimento de toda a nação. A comunhão entre a nobreza imperial e a classe industrial tinha também grande apoio popular. Baseado nas antigas tradições religiosas do país o imperador reforçou seu status de divindade, conquistando o respeito e fidelidade da nação. Essa união de elementos econômicos sociais e políticos produziu um avanço unificado rumo a um país de forte embasamento cultural, unidade patriótica e modernização técnica.



O MILITARISMO NA ERA MODERNA PRÉ-GUERRA

Por uma necessidade de expansão exterior após um longo tempo de isolamento, por uma necessidade de resguardo e segurança perante as novas relações mundiais e por uma necessidade de fortalecimento do país, o Japão constituiu nessa fase uma das maiores forças militares do mundo.

Antigas tribulações relativas a seus vizinhos asiáticos foram re-priorizadas, na Coréia onde o Japão mantinha antiga influência, desenvolveu-se um conflito interno que levou ao envolvimento também da China. Cada facção coreana aliou-se a um dos dois países dando origem a guerra Sino-Japonesa em 1894-1895, que terminou com a vitória do Japão embora este tenha que mais tarde ceder parte de suas conquistas a pressões internacionais, especialmente a Rússia.

Um antiga tensão em relação as fronteiras coreanas e os recentes acontecimentos resultaram na guerra entre Rússia e Japão em 1904-1905 que mais uma vez resultou em vitória para o Japão.

Conquistando o status de nação poderosa, o país do sol nascente emergia como uma grande potência do século XX, os militares nipônicos, muitos dos quais descendentes dos antigos samurais, ganharam cada vez mais prestígio e influência no governo. Em 1912 após a morte do imperador Meiji o Japão tinha conquistado uma progresso que orgulhava seu povo, aumentando o nativismo e a sensação de superioridade racial de um grupo étnico cuja mitologia afirmava ser descendente dos deuses. O imperador se aproximava ainda mais da divindade e seu retrato podia ser encontrado até nos mais humildes lares.

Uma aliança com a Inglaterra tornava a marinha japonesa invencível nas águas do pacífico e costa asiática, garantida contra qualquer forma de agressão russa ou chinesa. A soberania patrimonial inviolável em toda a história se alastrava em todos os territórios conquistados.

Paralelo a um crescimento econômico singular, o militarismo cada vez mais prestigiado influenciava as decisões governamentais. Mesmo o imperador Hirohito trajava farda militar completa, a nobreza samuráica ocupava em sua maior parte cargos militares oficiais e o exército japonês misturava brilhante estrategismo, patriotismo e toda uma bagagem psicológica de orgulho guerreiro.

Essa nova classe social acrescentava a difusão de um novo estilo de vida dentre os novos estilos ocidentais já em incorporação. O povo nipônico absorvia as novidades de toda a parte do mundo mas sempre mantinha uma identidade cultural muito bem definida.

Inúmeras indústrias de armamentos trabalhavam com força total, inclusive nos territórios conquistados. Com a Primeira Guerra Mundial, o Japão teve a oportunidade de expandir suas relações comerciais uma vez que o conflito absorvia a Europa, ao mesmo tempo vendia armamentos até mesmo usados, principalmente navios, multiplicando seus estaleiros e indústrias. O Japão também pode confiscar na Ásia uma série de posses de países que estavam em guerra, inclusive Alemanha, aumentando seus domínios.

Vale lembrar que a aliança com a Inglaterra tornava o Japão partidário na guerra, sendo também aliado dos Estados Unidos, e posteriormente ao fim da guerra, tornando-se membro da Liga das nações, a precursora da ONU.

O período pós guerra trouxe problemas financeiros para a economia do país devido a perda das vantagens econômicas que estavam em voga, mas por meio de uma estratégia de crescimento eficiente o país se manteve equiparado ao desenvolvimento mundial inclusive na grande depressão da década de 20. Já na década de 30, com o surgimento da União Soviética, o fim do imperialismo na China e na Europa em sua forma mais tradicional, as transformações políticas mundiais foram desfavoráveis ao Imperialismo japonês.

