sexta-feira, 23 de março de 2012

uM CICLO DOS COSTUMES EM TÁCITO ? OS ANAIS

Um ciclo dos costumes em Tácito? Anais 3.55
Juliana Bastos Marques
Doutoranda em História, Universidade de São Paulo
Em um trecho dos livros dos Anais dedicados ao principado de Tibério, Tácito faz
uma análise das mudanças morais da sociedade romana entre o período Júlio-Claudiano e a
ascensão de Vespasiano, e propõe a seguinte explicação: “A não ser que talvez exista
algum tipo de ciclo em todas as coisas, e assim como se sucedem as estações, também
mudam os costumes”1. Mas o que Tácito queria dizer com esse “ciclo dos costumes”?
Existiria nos Anais talvez algum indício dele?
Pensar uma possibilidade de ciclos na narrativa de Tácito, morais ou não, significa
em maior escala tentar compreender sua visão de tempo, construída tanto empiricamente
quanto como abstração teórica. É surpreendente notar que este é um assunto pouco
explorado na vastíssima extensão da literatura especializada referente ao autor. Sir Ronald
Syme, por exemplo, dedica a esta passagem pouco mais de um parágrafo, dentro das mais
de oitocentas páginas de seu livro, parafraseando o conteúdo da mesma e adicionando um
breve comentário2. Tomaremos como base deste questionamento a reflexão apresentada
por Torrey J. Luce quando confrontado com nosso mesmo tema, ou seja, sobre como é
possível retirar do texto de Tácito suas idéias sobre a temporalidade e a história romana3.
Em seu artigo, Luce se propõe a adicionar comentários sobre os dois textos mais
diretamente relacionados a este tema, que são um livro altamente prolixo, de Reinhard
Häussler, e um artigo diminuto, de Francis R. D. Goodyear4.
1 Anais 3.55: “Nisi forte rebus cunctis inest quidam velut orbis, ut quem admodum emporum vices ita
morum vertantur”. Para o texto em latim, consulte-se a edição da Teubner. Em inglês, Tacitus. Histories and
Annals. London: Heinemann, 1980 (Loeb Classical Library, 4 vols.).
2 Que ressalta apenas o caráter de dúvida na reflexão feita por Tácito: “Tacitus was aware that large factors
operated in human history. To describe them was not easy. The historian can illustrate social change by
means of a digression or speech subsidiary to the annalistic record, but he cannot elevate it to the central
theme in an exposition that shall embrace not only Romans but the whole empire of Rome”. Cf. Ronald
Syme. Tacitus. Oxford: Oxford University Press, 1960. 2 vols. P.444.
3 Torrey J. Luce. “Tacitus’ conception of historical change: the problem of discovering the historiaris
opinions” in: Past Perspectives - Studies in Greek and Roman Historical Writing. Cambridge: Cambridge
University Press, 1983. Pp.143-157.
4 Reinhard Häussler. Tacitus und das historische Bewusstsein. Heidelberg: Karl Winter, 1965 e Francis R. D.
Goodyear. “Cyclic development in history: a note on Tac. Ann, 3.55.5” in: Papers on Latin Literature.
London: Duckworth, 1992.
2
Häussler trata dos mais diversos aspectos do tempo na história e em Tácito, mas
praticamente ignora a importância da “teoria cíclica” esboçada pelo historiador - o trecho é
apenas mencionado como um topos romano. Sua conclusão sobre a questão da
originalidade do pensamento taciteano é, ademais, certamente decepcionante: “Tácito não
tinha nenhuma consciência histórica; além disso, toda a historiografia romana era
incompetente para tanto”5. Já o paper de Goodyear, em suas altamente condensadas cinco
páginas, tem como objetivo demonstrar a originalidade de Tácito, ao entender que a
reflexão sobre um possível ciclo dos costumes, mores, é distinta da questão dos ciclos das
constituições políticas. Goodyear cita diversos trechos de outros textos antigos, numa
tentativa de mostrar como eles não se encaixam exatamente no que Tácito quer dizer, e
assim temos constantemente observações como “a faint resemblance to what Tacitus says”
(Plutarco. Vida de Sila 7.8), “There is, I think, little affinity in their views” (Sêneca. De
benefíciis 1.10.1), “But it is untypical, and (apparently) uninfluential” (sobre Ovídio).
Goodyear, entretanto, não chega a uma conclusão muito satisfatória e termina seu texto
apenas admitindo que a originalidade de Tácito deriva de sua constatação que “there are
developments in social history which defy ready and precise explanation”6.
Luce já de início percebe problemas metodológicos ao lidar com o tema e destaca,
aliás citando o próprio Goodyear, as razões da dificuldade em se conhecer de fato as
“verdadeiras” opiniões taciteanas. Ele cita os padrões literários romanos, que ajudam a
explicar os motivos da presença da digressão no parágrafo 55: a questão da retórica
(qualquer romano bem versado nos princípios da retórica deveria ser capaz de expor com
igual eficiência os dois lados opostos de um determinado assunto7) e o fato de que a
narrativa histórica entre os antigos tinha sempre a necessidade de apresentar um caráter de
entretenimento para os leitores (não bastasse ter credibilidade e imparcialidade, o texto
também deveria proporcionar uma leitura agradável e edificante).
O terceiro elemento são as por vezes desconcertantes contradições taciteanas. Elas
estão presentes no caráter do Principado, que é ao mesmo tempo tirânico mas preferível ao
caos da guerra civil, e até mesmo na República onde também a tirania e o caos estiveram
presentes. Estão presentes na difícil relação de Tácito com a religião, os deuses e se estes
5 “Tacitus habe kein historisches Bewufitsein gehabt; die ganze rõmische Geschichtsschreibung sei dazu
unfãhig gewesen”. Cf. Häussler, op.cit. p.411.
6 Goodyear, op. cit. p.147.
7 Veja-se para isso Quintiliano e Cícero. De oratore.
3
determinam ou não os assuntos humanos8. Estão presentes na atitude dos senadores, em
conjunto ou individualmente: sua servidão é ao mesmo tempo seu único caminho para a
sobrevivência. E o que dizer então dos imperadores? Exemplos mais evidentes são Oto,
Vespasiano ou até mesmo Tibério e Nero, cujas “verdadeiras” personalidades só se
revelam por força das circunstâncias que gradualmente as libertam.
Por fim, o último ponto levantado por Luce é o problema das fontes que Tácito
utiliza - um tema que já rendeu grandes discussões, especialmente no século XIX, quando
a Quellenforschung tinha mais adeptos e prestígio. Entretanto, as dificuldades surgidas
com o estudo das fontes demonstraram que é na verdade impossível supor que o texto de
Tácito seja um conjunto de “camadas” superpostas, as quais basta detectar para saber de
onde vieram. A complexidade taciteana em particular torna tais objetivos não apenas
inviáveis como também quase irrelevantes.
Diante desses problemas, como seria ainda possível encontrar nos textos a concepção
taciteana de temporalidade? Se cada afirmação faz sentido dentro de um determinado
contexto, o que se pode deduzir abstratamente de seu pensamento? Ou tal objetivo é
portanto impossível? A teorização a respeito do conceito de tempo na história não fazia
parte do gênero historiográfico na Antigüidade, ao menos de forma sistemática e
recorrente. Mesmo assim, a cultura romana tem uma constante preocupação com o passado
ancestral, sua relação com o presente e com sua continuidade no futuro. Portanto, mesmo
que de maneira intuitiva, Tácito invariavelmente constrói planos distintos de
temporalidades para situar os eventos que narra, e também os julga de acordo com os
padrões de valor de sua realidade contemporânea.
Em primeiro lugar, ao descrever o passado mais remoto, ele retransmite a tradição da
história romana, e portanto o problema de determinar suas opiniões não é nesse sentido tão
impossível de se compreender. A ele seria impensável questionar e reformular toda a
produção histórica até Ácio, da qual ele se considera sucessor imediato9. O outro ponto da
análise, de elaboração um pouco mais complexa, significa aceitar a conclusão de que não
se deve ler os fragmentos relevantes completamente retirados do contexto em que se
inscrevem. O que não implica na impossibilidade de compreendê-los: é justamente ao
8 Exemplos: não determinam - Histórias 1.3; determinam - Anais 16.16.
9 “The writer of a non-contemporary history [...] was not as free as the historian ofhis own times to shape the
tradition (since it was already established), and it is important to note that no ancient historian - not even a
Polybius or Thucydides - takes the radical step of tearing the whole edifice down and starting from the
beginning. It is true that an historian may reject this or that detail, but he does not abandon the framework
4
entender o contexto de um determinado trecho analisado que poderemos ver o que Tácito
quer demonstrar, de tal forma que os planos temporais por ele apresentados possam ser
mais corretamente percebidos.
