sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

8254 - GUERRA IRÃ-IRAQUE

Guerra Irã x Iraque

A história das operações dos F-14 e F-4 do Irã são muito ricas para os estudiosos das táticas de combate aéreo. Neste conflito ocorreram cerca de 400 combates aéreos com mais de 200 aeronaves derrubados. Entre estes combates foram vários a longa distância.

No fim da década de 70 a Força Aérea do Irã procurava um interceptador para contrapor as ameaças para os próximos 20 anos. Os requerimentos incluíam grande autonomia para ter capacidade de cobrir todo o território, além de sensores e armas potentes. O F-14 pode fazer patrulha de combate aéreo a 250 km da base por duas horas com reserva para pouso embarcado. Operando em terra a reserva significa mais tempo na estação. Lançado do convés o F-14 tinha um raio de interceptação de 360 km voando a Mach 1.3 (na US Navy seria para interceptar as aeronaves que penetram nas patrulhas externas). As áreas montanhosas do país necessitavam de uma aeronave com um radar potente para cobrir as falhas na cobertura dos radares em terra.

Os iranianos queriam um caça com um grande radar e uma aeronave que pudesse se defender. Esta escolha se mostrou importante contra os iraquianos. Seus radares em terra fornecidos pelos americanos eram propositalmente de segunda categoria. Por isso o requerimento incluía a compra de oito aeronaves E-3 Sentry. O Irã também comprou 14 aeronaves KC-707 para apoiar as operações dos seus caças e interceptadores.

O F-15 foi estudado para o requerimento, mas a potência do radar AWG-9 era mais importante com o alcance bem maior junto com a capacidade do AIM-54. O F-14 tinha a vantagem de poder ser entregue antes do F-15 e demonstrou ter capacidade de derrubar o Mig-25. A manobrabilidade do F-14 também impressionava, mas a capacidade de defesa de área era o requerimento mais importante. Durante a guerra contra o Iraque, o Tomcat mostrou ser tão bom que apenas com o canhão e dois AIM-9P e sem o radar funcionando podia vencer qualquer caça iraquiano.

Os esquadrões de F-14 iranianos recebiam os melhores pilotos. Venciam fácil os F-4 nos treinos até em desvantagem de 4 x 1. Os pilotos foram instruídos pelos instrutores da US Navy a não fugir e sim engajar. O F-14 era muito manobrável e até a baixa velocidade. O F-14 tinha uma taxa de giro sustentado de 18 graus por segundo puxando 6.5g com um raio de curva de 600 metros. Também era capaz de sustentar 6.5g a Mach 2.2 e acelera de velocidade de espera a Mach 1.8 em 75 segundos.

Na US Navy o F-14 vencia fácil os F-15 e F-16. No Irã vencia fácil os Mig-29 e por isso compraram poucos caças russos. Os pilotos tinham a vantagem de poder escolher engajar a longa distância ou a curta distância ou podiam engajar a longa distância e direcionar os Mig-29 para combate aproximado com o R-73 (não disponíveis durante o conflito).

Estudos da década de 70 para um interceptador de defesa continental para USAF também mostraram que o F-14 era melhor que o F-15 para a missão. Em 1977 foi previsto que 170 caças F-14 custaria US$ 4,3 bilhões contra US$3,9 bilhões para o F-15. A Grummam cita que a capacidade de 170 F-14 seria igual a 300 F-15 para defesa continental. Em 1974 foi oferecido o F-14T mais barato sem o radar AWG-9 no lugar do F-15 para a USAF. A USAF acabou transferindo caças F-15A e depois comprando F16 ADF em 1986 (concorreu com o F-20). Os pilotos não gostavam de ir para os F-15 de interceptação. Nestas missões os caças eram direcionados por radares em terra até o alvo e terminavam a interceptação com o radar interno. Os F-15 iniciam sua interceptação autonoma a partir de 80km, mas para treinar os radares em terra iniciavam a bem menos. Nestas missões não havia ameaça SAM e os alvos eram geralmente fáceis de combater. Os pilotos nunca usavam todas as capacidades do Eagle.