Configurações territoriais complexas envolvendo China, Coréia e União Soviética levaram a um incidente na Manchúria que prejudicou a presença do Japão na Ásia. A insatisfação com as condições determinadas pela política internacional gerou sua saída da Liga das Nações e um posterior isolamento internacional, desiludidos do liberalismo democrático.

A rebelião que estourara na Manchúria e provocara todo o incidente internacional pode ser considerada uma das mais evidentes raízes do envolvimento do Japão na Segunda Guerra Mundial. Devido a ela o Japão perdeu mais espaço na Ásia especialmente China, o que associado e uma ainda insistente crise econômica da pós recessão dos anos 20, agravava e ameaçava seu sistema econômico e imperial.

As campanhas militares na China foram maculadas de atrocidades e excessos que revoltaram ainda mais a opinião pública internacional e os países europeus cada vez mais se incomodavam com o Japão a exceção da Alemanha. Por interesses e adversários em comum, firmaram um pacto de cooperação mútua incluindo a Itália que seguia os passos do fascismo alemão. O resultado foi aliança Alemanha-Itália-Japão conhecida como O Eixo.

Tal pacto firmado em 1936 e renegociado em 1940, incluía uma postura anticomunista e a promessa de ajuda mútua no caso de envolvimento na guerra, de uma nação potencialmente perigosa, os E.U.A.

A Alemanha não tinha interesses em envolver os Estados Unidos na guerra na Europa e ao Japão também não interessava uma possibilidade constante de intervenção americana em suas campanhas internacionais cada vez mais preciosas devido a escassez de matéria prima.

Como os Estados Unidos tinham posses na China, ao Japão necessitava constantemente requerer concessões aos mesmos para melhor aproveitar suas campanhas asiáticas, tentativas de acordos diplomáticos entre os dois países no sentido de facilitar a exploração de recursos por parte do Japão fracassaram.

O estado maior Japonês frente as cada vez maiores dificuldades econômicas, estava preparado para agir de acordo com os resultados das tentativas de negociações com os Estados Unidos, que mantinham controle sobre vários aspectos importantes na Ásia.

Prevendo possibilidades de conflitos localizados e sabendo que as defesas russas próximas a Manchúria seriam muito resistentes em caso de uma nova guerra nesse local, o Japão ocupou e fixou bases na Indochina, sabendo que com a Rússia sofrendo um ataque por parte da Alemanha em sua frente ocidental, esta seria desgastada com o tempo.

Tal ofensiva teve repercursão internacional extremamente negativa. Qualquer possibilidade de entendimento se eliminou por completo. Os Estados Unidos aplicaram retaliações econômicas, congelaram bens japoneses e cortaram fornecimento de petróleo, tudo isso combinado a participação indireta dos E.U.A na guerra da Europa levou o Japão a, por honra da aliança com o Eixo e necessidade de recursos, planejar um ação que inviabilizasse uma possível intervenção americana na Ásia.

O Japão invadiu também a China, atacando Hong Kong, e a Malásia, numa campanha relâmpago dominando rapidamente essas regiões e recuperando definitivamente seus territórios e vantagens.

Embora não tenha sido uma decisão unânime principalmente por parte da marinha, o Japão prevendo uma guerra inevitável ou a submissão a um política internacional cada mais mais prejudicial a suas economias, decidiu dar o primeiro passo, e em 7 de Dezembro de 1941 promove o inusitado ataque aéreo ao porto americano de Pearl Harbor no Hawai.



A GUERRA DO PACÍFICO



Os Estados Unidos acordaram como dum pesadelo, a eminente mas até há pouco incerta guerra contra o Japão havia começado. Um ataque relâmpago muito bem coordenado e totalmente inesperado destruíra um contigente importantíssimo da esquarda naval americana, aportada no posto avançado de Pearl Harbour. A desvantagem para os americanos surgiu imediata, mal a guerra havia começado e as esperanças já estavam seriamente abaladas.

