domingo, 30 de janeiro de 2011

8380 - SÉCULO XIX

Romantismo - Poesia (séc. XIX, no BR)
Índice

Referências históricas
Características
Autores
Sinopse
“Metamos o martelo nas teorias, nas poéticas e nos sistemas. Abaixo este velho reboco que mascara a fachada da arte!”

--Victor Hugo

Na Europa, a partir da metade do século XVIII, surgem autores que, libertando-se parcialmente dos limites traçados pela poética neoclássica, apresentam novas concepções literárias. Em suas obras, eles expressam sentimentos inspirados nas tradições nacionais, falam de amor e saudade num tom pessoal, realizando uma poesia mais comunicativa e espontânea do que a neoclássica. Era o nascimento do Romantismo que foi desenvolvendo-se e enriquecendo-se à medida que se expandia. Assim, acabou adquirindo características tão variadas que se torna impossível descrevê-lo em todas as suas dimensões.

No Brasil, percebe-se o desejo de criação de uma literatura nacional. Assim representou a primeira tentativa consciente de se produzir literatura verdadeiramente brasileira. Abandonou aos poucos o tom lusitano, a fim de dar lugar a um estilo mais próximo da fala brasileira.

Referências históricas
Contexto sócio-político da época (início do Romantismo no Brasil):

1808 - chegada ao Brasil de D. João VI e da família Real

1808/1821 - abertura dos portos às nações amigas; instalações de bibliotecas e escolas de nível superior; início da atividade editorial.

1822 - Proclamação da Independência. Daí nasce o desejo de uma literatura autenticamente brasileira.

1831 - abdicação de D. Pedro I e início do Período de Regência, que vai até 1840 (maioridade de D. Pedro II); fundação da Companhia Dramática Nacional; início da Guerra do Paraguai até 1840)


Características
Podem-se apontar, no amplo e diversificado movimento romântico, algumas tendências básicas:

a exaltação dos sentimentos pessoais, muitas vezes até autopiedade

exaltação de seu “eu” - subjetivismo

a expressão dos estados da alma, das paixões e emoções, da fé, dos ideais religiosos

apóiam-se em valores nacionais e populares

desejo de liberdade, de igualdade e de reformas sociais; e a valorização da Natureza, que é vista como exemplo de manifestação do poder de Deus e como refúgio acolhedor para o homem que foge dos vícios e corrupções da vida em sociedade

em alguns casos, fuga da realidade através da arte (direção histórica e nacionalista ou direção idílica e saudosista)


A linguagem sofreu transformações: em lugar da bem cuidada sintaxe clássica e das composições de metro fixo, os românticos preferiram uma linguagem mais coloquial, comunicativa e simples, criando ritmos novos e variando as formas métricas. Essa liberdade de expressão é uma das características típicas do Romantismo e constitui um aspecto importante para a evolução da literatura ocidental. O espírito de renovação lingüística é uma contribuição importante do Romantismo e foi retomado, no século XX, pelos modernistas.

Na poesia, distinguem-se três fases, as chamadas Gerações Românticas:

Gerações Nomes Principais poetas Principais temas
1ª Geração Nacionalista ou Indianista Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre Exaltação da natureza, excesso de sentimentalismo, amor indianista, ufanismo (exaltação da pátria)
2ª Geração Ultra-Romântica ou Mal do Século Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela Egocentrismo, sentimentalismo exagerado, morte, tristeza, solidão, tédio, melancolia, subjetivismo, idealização da mulher.
3ª Geração Condoreira ou Social Castro Alves, Sousândrade, Tobias Barreto Sentimentos liberais e abolicionistas

Indianismo - uma das formas mais significativas do nacionalismo romântico. O índio é um ser idealizado (nobre, valoroso, fiel), apesar disso demonstra a valorização das origens da nacionalidade.

Mal do Século - voltando-se inteiramente para dentro de si mesmos, esses poetas expressaram em seus versos pessimistas um profundo desencanto pela vida. Muitos marcados pela tuberculose, mal que deu nome à fase

Condoreirismo - poesia social e libertária que reflete as lutas internas da Segunda metade do reinado de D. Pedro II.