A proposta de F-14 para o Reino Unido também mostrou que era o único que preencheria os requerimentos de interceptação a longa distância contra o F-15 e F-16. O Reino Unido acabou desenvolvendo o Tornado ADV com metade dos custos mas sem a mesma capacidade. O Tornado ADV não iria combater migs e sim Tupoleves (bomber killer) e a manobrabilidade não era um requerimento importante.

A desvantagem do F-14 era a complexidade. Precisava de 20 técnicos de manutenção contra sete do F-4E. O motor falhava muito e derrubava mais F-14 que o inimigo. Era o que mais deixava os caças parados no hangar. Junto com o AIM-54 o Irã recebeu 800 mísseis AIM-9P e o AIM-7E-4 era compatível com o radar AWG-9. O AIM-9P era considerado uma boa arma. O Iraque até tentou obter alguns dos amigos Árabes. Era confiável e efetivo.

O contrato inicial incluía 424 mísseis AIM-54A Phoenix e depois foram comprados mais 290 mísseis sendo que 284 foram entregues antes da revolução. Quando os americanos deixaram o país sabotaram 16 mísseis prontos para uso. Os EUA tiveram que desenvolver contramedidas contra os AIM-54 do Irã e para que os seus mísseis não serem jameados. Os sistemas de alerta radar foram adaptado para detectar as emissões do AWG-9 a grande distância.

A capacidade do AIM-54 era fantástica. Em 1978 os iranianos acompanharam um AIM-54 voando a Mach 4 a uma altitude de 24 mil metros. Em outro teste o míssil percorreu a distância de 212km. O míssil não tinha limite de lançamento contra alvos voando alto ou baixo e tinha capacidade de puxar 17g's. Os iranianos testaram o AIM-54 contra drones AQM-37 simulando caças Mig-25. De cinco tentativas quatro acertaram e um míssil falhou. O alcance mínimo era de 18 km e as vezes disparavam fora dos parâmetros apenas para deixar o caça mais leve para um combate aproximado.

O problema do AIM-54, como o F-14, é que era complexo de manter. Mesmo assim, selados no container o AIM-54 só precisava ser checado a cada três anos. A vida útil era de oito anos antes de precisar de reforma ou troca itens.


O Tomcat é capaz de levar até seis mísseis AIM-54 mas na prática isso raramente acontece. Com seis mísseis o Tomcat fica muito lento, o alcance diminui e perdia muita capacidade de manobra. O arrasto e o peso é muito grande não podendo entrar em combate aproximado e a velocidade de pouso subia de 230km/h para 290km/h o que era perigoso. Os iranianos nunca testaram a capacidade de atacar seis alvos simultaneamente. Raramente levava quatro. Quando fazia escolta VIP podiam levar seis mísseis. Os mísseis também eram poucos. Os combates mostraram que dois mísseis sempre foram suficientes e não atrapalhava a capacidade de manobra. Os Iranianos sempre esperavam ter combate aproximado e as esquadrilhas iraquianas dispersavam após um dos caças explodir. Os Tomcat geralmente levavam dois Sparrow, dois Sidewinder e dois AIM-54 no líder de elemento e seis Sparrow e dois Sidewinder para o ala. As vezes apenas um Phoenix ou nenhum.

Um dos motivos da escolha do F-14 eram os vôos de reconhecimento dos Mig-25. Logo depois de iluminar um Mig-25R com o AWG-9 os russos pararam de sobrevoar o Irã.

Após a revolução no Irã poucos F-14 estavam operacionais e os pilotos que não foram presos eram pouco treinados. Os radares não funcionavam e só tinham o controle de radares em terra. A situação até que melhorou após o conflito com Iraque iniciar com os pilotos e técnicos presos sendo liberados e com o recebimento de peças por contrabando.

A missão dos F-14 durante a guerra Irã-Iraque era defesa aérea no Irã. Raramente entravam no Iraque. As vezes escoltavam os F-4 nas missões de ataque. Os F-5E e F-4E eram usados para apoio aéreo aproximado e interdição do campo de batalha.

