quarta-feira, 21 de março de 2012

FONÉTICA VERSUS FONOLOGIA (DIFERENÇA)

A PRONÚNCIA DO PORTUGUÊS EUROPEU




Menu Principal
Introdução
Convenções e Transcrição Fonética
Fonética e Fonologia: Que diferença?
Características Fonéticas do Português Europeu VS Português Brasileiro
O Acento de Palavra no Português
A Sílaba no Português Europeu
A Palavra Prosódica
O Sintagma Entoacional
Sândi Externo ou o Encontro de Palavras
A Importância da Prosódia





Fonética e Fonologia: Que diferença?
A Fonética
Distribuição das Vogais e das Consoantes no Português Europeu
A Fonologia



Fonética e Fonologia: Que diferença?
A Fonética

O estudo da fonética e da fonologia de uma língua é a descoberta da sua face exterior, a análise daquele nível a que temos acesso quando ouvimos alguém falar ou quando nós próprios produzimos fala; é, enfim, o estudo dos sons da língua. Note-se que o funcionamento das línguas é estudado sobre os dados da sua produção oral e não assenta, portanto, predominantemente sobre a escrita, embora possa fazer referência episódica a aspectos ortográficos. A sensação que os falantes alfabetizados têm de que as questões ortográficas são as questões linguísticas prioritárias advém de a alfabetização se processar nos primeiros anos escolares e ser rapidamente interiorizada, além de constituir, muitas vezes, o aspecto sobre que incide prioritariamente a aprendizagem escolar da língua.
Mas qual é a diferença entre fonética e fonologia se ambos os estudos procuram analisar e explicar os sons de uma língua?

A fonética descreve os aspectos articulatórios e as propriedades físicas de todos os sons que ocorrem na produção linguística (o nível de superfície, a “face exposta” de uma língua). A fonologia estuda os sons que têm uma função na língua e que permitem aos falantes distinguir significados.



A Fonética
O estudo da Fonética ocupa-se da produção, da transmissão e da percepção dos sons da fala, dividindo-se, de acordo com o seu objecto, em fonética articulatória, acústica e perceptiva. Nesta apresentação são consideradas apenas as propriedades articulatórias e as propriedades acústicas dos sons.



As propriedades articulatórias
Quando o estudo dos sons tem em conta a posição e o movimento dos articuladores estamos no domínio da fonética articulatória. Deste ponto de vista, devem considerar-se os seguintes aspectos:

• O som é produzido pela pressão exercida pelos pulmões que são uma fonte de energia e colocam em movimento as partículas do ar neles contido. O ar passa então pela laringe, na qual se encontra um orifício, a glote, onde se localizam as cordas vocais que, ao vibrarem, actuam como uma fonte sonora. Os sons produzidos com vibração das cordas vocais são vozeados (ou sonoros) – as obstruintes sonoras (oclusivas e fricativas), todas as vogais e as consoantes nasais e líquidas (laterais e vibrantes).

• Em seguida, o ar entra na cavidade bucal que actua como uma caixa de ressonância. Nesta cavidade, os articuladores activos, com mobilidade – lábios, língua, palato mole ou véu palatino, e a úvula – e passivos, sem mobilidade – palato duro, alvéolos dentários e maxilar inferior –– têm funções na definição do som que o falante pretende produzir (vogais, semivogais e consoantes). Se o ar passar também pela cavidade nasal por abaixamento do véu palatino produz-se um som nasal, quer consoante (como [m] ou [n]) quer vogal (como [õ] ou [ɐ͂]). O conjunto dos órgãos do aparelho fonador que se encontram acima da laringe constitui o tracto vocal.



As Vogais
As configurações de produção dos sons determinam, no que respeita às vogais, a altura (altas, , médias [e, ɐ, o] ou baixas [a, ɛ, ɔ]) e o ponto de articulação (anteriores ou palatais, [i, e, ɛ], centrais, , e posteriores ou velares [u, o, ɔ]). As vogais do Português também podem ser classificadas em relação à posição dos lábios: arredondados na produção de [u, o, ɔ] e não-arredondados na produção das restantes vogais.

Se o véu palatino se abaixar durante a pronúncia do som, a vogal adquire nasalidade. As vogais nasais no Português Europeu são apenas altas e médias (o também não pode ser nasal). Veja-se o Quadro 1 que representa as vogais orais e nasais do PE (norma--padrão). No quadro estão marcados a altura e o ponto de articulação.


Altura Ponto de Articulação
Anterior ou Paleatal Central Posterior ou Velal
Altas [i, ĩ] [u, ũ]
Médias [e, e͂] [ɐ,ɐ͂] [o, õ]
Baixas [ɛ] [a] [ɔ]
Não Arredondadas Arredondadas



A altura das vogais e o seu ponto de articulação decorrem da posição do dorso da língua em relação ao que se designa como ‘posição neutra’ (de repouso):

• as vogais altas são pronunciadas com o dorso da língua elevado em relação à posição neutra,

• as médias com o dorso da língua na posição neutra,

• as baixas, com o dorso da língua abaixado em relação à posição neutra.

Quanto ao ponto de articulação, é também o dorso da língua que o determina. Assim:

• as vogais anteriores são produzidas com o dorso da língua avançado em relação à posição neutra,

• as centrais, com o dorso da língua na posição neutra,

• as posteriores, com o dorso da língua recuado em relação à posição neutra.

A classificação das vogais deve tomar em conta os vários aspectos (parâmetros ou traços) que estão presentes no Quadro 1 Assim, por exemplo, a vogal [i] do Português classifica-se como uma vogal alta, anterior, não-arredondada e não nasal; a vogal [ɐ͂] classifica-se como média, central, não-arredondada e nasal.



