segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

8460 - HISTÓRIA DA MEDICINA

MEDICINA
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junho 21st, 2010 | Author: medicina

1. Símbolo Asclépio
A Contribuição da Mesopotâmia (3.000 a. C.)
O símbolo da medicina, uma cobra enrolada num cajado, originou-se na antiga Mesopotâmia há cerca de cinco mil anos. A água, pela sua importância na vida de animais e vegetais influía na formação de conceitos de vida e morte. Todas as cidades apenas viviam as margens de grandes rios. Diversos deuses, como dos cosmos, senhores dos céus, da terra e da água eram venerados e o homem devia ser servil e obediente. O pensamento primitivo do homem era mágico e místico. Era crença de que os deuses criaram o Céu e a Terra e depois o homem. Este foi feito do barro e misturado com ar e sangue de um deus morto para este propósito. Esta é a razão da crença mesopotâmica de que os deuses estavam presentes em todo ser vivo. Os seres humanos foram feitos para servir aos deuses e aos governantes, venerando-os e construindo templos. Aqueles que eram obedientes eram protegidos e aqueles que eram desobedientes eram esquecidos e acometidos de doenças. A magia era a principal medida terapêutica, a qual também era utilizada para a obtenção de chuva para a colheita. Após o domínio dos assírios e babilônicos sobre a Mesopotâmia, os costumes, leis e doutrinas dos sumérios foram adotados na região. A cidade da Babilônia tornou-se o centro de cultos religiosos que atribuíam poder a tríade Água, Terra e Céu. O deus mais antigo eram Sin, o qual cuidava do crescimento de ervas curativas, as quais não deviam ser expostas ao sol. Em torno de 2000 a.C. estabeleceu-se a primeira dinastia babilônica, com o reinado de HAMMURABI (1792-1750), o qual elaborou um código, onde dizia que a doença causada em alguma pessoa por outra pessoa, poderia ser compensada conforme alguns artigos:

Art. 196 “Se ele quebrar um osso de seu patrício, seu osso deve ser quebrado.”
Art. 197 “Se um homem destruir o olho de seu patrício, seu olho deve ser destruído”.

Ningishizida

Os sumérios, iniciadores da religião mesopotâmica, tinham entre seus deuses, NINGISHIZIDA, deus da cidade de Gishibanda, perto de Ur, no sul da Mesopotâmia. Seu nome significa “deus protetor das plantas” e era representado com duas serpentes crescendo de seus ombros. Os sumérios consideravam a serpente, chamada SACHAN, um símbolo de juventude e saúde, pois além de trocar a pele, rejuvenescendo-se, vivia próximo das profundezas da terra, onde habitava EA, deusa das águas e da saúde. Mais tarde o símbolo da saúde e medicina passou a ser representado por uma serpente com duas cabeças enroladas em um cajado ou um galho de uma planta. Esta simbologia foi transmitida até o reinado de HAMMURABI, o qual, retirou uma serpente do símbolo, ficando apenas uma serpente enrolada num cajado. Os historiadores divergem quanto as razões desta mudança, havendo alguns que acreditam que talvez tenha sido um plano real de combate a inflação da época enquanto que outros acreditam que o rei, temeroso da popularidade da classe médica – todos muitos estudiosos e competentes -. tentou diminuir o seu prestígio para assim poder pagar baixos salários a estes profissionais. Este símbolo foi transmitido para a civilização grega oito séculos mais tarde, que incorporou conceitos da religião mesopotâmica para sua mitologia.

