quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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16/Dezembro/2007
Três fotos que mudaram a guerra do Vietname
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Marcadores: Eddie Adams, Estados Unidos, John Filo, Jornalismo, Nic Ut
Relacionado (ou não): O Fotógrafo Invisível (3)


A noite da madrugada de 30 de Janeiro de 1968 marcava o início de uma data sagrada para os vietnamitas: os festejos do Novo Ano Lunar. Muitos dos efectivos do exército do Vietname do Sul tinham sido autorizados a comemorá-la fora dos quartéis.
Foi precisamente nessa noite que duas grandes forças de combate – os Vietcongs e o Exército do Vietname do Norte – lançaram em simultâneo um ataque surpresa em todo o país. Esta operação de grande escala ficou conhecida como Ofensiva Tet. Foram atacadas mais de 100 vilas e cidades, incluindo 36 capitais de província e a própria capital, Saigão.
Embora os americanos tenham sido apanhados de surpresa pelo amplitude do ataque, os serviços secretos já tinham detectado grandes movimentações de tropas inimigas. Esperavam uma ofensiva apenas contra Khe Sanh, no sul do país, onde se encontrava uma base de Marines, mas não uma ofensiva simultânea em todo o território. Quando as tropas norte-vietnamitas atacaram Saigão, 27 batalhões dos Estados Unidos estavam estacionados na capital. A operação não foi, assim, o sucesso militar que se esperava: entre 30 de Janeiro de 1968 e 8 de Junho do mesmo ano, período oficial de duração da Ofensiva Tet, 58 mil soldados norte-vietnamitas perderam a vida sem que Saigão tivesse sido capturada ou os americanos expulsos.
Mesmo assim, algumas regiões e cidades do Interior caíram irremediavelmente nas mãos do Exército do Vietname do Norte.
Os efeitos psicológicos deste ataque entre a opinião-pública norte-americana – outro dos objectivos dos estrategas norte-vietnamitas – foram importantes. As imagens iniciais da Ofensiva Tet difundidas pelos media marcaram a forma como o povo encarava a presença dos seus filhos e soldados naquele território hostil, desconhecido e distante. De pouco adiantou à administração do então presidente Lyndon Johnsson insistir que a Ofensiva Tet acabara por ser uma grande derrota dos comunistas.
O efeito das imagens iniciais de desnorte americano poderia ter sido atenuado com o passar do tempo e a acção da propaganda militar – mas a 1 de Fevereiro de 1968, no terceiro dia da Ofensiva Tet, quando a confusão ainda reinava em Saigão, um fotógrafo captou uma imagem que haveria de ter um efeito ainda mais devastador entre o povo americano.
Naquele dia, duas armas foram disparadas ao mesmo tempo: uma pistola e uma máquina fotográfica.
A bala disparada à queima-roupa perfurou o cérebro de um prisioneiro vietcong e a foto capturou o momento exacto da execução.
Há duas personagens desta tragédia: Nguyen Ngoc Loam, coronel, nomeado chefe da Polícia Nacional da República do Vietname, e um oficial vietcong capturado, o capitão Nguyen Van Lém, o mesmo nome próprio que o seu assassino.
Nesta foto já não existe vida, nem no carrasco nem na sua vítima: a câmara de Eddie Adams transforma-os em monumentos que recordam à Humanidade a brutalidade selvagem de uma guerra sem honra.
De um lado, o braço esticado do carrasco, os músculos tensos, a mão agarrando a pistola com tanta força como se receasse falhar o alvo e cobrir de ridículo o seu poder de deus da vingança; do outro, um jovem, mãos atadas nas costas, magro, pequeno, indefeso. De um lado, um rosto inexpressivo, frio, o rosto da morte; do outro, um homem a quem não é permitido, sequer, um gesto instintivo de defesa.
O operador de câmara da NBC, Vo Suu, filma a sequência: o tiro, o fumo, a queda, o sangue jorrando da cabeça do oficial vietcong. Eddie Adams, o fotógrafo, recordará mais tarde que a sua única vontade é sair dali, afastar-se, mas, ao mesmo tempo, numa familiar combinação de horror pessoal e triunfo profissional, tem consciência da extraordinária foto que acabou de tirar. A foto acabou por ganhar um Prémio Pulitzer.
Nguyen Ngoc Loam, o assassino, mantém-se calmo quando fala aos repórteres: «Ele matou muitos de nós e dos vossos também» – justifica-se ao operador de câmara, que ainda não virara as costas. – «Penso que Buda me perdoará por isto».
É um criminoso de guerra, mas tanto o Vietname do Sul como as autoridades americanas não fazem caso da situação: alguns oficiais americanos protestam contra a execução sumária, mas Nguyen continua ao serviço do exército sul-vietnamita, onde fortalece a reputação de homem de grande coragem e sagacidade em batalha. A sua carreira de guerreiro termina três meses mais tarde, quando uma granada inimiga lhe destrói a perna direita.
É enviado para um hospital na Austrália para receber tratamento, mas os protestos contra a sua presença são tão veementes que acaba por ser transferido para os Estados Unidos, para um centro médico militar em Washington, o Walter Reed. Alguns senadores no congresso americano protestam, mas nada acontece.
De volta a Saigão, Nguyen é afastado do exército – tiveram de amputar-lhe a perna direita – e regressa à vida civil. Em 1975, quando os vietkongs estão às portas da capital e se inicia a evacuação, os americanos recusam-se a ajudá-lo. Acaba por fugir com a família num avião sul-vietnamita e regressa aos Estados Unidos.
Quando a sua presença é conhecida, alguns movimentos civis tentam deportá-lo, afirmando tratar-se de um criminoso de guerra, mas, mais uma vez, nada acontece. Fica a viver no norte da Virgínia e abre uma pizzaria. O negócio corre bem e sem sobressaltos até 1991, mas entra em declínio quando é reconhecido como o carrasco da foto tirada por Eddie Adams. Há quem escreva nas paredes da pizzaria: «Sabemos quem tu és».
O cancro mina-o e ele afasta-se. Acaba por morrer em Julho de 1998. Nunca foi condenado pelo crime que cometeu, embora tenha dado entrevistas onde procurou justificar o seu acto. Ele afirma que o oficial vietcong era um terrorista que tinha estado envolvido no assassínio de oficiais sul-vietnamitas e respectivas famílias – daí a execução. Ao princípio, ordenara a um oficial subalterno que matasse o prisioneiro. Perante a hesitação do outro, encarregou-se ele próprio de executar a sentença. «Se eu hesitasse não estaria a cumprir o meu dever – e os homens não me seguiriam».
Até hoje não se sabe se Nguyen Van Lém esteve envolvido nos massacres que aconteceram. 34 corpos haviam sido descobertos em Saigão no dia anterior, tanto de oficiais da polícia como das respectivas mulheres e filhos, mas nunca se provou o envolvimento do oficial vietcong – fosse ou não responsável, a verdade é que nunca lhe foi dada a oportunidade de se defender num tribunal militar. Outras fontes – norte-vietnamitas – afirmam que Lém não era um operacional, a sua acção era sobretudo política.
O vídeo mostrando a sequência completa dos acontecimentos passou inúmeras vezes nas televisões e chocou a América. E quando a foto de Eddie Adams foi publicada na primeira página dos jornais americanos, mudou a forma como o povo americano encarava a guerra. A foto não era apenas a imagem de um crime, mas o espelho da guerra do Vietname: selvagem e gratuita, como o acto do chefe da polícia Nguyen Ngoc Loam.
Ao princípio a maioria dos americanos apoiara a guerra, pois tratava-se de ajudar inocentes sul-vietnamitas a libertar-se do jugo comunista do Norte; depois daquele foto, tornara-se muito mais difícil descobrir onde estavam afinal esses inocentes.

Fontes: Tet Offensive (Wikipédia) | Vietname War (Wikipédia) | Newseum War Stories | New York Times Obituary | Nguyen Ngoc Loam (Wikipédia) | Digital Journalist: The Saigon Execution

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« Sobretudo dos arredoresConto Blasfemo »8 respostas | Três fotos que mudaram a guerra do Vietname
Guronsan navega com Opera 9.24 em Windows XP
e mandou bitaites a 17 de Dezembro de 2007 às 03:09
Grande, grande post.
iznogoud navega com Internet Explorer 6.0 em Windows Server 2003
e mandou bitaites a 17 de Dezembro de 2007 às 11:11
Enorme!!!

Bela forma para começar uma segunda feira.
Sérgio Grigoletto navega com Firefox 2.0.0.11 em Windows XP
e mandou bitaites a 17 de Dezembro de 2007 às 21:08
Magnífico! Precisei de alguns fôlegos para ele.
Francisco rodrigues navega com Internet Explorer 7.0 em Windows XP
e mandou bitaites a 18 de Dezembro de 2007 às 03:38
É mais q previsível q os Vietcongs, Chineses,russos,etc fossem muito mais sanguinários, mas não havia fotos, TVs e etc. para o mostrar.
Exactamente por actuarem no anonimato!!!
Já houve quem considerasse( não sem alguma razão…) q os Americanos ganharam a guerra no terreno mas perderam na comunicação social: quando a família americana começou a ver sangue na TV à hora do jantar, lá se foi o apoio à guerra.
No Norte não havia esse problema:eram carne para canhão e ninguém via.
Daí q falte nesse post o “ir mais além”, não se deixar levar pela 1ª imagem, procurar o porquê, saber distinguir as estruturas sociais dos países em guerra e, esse dado fundamental em guerra,como é q ela é apresentada ao público…
GO navega com Internet Explorer 7.0 em Windows Vista
e mandou bitaites a 18 de Dezembro de 2007 às 15:32
Bom relato, mas acho que o autor se perdeu um bocado, na parte final, em opiniões pessoais.
Marco navega com BonEcho 2.0.0.12pre em Windows XP
e mandou bitaites a 18 de Dezembro de 2007 às 15:43
Obrigado, GO. A parte em que me perco em considerações pessoais é precisamente a minha parte preferida, veja lá como são as coisas.
Sendo um blogue, julguei que não haveria problema em ser mais pessoal…
Vladimir navega com Internet Explorer 7.0 em Windows XP
e mandou bitaites a 18 de Dezembro de 2007 às 21:55
Que tal umas fotos sobre as execuções sumárias feitas por Vietcongs,Norte-Viets, Chineses,etc… para que haja verdade, imparcialidade, justiça?
De preferência feitas depois da tomada de Saigão pelos Vietcongs( se houver fotógrafos vivos…)?
Pedro navega com Firefox 2.0.0.14 em Windows XP
e mandou bitaites a 24 de Abril de 2008 às 15:33
Num dos milhares que aconteceram… Num ataque aéreo americano foram mortas mais de 500 pessoas em que quando foram ao local não houve um soldado morto uma arma encontrada.. Apenas mulheres, crianças,idosos..

Dito por vários soldados americanos que assistiram depois no terreno e no local da ocorrência.. Alias um soldado diz mesmo que sim uma senhora viva talvez com mais de 60 anos sentada no chão, e a levar um tiro na cabeça por um outro soldado americano.

Matar em nome de uma chamada LIBERDADE apenas tem sido a forma encontrada, para Matar. Pelo menos antigamente e mesmo hoje em dia alguns ainda assumem o que são.. Outros vestem-se com pele de cordeiros e LEVAM A LIBERDADE AO MUNDO..
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