As Semi-Vogais ou Glides
As semivogais ou glides que se encontram no nível fonético do Português – representadas por [j] e [w], e as nasais, por [j] e [w̃] – têm características idênticas às das vogais [i] e [u] ([ĩ], [ũ]), mas distinguem-se delas por terem uma pronúncia mais breve e ocorrerem sempre a seguir às vogais com as quais formam ‘ditongos decrescentes’. Assim, a semivogal [j] é alta, anterior e não arredondada e a semivogal [w] é alta, posterior e arredondada.



As Consoantes
Os parâmetros de classificação das consoantes são os seguintes:

• O ponto de articulação – bilabiais, lábio-dentais, apico-dentais, alveolares, palatais e velares, conforme as zonas da boca em que são produzidas e os articuladores que as estimulam (as consoantes lábio-dentais, por exemplo, são produzidas com o lábio inferior junto dos dentes; podendo apenas ser fricativas como o [f]; as apico-dentais são produzidas com a ponta da língua, ou apex, junto dos dentes, podendo ser fricativas como [s] ou oclusivas, como o [t]).

• O modo de articulação – oclusivas, fricativas, laterais e vibrantes conforme o tipo de constrição que apresentam à passagem do ar (as oclusivas têm uma interrupção completa à passagem do ar; as fricativas têm uma constrição parcial que provoca ruído; as laterais têm uma constrição provocada pela ponta da língua no centro da boca, passando o ar pelos lados; nas vibrantes, a passagem do ar provoca uma vibração na zona do véu palatino (o [ʀ] do dialecto de Lisboa) ou um simples toque da coroa da língua nos alvéolos (o [ɾ]).

• A nasalidade vs. a oralidade – as consoantes nasais são consoantes oclusivas em que a passagem do ar sofre uma interrupção na cavidade bucal mas sai pela cavidade nasal por abaixamento do véu palatino.

• A acção das cordas vocais – quando elas vibram, temos uma consoante vozeada (ou sonora) – as oclusivas [b], [d], [g], as fricativas [v], [z], [ʒ], e todas as nasais e líquidas.

A classificação tradicional das consoantes do Português Europeu pode apresentar-se de acordo com estes quatro parâmetros: ponto de articulação, modo de articulação, nasalidade e vozeamento.
Veja-se o Quadro 2


Ponto de Articulação Modo de Articulação
Oclusivas Fricativas Laterais Vibrantes
Orais Nasais
Bilabiais Vozeada b m
Não-Vozeada p
Labio-Dentais Vozeada v
Não-Vozeada f
Apico-Dentais Vozeada d z
Não-Vozeada t s
Alveolares Vozeada n l ɾ
Não-Vozeada
Palatais Vozeada ɲ ʒ ʎ
Não-Vozeada ʃ
Velares Vozeada Vozeada g ʀ
Não-Vozeada k



As propriedades acústicas
Os sons possuem outras propriedades que lhes são inerentes e que os caracterizam como entidades físicas. Estas propriedades são estudadas pela fonética acústica porque estão relacionadas com as características acústicas das ondas sonoras. São elas:

• A frequência da onda sonora, ou seja, o número de vezes que um ciclo completo de vibração das partículas se repete durante um segundo. O tom é o correlato linguístico da frequência. Quanto maior for o número de ciclos de vibração das partículas, maior é a altura do som e, portanto, mais “alto” é o tom. Esta propriedade relaciona-se, de um ponto de vista articulatório, com as cordas vocais: quanto maior é o número de vibrações, maior é a altura do som. Uma sequência de segmentos com os respectivos tons cria a entoação dessa sequência, quer se trate de uma palavra ou de um grupo de palavras.

Clique nos quadros em baixo para ouvir as representações de onda acústica.



• A amplitude da onda sonora, ou seja, a distância entre o ponto zero e a pressão máxima da onda, de que decorre a intensidade do som. Quanto maior for a amplitude de vibração das partículas, maior é a quantidade de energia transportada por estas e maior é a sensação auditiva de intensidade do som. O que chamamos “acento” numa palavra ou frase decorre desta intensidade.

• A duração refere-se ao tempo de articulação de um som, sílaba ou enunciado, e tem uma importância fundamental no ritmo de cada língua. A duração de cada unidade varia conforme a velocidade de elocução, o que significa que se a velocidade de produção for maior, a duração de cada elemento é menor.

Estas propriedades que estão sempre presentes nos sons têm na língua funções prosódicas, ou seja, são postas ao serviço da entoação e do significado de um modo geral.



Leituras complementares
Delgado-Martins, Maria Raquel (1988) Ouvir falar: Introdução à Fonética do Português. Lisboa: Caminho. (Capítulos 8 e 9)

Delgado-Martins, Maria Raquel (1973) Análise acústica das vogais tónicas do português. In Delgado Martins (2002) Fonética do Português. Trinta anos de investigação. Lisboa: Editorial Caminho: 41-52.

Johnson, Keneth (1997) Acoustic and auditory phonetics. Oxford: Blackwell Publishers.

Ladefoged, Peter (1982) A Course in Phonetics. New York: Harcourt publishers.

Stevens, K. (1998) Acoustic phonetics. London: The MIT Press.

Xavier, Maria Francisca e Mateus, Maria Helena (1990 e 1992). Dicionário de Termos Linguísticos. Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional. Lisboa: Edições Cosmos (Volume 1).
http://www.ait.pt/index2.htm




^ Voltar ao topo ^
Copyright 2006 - Instituto Camões - Todos os direitos reservados.
É expressamente proibido copiar todo ou parte do conteúdo deste sítio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas