sexta-feira, 23 de março de 2012

POESIA E ELOQUÊNCIA NO "DIÁLOGO DOS ORADORES"

Ars Poetica



Principal Terra Magazine Dicta & Contradicta Livros

terça-feira, 14 de julho de 2009O belo e o bom: poesia e eloqüência no "Diálogo dos oradores" (1)
De um lado, a poesia; do outro, a eloqüência. E a ambas o orador, tal como Tácito nos pinta em seu Diálogo dos oradores, devendo prestar contas. Mas não se trata de um orador qualquer, indefinido e mesmo abstrato: trata-se do que viveu e celebrizou-se no primeiro século da Roma imperial, mais precisamente em 75 d.C., no sexto ano do principado de Vespasiano. Deste modo, se se atribui um lugar e um tempo específicos ao debate, talvez fictício, entre personagens por sua vez reais, pode-se dizer que as contas a prestar são também específicas, são as deste lugar e deste tempo. Com efeito, o que aconteceu à oratória latina com o fim da república? Que novas formas e funções adquiriu? Como julgar esta nova situação? Parecem ser estas as perguntas que, no seu Diálogo dos oradores, Tácito formula e tenta responder.
Ao que nos toca a nós, devemos, antes de mais, perguntar por que se escolhe exatamente a poesia e a oratória dita clássica como termos de comparação. Ora, diríamos, porque, ao se afastar do modelo do período republicano, o orador imperial se havia perigosamente aproximado do poeta. E qual seria o motivo de tão desmesurada aproximação? Certamente a derrocada da república e, com ela, da oratória entendida como o expediente mais apropriado e eficaz para o conseguimento e manutenção dos altos cargos, e de um consenso politicamente relevante. Com efeito, num tempo, como durante o império, em que as principais decisões e nomeações estavam nas mãos do príncipe, é de supor que os gêneros deliberativo e judiciário do discurso retórico, os únicos que, respectivamente na assembléia e no fórum, podiam influir no destino da Urbe, fatalmente se aproximassem do demonstrativo, i.e., aquele genus dicendi que mais se aparenta à poesia e à beleza ‘desinteressada’, e que menos influência exerce, portanto, nas tomadas de decisão. Logo, se confrontá-la com a poesia nos mostra quais fossem os procedimentos discursivos da oratória imperial, confrontá-la com a republicana nos descobre o estatuto político e, pois, moral, destes procedimentos. Desta maneira, podemos dizer que o diagnóstico da oratória, a princípio artístico, se resolve num diagnóstico da moral e da política do império, na medida em que a palavra eloqüente, mesmo enfraquecida, ainda era o instrumento pelo qual uns poucos cidadãos de boa-fé podiam exercer a sua cidadania. Assim sendo, queda explicitado o título desta dissertação: de um lado a poesia, e o refinamento artístico da oratória imperial; do outro a eloqüência dos clássicos, e a decadência moral do principado.
Leiamos, pois, o Diálogo de maneira linear, tratando primeiramente das relações entre a eloqüência e a poesia. Isto feito, passemos à querela entre antigos e modernos para, em seguida, tecer algumas considerações a respeito da história e sua influência nas artes e nas técnicas.
Postado por Érico Nogueira às 09:50 Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no Orkut
Marcadores: Diálogo dos oradores, querelle des anciens et des modernes, Tácito, ética e estética 0 comentários:

Postar um comentário



Postagem mais recente Postagem mais antiga Início
Assinar: Postar comentários (Atom)
Érico Nogueira
Poeta, tradutor e professor de línguas e literaturas clássicas
Visualizar meu perfil completo