Uma dessas exceções foi um ataque contra a base de Mossul em 1980. O objetivo era tentar destruir os Mirage F-1 estacionados na base. Seriam atacados pelos F-4E cada um levando 12 bombas Mk-82. As seis aeronaves precisariam de reabastecimento em vôo que seria feito por dois KC-707 que deveria penetrar no Iraque junto com a escolta de dois F-14. O ataque seria pelo norte para se desviar das baterias e patrulhas aéreas na fronteira e sobrevoariam a Turquia. Os KC-707 também voavam bem baixo seguidos dos F-14 fazendo busca com radares.


Durante a varredura os F-14 adquiriram quatro contatos 70km ao sul e foram identificados pelo Combate Tree como sendo caças Mig-23. Os F-14 foram ordenados a engajar e subiram para 7 mil metros. Não podiam engajar cedo para evitar chamar reforços apesar de terem dois AIM-54. Foram disparados dois mísseis a cerca de 33km em 8 segundos de intervalo com o radar no modo Track-While-Scan. Os dois mísseis atingiram os alvos assim que receberam ordens para interceptador os atacantes da base. Os iraquianos ficaram confusos sem saber o que os derrubou e passaram a descer e virar em várias direções. O RWR rudimentar do Mig-23 não detectou nada. Ao virarem para o sul e descerem deram muita vantagem aos Tomcats que engajaram do alto e por trás com os AIM-7 a partir de 12km. Os Tomcat estavam 300km dentro do Iraque e um passou a ter falha no sistema de armas. O ataque passou a ser com AIM-9P. A 1,5km os Tomcat foram avistados e os Migs reverteram. O líder foi seguido e derrubado. O outro foi para a traseira de um dos Tomcat que fez uma manobra "break turn" para desacelerar rápido e conseguiu ir para a cauda do Mig que também foi derrubado com o AIM-9P. Nos vôos dentro do território iraquianos, os iranianos voavam sempre baixo como proteção contra os mísseis SAM, artilharia antiaérea e migs. O vôo a baixa altitude diminuía o alcance a metade, mas as distâncias eram relativamente pequenas.

Um dos sistemas mais apreciados do F-14 era o APX-81 Combat Tree. Era um sistema projetado para rastrear o IFF SRO-2 dos Migs norte vietnamitas e repetia estes códigos para fazer SRO-2 "gritar" ativamente. Com o Combat Tree as tripulações passaram a ter indicação da direção e distância dos Migs. Com a identificação positiva dos alvos era possível disparar a longa distância. Sem ele os Phoenix seriam de pouca utilidade devido ao risco de fratricídio.

Em janeiro de 1981 ocorreu mais um kill além do alcance visual com o AIM-54 contra um Mig-23 com o disparo a 50km. Outros dois Migs foram visto cair provavelmente atingidos pela explosão que deve ter feito a carga de bombas explodir. Houve mais dois kill com ala também sendo derrubado. Mas o caso anterior foi o primeiro com três kill com um único míssil. Na maioria das vezes o resto da esquadrilha foge um explodir. No dia 29 de janeiro de 1981 um Su-20 foi derrubado a noite com um AIM-54 disparado a 54km.

No dia 15 de maio de 1981 um Mig-25RB foi atacado a 108km por um AIM-54. As emissões do AWG-9 no modo PSTT de dois segundos foram suficientes para alertar o alerta radar Sirene do Mig. Ainda dentro da fronteira do Iraque o piloto deu meia volta, acelerou e ligou as contramedidas eletrônicas. O míssil passou para o modo "home-on-jam" (HOJ) e explodiu atrás do alvo quase no limite do envelope. O Mig pousou danificado.

Em 16 de setembro de 1982 dois F-14 em patrulha foram direcionados contra um alvo voando a 70 mil pés a Mach 3 o que indicava certamente ser um Mig-25. Um AIM-54 foi disparado a cerca de 100km. O Mig não reagiu e o míssil foi direto ao alvo.