O contexto deste parágrafo é portanto crucial para que possamos entender seu
propósito e argumentos. A partir do parágrafo 52, Tácito relata um debate no Senado a
respeito da adoção de medidas punitivas para controlar o excesso de luxo nos banquetes,
luxus mensae10. Os senadores, segundo o historiador, estariam preocupados com a possível
adoção de leis que punissem certos costumes já consolidados e praticados entre todos, e
que tinham se tornado cada vez mais comuns. Assim, a aplicação de leis severas afetaria
muitos, de maneira talvez injusta e desordenada. Os senadores então pedem a intervenção
de Tibério, que, reticente, prefere se omitir da decisão sobre o assunto e apresenta uma
carta justificando sua atitude (parágrafos 53 e 54).
O tema é, em última instância, as leis romanas em geral. Trata-se de um aspecto
particular do problema da distorção do propósito da lei, a partir do qual Tácito reflete sobre
os motivos da necessidade de restrições para a sociedade11. O problema se resolveu
sozinho, gradualmente, pelo declínio do luxo e da ostentação a partir de 69 d.C. A partir
daí Tácito abstrai a questão dos mores, observando e conjecturando a respeito das razões
da mudança de um período de ostentação para outro de parcimônia e austeridade.
A carta de Tibério, especialmente no parágrafo 54, contém elementos que auxiliam
na compreensão dos argumentos taciteanos. Algumas das idéias apresentadas nela
coincidem com as opiniões expressadas em outros pontos do texto. Vejamos: a. Tibério
fala sobre os males do presente12:
Todas as leis feitas por nossos antepassados, todas as que o divino Augusto instituiu,
caíram aquelas no esquecimento, e estas - o que é ainda mais vergonhoso -foram
desprezadas, e isso deu ainda mais alicerces para a luxúria. Pois se alguém deseja
already established by his predecessors”. Cf. John Marincola. Authority and Tradition in Ancient
Historiography. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. P.106.
10 Assunto que é, de fato, presença constante do tema na literatura romana. Cf. Horácio. Sátiras 2.8; Petrônio,
Satyricon; Juvenal 5 e 11; várias instâncias em Sêneca, como nas Epístolas 47.2; 89.22; 95.15-19; 110.12-13;
e a compilação jurídica de Aulo Gélio 2.24: De uetere parsimonia deque antiquis legibus sumptuariis.
11 Como destacam Anthony J. Woodman e R. H. Martin. The Annals of Tacitus, Book 3. Cambridge:
Cambridge University Press, 1996. P.377: “[...] the section is a counterpart of, and variation on, that at 25-28
above. Each deals with an aspect of social legislation; but, whereas in the earlier case Tiberius’ action (25.1,
28.4) framed and was explained by a centrally placed digression on past history (25.2-28.3), here the
emperor’s inaction holds the centre stage and isjustified by a concluding excursus on future history.”
12 “Tot a maioribus repertae leges, tot quas divus Augustus tulit, illae oblivione, hae, quod flagitiosius est,
contemptu abolitae securiorem luxum fecere. Nam si velis quodnondum vetitum est, timeas ne vetere: at si
prohibita impune transcenderis, neque metus ultra neque pudor est”.
5
algo que não é proibido, teme-se uma possível proibição; mas se a lei é descumprida
impunemente, não há mais qualquer medo ou pudor.
Em seguida, sobre o passado13:
Por que então antigamente a parcimônia era eficaz? Porque todos se controlavam,
porque éramos uma cidade unida, e nem existiam as mesmas tentações enquanto
apenas a Itália estava dominada.
E explica por que ocorreram mudanças14:
Pelas vitórias externas aprendemos a consumir os recursos dos outros, pelas
internas, os nossos próprios.
De fato, a correspondência entre esses e os argumentos que o próprio Tácito
apresenta, a partir da influência de Salústio, é muito evidente15. Aqui estão presentes os
mais recorrentes aspectos negativos da expansão romana - um topos, sem dúvida: o perigo
do contato com outras sociedades, e o aumento da prosperidade e da ambição. Tácito
conclui, ao abrir o parágrafo 55, que de fato a ostentação do luxo predominou entre o início
do Principado e o fim da dinastia Júlio-Cláudia, uma época em que a paz e a estabilidade
trouxeram preocupações mais relevantes aos indivíduos - o ócio e a fortuna - do que ao
Estado.
O corpo principal do parágrafo 55 está dividido em três partes, das quais as duas
primeiras se subdividem em outras duas. Em primeiro lugar, Tácito fala das famílias
aristocráticas tradicionais, que num primeiro momento se degeneraram devido ao seu novo
apego à magnificência, correspondendo à época de luxus mensae já mencionada, e num
segundo momento, com as perseguições sob Tibério, Cláudio e Nero, se resignaram a
ostentar menos suas riquezas para se proteger. Aqui, não ocorre um declínio do luxo por si
mesmo, pela inclinação à austeridade, mas sim por motivos externos relacionados ao terror
e às perseguições políticas no período Júlio-Cláudio. A segunda parte trata dos homens
novos, novi homines, vindos do resto da Itália e das províncias, que gradualmente se
estabelecem em Roma e trazem à urbs seus costumes mais frugais e comedidos, e que,
13 “Cur ergo olim parsimonia pollebat? Quia sibi quisque moderabatur, quia unius urbis eives eramus; ne
inritamenta quidem eadem intra Italiam dominantibus”.
14 “Externis victoriis aliena, civilibus etiam nostra consumere didicimus”.
15 Tácito parece oferecer a nós um aspecto positivo de Tibério; basta ver como essa carta é a mais longa fala
em oratio recta do imperador no texto.
6
mesmo tendo prosperado, mantiveram-se com mesmo caráter. Dentre tais homens, um se
destaca em particular: o imperador Vespasiano, originário da Itália central, e símbolo dos
novos costumes. A terceira parte é uma proposta de generalização das mudanças dos
costumes, onde se encontra a idéia do ciclo, e uma comparação otimista entre o passado e o
presente.
Admitindo-se portanto que a expansão romana na República possibilitou a riqueza e
a prosperidade, que se tornaram desmedidas a partir do fim da guerra civil e do
estabelecimento do Principado, o movimento de decadência dos costumes chegou ao ponto
máximo, segundo Tácito, no fim do período Júlio-Cláudio, ou seja, com Nero. O ponto de
virada é 69 d.C., a partir de Galba - mas especialmente com Vespasiano e o retorno do
equilíbrio institucional. A partir daí temos uma volta aos padrões antigos16, até a época de
Trajano e Tácito. Este é um sentido de renovatio, que embora não reestabeleça exatamente
a virtuosa moral dos ancestrais no início da história romana, retoma algumas de suas
características principais. Eis portanto uma razão de ser o momento presente de Tácito um
tempo melhor do que o passado recente, que é o período de declínio entre essas duas
épocas.
Entretanto, isso significaria dizer que a partir de Vespasiano os costumes mudaram,
numa linha ininterrupta até o presente de Tácito? Se Vespasiano é virtuoso, juntamente
com Tito, o que dizer porém de Domiciano, o imperador cruel e terrível que Tácito odiava?
De fato, devemos admitir que muitas variáveis e possibilidades nessa cronologia dos
costumes se devem ao seu caráter altamente esquemático e generalizado. O processo de
declínio do luxo e fortalecimento da austeridade é gradual, embora balizado claramente
pelo fim dos Júlio-Cláudios e pelos resultados da guerra civil de 69 d.C.
E o que dizer do tal “ciclo dos costumes”? Tácito realmente leva tal possibilidade a
sério ou esta é apenas uma reflexão casual? Na verdade, o grande paradoxo é que essas
duas hipóteses podem ser satisfatoriamente demonstradas, e isso revela - como sempre - a
enorme complexidade de seu texto. Vejamos em primeiro lugar a segunda hipótese: de
fato, a abstração da idéia de um possível ciclo dos costumes e da moral, análogo aos ciclos
físicos consolidados no pensamento antigo17, tem a função de servir retoricamente como
16 Destaque-se a caracterização da moral de Vespasiano, que era antiquo ipse cultu victuque, de modos
antigos = virtuosos.