Veni, vidi, vici
Absolute Ville
Affonso Romano de Sant'Anna
Antología Personal
Anton van Wilderode
Casa de Pixels
The Cavafy Archive
Cronópios
DBNL -- Nederlandse Letteren
O Demônio Amarelo
Dicta & Contradicta
A Dispersa Palavra
É Realizações
Feliz Nova Dieta
Forno de Ensaio
Fundação Gilberto Freyre
Gaveta do Ivo
Horace's Villa
Instituto Liberal
Instituto Ludwig von Mises Brasil
The Inter-American Institute
Inter-Esse
José Rodrigo Rodriguez
Leonardo Valverde
Letras & Artes
Luiz Felipe Pondé
Martim Vasques da Cunha
Memoria Métrica
Ordem Livre
The Paris Review
Pedro Sette-Câmara
Perseus Digital Library
Poesía Macarrónica
Poetry Foundation
Poets & Writers
P.Q.P. Bach
Ricardo Domeneck
Sibila
Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos
SORGLL
Vocabulário Ortográfico da ABL
Arquivo do blog
► 2012 (5)
► Fevereiro (3)
Verdade ou nada
Carnaval...
Luto
► Janeiro (2)
"Isto a que falta um nome", de Cláudio Neves
E lá vem mais um ano...
► 2011 (35)
► Dezembro (4)
Os paga-paus
E lá se foi mais um ano...
Dicta & Contradicta 8
João Angelo Oliva Neto sobre a "Eneida"
► Novembro (3)
A minoria política da USP
Poética do mal traduzir
Platão plagiado
► Outubro (3)
Tradução
El-rei Camões
"Lustra" de Pound por Villa
► Setembro (6)
Transfusão nesta sexta 30/09 às 18h30
Uma lista
Conseguimos
Cultura sem limites
Encher e chutar o balde
Nota sobre "Dois"
► Agosto (3)
Dois links
Lendo Horácio
Xoxó
► Junho (1)
Fragmento na BLECAUTE
► Maio (2)
Hill again
Emulações de Cavafy
► Abril (3)
A xícara de Mallarmé
Entrevista
Colt Cavalhinho 38 Cromado
► Março (1)
Correria
► Fevereiro (4)
Pós-Graduação em Filosofia Antiga na UNIFAI
Do livro à língua
Perfil: Dirceu Villa
Link etc.
► Janeiro (5)
Por que os clássicos? Uma tentativa de (auto)justi...
Chris Miller on Tolentino's "Le vrai le vain"
O norte da cerveja
L'homme sous le nom Zachary Lusten
A tumba de Virgílio
► 2010 (108)
► Dezembro (13)
Os melhores de 2010
Um poema de Ricardo Domeneck
"Amadores", de Pedro Sette-Câmara
Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia
Antología Personal, por Jessé de Almeida Primo
"Aquele país idiota, cheio de moleques..."
"Musa impassível"
Discurso de Mario Vargas Llosa
No sobrado do Geraldo: a poesia de Antenor Sánchez...
"Uma viagem à Índia"
► Novembro (9)
► Outubro (6)
► Setembro (9)
► Agosto (13)
► Julho (13)
► Junho (7)
► Maio (7)
► Abril (9)
► Março (10)
► Fevereiro (7)
► Janeiro (5)
▼ 2009 (107)
► Dezembro (5)
► Novembro (12)
► Outubro (10)
► Setembro (10)
► Agosto (16)
▼ Julho (14)
"On pense vrai avec Gilson"
Entrevista de Antonio Brasileiro
Bodas de alabastro
A cigarra e a formiga
Antonio Brasileiro
"Et in Arcadia ego"
O belo e o bom: poesia e eloqüência no "Diálogo do...
O belo e o bom: poesia e eloqüência no "Diálogo do...
O belo e o bom: poesia e eloqüência no "Diálogo do...
O belo e o bom: poesia e eloqüência no "Diálogo do...
Sobre as artes do belo
O poeta da Revolução
"Forja a língua na bigorna da verdade"
A lira múltipla de Lope de Vega
► Junho (10)
► Maio (10)
► Abril (6)
► Março (5)
► Fevereiro (9)



Estatísticas
Seguidores




Modelo Picture Window. Imagens de modelo por sndr. Tecnologia do Blogger.

COPYRIGHT ÉRICO NOGUEIRA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas