quarta-feira, 21 de março de 2012

FONÉTICA VERSUS FONOLOGIA

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Fonética e Fonologia: Qual é a diferença?
É bastante comum ver os estudantes de letras se confundindo sobre o que é o quê, já que as duas áreas estudam os sons da fala. Afinal, qual é a diferença? E, finalmente, qual é a importância da fonética e da fonologia na lingüística?

O estudo da fala é bem antigo, datando certamente mais de 2000 anos [1], e não é difícil de entender o porquê desse interesse. Tirando as pessoas que tenham tido algum problema que as impeça de falar, todo mundo usa algum idioma pra se comunicar, seja ele qual for. Através do idioma a gente expressa idéias, emoções e desejos, utilizando um sistema de “símbolos auditivos” produzidos pelos órgãos da fala [2]. Ou seja, sons.

Mas, os primeiros lingüistas chegavam a algumas conclusões um tanto falhas em relação ao sons. Um exemplo foi o alemão Jacob Grimm que, além de escrever fábulas com o irmão mais novo, também era chegado aos estudos lingüísticos. Ao descrever a estrutura fonética da palavra alemã Schrift – segundo ele, essa palavra tem oito sons e sete letras. Ele confundia o “f” com o “ph” do grego, e não percebia que “sch” representava um som só [1]. Mas, ainda que ele tenha confundido a língua falada com a língua escrita (erro comum até hoje entre alguns alunos), ele foi responsável por uma admirável descrição das mudanças consonantais das línguas germânicas (hoje conhecida como “Lei de Grimm”) na sua Deutsche Grammatik (Gramática Alemã) de 1822. [3].

A coisa começou a melhorar com o passar dos anos, e em 1876, Eduard Sievers (também alemão) publicou o livro Grundzüge der Lautphysiologie (Fundamentos da Fisiologia Vocal), dando origem à fonética como uma disciplina separada da fisiologia (onde estava até então) e dentro da lingüística [1]. “Ótimo”, você deve estar pensando, “então esse foi um livro importante para o surgimento da fonética. Mas, o que é fonética?”.

Lembra dos “símbolos auditivos” do primeiro parágrafo? Pois então, é importante notar que é um tipo específico de som que é interessante para os lingüistas: os sons produzidos pelos órgãos da fala. Vamos chamar essa quantidade limitada de sons produzidos pelos órgãos da fala de meio fônico, e os sons individuais que aí estão de sons da fala. Pois bem, aqui vai a primeira definição: A fonética é o estudo do meio fônico [4] ou, de maneira mais simples, a fonética é a área de estudo da lingüística que busca descrever os sons da fala [5]. Simples, não? Como Lyons menciona no livro Lingua(gem) e Lingüística, existem três maneiras diferentes que a fonética pode descrever o som: Fonética Articulatória, que classifica os sons de acordo com a maneira que são produzidos; Fonética Acústica, que classifica os sons de acordo com as propriedades físicas dos sons produzidos pelos falantes; e Fonética Auditiva, que estuda como os sons da fala são percebidos e identificados pelo ouvido e o cérebro do ouvinte.

Uns 52 anos depois, foi organizado o Primeiro Congresso Internacional de Lingüistas, realizado em Haia (na Holanda), onde se sentiu a importância de marcar uma diferença entre uma ciência que tratasse dos sons da fala (a Fonética) e outra que tratasse dos sons da língua — e é aí que temos a Fonologia. [6].

A diferença entre os dois fica clara na explicação do artigo sobre fonética, disponível no livro Linguagem e Lingüística: Uma Introdução:

A principal preocupação da Fonética é descrever os sons da fala. Por exemplo, as afirmações típicas desta ciência é dizer que o som [b] é articulado com uma corrente de ar pulmonar, egressiva, com vibração das cordas vocais, com uma obstrução do fluxo de ar seguida de uma explosão; (…) Por sua vez, a Fonologia busca interpretar os resultados obtidos por meio da descrição (fonética) dos sons da fala, em função dos sistemas de sons das línguas e dos modelos teóricos disponíveis. Faz parte do trabalho fonológico explicar o porquê de os falantes de alguns dialetos do português do Brasil considerarem como sendo “o mesmo som” as consoantes iniciais das palavras tapa e tia ([t] e [tʃ] – “tchê”, respectivamente), muito embora elas sejam bastante diferentes, articulatória, acústica e perceptualmente.

Resumindo: a fonética estuda as propriedades do sons [l], [ɾ] (o “r” de “cara”) e [ɺ] (o “r” japonês) — onde a língua bate, se as cordas vocais vibram e daí por diante (sem aplicar isso necessariamente a língua alguma). Já a fonologia estuda o fato de que os falantes de japonês costumam ouvir esses sons como se fossem “a mesma coisa” ([ɑligɑtoː] e [ɑɾigɑtoː] não são palavras diferentes), enquanto os falantes de português entendem que o [l] e o [ɾ] são sons distintos (afinal, “calo” e “caro” não são a mesma coisa) e o [ɺ] acaba sendo entendido como um dos dois sons (mas dificilmente como algo intermediário).

Agora que você sabe a diferença entre fonética e fonologia, você já pode estudar mais a fundo a teoria por trás de cada uma, e se familiarizar com palavras e expressões como “alófone”, “par mínimo” e “oclusiva surda velar”.

Bibliografia
Mattoso Câmara Jr., Joaquim. A História da Lingüística. 6ª Edição. Editora Vozes, 1975. (Capítulo X)
Sapir, Edward. Language: An Introduction to the Study of Speech. Gutemberg Project. (Capítulo II)
Onishi, Masao. A Grand Dictionary of Phonetics. The Phonetic Society of Japan. Tokyo, 1981. (Grimm’s Law)
Lyons, John. Linguagem e Lingüística: Uma Introdução. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1982. (Capítulo 3)
Massini-Cagliari, Gladis; Cagliari, Luiz Carlos. Fonética in Introdução à Lingüística: Domínios e Fronteiras. Cortez Editora. São Paulo, 2006.
Mori, Angel Corbera. Fonologia in Introdução à Lingüística: Domínios e Fronteiras. Cortez Editora. São Paulo, 2006.
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