A Mitologia Grega
2. Símbolo Hermes

A mitologia é a narrativa de uma criação, sendo uma representação coletiva transmitida através de gerações e que relata uma explicação e expressão do mundo e da realidade humana. Na tentativa de explicar o mundo e o homem que formam a complexidade do real, a mitologia deixa de ser lógica, passa a ser ilógica e até irracional. Fica aberta a versões, mudanças e interpretações. Ao decifrar um mito, o homem tenta decifrar a si mesmo. Foi esta forma de pensamento que criou a busca do conhecimento interior dos tempos modernos, através de CARL JUNG (1875 – 1961) e o inconsciente coletivo e SIGMUND FREUD (1856-1939) e o complexo de Édipo. Mas para quem gosta de história e já foi analisado ou não precisa de analista, a mitologia grega é bela e completa, pois desvenda tudo sobre o ser humano. Na religião o homem se torna humilde e, através da fé, uma emoção e uma força ainda pouco conhecida embora muito usada, reconhece e manifesta sua dependência em relação a DEUS, um ser invisível e perfeito. Através da ciência, o homem busca esta perfeição e o domínio de tudo, buscando a onipotência podendo até ignorar a humildade, embriagado pelo conhecimento e pela vaidade. E se esquece que enquanto a ciência traz o conhecimento, a religião e a fé permitem ao homem conhecer a sabedoria e a paz. Mas na mitologia o homem realiza todos seus desejos religiosos e científicos, pois cria seus mitos concebidos como história verdadeira. Ele humaniza o mundo natural e sobrenatural e valoriza, dá confiança e esperança ao homem mortal. Afinal, qual o ser humano que não quer se tornar um mito?.

Enquanto que nas civilizações vizinhas os deuses inspiravam temor e medo, na mitologia grega os deuses inspiravam uma sensação de segurança. Os gregos dotavam seus deuses de atributos semelhantes aos seus, isto é, de corpos humanos e de fraquezas e desejos humanos. Eram deuses feitos a imagem e semelhança do homem. Imaginavam uma grande família de divindades a brigar entre si, necessitando de alimentos especiais e do sono. Misturavam-se livremente com os homens e até tendo filhos de mulheres mortais. Os deuses diferiam dos homens por se alimentarem de néctar e ambrósia, o que lhes conferia imortalidade. Não moravam no céu, mas no alto do Monte Olimpo, um pico no norte da Grécia de 3.000 metros de altura. Na mitologia grega, não foram os deuses que criaram o universo, mas o universo que criou os deuses. A primeira fase do universo envolve a história do CAOS de onde saíram, além de TÁRTARO, o local mais profundo das entranhas da terra, abaixo dos próprios infernos, EROS, deus do amor e GÉIA (Terra), que gerou URANO, o qual deu nascimento aos deuses. Na primeira geração divina URANO (Céu) se une a GÉIA (Terra) dando origem a numerosa descendência: TITÃS, TITÂNIDAS, CÍCLOPES, HECATONQUIROS e outros como CRONO (Tempo), MUSA, ERÍNIA, etc. Embora de origem divina, surgiram mortais como os GIGANTES e divindades secundárias que não moravam no Olimpo, como as NINFAS. A primeira geração divina se fecha com AFRODITE após uma longa e importante descendência nascidas de URANO e GÉIA. A segunda geração divina relata CRONO e seus descendentes, que, após de casar com sua irmã RÉIA, deu origem a HÉSTIA, HERA, DEMÉTER, HADES, POSÍDON (ou POSEIDON) e ZEUS. A terceira geração divina aborda ZEUS e sua luta pelo poder. Quando atingiu a idade adulta, ZEUS iniciou uma longa e terrível luta contra seu pai CRONO e seus tios, os TITÃS. Terminada a refrega, três grandes deuses receberam por sorteio seus respectivos domínios: ZEUS obteve o céu, POSÍDON, o mar e HADES, o mundo subterrâneo. Mas a supremacia do universo pertencia a ZEUS, que passou a ser considerado o deus do céu e controlador dos raios, o pai dos deuses e dos homens. Além de ZEUS, moravam no OLIMPO outros deuses, num total de doze: ZEUS, seus dois irmãos POSÍDON e HADES, sua irmã HESTIA, sua esposa HERA, esposa legítima e protetora das esposas do amor legítimo, embora ciumenta, vingativa e violenta. Vivia irritada pela infidelidade de ZEUS que teve inúmeros casos e filhos com diversas mulheres, deusas e mortais, sendo um de seus filhos HÉRACLES – HÉRCULES do latim – com ALCMENA. HÉRACLES foi uma das vítimas prediletas da perseguição de HERA, que impôs ao herói os célebres DOZE TRABALHOS. Também moravam no OLIMPO outros deuses como ARES, deus da guerra e filho ZEUS e HERA, além de outros filhos e filhas, como ATENÁ (ou ATENAS), filha de ZEUS com sua primeira esposa MÉTIS, APOLO, filho de ZEUS com a divindade oriental LETO, AFRODITE, filha de ZEUS com DIONE, HERMES, filho de ZEUS e MAIA, ARTEMIS, irmã de APOLO e HEFESTOS, outro filho de ZEUS e HERA, mas fruto de uma união sem amor, pois veio ao mundo por cólera e desafio de HERA ao esposo, que o gerou sozinha. Quase todas as divindades eram capazes tanto do bem como do mal, pois as vezes enganavam os homens e os induziam ao erro.