Para o Japão o éxito da operação foi motivo de regorzijo, o sucesso garantiu a tranquilidade necessária para fortificar suas bases na Ásia sabendo que agora a possibilidade de uma ofensiva americana despencara. Expandindo seus domínios num círculo de atuação que atingia até o norte da Austrália, o Japão acabava de solucionar aparentemente a médio prazo seu problema de abastecimento de petróleo.

O alto comando japonês na verdade podia se dar ao luxo de escolher folgadamente o próximo passo. Expandir mais os territórios na Ásia, rumar para o oriente médio para se unir a Alemanha e Itália ou partir para a ofensiva total contra os Estados Unidos?

Do outro lado após o susto inicial, os americanos tinham sérias decisões a tomar. Sabiam que uma ofensiva direta por parte do Japão dependeria exclusivamente de estratégia para ser vencida pois a tecnologia das forças japonesas era superior. No caso de uma Blitxkrieg, o estilo de guerra relâmpago tão utilizada pela Alemanha, sabiam que teriam poucas chances de resistir. Precisavam preparar terreno ganhar tempo e para utilizar sua maior vantagem, a abundância de recursos.

Logo ficou evidente para ambas as partes que uma batalha franca em pleno mar resultaria numa inevitável vitória para o Japão, mas os Estados Unidos contavam com inúmeras bases estratégicas espalhadas pelo Pacífico e modo a evitar através da observação, qualquer movimento japonês, e preparar técnicas de retirada ou emboscada.

Uma dessa bases despontava como o ponto crítico de toda a operação, a da ilha de Midway.

Midway ficava exatamente a meio caminho entre o Japão e o Hawai, a cerca de 1600 quilômetros desta última, tendo sido antes driblada no ataque aéreo surpresa a Pearl Harbour mas agora com a guerra declarada e a necessidade de uma ofensiva marítima, sua posição era vital. Quem dominasse Midway nos próximos meses provavelmente ganharia a guerra.

Os japoneses sabiam que numa guerra a longo prazo não conseguiriam manter a vantagem por muito tempo, devido a escassez de recursos e ao embargo comercial, enquanto os Estados Unidos tinham fartas reservas oriundas das Américas. Vale lembrar que o Japão na verdade enfrentava quase todo o mundo ocidental.

Mas o avanço para Midway era um passo delicado, que necessitava de toda uma análise estratégica e preparação de maquinário. Usando uma frota cujos porta aviões seriam as únicas bases aéreas, a armada do Japão deveria enfrentar uma resistência que contaria com muitas bases terrestres, o que conferia grande vantagem para os americanos.

Enquanto o alto comando japonês deliberava a respeito a guerra aeronaval continuava, nipônicos e americanos se enfrentavam em sucessivas batalhas nas quais apesar de muitos êxitos americanos, ficava a mostra uma aberta vantagem japonesa. Os estrategistas americanos sabiam então que Midway podia ser a chave para a virada, se o Japão a atacasse precipitadamente sem um preparo pleno.

Enquanto o comando japonês retardava o ataque para melhor treinar e organizar suas tropas e acumular forças trazendo-as de outras frentes tais como o Oceano Índico, os americanos perceberam que seria preferível que ataque fosse mais cedo, para que a armada japonesa não dispusesse de força total. Com um déficit de navios, principalmente porta-aviões, devido as baixas em Pearl Harbour, sabiam que melhor seria enfrentar uma armada menor, obtendo vantagem de suas bases em terra.

Os americanos trataram de tentar evidenciar essa necessidade, realizando operações que dessem a entender que havia bases aéreas em Midway que lhes serviam como posto avançado e que a neutralização destas o mais rápido possível interessaria ao Japão.

Num dessas operações em 18 de Abril de 1942, os americanos lançaram das curtas pistas de porta-aviões, bombardeiros B-25 que até então sempre haviam partido de terra, conseguindo uma proeza ao fazê-los voar após uma aceleração de menos de 400m. Esses bombardeiros se aproximaram de Tóquio e o presidente americano Roosevelt chegou a declarar publicamente que haviam partido da base Shangri-la, nome de uma cidade mística fictícia.

Os japoneses então concluíram que tais bombardeiros só podiam ter partido de alguma base em Midway, o que apressava sua disposição de neutralizá-la o mais rápido possível, o que era um problema de recursos devido ao fato de alguns representantes importantes da armada japonesa estarem avariados por batalhas anteriores.

Mesmo assim os japoneses se precipitaram na sua decisão de aplicar a Operação MI (Midway Island), para eliminar aquela que já se via como a protetora do Hawai, e na primeira semana de Maio a maior e mais impressionante esquadra de guerra já criada partia em direção ao seu objetivo, antecipando em quase um mês a data prevista da operação.



MIDWAY

Cerca de 200 navios foram mobilizados pelo Japão sob o comando do Almirante Isoroku Yamamoto.

Oito porta-aviões, 22 cruzadores, navios mais rápidos e de grande versatilidade, 65 destróires, os menores e de maior poder de destruição, que servem como escolta para navios maiores, e 20 submarinos.

Dentre eles destacavam-se lendas da marinha japonesa como o super cruzador Yamato, obra prima da engenharia naval, invejado por todas as armadas do mundo e até hoje lembrado como um símbolo do Japão, sendo homenageado inclusive em series de ficção científica que batizam e modelam naves espaciais a sua imagem e semelhança.

Dentre mais de 700 aviões, lendários eram também os Mitsubishi Zero, o caça de combate mais temido da Segunda Guerra após os fantasmagóricos jatos utilizados pela Alemanha em suas últimas reações.

A superioridade japonesa se dava não só em qualidade mas também em quantidade, mas apesar disso eles estariam longe de casa, contando apenas com suas próprias naves para qualquer eventualidade enquanto os americanos dispunham de diversas bases espalhadas por todo o pacífico. A grande estratégia japonesa contava novamente como foi em Pearl Harbour, com o elemento surpresa, sua intenção era dar a impressão que a frota se dirigia a outros alvos mais próximos e também importantes, de fato diversas incursões aéreas foram feitas a alvos secundários com a intenção de desviar a atenção dos americanos do verdadeiro objetivo.

Todavia se ofensivamente a operação japonesa era formidável, estrategicamente ela foi um desastre, os americanos já esperavam que os japoneses morderiam a isca e partiriam para Midway, também sabiam que tentariam desviar-lhes a atenção simulando operações em outros destinos. Sob o comando do almirante Nimitz, as forças defensivas de Midway foram triplicadas e ficaram de prontidão, forças navais que estavam avariadas devido a sucessivos combates foram apressadamente reparadas e mesmo em semi condições partiram para a ativa. Os americanos também deram corda as dissimulações japonesas, realizando manobras que davam a entender que realmente não sabiam que o objetivo do ataque era Midway, e então os japoneses confiantes que detinham o elemento surpresa rumaram a frente esperando encontrar baixíssima resistência e um desguarnecimento total da armada americana.

A principal arma dos americanos foi a espionagem de telecomunicação, conseguiam interceptar grande parte das comunicações em rádio estratégicas dos japoneses e decifravam todas. Por outro lado os japoneses não demostravam a mesma eficiência, tendo trazido equipamentos de rádio a bordo de seus navios que já eram obsoletos mesmo na época da saída da esquadra do Japão. Dentre os códigos americanos que não conseguiram decifrar estava o Navarro, idioma indígena nativo que apresenta uma fonética quase exclusivamente vogal, usando ditongos e tritongos em excesso que mal possuem representação escrita.

Dessa forma os japoneses rumavam para uma espécie de armadilha embora em momento algum os americanos estivessem tranquilos, sabiam que a frota japonesa era muito superior e que mesmo mobilizando todas as suas forças numa defesa e contra ataques surpresa, não havia garantias de que conseguiriam deter o avanço da frota imperial nipônica.

Aos japoneses também faltou sorte, coincidências climáticas e de casualidades tais como defeitos de equipamentos, pareciam estar sendo manobradas a favor dos americanos. Um dos aviões de reconhecimento japonês por exemplo, apresentou problemas no motor e voltou antecipadamente minutos antes de poder visualizar navios americanos que aguardavam ocultos. Neblina cerrada e mal tempo geral também muitas vezes impediram que os japoneses tomassem conhecimento de que forças americanas estavam estrategicamente posicionadas para uma defesa inesperada.

Quando a armada atingiu Midway em Junho, os japoneses estavam exaustivamente treinados, com o moral alto e ansiosos para desfechar um ataque em que esperavam encontrar pouca resistência e logo asseguraria um base avançada que serviria para levar a guerra diretamente para o Hawai e cada vez mais próxima da costa oeste dos Estados Unidos. Com a captura de Midway os Estados Unidos como nação consolidada desde a independência das 13 colônias, teriam que se preparar para uma situação inédita em sua história, uma guerra externa que lhes atingisse diretamente o território.

Entretanto as forças mobilizadas pelo alto comando americano estavam preparadas para uma retaliação que ainda não sabiam como seria, usando uma frota tecnologicamente inferior que contava como vantagem além do conhecimento dos movimentos inimigos, apenas o fato de possuírem um lugar mais próximo para voltar.

Os japoneses sabiam que estavam prestes a fazer história, se o Japão conquistasse Midway e vencesse a guerra com certeza o mundo seria muito diferente hoje.



O REVÉS

Mesmo que tudo parecesse correr bem os japoneses não se descuidaram, redes aéreas de reconhecimento faziam patrulhamentos ostensivos a procura de qualquer sinal de navio americano e diversos submarinos promoviam reconhecimento marítimo avançado. Entretanto como já foi dito a sorte não estava do lado japonês, navios americanos escaparam de serem avistados por um triz, o que foi um fator preponderante.

Como tudo se revelava conforme o combinado os 4 porta-aviões da frota sob o comando do almirante Nagumo lançaram o primeiro ataque. A resistência em Midway foi bem maior do que se esperava mas mesmo assim foi insuficiente, as defesas tecnologicamente inferiores dos americanos não conseguiram deter o avanço das esquadrilhas de bombardeiros leves que foram arrasando a resistência em terra. Sabendo ser inútil apenas a defensiva, as bases americanas se lançaram contra a frota japonesa mas mesmo várias ondas de ataque não conseguiram sequer arranhar a armada nipônica e ainda sofreram consideráveis baixas. Mesmo assim tiveram seus méritos, conseguiram retardar o lançamento de novos ataques pelos porta-aviões forçando os japoneses a reavaliarem a estratégia.

Diversos relatórios de patrulhas informavam à esquadra japonesa da aproximação de navios de guerra americanos mas mais uma vez as nuvens pareceram interceder em favor do ocidente, evitando que as armas decisivas, os porta-aviões, fossem avistados e durante muito tempo o almirante Nagumo menosprezou o poderio do inimigo, dando procedimento aos ataques a terra o que deixou a armada em boa parte desguarnecida.

O Japão não cometeria o mesmo erro da Alemanha ao demorar a concluir que os porta-aviões eram o que decidiam as guerras navais daquela época e até hoje. Portanto caso Nagumo soubesse que contra o Akagi, Kaga, Soryu e Hiryu, os 4 porta-aviões japoneses, haviam o Yorktown, Enterprise e o Hornet americanos, com certeza teria mudado sua tática de combate.

Durante muito tempo as patrulhas japonesas por motivos diversos não avistaram e informaram a presença desses 3 trunfos da defesa em torno de Midway, e quando o fizeram foi ao mesmo tempo, de forma inesperada e já muito tarde. Na verdade esses eram praticamente os únicos da esquadra americana em condições operacionais e numa área útil de efetividade.

A batalha aeronaval então tornou-se franca e intensa, Nagumo deteve o ataque a Midway para primeiro interceptar e destruir a resistência americana e as armadas rumaram para o confronto frontal. A superioridade japonesa se tornava evidente e medida que ondas de ataque americanas vinham sendo rechaçadas sem surtirem qualquer efeito significativo na frota nipônica, mas o fato das forças aéreas, principalmente os Zeros, estarem em sua maior parte ainda mobilizados ou esgotados pelo ataque as base terrestres e a frotas de cruzadores, logo mostraria suas consequências.