Em primeiro de dezembro de 1982 um F-14 em patrulha protegendo navios no Golfo Pérsico foi alertado contra um alvo voando a 70 mil pés e Mach 2.3. O F-14 estava a 40 mil pés e Mach 0.4. A distância era 113km e diminuindo rápido. O Mig foi difícil de adquirir pois o Mig acionou suas contramedidas e logo atingiu 71km de distância do F-14. Mesmo assim o Tomcat conseguiu disparar a um AIM-54 a 64km com o F-14 acelerando a Mach 1.4 até 45mil pés e disparando para cima. Fez uma manobra "F-Pole" para o leste para não se aproximar muito mas mantendo o alvo no envelope do radar. Pouco antes do contador chegar a zero o piloto voltou a direcionar para o alvo. O alvo sumiu dos radares no solo no mesmo momento junto com o radar do F-14.

Em 4 de dezembro de 1982 um Mig-25PD tentou interceptar um avião civil mas um F-14 o atacou. Usou o Combat Tree para se aproximar até o alcance mínimo do AIM-54. Ao acionar o AWG-9 o Mig acelerou. O primeiro míssil errou e o Mig desacelerou na fuga. O F-14 acelerou a Mach 2.2 e perseguiu o Mig com um segundo AIM-54 acertando o alvo.

No dia 6 de agosto de 1983 dois Mig-25PD sobrevoavam o Irã com um F-14 perseguindo com o radar AWG-9 em standby. Quando o F-14 ligou o radar os migs estavam bem dentro do envelope do AIM-54. Ao disparar os migs logo tentaram fugir. Um foi danificado e mergulhou, mas enquanto fugia cruzou a trilha de um F-5E que iria atacar posições iraquianas no solo. O F-5E alijou as bombas e ligou o pós-combustor até ficar na cauda do Mig e derruba-lo após disparar dois AIM-9P.

O primeiro Super Etandard iraquiano foi derrubado em 26 de julho de 1984 por um AIM-54. No dia 7 de agosto outro Super Etandard foi derrubado após disparar dois AM-39 Exocet. Os F-14 depois atacaram o Exocet mas não sabem o resultado. Outro Super Etandard foi derrubado por um F-4E no mesmo dia. O primeiro Mirage F-1 iraquiano foi derrubado no dia 14 de janeiro de 1985 assim como o míssil AM-39 Exocet que acabou de disparar também por um AIM-54. No dia 26 de março de 1985 três Mirage F-1 foram derrubados em menos de dois minutos.

Os iraquianos conseguiram desenvolver táticas para os Mig-25 fugirem dos F-14, mas em agosto de 1985 um Mig-25RB de uma esquadrilha de quatro foi derrubado ao atacar o terminal de Khark.

Os Mig-25 voando alto e rápido eram um alvo muito difícil até para os melhores pilotos de F-14. Apenas os melhores pilotos iraquianos voavam a aeronave. Eram escolhidos pela habilidade e não pela lealdade ao partido. Contra eles os iranianos tinham que manter patrulhas aéreas continuas e até noturnas. Se detectasse um Mig-25 os F-14 subia a até 40 mil pés e acelerava a mais de Mach 1. Os Mig-25 ficavam entre 60 a 70 mil pés e Mach 1,9 a 2,4.

No dia 15 de fevereiro de 1986 um Mig-25RB foi interceptado por um F-14 enquanto atacava a cidade de Arak e foi derrubado por um AIM-54. O piloto ejetou e foi morto pela população da cidade. Os pilotos do esquadrão iraquiano vingaram meses depois matando 70 civis da cidade após bombardea-la. No dia 18 de fevereiro de 1986 um Mirage F-1 foi derrubado por um AIM-54 no Golfo com outro míssil perdendo um outro Mirage.

Em 1986 os egípcios deslocaram caças Mirage 5SDE com contramedidas ALQ-234 da Selenia. Conseguiam jamear as baterias de mísseis HAWK e os radares dos F-4, mas não o Tomcat. Os F-4 nem conseguiam engajar com seus radares sofrendo interferência. Os iranianos citavaram encontro com Mirage 2000 na época.