Hermes

HERMES era filho de ZEUS com MAIA, uma das sete filhas de ATLAS e a mais jovem das Plêiades. HERMES nasceu no dia 4 (número lhe era consagrado) numa caverna do monte Cilene, sendo enfaixado e colocado no vão de um salgueiro, árvore sagrada, símbolo da fecundidade e da imortalidade, mas logo revelando uma precocidade extraordinária. No mesmo dia de seu nascimento, libertou-se das faixas e viajou até a Tessália, onde furtou parte do rebanho de ADMETO, guardado por APOLO que cumpria uma punição. Com os animais com galhos amarrados na cauda, apagou seu rastro e foi para a gruta de Pilos. Lá sacrificou duas novilhas aos deuses, dividindo-as em doze porções, embora os imortais fossem apenas onze até então: o menino-prodígio acabava de se promover a décimo segundo deus do Olimpo.

Após esconder o resto do rebanho, regressou a Cilene, onde matou uma tartaruga, arrancando sua carapaça, com a qual fez uma lira, usando as tripas de novilhas sacrificadas como cordas. APOLO descobriu e acusou o ladrão a MAIA, a qual negou o furto e protegeu seu filho recém-nascido, como uma verdadeira super-mãe. APOLO então recorreu a ZEUS, que constatou a mentira do filho e o obrigou a prometer que nunca mais faltaria com a verdade. HERMES concordou acrescentando que não estaria obrigado a dizer a verdade por inteiro. HERMES encantou a todos com o som de sua lira, a qual trocou pelo resto do rebanho furtado. A seguir, HERMES inventou a flauta de Pã (“syrinks”), que despertou a cobiça e o desejo de APOLO de possuí-la e, para tal, lhe ofereceu o cajado de ouro – o caduceu – que passou a figurar como seu símbolo e atributo. HERMES é uma divindade complexa, que inicialmente era um deus agrário, protetor dos pastores nômades e dos rebanhos, sendo também representado com um carneiro sobre os ombros. Mas os gregos ampliaram suas funções e, por ter furtado o rebanho de APOLO, ele se tornou um símbolo de tudo quanto implica em astúcia, ardil trapaça, sendo conhecido como um verdadeiro amigo e protetor dos comerciantes e dos ladrões. Era mencionado como o Senhor dos que realizam seus negócios durante a noite, às escuras, cujo significado é bem claro. Protetor dos viajantes, era o deus das estradas, as quais cuidava e por onde andava com incrível rapidez, pelo fato de usar sandálias de ouro, providas de asas.


Pela sua rapidez, tornou-se mensageiro predileto dos deuses, principalmente de seu pai, ZEUS. Por sua astúcia e inteligência, sua capacidade de se tornar invisível ao usar o capacete de HADES e de viajar por todos os lugares com incrível velocidade, fez boas ações também. Recompôs fisicamente seu pai ZEUS, roubando os tendões que lhe arrancara o monstruoso TIFÃO e salvou a ULISSES e seus companheiros, já transformados em animais pela feiticeira CIRCE. Como intérprete da vontade dos deuses, entregou a lira a ANFIÃO, a espada a HÉRACLES, a PERSEU o capacete de HADES. Adormeceu e matou o gigante ARGOS de cem olhos, o guardião a vaca IO e levou ao monte IDA as três deusas HERA, ATENÁ e AFRODITE para que o pastor PÁRIS fosse o árbitro na magna querela de quem era a mais bela das imortais, escolha que resultou na Guerra de Tróia. Também conduziu PSIQUÉ ao monte Olimpo para se casar com EROS. HERMES teve muitos amores e vários filhos, sendo o mais importante de todos HERMAFRODITO, que teve com AFRODITE. A iconografia de HERMES apresenta-o com um chapéu de formato especial (“pétasos”), com sandálias providas de asas e segurando um caduceu com duas serpentes entrelaçadas em sentido inverso na parte superior. O caduceu (do grego “kerykeion”) significa bastão e um arauto. O símbolo das duas serpentes, a direita e a esquerda, são de aspecto simbólico com o diurno e o noturno, o benéfico e o maléfico. Elas simbolizam o equilíbrio das tendências contrárias em torno do eixo do mundo, representando um símbolo da paz e da divindade do seu portador. Na época clássica da Grécia, o caduceu recebeu duas asas encima, transcendendo suas origens, vindo por isto a ser muitas vezes usado para representar o emblema da medicina, mas de forma incorreta.

Mercúrio

À medida que Roma ia entrando em contato com a civilização grega, a partir do Século V a C , a mitologia grega e seus deuses foram naturalizados romanos. ZEUS virou JÚPITER, POSEIDON virou NETUNO, HADES virou PLUTÃO, HESTIA virou VESTA, HERA virou JUNO , ARES virou MARTE, ATENA virou MINERVA, APOLO continuou APOLO, AFRODITE virou VÊNUS, HERMES virou MERCÚRIO, ARTEMIS virou DIANA e HEFESTOS virou VULCANO. Em torno do século III a C foi plagiado diretamente da Grécia o deus-médico ASCLÉPIOS, que recebeu o nome de ESCULÁPIO. As imagens dos deuses gregos naturalizados romanos eram preservadas ou levemente modificadas. O velho culto da religião romana foi sofrendo uma grande concorrência com a suntuosidade litúrgica que acompanhava o culto das divindades helênicas. Em resposta a esta invasão da mitologia e religião estrangeiras, os romanos conservadores criaram deuses nacionais frutos de uma grande imaginação: a construção de esgotos (CLOACA MAXIMA ) introduziu o culto da deusa DEA CLOACINA , a cunhagem de moedas de prata leva a introdução do culto do deus ARGENTINUS e o envio das primeiras esquadras romanas ao Mediterrâneo cria o culto da deusa TEMPESTAS, dentre inúmeros outros deuses criados a partir de idéias abstratas, como FIDES (Boa Fé), VICTORIA (Vitória), SPES (Esperança) e LIBERTAS (Liberdade). HERMES latinizado para MERCÚRIO tem seu nome originário da palavra MERCES, mercadoria. O caduceu de HERMES foi transmitido para MERCÚRIO, entrelaçado de duas serpentes, de sorte que a parte superior forma um arco, possuindo duas extremidades de asas. Esta semelhança de símbolos fez com que se estabelecesse enorme confusão com o símbolo da medicina e mesmo com a fama dos médicos, a qual é muitas vezes confundida com as condutas desonestas e irregulares da dupla HERMES/MERCÚRIO, incluindo relação de comercialização da medicina, pela origem da palavra.

Asclépio, Deus Grego da Medicina

ASCLÉPIO (da língua grega) ou ESCULÁPIO (da língua latina) constituiu-se no grande nome da medicina grega pré-Hipocrática. Viveu em torno de 1200 a.C. e acreditava-se que era dotado de poderes extraordinários na arte de curar. Asclépio era filho do deus APOLO com a ninfa mortal CORÔNIS, filha de FLÉGIAS, rei dos lápitas. Esta, temendo que o rei, eternamente jovem, por ser imortal, a abandonasse na velhice, uniu-se, embora grávida, a ÍSQUIS, que foi morto por APOLO. A seguir CORÔNIS foi morta a flechadas por ARTÊMIS, irmã de APOLO, atendendo ao pedido do irmão. Mas com a morte de sua mãe, ASCLÉPIO foi extraído de seu seio e enviado ao centauro QUIRON que lhe ensinou a arte da medicina. Chegou mesmo a ressuscitar vários mortos, como CAPANEU, LICURGO, GLAUCO e HIPÓLITO, filho de TESEU, usando o sangue que correra das veias do lado direito da Medusa, presente numa poção que recebeu da deusa ATENÁ. Por ser dotado desta grande capacidade, ZEUS, temendo que ele tornasse todos os homens imortais, mudando a ordem do mundo e deixasse HADES vazio, matou-o com um raio. Segundo outros historiadores, ASCLÉPIO era um médico muito competente mas muito avarento e ganancioso, querendo apenas fama e fortuna, sendo por isto castigado. Mais tarde ZEUS arrependeu-se e o perdoou. Transformou-o então num deus, como prêmio pela sua inteligência e astúcia. ZEUS acreditava que todo homem que se dedicasse à prática da medicina com amor, demonstrando o seu interesse pela humanidade, merecia ser recompensado. Com um amigo assim influente e como a medicina da época ainda era envolta numa prática sacerdotal, ASCLÉPIO transformou-se no deus grego da medicina sendo templos e santuários construídos em sua homenagem. ASCLÉPIO teve dois filhos que também eram médicos, PODALÍRIO E MACÁON, que faziam parte do exército invasor que cercou a cidade de TRÓIA. Em variantes posteriores, de seu casamento com EPÍONE, nasceram mais quatro filhas, ÁCESO (a que cuida de), IASO (a cura), PANACÉIA (a que socorre a todos) e HIGIA (a saúde). Trabalhou em Epidauro, onde foi construído o primeiro templo em sua homenagem. A seguir surgiram também templos em Cos, Atenas, Pérgamo e Cnidos. Estes templos eram denominados “Asclepeions”. Neles praticavam sacerdotes-médicos que eram depositários dos conhecimentos científicos transmitidos de geração em geração pelos sacerdotes-médicos, que eram denominados de “Asclepiades” ou descendentes de ASCLÉPIO, cuja maior figura viria a ser HIPÓCRATES (460-370 a.C.), alguns séculos mais tarde. ASCLÉPIO (Esculápio) é freqüentemente representado sentado, vestindo um manto longo com o tórax exposto, com um cajado com uma serpente como o símbolo da medicina. Este símbolo é freqüentemente confundido com o símbolo de HERMES e MERCÚRIO, por influência de pessoas invejosas dos médicos que comparavam a medicina a um comércio, devido a origem do nome e atitudes irregulares de Hermes e Mercúrio, que algumas vezes agiam e interferiam na vida dos deuses e dos homens como um verdadeiro mau caráter. A semelhança dos símbolos criou até mesma uma confusão na imagem dos médicos, criando uma grande injustiça com a mais nobre das profissões praticadas pelo ser humano. Afinal, existem no mundo apenas dois tipos de pessoas: médicos e pacientes. Quem não for médico, cedo ou tarde será paciente. E vice versa. Daí a importância em se conhecer a História da Medicina.