Apesar de terem ficado famosos pelo esquadrão Kamikaze, não foram só os japoneses que praticaram ações suicidas na guerra. Muitos americanos também se sacrificaram quando percebiam que seus esforços era pouco frutíferos e seus atos tiveram resultados bastante proveitosos ao atrasarem e atrapalharem ainda mais a armada japonesa.

Algumas ondas de ataque americana chegaram a ser mais de 90% destruídas sem tocarem os 4 porta-aviões fortemente escoltados, pilotos caídos ao mar tiveram o privilégio de assistir as escondidas boa parte da batalha, sem inflar seus botes salva vidas para não atrair a atenção dos japoneses. A maior velocidade e agilidade da frota japonesa também dificultava a estratégia americana uma vez que os porta-aviões se afastavam rapidamente do lugar onde as patrulhas lhes denunciavam. Entretanto a sorte de Nagumo acabou de vez quando após várias ondas de ataque americanas inúteis e desastrosas desviaram a atenção de um ousado ataque em ângulo quase vertical que fora favorecido ao ser encoberto pelas nuvens. Poucos bombardeiros de mergulho conseguiram numa ataque relâmpago, aquilo que dezenas não haviam conseguido antes, no momento exato em que as aeronaves japonesas se encontravam mais vulneráveis, reabastecendo e pousadas. Diversas bombas atingiram os porta-aviões japoneses num ataque tão rápido e inesperado que os oficiais mal podiam acreditar quando viram que de repente, de sua frota aparentemente invencível, 3 dos porta-aviões estavam em chamas, explodindo inclusive as bombas e combustível que estavam sendo carregados nas aeronaves.

Apenas o porta aviões Hiryu escapara ileso, o sortudo ataque americano conseguira praticamente inutilizar os demais. Mesmo assim a reação japonesa não demorou, e logo em seguida ondas de ataque sucessivas destruíram o porta aviões americano Yorktown e mais alguns outros navios.

Mas pouco adiantou, já sem suas armas principais a armada de Nagumo perdia sua ofensividade e logo o último porta-aviões também fora destruído num novo ataque. Muitos capitães japoneses, adeptos do Harakiri, afundaram junto com seus navios se recusando a abandonar o posto. O mais popular deles Yanagimoto, comandante do Soryu, foi requisitado por seus colegas que se salvasse, pois seria muito mais útil vivo e era querido por sua tripulação. Chegaram a enviar um campeão de luta livre, o oficial Abe, para removê-lo a força se fosse preciso, mas de adaga em punho e com uma resolução ferrenha a moral do capitão foi inabalável assim como de vários outros oficiais de maior patente, que após removerem a imagem do imperador para um local seguro e fazerem reverência, conclamaram a tripulação a em vida continuar honrando e servindo ao Japão enquanto eles permaneceriam em seus navios.



A RETIRADA

Não se pode deixar de dizer que os japoneses guardavam um certo espírito samurai de combate, do tipo que pretende ganhar guerras na honra, força e determinação. O almirante supremo da esquadra japonesa Yamamoto não deu a batalha por vencida e a bordo do super cruzador Yamato levou sua esquadra para prosseguir um desembarque em terra em Midway.

Convocou mais dois porta-aviões que estavam em um outra missão mas estes não eram tão avançados quanto os 4 que foram destruídos. O silêncio pelo rádio, obrigado devido a espionagem, atrasou a Yamamoto que viesse a saber do real estado da esquadra de Nagumo, e mesmo após saber não mudou seus planos. Confiava na indiscutível superioridade de seus cruzadores couraçados que num ataque a terra seriam impossíveis de serem detidos.

Do outro lado o almirante Nimitz não mostrava tranquilidade, apesar de neutralizarem o corpo principal da primeira armada não tinha certeza das reais dimensões das forças japonesas, informes confusos de patrulhas davam a idéia que haveria um quinto porta-aviões, principalmente devido ao fato do Hiryu ainda permanecer operando muito tempo antes de estar definitivamente perdido. Informes como esse também davam aos japoneses a informação de que os americanos dispunham de 5 porta-aviões, devido ao fato da patrulha ter avistado os mesmo mais de uma vez com problemas em seus sistemas de coordenadas, mesmo isso não diminuiu a resolução japonesa de desembarcar em Midway.

Mas com o tempo observou-se que as defesas de Midway embora ainda em pedaços e aterrorizadas, não estavam vencidas, os americanos muitas vezes acharam, devido ao resultado dos primeiros ataques as bases terrestres, que a invasão era eminente, mas logo ficou claro que uma frota naval sem a uma devida cobertura aérea não poderia prosseguir um ataque bem sucedido.

O moral baixou ainda mais quando a frota de Yamamoto se juntou a frota de Nagumo que só perdera os porta-aviões, e recolheu os feridos para as melhores instalações médicas do Yamato. O descontentamento dos que presenciaram a perda dos 4 navios principais, a agonia dos feridos e a perturbação dos oficiais fizeram o almirante Yamamoto admitir aquilo que até o comando central no Japão já aceitara, que a operação MI fracassara.

No dia 6 de Junho de 1942, apenas 3 dias após o início da operação, Yamamoto ordenara a retirada total, assumindo toda a responsabilidade da operação e a obrigação de se desculpar com o imperador. O comando americano viu então a oportunidade de prosseguir o contra ataque definitivo perseguindo a frota japonesa mas as tentativas foram inúteis. Nimitz sabia que uma ação direta contra os couraçados japoneses seria suicídio, só o Yamato tinha potencial para aniquilar esquadras inteiras de cruzadores americanos se lhe fosse permitida a aproximação. Sabia também que Yamamoto aproveitaria qualquer chance de transformar sua derrota em vitória se pudesse.

Ataques aéreos baseados em porta-aviões também não pareciam muito favoráveis devido aos japoneses ainda possuírem uma cobertura por dois outros porta-aviões que embora menores e mais modestos, traziam uma esquadra considerável de Zeros que servia de eficiente escolta.

A armada japonesa voltou para casa derrotada na batalha, embora a guerra ainda não estivesse perdida.



AS CONSEQUÊNCIAS

Apesar da guerra ainda ter durado 3 anos, pode-se dizer com certeza que ela fora decidida naqueles 3 dias em Midway, naqueles instantes em que bombardeiros de mergulho conseguiram surpreender os porta-aviões japoneses.

Com a derrota o Japão recuou e perdeu definitivamente a posse mais importante do Oceano Pacífico e consequentemente várias outras. O moral americano se elevou e as indústrias dobraram a produção de armamentos, repararam suas esquadras e reforçaram suas posições.

Com Alemanha e Itália praticamente derrotadas o Japão não enfrentava apenas os Estados Unidos mas de uma certa forma todo o mundo. A escassez de recursos naturais minou progressivamente o império japonês que mais e mais se viu forçado a recuar, perdendo aos poucos bases importantes em ilhas da Oceania e Ásia.

Porém a vantagem americana demorou a se anunciar e durante muito tempo ainda houve dúvidas a respeito de se o Japão poderia tentar ofensivas ainda mais ousadas que a de Midway, o paranóico povo americano tinha pesadelos com possibilidades absurdas de uma invasão nipônica desembarcando nas costas da Califórnia.

Por outro lado o povo nipônico não tinha motivos para alarme pelo simples fato de que não recebia as notícias da guerra em sua real perspectiva, a propaganda japonesa filtrava as mensagens no intuito de manter um constante otimismo na população, que trabalhava em ritmo acelerado para o sustendo da máquina de guerra.

Nas escolas era comum a prática das artes marciais para os meninos e treinamentos simulados para situações de bombardeio, como se deu na Alemanha, a perda progressiva de contingente militar levou rapazes cada vez mais jovens a assumir a condição de guerreiros.

A medida que os americanos avançavam rumo ao Japão, a situação interna do império ficava cada vez pior. Cada vez mais iniciativas de levantes e golpes de estado ameaçavam o poder central que entretanto resistiu por muito mais tempo do que se esperava.

Dentre os exemplos da persistência e orgulho japoneses temos o clássico esquadrão Kamikaze, cujo título significa "Vento Divino" em alusão aos tufões que mais de uma vez salvaram o Japão de invasões pela China na Idade Moderna. Esse jovens pilotos levavam aviões com uma carga pesada de explosivos e os lançavam a choques diretos contra navios americanos provocando severas baixas.

No âmago de uma cultura orgulhosa, os japoneses tinham muita dificuldade em aceitar o fato de que os descendentes dos deuses estavam sendo vencidos pelos degenerados ocidentais e lutavam até a morte mesmo após terminada suas munições, usando suas armas brancas ou mesmo as mãos.

Mesmo um dos símbolos do Japão, a espada samurai, teve sua imagem manchada pelo seu uso na execução de prisioneiros, o que aos olhos ocidentais era uma atitude atroz.

Com o tempo o cerco foi se fechando e os recursos naturais se esgotando, os japoneses chegaram a extrair óleo de vegetais para manter as máquinas de guerra funcionando uma vez que o petróleo era escasso. Muitos abandonaram o Japão e também houve deserções.

Os golpes finais vieram com a tomada das filipinas no final de 1944 e da ilha de Okinawa no começo de 1945, pela primeira vez um contingente expressivo do exército japonês se rendia perante as tropas do general MacArthur.

Agora restava ao Japão apenas a resistência pois a invasão era eminente, forças internas conclamavam segmentos da população a revolta e deposição do poder central, curiosamente o medo de um levante de esquerda foi um fator preponderante para uma inclinação cada vez maior a rendição.

Os Estados Unidos já conhecendo bem melhor seu inimigo, compartilhavam do opinião mundial que o Japão não podia ser submetido a uma ocupação humilhante e a uma rendição incondicional, propondo então muitas negociações ao imperador, mas a rendição só veio mesmo após a apelação para o tenebroso resultado do Projeto Manhatan.

Em 3 e 6 de Agosto de 1945 bombas nucleares destruíram respectivamente Hiroshima e Nagasaki lançadas pelos bombardeiros B-29 que sequer encontraram resistência aérea. Peculiaridades interesantes marcam a operação de lançamento dessas bombas, como o fato da tripulação do Enola Gay, o primeiro a lançar, sob o comando do Capitão Paul Tibbets, desconhecesse o real conteúdo e o efeito dos artefatos batizados de Fat Man e The Boy, tendo sequer podido observar o lançamento de testes devido ao comando geral temer que após vislumbrarem o poderio de tais bombas, se recusassem a lança-las sobre um alvo civil quer por motivos éticos ou temendo pela própria segurança.

A discussão a respeito da real necessidade do uso de tais armas repercurte até hoje e a maior parte da população americana aceitou a justificativa de que não fosse isso, muito mais vidas teriam se perdido devido a recusa do Japão em se render.

Deixando de lado a postura imparcial desta monografia por um momento conclamo o leitor a pensar. Se você tem uma arma de fogo precisa mesmo atirar na perna de alguém que não a conhece para provar que se trata de uma arma letal? Abandonando a conotação; Não bastaria uma detonação de advertência em um local menos habitado? E mesmo que ainda assim fosse necessário o uso da primeira, por quê detonar uma segunda?

Considero inegável o fato de que os Estados Unidos após tanto investimento no Projeto Manhatan na produção de artefatos nucleares, precisava testar seus reais efeitos e não apenas se contentar com experiências no deserto.

...a concluir posteriormente.







BIBLIOGRAFIA

BARKER, Tenente Coronel A. J. - MIDWAY. 1984 © Bison Books Limited, Troy, Michigan, E.U.A.

JAPÃO - O IMPÉRIO DO SOL NASCENTE. Coleção Grandes Impérios e Civilizações. Edições Del Prado Lisboa, Portugal.







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