17 Embora a ênfase de Tácito aqui seja o ciclo anual das estações, podemos facilmente remeter a Platão,
Aristóteles e até mesmo Políbio.
7
ponte entre as observações sobre a nova austeridade, os provinciais e Vespasiano, e a
constatação de que o presente pode ser tão valoroso quanto o passado18.
Não existe também nenhum tipo de sistematização no texto de Tácito como um todo
que permita dizer que ele tome tal ciclo como premissa, diferentemente do que acontece
com Políbio e sua idéia de ciclos constitucionais em todo o capítulo 6 de suas Histórias. Os
conceitos de decadência e renovatio da moral romana estão ou implícitos no texto, através
do que podemos inferir pela sua estrutura narrativa, ou ligados diretamente a constatações
empíricas (o que é exatamente o caso neste parágrafo). Neste sentido, vemos que seria
então inadequado retirar a idéia do ciclo dos costumes do contexto onde ela se insere para
aplicá-lo às obras de Tácito como um todo.
Mas mesmo assim, e voltamos à primeira hipótese, ainda há um sentido importante
nessa idéia particular de ciclo, que não podemos ignorar. Como Goodyear afirma, a
originalidade de Tácito vem do fato de que ele separa completamente o movimento de
decadência e renovatio da moral do desenvolvimento e sucessão das instituições
políticas19. Pois se o luxo das antigas famílias aristocráticas foi tomando importância cada
vez maior desde o fim da guerra civil republicana, temos os seguintes elementos: a)
Quando Tácito menciona “antigas famílias aristocráticas” - não há nenhuma menção
específica a qualquer período político; olim, “antes”, é o único e vago termo relativo ao
tempo usado para descrever o aumento da suntuosidade, o que descreve um movimento
gradual e generalizado, mais característico de uma “temporalidade moral” do que
“política”, b) as perseguições e execuções, de Tibério a Nero, não se deveram exatamente
ao fato das vítimas serem ricas e viverem uma vida de luxo, mas sim pela sua
“magnitudofamae”, a grandeza de seus nomes; e c) a mudança dos costumes foi em boa
parte obra da afluência de homens vindos de fora de Roma, como Vespasiano - e isso no
fundo é um fator de natureza social. Ou seja, os motivos pelos quais os novi homines
vieram a Roma podem ser de natureza política ou econômica, enfim; mas suas
características morais preexistem tais motivos e são o fator determinante nesse processo de
mudança. Portanto, embora a idéia do ciclo dos costumes seja mesmo casual no texto,
Tácito parece perceber que o caráter humano no decorrer dos tempos tem um movimento
18 Woodman e Martin, op. cit. p.407. Mas o que há de melhor no presente não são necessariamente os
costumes, mas aqui no caso são as “glórias e artes”, laudis et artium, talvez especificamente a literatura.
19 Michael Sage. “Tacitus’ historical works: a survey and appraisal [índices pp. 1629-1647]” in: Wolfgang
Haase e Hildegard Temporini (eds.). Aufstieg und Niedergang der Rõmischen Welt II.33.2. Berlin: De
Gruyer, 1990. Pp.851-1030, cita trechos de outros autores para afirmar que não há originalidade em Tácito,
8
próprio. Os costumes estão sim relacionados ao tempo político, sendo geradores ou
reflexos de mudanças sociais, políticas e institucionais; mas apesar de Tácito não saber
separá-los com precisão, todos esses elementos não formam apenas um sentido único na
história. Existem diversas instâncias que funcionam como motores da história para Tácito -
e se não temos nele a crença indubitável na fortuna e nos deuses, ele nos mostra que a
moral romana tem uma historicidade própria.
mas estes não parecem ter exatamente os mesmos sentidos. Cf. Sêneca. De beneficiis 1.10.l; Plínio, o Velho.
História natural 20 (prefácio), e Plínio, o Jovem. Epístola 6.21.1.



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