O Caduceu

O caduceu é comumente usado como o símbolo do comércio e dos viajantes, sendo por isso utilizado em emblemas de associações comerciais, escolas de comércio, escritórios de contabilidade e estações de estradas de ferro. No intercâmbio da civilização grega com a egípcia, o deus THOTH da mitologia egípcia foi assimilado a HERMES e, desse sincretismo, resultou a denominação de Hermes egípcio ou HERMES TRISMEGISTOS (três vezes grande), dada ao deus THOTH, considerado o deus do conhecimento, da palavra e da magia. No panteão egípcio, o deus da medicina correspondente a ASCLEPIUS é IMHOTEP (que significa “Eu venho em paz”). Entre o século III a.C. e o século III d.C. desenvolveu-se uma literatura esotérica chamada hermética, em alusão a HERMES TRISMEGISTOS. Esta literatura versa sobre ciências ocultas, astrologia e alquimia, e não tem qualquer relação com o HERMES tradicional da mitologia grega. O sincretismo entre HERMES da mitologia grega com HERMES TRISMEGISTUS resultou no emprego do caduceu como símbolo deste último, tendo sido adotado como símbolo da alquimia. Da alquimia o caduceu passou para a farmácia e desta para a medicina. A confusão entre o bastão de ASCLÉPIO e o caduceu de HERMES se deve à iniciativa de um editor suíço de grande prestígio, JOHAN FROEBE, no século XVI, o qual adotou para a sua editora um logotipo inspirado no caduceu de HERMES, usando-o associado a obras clássicas de medicina, como as de HIPÓCRATES. Outros editores na Inglaterra e, posteriormente, nos Estados Unidos, utilizaram emblemas semelhantes, contribuindo para a difusão do caduceu de forma incorreta. Acredita-se que a intenção dos editores tenha sido a de usar um símbolo identificado com a transmissão de mensagens, já que Hermes era o mensageiro do Olimpo. Com a invenção da imprensa por JOHANNES GUTENBERG, a informação passou a ser transmitida por meio da palavra impressa, e eles, os editores, seriam os mensageiros dos autores. Outra hipótese é de que o caduceu tenha sido usado equivocadamente como símbolo de HERMES TRIMEGISTOS, o Hermes egípicio ou THOTH, deus da palavra e do conhecimento, a quem também se atribuía a invenção da escrita. Em antigas prensas utilizadas para impressão tipográfica encontra-se o caduceu de Hermes como figura decorativa.

A confusão e troca dos símbolos levando até a criação do caduceu comercial e do caduceu médico foi se firmando até que em 1901, o exército francês fundou um jornal de cirurgia e de medicina chamado LE CADUCÉE, no qual estão estampadas duas figuras estilizadas do símbolo de ASCLÉPIO, com uma única serpente. Desde então, a palavra CADUCEU tem sido usada para nomear tanto o símbolo de HERMES, quanto o de ASCLÉPIO de forma incorreta. Mas o que mais contribuiu para a difusão do CADUCEU de HERMES como símbolo da medicina foi a sua adoção pelo Exército norte-americano como insígnia do seu departamento médico, devido desconhecimento da história da medicina e da mitologia grega por parte dos que detinham o poder para promover a mudança. O CADUCEU fora usado, entre 1851 e 1887, como emblema no uniforme de trabalho do pessoal de apoio nos hospitais militares dos Estados Unidos para indicar a condição de não combatente. Em 1887 este emblema foi substituído por uma cruz vermelha idêntica a da Cruz Vermelha Internacional fundada na Suíça em 1864. Os oficiais médicos usavam nas dragonas as letras M.S. (MEDICAL STAFF). Em 1872, as letras M.S. foram substituídas por M.D. (MEDICAL DEPARTMENT). O Departamento Médico, contudo, possuía o seu próprio brazão de armas com o bastão de ASCLÉPIOS, desde 1818. Em março de 1902, os oficiais médicos passaram a usar um emblema inspirado na cruz dos cavaleiros de São João, ou cruz de Malta, cujo simbolismo em heráldica é o de proteção, altruísmo e honorabilidade. Em março de 1902, o capitão FREDERICK P. REYNOLDS, Comandante da Companhia de Instrução do Hospital Geral em Washington propôs substituir a cruz de Malta pelo CADUCEU. O general G. STERNBERG, chefe do Departamento Médico, deu o seguinte despacho: “A atual insígnia foi adotada após cuidadoso estudo e é atualmente reconhecida como própria desta corporação. A alteração proposta, portanto, não é aprovada”. Em 14 de junho do mesmo ano, o capitão Reynolds endereçou nova carta ao Chefe do Departamento, refazendo sua proposta com novos argumentos. Em certo trecho de sua carta diz o seguinte: “Desejo particularmente chamar a atenção para a conveniência de mudar a insígnia da cruz para o caduceu e de adotar o marrom como a cor da corporação, em lugar do verde agora em uso. O caduceu foi durante anos a insígnia de nossa corporação e está inalienavelmente associado às coisas médicas. Está sendo usado por várias potências estrangeiras, especialmente a Inglaterra. Como figura, deve-se reconhecer que o caduceu é muito mais gracioso e significativo do que o atual emblema” (cruz de Malta). “O verde não tem lugar na medicina”. Nesse ínterim, houve mudança na Chefia do Departamento Médico e esta segunda carta foi recebida pelo General W. H. FORWOOD, quem, não somente aprovou a proposta como providenciou a confecção da nova insígnia. O desenho elaborado tem sete curvaturas das serpentes, o que também revela desconhecimento do caduceu tradicional, que contém, no máximo, cinco espirais.

Insígnia do Army Medical Department – U.S.A.

Os argumentos usados pelo Cap. REYNOLDS revelam sua confusão entre os dois símbolos. O caduceu jamais fora a insígnia da corporação, mas do pessoal de apoio (steward) dos hospitais. O bastão de ASCLÉPIO e não o CADUCEU é que está historicamente associado à medicina. Tanto na Inglaterra, como na França e na Alemanha, os serviços médicos das forças armadas utilizavam o bastão de ASCLÉPIO em seus emblemas e não o CADUCEU de HERMES. A cor verde tem sido usada em conexão com a medicina; tanto assim que no Brasil o anel de médico tem, incrustada, uma pedra verde – esmeralda ou imitação. Assim o CADUCEU foi implantado e se mantém até hoje como insígnia do Corpo Médico do Exército norte-americano, o que muito contribuiu, sobretudo após a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), para a sua difusão, dentro e fora dos Estados Unidos, como símbolo da medicina. A Marinha norte-americana adotou igualmente o CADUCEU como emblema de seu corpo médico, ao contrário da Força Aérea, que mantém em seu emblema o bastão de ASCLÉPIO. Os Serviços de Saúde Pública dos Estados Unidos, por sua vez, adotaram um antigo emblema do Serviço Médico da Marinha, no qual o CADUCEU se cruza com uma âncora e cujo simbolismo anterior era o do comércio marítimo. O primeiro comentário desfavorável à decisão do U.S. MEDICAL DEPARTMENT apareceu sob a forma de editorial em final de julho de 1902 na publicação MEDICAL NEWS. Em 1917, o Tenente-coronel MCCULLOCH, bibliotecário do Departamento Médico, fez o seguinte comentário: ” I think that in this country we pay too little attenction to the historical and humanistic side of things. The caduceus or wand of Mercury now used on the collar of the uniforme blouse of medical corps has really no medical bearing wathever”. (Eu penso que, neste País, nós prestamos muito pouca atenção ao lado histórico e humanístico das coisas. O caduceu de Mercúrio agora em uso na gola da blusa do uniforme do Corpo Médico não tem qualquer significado médico).

O grande historiador da medicina, FIELDING GARRISON, também Tenente-Coronel do Corpo Médico no período de 1917 a 1935, procurou defender a posteriori a adoção do CADUCEU pelo Departamento Médico a que servia. Inicialmente, alegou que se tratava de um símbolo administrativo para caracterizar os militares não combatentes, reconhecendo que o símbolo autêntico da medicina era o bastão de ASCLÉPIO. Posteriormente, procurou justificar o uso do CADUCEU como símbolo médico com base nos achados arqueológicos da civilização mesopotâmica. Nas escavações realizadas em LAGASH fora encontrado um vaso talhado em pedra sabão, de cor verde, dedicado pelo governador Gudea ao deus NIGINSHZIDA, ligado à medicina. Neste vaso há duas serpentes dispostas de maneira semelhante a do CADUCEU de HERMES. GARRISON refere-se à figura como CADUCEU BABILÔNICO, que teria precedido o CADUCEU da civilização grega. Em 1932, S. L.TYSON escreveu um artigo na revista Scientific Monthly, no qual dizia: “The erroneous symbol of medical profession in reality is the emblem of the god of thieves” (o errôneo símbolo, na realidade, é o do deus dos ladrões). Em resposta, GARRISON voltou a afirmar que o caduceu fora adotado no Departamento Médico do exército como símbolo dos não combatentes e considerou a questão como “uma fútil controvérsia”. Em material informativo recente de divulgação pela Internet, do Army Medical Department, encontra-se a seguinte explicação para a adoção do caduceu de Hermes como símbolo da medicina: “Rooted in mythology, the caduceus has historically been the emblem of physicians symbolizing knowledge, wisdom, promptness, and skill.” (Com suas raízes na mitologia, o caduceu tem sido historicamente o emblema dos médicos, simbolizando conhecimento, sabedoria, presteza e habilidade).