Os iraquianos usaram o míssil R-23R/T junto com os Mig-23 desde setembro de 1982. Tinham o mesmo problema dos americanos no Vietnã com seus AIM-7 que não conseguia manter o acompanhamento do alvo. Os iraquianos dispararam 40 mísseis R-23R/T com acerto em um F-4E e um C-130. Pararam de usar em 1984. O Mig-23 foi um grande desapontamento. No inicio era visto como a resposta aos caças iranianos, mas era complexo de manter os eletrônicos, pouco manobrável e só tinha boa aceleração para fugir. Os iraquianos usavam táticas soviéticas, com os caças guiados por radares em terra. Subiam a toda velocidade, ligavam o radar, disparavam no alcance máximo e depois fugiam. Consideravam qualquer disparo como sendo um "kill".

Outra ameaça eram os R-40 dos Mig-25 e os Super 530F dos Mirage F-1EQ. Em fevereiro de 1983 um F-4E detectou Mig-25RB escoltado por um Mig-25P. O Phantom disparou um AIM-7 mas passou a voar balístico quando o Phantom teve que manobrar para evitar um R-40 disparado contra ele. O mesmo piloto foi derrubado depois por um R-40 disparado a longa distância. Em 29 de julho de 1987 um F-4E foi derrubado por um Super 530D, recém recebido em pequena quantidade "para testes", e disparado por um F-1EQ.

A melhor resposta iraquiana aos Tomcats foram os mísseis SAM que mantiveram os F-14 longe do país. O Iraque comprou 18 mil mísseis SAM russos e franceses durante a guerra. Os Tomcat do Irã foram testados com bombas bem antes da US Navy conceber o Bombcat. Não usaram contra o Iraque exatamente para não os expor as grandes defesa aéreas. Foram realizados apenas alguns ataques contra alvos de grande valor na fronteira.

No dia 20 de fevereiro de 1987 dois Mirage F-1 atacaram um F-4E no Iraque que estava sendo usado com isca. Enquanto perseguiam o F-4E dois F-14 dispararam um AIM-54 a longa distância derrubando um Mirage. Os Mirage estavam escoltando caças Su-22 que atacariam alvos no Golfo Pérsico. Os pilotos ouviram os pilotos dos Sukhoi gritando no rádio "F-14, fujam, fujam". Os seis Su-22 e o ala do Mirage sobreviveram.

Os pilotos iraquianos fugiam muito e se não eram derrubados fugiam mais pelo curto alcance dos seus caças e não por covardia. Os iraquianos temiam tanto o F-14 que quando não voavam as tropas do Irã eram logo atacadas. Se voavam os caças fugiam.

Os iraquianos faziam beaming sem querer em curvas de alta velocidade. Na primeira vez conseguiram chegar perto dos F-14. Durante este engajamento um Tomcat foi danificado por um míssil que explodiu embaixo do caça. Foi atacado pelo ala do Mig que atacou e derrubou com o canhão e AIM-9P. Uma tática usada com freqüência pelos iraquianos era monitorar as operações de reabastecimento em vôo para atacar quando o combustível estava acabando.

Os indianos ensinaram os iraquianos a usar o Mig-21 para combate independente a baixa altitude. A Índia usa caças de defesa de ponto para cobrir áreas grandes não cobertas por radar. Também ensinou táticas de combate lento a baixa altitude onde o Mig-21 era bom. Funcionou contra o Irã, mas a diferença de tecnologia com o F-4 e F-14 era ainda imensa. Os pilotos iraquianos evitavam combate a todo custo, só atacando com surpresa, mas eram atingidos a longa distância pelos iranianos.

Não era só os iraquianos que temiam o F-14. A Arábia Saudita observou a derrubada de três Tu-22 com o AIM-54 em marçco de 1984 e passou a evitar as áreas de operação da aeronave. Em 8 de agosto de 1987 um F-4E iraniano foi atacado pelos F-14 do VF-21 do USS Constelation. Os pilotos experientes conseguiram se evadir de um míssil e outro falhou e fugiram. Sabiam que não podiam vencer o F-14.

Os iranianos também melhoraram suas táticas. Com o desenvolver da guerra de atrito passaram a empregar táticas de caças e baterias de mísseis HAWK atuando junto. Os caças seriam o martelo levando os Migs para a bigorna. Estas táticas são pouco conhecidos pois ainda são validas.

Os F-14A as vezes agiam como controladores de caças direcionando outros Tomcats e F-4 contra os Mig-25, Tu-16, Tu-22KD e Tu-22B em ataques noturnos. Três F-14 com radar e rádios modificados operavam como mini-AWACS para cobrir Teerã. Faziam patrulhas de 12 horas com apoio dos KC-707 e direcionavam os F-4 da base TFB-1.

Os pilotos iraquianos não eram os únicos inimigos dos F-14. Vários pilotos estrangeiros voaram caças iraquianos. Pilotos egípcios voaram os Mig-21 e Mig-23. Belgas, Sul-africanos, Australianos e até um americano voou o Mirage F-1EQ entre 1985 e 1986. Instrutores franceses e jordanianos voaram missões de combate sem disparar. Soviéticos e alemães orientais também voaram, principalmente o Mig-25. Eram os melhores pilotos russos e alguns foram derrubados pelos F-14.

Em 1981 os iraquianos deslocaram para o fronte um esquadrão de Mig-21 armados com o Magic Mk1 e pilotados por mercenários franceses. Os franceses citam a entrega de 70 mísseis Magic I. Os iraquianos citam que derrubaram ou danificaram 12 aeronaves F-4E ou F-5E na região de Vahdati, além de um AH-1J. Os Iranianos reagiram deslocando os F-14 em maio e depois de um Mig ser derrubado ficaram na defensiva.

Os soviéticos aproveitavam a guerra para testar suas armas. Em março de 1985 chegou uma unidade de 10 pilotos soviéticos pilotando o Mig-27 equipados com mísseis Kh-29T/L. Voavam duas saídas por dia e eram uma grande ameaça as posições iranianas. O Irã respondeu deslocando interceptadores para emboscar os Migs. O sucesso foi instantâneo com três migs derrubados por mísseis AIM-54 e quatro por AIM-9P disparados de F-4E. Três pilotos derrubados pelos AIM-54 morreram e os outros quatro foram resgatado. Logo a unidade voltou para a URSS.

Os russos voltaram depois em novembro de 1986 com mísseis anti-radar Kh-58U e Kh-25MP para testar contra as baterias de mísseis MIM-53 HAWK e contramedidas contra os F-14. O primeiro teste foi contra a base aérea de Mehrabad onde estavam baseados 15 caças F-14 protegidos por duas baterias de HAWK. Foram duas incursões diárias com sucesso destruindo a estação de radar. Os Mig-25 voavam impunes a 69 mil pés até dispararem os mísseis. No terceiro dia foi diferente. Logo ao entrar no espaço aéreo iraniano foram interceptados pelos F-14 que disparou um AIM-54 no modo "home-on-jam" com grande interferência. O míssil guiou sem falha mas a ogiva não detonou atingido a barbatana dorsal do Mig-25. O piloto conseguiu pousar danificando a aeronave. Depois só retornaram em julho de 1988 com os mísseis Kh-58U melhorado e o Kh-31P para atacar radares ADS-4 de defesa aérea de banda baixa para alerta antecipado. Um site radar foi destruído com sucesso. Outra aeronave testada foi o Mig-25BM para supressão de defesas em 1986 por algumas semanas. Um foi derrubado na fronteira enquanto fugia.

Em janeiro de 1988 o Iraque recebeu 30 mísseis Matra Super 530D junto com o Mirage F-1EQ equipado com radar Cyrano IV junto com 80 mísseis Magic II "all aspect" e novo ECM Remora para conter os radares AWG-9 do Tomcat. Os russos forneceram casulos SPS-141. Os iraquianos já tinham testado vários tipos de interferência como técnicas de despistamento, barragem, spot e overload sem sucesso mostrando o quanto temiam o Tomcat. Nada funcionava pois o AWG-9 tinha agilidade de freqüência e freqüência básica alta. O radar mudava rápido de freqüência automaticamente se jameado e rejeitava sinais não compatíveis com seus sinais de padrões de varredura. Só tinham problemas quando tentavam usar o AIM-7. O AIM-54 também não mostrou vulnerabilidade as contramedidas. O AWG-9 era raramente jameado. Foram alguns casos de acompanhamento (lock) quebrado ou Mig-25 fugindo, mas não jameavam com interferidores russos ou franceses. Em uma ocasião usara todas as técnicas juntas para jamear e em outra ocasião 11 interferidores foram usados simultaneamente com o radar respondendo em segundos.

Em 9 de fevereiro de 1988 um F-14 foi guiado por controlador em terra para interceptar caças Mirages atacando o terminal de Khark. Um Mirage foi derrubado com um AIM-7 disparado a 10km. O F-14 foi atacado depois por trás por dois Mirage com o F-14 conseguindo manobrar e derrubar um com um AIM-9P. Em outra missão no mesmo dia um F-14 detectou alvos a 16km e sem chances de disparar um AIM-54. O F-14 mergulhou e os Mirages se espalharam. Com uma curva o F-14 estava atrás deles. Derrubou um e fez varias curvas para garantir que não estava sendo seguido.

Em 15 de fevereiro de 1988 os iranianos realizaram mais um ataque contra o terminal de Sirri com os Mirages sendo interceptados por F-14. Um F-14 disparou um AIM-54 a longa distància com um kill.

No dia 16 de fevereiro de 1988 um único F-14 em patrulha de combate aéreo detectou dois grupos de quatro caças se aproximando em varias direções. Era a tática básica para vencer o Tomcat. O Tomcat disparou um Sparrow que não funcionou e fugiu. Voltou depois com o sol pelas costas e disparou um AIM-9P contra um Mirage. Os iraquianos conseguiram desviar a atenção de outro ataque e o piloto do F-14 teve que desengajar por falta de combustível e foi para o reabastecimento em vôo. Um Mirage foi derrubado por um míssil Hawk durante o ataque ao terminal. Na volta se reencontraram com o Tomcat voltando e um Mirage foi derrubado por um AIM-9P.

No dia 25 de fevereiro de 1988, um bombardeiro Xian B-6D (copia chinesa do Tu-16) foi interceptado por um F-14 logo apos lançar mísseis anti-navio C-601. O F-14 disparou dois AIM-54 e derrubou o míssil e a aeronave. O B-6D podia ameaçar até o estreito de Hormuz mas depois desse ataque não passaram de Bareim.

Em 19 de julho de 1988 quatro Mirage F-1EQ-6 armados com o Super 530D atacaram dois F-14. Usaram contramedidas eletrônicas para jamear o radar do Tomcat negando a oportunidade de disparar o AIM-54. Engajaram com o Super 530D derrubando os dois F-14s. Vinte minutos depois derrubaram um F-4E que fazia busca dos pilotos.

Em setembro de 1980 os F-14 engajaram helicópteros Mi-8 voando baixo. Atacavam com táticas de ataque ao solo devido a pequena velocidade do alvo e usaram o canhão Vulcan, apesar da doutrina citar que um caça caro como o F-14 não deveria engajar helicópteros. Em 2 de novembro de 1982 um F-14 detectou vários alvos voando lento próximo a fronteira. Eram oito caças escoltando uma esquadrilha de Mi-8 transportando um general iraquiano. O F-14 disparou dois AIM-54 e dois Saprrow e 10 segundos depois dois Mig-21 e um Mig-23 foram derrubados. O Tomcat não detectou os helicópteros.
No total foram 150 combates aéreos com o F-14 e 90 kill. Os iranianos calcularam 71 disparos de mísseis AIM-54, mais 10 perdidos com aeronaves que foram derrubados, caíram ou desertaram. Calcularam 30 vitórias para os Tomcat sendo 16 com o AIM-54, quatro prováveis, um por Sparrow mais dois prováveis, e seis por Sidewinder. Os iranianos também tem evidencias firmes de 130 vitórias e 23 prováveis para o F-14 sendo pelo menos 40 para o AIM-54, 2-3 com canhão, cerca de 15 com Sparrow, e o resto com o AIM-9P. Em uma ocasião quatro caças iraquianos foram derrubados com por único AIM-54 mais dois "double kill". Um desertor iraquiano confirmou 98 caças e 33 pilotos perdidos para o Irã até maio de 1982, incluindo um Mig-25.

Os AIM-7 Sparrow tiveram um "kill ratio" de cerca de 20%. Não era usado em combate aproximado mas sim em médio alcance a cerca de 10km e com disparo no aspecto frontal.

Já as perdas de F-14 são de 70 derrubados pelas fontes iraquianas, 12-16 de outras fontes, e 3 confirmadas pelo Irã. Um F-14 perdido em julho de 1987 lutava contra 12 caças. Um F-14 atacado por oito Mirage F-1 foi atingido por vários mísseis Magic e Super 530D em fevereiro de 1988. O piloto ejetou. Mais de 30 Mirage F-1 foram derrubados pelos F-14 com três perdas. Outros quatro Tomcats foram derrubados pelos próprios mísseis Hawk iranianos. Outros sete foram perdidos em acidentes entre 1981 e 1988 mais oito danificados.

Alem das vitórias, os Tomcat eram bons para dissuasão, com vários ataques iraquianos abortando a missão e fugindo, com os Tomcat completando a missão de defesa aérea e evitando novos ataques. Onde havia F-14 voando não havia iraquianos operando, sendo um sistema de defesa aérea muito efetivo. Era muito intimidador apenas com a emissão do radar.

Já os F-4E do Irã conseguiram entre 90 a 120 vitórias sendo 9 com o canhão Vulcan, 47 com o AIM-9P1 e 5 com o AIM-7E2. Alguns não se sabe qual arma foi usada e poucos foram com "manouvre kill".



Os pilotos iranianos voavam muito durante a guerra e não apenas um tour ou alguns tours. Lutaram durante toda a guerra. Um piloto cita que tinha sorte e eram muito bem treinados. O Rei deposto não economizava no treinamento. Os pilotos menos treinados e pouco experientes eram derrubados com mais freqüência.



Em 1984 os iranianos iniciaram estudos para encontrar uma arma de logo alcance para substituir os AIM-54 cujo estoque estava acabando. O projeto se chamava Long Fang. A única arma disponível em quantidade era o míssil MIM-23B "Improved Hawk" (Homing All-the-Way Killer). O Irã até continuou a comprar mais mísseis Hawk de Israel, Grécia, Taiwan e Coréia do Sul até 1987. Assim foi iniciado o programa Sky Hawk em 1985. Os militares responsáveis pelo projeto já tinham trabalhado antes em Israel para adaptar o míssil Standard AGM-78 em um F-4 para derrubar o Mig-25 e Tu-22 voando alto que foi cancelado após Israel receber o F-15 armado com o AIM-7F. Os testes com o Sky Hawk mostrou que o caça deveria levar o míssil nos cabides das asas. O disparo deveria ser a pelo menos 3 mil metros e a velocidade maior que Mach 0.75. O alvo deveria estar entre 30 a 50 mil pés. O primeiro teste foi em abril de 1986. Os iranianos tiveram problemas com o datalink do míssil e o sinal de radar era fraco. Foram dois kill não confirmados nos testes e não foi usado depois no conflito, mas com mais testes realizados na década de 90. Dois F-14 foram modificados para levar o Hawk. O míssil Hawk tem 5 metros de comprimento, 370mm de diâmetro e pesa 638kg. Tem guiamento semi-ativo e alcance de 40km lançado do solo. A versão ar-ar foi mostrado em Teerã em 1998.


Durante a década de 90 o Irã iniciou uma série de modificações em algumas armas para adaptar para outras funções. As primeiras evidências apareceram em 1997 em várias fotografias. Para melhorar a capacidade antinavio e ar-ar, adaptaram o RIM-66 Standard para ser disparado do F-4. Versão lançada do ar AGM-78 já era usada como míssil anti-radar. Os mísseis do Irã foram retirados dos navios classe Babr. O sensor de radar semi-ativo pode ser usado contra navios e aeronaves voando baixo. O sensor de TV do sistema TISEO do F-4 (visível na raiz da asa esquerda na foto) pode até ser usado para forçar o míssil a trancar em alvos no solo.


Próxima Parte: Batalha do Vale do Bekaa e Guerra das Malvinas


Atualizado em 15 de novembro de 2007



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