Autores
Gonçalves de Magalhães
Domingos José Gonçalves de Magalhães nasceu no Rio de Janeiro, em 1811. Viveu na Europa, onde teve contato com a poesia romântica. A obra Suspiros Poéticos e Saudades foi considerada a obra inaugural do Romantismo no Brasil. O autor procurou criar e consolidar uma literatura nacional para o país. Morreu em Roma, em 1882. Seu poema de destaque foi Noite tempestuosa do livro Urânias.

Obras: Suspiros Poéticos e Saudades (1836); Urânias (1862); Cânticos Fúnebres (1864) e outros

Gonçalves Dias
Primeiro grande poeta do Romantismo brasileiro. A temática indianista que caracteriza sua obra apresenta forte colorido e ritmo. Seu grande poema indianista Os Timbiras ficou incompleto, pois durante o naufrágio em que o poeta morreu perderam-se também os textos. Além da vertente indianista, também se destaca a lírica amorosa, mas não apresenta passionalidade. Aqui a mulher é sempre um anjo, idealizada, numa ótica platônica.

Obras Principais:

"I Juca Pirama", "Canção do Tamoio", “Os Timbiras” - sentimento de honra e valentia do índio

"Leito de folhas verdes", "Se se morre de amor", "Como? És tu?", "Ainda uma vez - adeus!", "Seus olhos" - sentimento amoroso

"Canção do Exílio" - solidão, exílio, amor à pátria, retomada por muitos modernistas

"O mar", "A noite", "A tarde" - poesias impregnadas de religiosidade sobre a majestade da natureza

Livros - Primeiros Cantos (1846), Segundos Cantos (1848), Sextilhas de Frei Antão (1848), Últimos Cantos (1851), Os Timbiras, Cantos (1857).


"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá."

--Canção do Exílio

"Por onde quer que fordes de fugida
Vai o fero Itajuba perseguir-vos
Por água ou terra, ou campos, ou florestas;
Tremei!..." Os Timbiras
"Eu vi o brioso no largo terreiro,
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest'hora diante de mi."

--I-Juca Pirama

Álvares de Azevedo
Poeta que melhor representou a estética ultra-romântica. Tendência aos aspectos mórbidos e depressivos da existência, degeneração dos sentimentos, decadentismo e até satanismo. A escolha vocabular reflete essa tendência: "pálpebra demente", "matéria impura", "fúnebre clarão", "boca maldita", entre outros. Esta linguagem, acrescida de termos científicos, voltará no Simbolismo com Augusto dos Anjos.

Morreu tuberculoso aos 20 anos de idade, não sendo reunida em livro sua obra.

Obras Principais:

"Liras dos vinte anos" - livro-síntese dessa geração pois revela a força lírica e a v ironia romântico-macabra

"Macário" - composição livre, meio diálogo, meio narração

"O Conde Lopo"

"Poema do Frade"

"Pedro Ivo" (poemetos)

"Noite na Taverna" - prosa narrativa fala da boemia estudantil da época, que era uma forma de protesto e fuga


"Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!"
" Quando falo contigo, no meu peito
esquece-me esta dor que me consome:
Talvez corre o prazer nas fibras d'alma:
E eu ouso ainda murmurar teu nome!"

--Lira dos Vinte Anos

"Pois bem, dir-vos-ei uma história. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não é um conto, é uma lembrança do passado."

--Noite na Taverna

"A mulher recuava... Recuava. O moço tomou-a nos braços, pregou os lábios nos dela... Ela deu um grito, e caiu-lhe das mãos. Era horrível de ver-se. O moço tomou o punhal, fechou os olhos, apertou-os no peito, e caiu sobre ela. Dois gemidos sufocaram-se no estrondo do baque de um corpo…"

--Noite na Taverna

"Mais claro que o dia. Se chamas o amor a troca de duas temperaturas, o aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem, de duas vidas que se fundem tenho amado muito e sempre! Se chamas o amor o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela—eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loira, de cabelos castanhos ou negros.