A ASSOCIAÇÃO MÉDICA AMERICANA manteve o símbolo de ASCLÉPIO em seu emblema, assim como a maioria das sociedades médicas regionais norte-americanas de caráter científico ou profissional. De 25 associações médicas estaduais que utilizam a serpente em seus respectivos emblemas, 23 usam o bastão de ASCLÉPIO. São elas as dos Estados de Alabama, Califórnia, Flórida, Geórgia, Idaho, Illinois, Kansas, Kentucky, Massachussets, Michigan, Mississipi, Missouri, Nebraska, New Hampshire, New Mexico, New York, North Dakota, Oklahoma, Oregon, Pennsylvania, Utah, Wisconsin e Wyoming. O CADUCEU é usado pelas associações dos Estados de Maine e West Virginia.

A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, fundada em 1948, adotou o símbolo de Asclépio. A ASSOCIAÇÃO MÉDICA MUNDIAL, reunida em Havana em 1956, adotou um modelo padronizado do símbolo de ASCLÉPIO para uso dos médicos civis.

Emblema adotado pela Associação Médica Mundial para uso dos médicos civis; a serpente tem duas curvaturas à esquerda e uma à direita

As organizações médicas de caráter profissional e de âmbito nacional de vários países, que possuem emblema com serpente, adotam, em sua grande maioria, o símbolo de ASCLÉPIO. Algumas poucas organizações médicas de âmbito nacional utilizam o CADUCEU de Hermes em seus emblemas, ou em sua forma original ou modificado. O CADUCEU estilizado foi também adotado pelo Serviço Médico da ROYAL AIR FORCE, da Inglaterra, divergindo do Serviço Médico do Exército, que mantém seu clássico emblema com o símbolo de ASCLÉPIO desde 1898, tendo comemorado o seu centenário em 1998. Variantes do CADUCEU têm sido igualmente utilizados, resultantes de duas alterações introduzidas no modelo original: a primeira delas consiste em eliminar uma das serpentes, mantendo as asas ou conservando as duas serpentes e eliminando as asas (sociedades médicas, empresas de seguro-saúde). Nos Estados Unidos, onde é mais difundido o CADUCEU de HERMES como pretenso símbolo da medicina, o mesmo é usado em algumas poucas Universidades e sociedades médicas, sendo mais comum o seu emprego em hospitais e instituições públicas e privadas ligadas à saúde, sendo usado principalmente pelas empresas que vendem serviços médicos ou gerenciam planos de saúde naquele país, chegando a 76% de quantas utilizam a serpente em seus emblemas.

O uso do CADUCEU de HERMES como símbolo médico é errado. No BRASIL prevalece o símbolo de ASCLÉPIO. A ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA, assim como as sociedades estaduais a ela filiadas que possuem emblema com a serpente, utilizam o símbolo correto do deus da medicina mas existe uma disseminação do CADUCEU através dos meios de comunicação e material destinado a pacientes e estudantes de medicina. Também os softwares destinados a hospitais e consultórios médicos, importados dos Estados Unidos, ou neles inspirados, muito têm contribuído para a propagação do CADUCEU, ao utilizá-lo associado a medicina. E mesmo em revistas e sociedades médicas recentes a confusão persiste. A educação custa caro, mas mais cara ainda é a ignorância.

Referências:
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MAJOR, R.A.- A History of medicine. Springfield, Charles C. Thomas, 1954.
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