Tenho-as visto que fazem empalidecer—e meu peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria…"

--Macário

"Esse amor foi uma desgraça. Foi uma sina terrível. Ó meu pai! ó minha segunda mãe! ó meus anjos! meu céu! minhas campinas! É tão triste morrer!"

--Macário

Junqueira Freire
Luís Junqueira Freire nasceu em 1832, em Salvador. Formou-se professor aos 20 anos. Morreu em 1855, logo após a publicação das Inspirações do Claustro. Seu poema em destaque foi Meu filho no claustro.

Obras Principais:

Inspirações do claustro (1855)

Contradições poéticas (data incerta)


Casimiro de Abreu
Poeta que representa a sensibilidade brasileira espontânea. Levou vida boemia e morreu de tuberculose Sua poesia não foi muito inovadora, sendo considerado mais ingênuo dos românticos. Conhecido como "poeta da infância", fala muito da inocência perdida Trabalha também temas do chamado “romantismo descabelado”: exílio e lirismo amoroso.

Obras Principais:

Camões e o Jau (teatro)

Carolina (romance)

Camila (memórias)

A Virgem Loura (prosa)

Primaveras (poesia)


"Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!"

--Meus oito anos

Fagundes Varela
Poeta romântico boêmio inspirado pelo byronismo. A morte marca sua vida pessoal com a perda do filho de três meses e da ex-esposa. Por sua amizade com Castro Alves, fez a ponte da poesia pessimista à poesia social. Falece, alcoólatra e mentalmente desequilibrado tornando-se o protótipo do poeta maldito brasileiro.

Obras Principais:

Noturnas (1861), O Estandarte Auriverde (1863), Vozes da América (1864), Cantos e Fantasias (1865), Cantos Meridionais (1869), Cantos do Ermo e da Cidade (1869), Anchieta ou Evangelho na Selva (1875), Diário de Lázaro (1880), Cantos Religiosos (1878) - poesias

Ruínas da Glória, Ester, Ina, Cora - prosa


"Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústia conduzia
O ramo da esperança. - Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pergueiro."

--Cântico do Calvário

Castro Alves
Porta-voz das ânsias coletivas tem na poesia abolicionista sua melhor realização na linha social ("Navio Negreiro" e "Vozes d'África). Em suas obras, atribui ao poeta a missão de denunciar as injustiças sociais e de clamar pela liberdade ("Adeus, meu canto").

Esse tipo de poesia se realiza num estilo vibrante, em que predominam as comparações, metáforas, antíteses, hipérboles, apóstrofes, empregadas quase sempre em função de elementos grandiosos da natureza, que sugerem imensidão, força, majestade, como: montanhas, cordilheiras, oceanos, tempestades, furacões, astros, cachoeiras, configurando assim o estilo chamado Condoreirismo.

Sua poesia amorosa é bem mais sensual do que se fazia na época. Nela, a mulher, diante das vagas idealizações ultra-românticas, aparece em toda sua beleza física e envolvida por um clima de erotismo e paixão.

Como a maioria dos poetas românticos morre cedo, aos 24 anos de idade.

Obras Principais:

"Espumas Flutuantes" (1870)

"A Cachoeira de Paulo Afonso" (1876)

"Os escravos" (1883)

além das poesias escreveu para o teatro “Gonzaga ou a Revolução de Minas” (1876)


"Eras um sono dantesco... O tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar,
Tinir de ferros... Estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar"

--Os Escravos

Sinopse
Marco inicial = publicação do livro Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães (1836). esta obra promoveu, de modo sistemático, os ideais românticos (nacionalismo + religiosidade) e o repúdio aos padrões clássicos externos (mitologia pagã).

Marco final = publicação de O Mulato (Aluísio Azevedo) e de Memórias Póstumas de Brás Cubas (M. de Assis) em 1881





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