sexta-feira, 23 de março de 2012

VIDAS PARALELAS: ALEXANDRE VERSUS JÚLIO CESAR (PLUTARCO)

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PlutarcoVidas Paralelas ALEXANDRE e JÚLIO CÉSAR
Vida de AlexandrePlutarcoCapítulo de Vidas ParalelasTradução Brasileira de Carlos Chaves com base na edição francesa de Amyot. Notas eobservações de Brotier, Vaulliers e Clavier. Fonte: Ed. Edameris.I. Tendo-me proposto escrever neste livro as vidas do rei Alexandre, o Grande, e deJúlio César, que derrotou Pompeu, pelo número infinito de coisas que se apresentamdiante de mim, não usarei de outro prólogo senão o de pedir aos leitores que não merepreendam por não expor tudo amplamente e por miúdo, mas sumariamente,abreviando muitas coisas, mesmo nos seus principais atos e feitos mais memoráveis ;pois é preciso que se lembrem de que não me pus a escrever histórias, mas vidassomente; e as mais altas e gloriosas proezas nem sempre são aquelas que mostrammelhor o vício e a virtude do homem; ao contrário, muitas vezes uma ligeira coisa, umapalavra ou uma brincadeira põem com mais clareza em evidência o natural das pessoasdo que derrotas onde tenham morrido dez mil homens, ou grandes batalhas, ou tomadasde cidades por sítio ou assalto. Portanto, exatamente como os pintores que retratam aovivo procuram as semelhanças só ou principalmente na face e nos traços do rosto, nosquais se vê como que a imagem impressa dos costumes e do natural dos homens, sempreocupar-se com outras partes do corpo, assim também nos deve ser concedido queprocuremos sobretudo os sinais da alma e formemos desse modo um retrato natural davida e dos costumes de cada um, deixando que os historiadores descrevam as guerras,batalhas e outras grandezas tais.II. É coisa tida como inteiramente certa que Alexandre, o Grande, pelo lado paterno,descendia da raça de Hércules através de Carano, e pelo lado materno provinha dosangue dos Eácidas, por Neoptólemo. E dizem que o rei Felipe, seu pai, quandoadolescente, enamorara-se de sua mãe Olímpia, também ainda menina e órfã de pai emãe, na ilha de Samotrácia, onde foram ambos recebidos na confraria da religião dolugar, e que depois ele a pediu em casamento a um irmão, Arimbas, que consentiu; mas,na noite anterior àquela em que se encerraram juntos dentro do quarto nupcial, a esposasonhou que um raio lhe caíra no ventre e que do golpe surgira um grande fogo, o qual sedesfez em várias chamas que se espalharam por toda parte; e Felipe, seu marido, sonhoutambém, mais tarde, que selava o ventre da mulher, sendo a gravura da sela a figura deum leão. Interpretaram os adivinhos que tal sonho o admoestava de que devia zelarcuidadosamente a mulher; mas Aristandro de Telmesso(1)achou que isso significavaque a mulher estava grávida: "Porque, disse ele, não se sela um vaso onde não há nadadentro, e assim ela estava grávida de um filho que teria coração leonino". Dizemtambém que uma vez, quando ela dormia, apareceu-lhe no leito uma grande serpenteque se lhe estendeu toda ao lado e foi causa principal, pelo que se presume, de arrefecero amor que lhe dedicava e as carícias que lhe fazia o marido, de maneira que ele, aocontrário do que antes se acostumara, já não ia com tanta frequência deitar-se com ela,ou porque receasse que a mulher o enfeitiçasse, ou porque se reputasse indigno de suacompanhia, julgando-a amada e gozada por algum deus.
III. Isso é ainda contado de outra maneira: é que as mulheres dessa geração em toda aantiguidade são ordinariamente tomadas pelo espírito de Orfeu e pelo furor divino deBaco, sendo por isso chamadas Clódones e Mimálones, Como quem diz furiosas ebelicosas, e fazem várias coisas semelhantes às mulheres Edômas e Trácias, quehabitam ao longo da montanha de Emo; de modo que parece que essa palavraTrescevino(2)que em língua grega significa curiosa e supersticiosamente dedicar-se àscerimônias do serviço dos deuses, derivou-se delas; e Olímpia, amando tais inspiraçõese furores divinos, exercendo-os mais barbaresca e excessivamente do que as outras,atraía para si em suas danças grandes serpentes, as quais, deslizando muitas vezes porentre as heras com que as mulheres se cobrem em tais cerimonias, e fora das cirandassagradas que transportam, e enrodilhando-se à volta dos dardos que seguram nas mãos edos chapéus que trazem à cabeça, espantavam os homens.(1)Telmesso é uma cidade da Lícia onde a arte dos arúspices estava muito florescente.(2)Treskeyein, imitar os trácios, e daí exercer o seu culto supersticioso.IV. Não obstante, depois que teve essa visão, Felipe enviou Queronte de Megalópolisao oráculo de Apolo em Delfos, para indagar o que seria aquilo e o que devia fazer; e alilhe foi respondido que sacrificasse a Júpiter Âmon e o reverenciasse acima de todos osoutros deuses"; mas perdeu um dos olhos, aquele que pusera no buraco da fechadura doquarto, quando viu esse deus em forma de serpente deitado junto com sua mulher. EOlímpia, segundo escreve Eratóstenes, dizendo adeus ao filho, quando este partiu para aconquista da Ásia, depois de lhe ter revelado, a ele somente em segredo, de quem ecomo o concebera, pediu-lhe e aconselhou-lhe que tivesse coragem digna daquele que ogerara. Dizem outros, ao contrário, que ela detestou essa história, falando: "Não cessaráAlexandre de tornar-me suspeita à deusa Juno, fazendo-a ter ciúmes de mim?"V. Como quer que seja, nasceu Alexandre no sexto dia de junho, que os Macedônioschamam de Lous(3): exatamente no dia em que se incendiou o templo de Diana nacidade de Éfeso, como o testemunha Hegésias de Magnésia, que faz disso umaocorrência tão fria que teria sido suficiente para extinguir o incêndio do templo. "Nãoadmira — diz ele — que Diana tenha deixado incendiar-se seu templo, porque elaestava impedida, como parteira, pelo nascimento de Alexandre"; mas a verdade é quetodos os presbíteros, adivinhos e profetas que então se achavam em Éfeso, estimandoque o incêndio do templo era presságio certo de algum outro inconveniente, correramcomo possessos para a cidade batendo nos próprios rostos, gritando que naquele diatinha nascido alguma grande desgraça e alguma grande peste para a Ásia. E, poucodepois de haver Felipe tomado a cidade de Potidéia, recebeu ele ao mesmo tempo trêsgrandes notícias: uma, que Parmênion derrotara os Esclavônios numa grande batalha;outra, que ele ganhara o prémio de corrida singular de cavalos nos jogos Olímpicos; e aterceira, que sua mulher lhe dera um filho, que era Alexandre; e, tendo ficado muitocontente com esta última notícia, os adivinhos aumentaram-lhe ainda mais a alegria,prometendo que esse filho assim nascido, com três vitórias anunciadas ao mesmotempo, seria no futuro invencível.(3)Vide as Observações.VI. Ora, quanto à forma de toda a sua pessoa, as imagens feitas pela mão de Lisipo sãoas que a representam melhor ao natural. Por isso, não quis que outro estatuário oesculpisse senão ele(4), pois vários dos seus sucessores e amigos o imitaram muito mais
tarde, mas esse artista foi, acima de todos os outros, aquele que lhe observou comperfeição e representou a maneira de inclinar o pescoço um pouco para o lado esquerdo,e também a doçura do olhar e dos olhos. Mas, quando Apeles o pintou segurando o raiona mão, não lhe representou a cor ingénua, mas o fez mais moreno e mais escuro do queera de rosto; pois ele era naturalmente branco, e a brancura da pele se misturava comuma vermelhidão que lhe aparecia principalmente na face e no estômago. E lembro-mede ter lido nos comentários de Aristóxeno que sua carne cheirava bem e que o seu hálitoera muito doce, e lhe saía de toda a pessoa um odor muito suave, de tal modo que asroupas que lhe tocavam a carne eram como que todas perfumadas, do que a causapossível era a temperatura e compleição do seu corpo muito cálido e queimante comofogo, porque o doce olor resulta do calor que coze e digere a umidade, segundo estimaTeofrasto: daí vem que as regiões mais secas e partes da terra mais queimadas pelocalor do sol são as que dão mais e melhores especiarias, porque o sol tira a umidadesupérflua dos corpos, como matéria própria de putrefação: e parece que esse calornatural tornava Alexandre sujeito a beber e também corajoso.(4)Ler: "Esse artista, com efeito, observou perfeitamente bem e representou o que váriosdos seus amigos e sucessores procuraram imitar depois, a saber, sua maneira deapresentar-se, etc." Vide a Vida de Pirro, cap. XV. C.VIIDesde quando era ainda menino, tornou-se evidente que seria continente quanto àsmulheres: pois que, sendo impetuoso e veemente em todas as outras coisas, era difícilde se comover com os prazeres do corpo, aos quais se entregava com muita sobriedade;mas, ao contrário, sua cobiça de honra era acompanhada de firmeza de coragem emagnanimidade mais constantes do que a idade aparentava; pois não lhe apetecia todaespécie de glória, procedente de todas as coisas indiferentemente, como fazia o pai, oqual gostava de mostrar eloquência, como teria feito um retórico, e gravava em moedasas vitórias obtidas nas corridas de cavalos e carros nos jogos Olímpicos: antes, comoalguns, um dia, lhe perguntassem se desejaria aparecer na festa dos jogos Olímpicos,para tentar ganhar ali o prêmio da corrida, porque era muito disposto emaravilhosamente ágil: "Sim, respondeu, se os que correm fossem reis"; segundouniversalmente se diz, ele detestava todos esses combatentes em jogos de prémios: poisque, tendo por várias vezes promovido festas onde conferia prémios aos atores detragédias e de comédias, aos cantores, músicos, tocadores de flautas e de cítaras, e atéaos poetas, e onde semelhantemente mandava fazer caças diversas de todo género deanimais, e combates de bastão, nunca teve prazer em ordenar a esgrima de punhos nemoutra esgrima(5)em que os combatentes se ajudam com tudo quanto podem. Recebeuuma vez embaixadores do rei(6)da Pérsia, enquanto o pai tinha saído para qualquerviagem fora do reino, e, privando com eles, os conquistou pela cortesia de que usou epela boa hospedagem que lhes proporcionou; e, como não lhes perguntasse nada depueril nem de insignificante, mas os interrogasse sobre as distâncias existentes entre umlugar e outro, e sobre a maneira pela qual se ia mais depressa às altas províncias daÁsia, e sobre o próprio rei da Pérsia, como ele se portava com os inimigos, e que forçase poderio tinha, ficaram eles grandemente satisfeitos e mais ainda maravilhados; demaneira que não estimaram mais a eloquência e a vivacidade de espírito de Felipe, daqual se fazia tanta conta, em comparação com o instinto para todas as altas empresas egrandes feitos que prometia o natural de seu filho. Assim, todas as vezes que chegavamnotícias de que o pai tomara alguma cidade importante ou ganhara alguma grandebatalha, ele não gostava muito de ouvi-las, mas dizia a seus iguais em idade: "Meu paitomará tudo, meninos, e não deixará para mim nada de belo nem de magnífico que fazer
e conquistar convosco". Não amando a volúpia nem o dinheiro, antes a virtude e aglória, achava que quanto mais o pai lhe deixasse de grandes e gloriosas conquistas,tanto menos lhe ficaria de bom para fazer por si mesmo; e, portanto, vendo que o estadode seu pai e seu império ia crescendo todos os dias cada vez mais, cuidava que tudo oque havia de belo para fazer no mundo se deveria consumar inteiramente nele, e preferiareceber dele uma senhoria onde houvesse ocasiões de grandes guerras, grandes batalhase muita matéria que proporcionassem honra, era lugar de grandes tesouros, delícias oumeios de viver confortavelmente.(5)O Pancrácio: explicamos alhures em que consistia essa espécie de combate.(6)Oco.VIII. Ora, havia ao redor dele, como se pode imaginar, várias pessoas habilitadas aorientá-lo e educá-lo: governadores, camaristas, mestres e preceptores. Mas Leônidasera quem tinha a superintendência acima de todos os outros, como homem austero pornatureza e parente da rainha Olímpia, embora odiasse o nome de mestre ou preceptor econquanto seja esse belo e honroso cargo; de modo que os outros o chamavam degovernador e condutor de Alexandre, por causa da dignidade de sua pessoa e porque eleera parente do príncipe.. Aquele que tinha o lugar e o título de mestre era Lisímaco,natural de Acarnânia, o qual não tinha nada de bom nem de gentil em si mesmo; mas,porque a si mesmo desse o nome de(7)Fénix, a Alexandre o de Aquiles e a Felipe o dePeleu, tinha o segundo posto depois do governador.IX. Como Filonico de Tessália tivesse levado ao rei Felipe o cavalo Bucéfalo para lhovender, pedindo por ele treze talentos(8), desceram eles às carreiras para experimentá-loe picá-lo. Foi achado tão rebelde e tão feroz que os escudeiros disseram que nunca sepoderia obter dele nenhum serviço, porque não permitia que o montassem, nem mesmoque com ele endurecesse a voz e a palavra qualquer dos gentis-homens ao redor deFelipe, mas se levantava contra todos, de modo que Felipe se aborreceu e mandou que olevassem de volta como animal vicioso, selvagem e de todo inútil. E isso teria sido feitose Alexandre, que estava presente, não tivesse dito: "Ó deuses! Que cavalo rejeitam, nãosabendo servir-se dele por falta de destreza e de ousadia". Felipe, tendo ouvido essaspalavras, a princípio se mostrou indiferente; mas, como ele as fosse repetindo váriasvezes entre os dentes ao redor dele, mostrando-se desgostoso porque iam mandar ocavalo de volta, disse-lhe afinal: "Repreendes os que têm mais idade e experiência doque tu, como se entendesses disso mais do que -eles e soubesses melhor do que elesconduzir um cavalo à razão". Alexandre respondeu-lhe: "Pelo menos este eu manejariamelhor do que eles . "Mas, replicou Felipe, se não puderes fazê-lo, como com elesaconteceu, que multa queres pagar por tua temeridade?" "Ficarei contente, respondeuAlexandre, de perder tanto quanto vale o cavalo". Todos puseram-se a rir dessaresposta, e foi entre ambos apostada certa soma em dinheiro. E então Alexandre correupara o cavalo, tomou-o pela rédea e virou-lhe a cabeça para o sol, tendo percebido, creioeu, que o cavalo se atormentava ao ver a própria sombra, a qual surgia e movia-se diantedele à medida que marchava; depois, acariciando-o um pouco com a voz e a mão, até over resfolegante de raiva, deixou enfim cair docemente o manto no chão e, levantando-se rapidamente de um salto, montou com segurança e, esticando a rédea sem a tocarnem fatigar, acalmou-o convenientemente; depois, quando viu que ele abandonara seufuror e que apenas desejava correr, deixou-o sair a toda a brida, apressando-o ainda comvoz mais áspera que de ordinário e estimulando-o com os calcanhares. Felipe, nocomeço, olhou-o com grande receio de que ele se machucasse, mas sem dizer palavra.

Todavia, quando o viu guiar direito o cavalo até ao ponto de início da carreira, todoorgulhoso de se ter saído bem, enquanto os outros assistentes gritavam de admiração,mas o pai em lágrimas, segundo dizem, tamanha era a alegria de que se achava tomado,quando ele desceu do cavalo, lhe disse beijando-lhe a cabeça: "Ó meu filho, é precisoprocurar-te um reino que seja digno de ti, pois a Macedônia não to poderia dar".7)Ele dava a si mesmo o nome de Fénix, a Alexandre o de Aquiles, etc.(8)Sete mil e oitocentos escudos, — Amyot. 60.684 libras francesasX. Considerando que sua natureza era difícil de manejar, porque se obstinava em nãoquerer ser forçado a nada, mas como por advertência fosse facilmente conduzido àrazão, ele próprio tratou sempre de assim persuadi-lo do que desejava que ele fizesse,em lugar de dar-lhe ordens. E, não se fiando demais na educação do filho pelos mestresde música e de literatura, que pusera junto dele para ensinar-lhe, irias estimando que eraencargo de maior alcance que o deles, e que ele tinha necessidade, como diz Sófocles.De vários freios e timões diversos, mandou buscar Aristóteles, o mais famoso e maissábio filósofo da época, pagando-lhe condigno salário pela educação do filho. Apósdevastar e destruir a cidade de Estagira(9), da qual era natural, reconstruiu-a depois emfavor dele e para ali enviou de novo os habitantes que haviam fugido ou que haviamsido reduzidos à servidão, ordenando-lhe para moradia e sede dos estudos a casa derecreio(9)Na costa do mar Egeu, entre Anfípolis e Acanto, na parte da Macedónia chamadaCalcídica situada ao pé da cidade de Mieza(10), onde ainda existem assentos de pedraque Aristóteles mandou construir em aldeias cobertas de árvores para passearem àsombra.XI. Assim me parece que Alexandre não aprendeu com ele somente as ciências morais epolíticas, mas também ouviu as outras mais secretas, mais difíceis e mais gravesdoutrinas, que os discípulos de Aristóteles chamavam propriamente de acroamáticas ouepópticas, como quem diz especulativas, que é preciso ter ouvido o mestre paraentendê-las, ou reclusas atrás do conhecimento vulgar. Tais ciências eles nãopublicavam nem comunicavam a todos, de maneira que Alexandre, já tendo seguidopara a Ásia, ao ouvir que Aristóteles produzira e publicara alguns livros, escreveu-lhe aesse respeito uma carta em honra da filosofia, do teor seguinte: — "Alexandre aAristóteles, saúde. — "Não fizeste bem em publicar teus livros de ciênciasespeculativas, porque não teremos nada acima dos outros se o que nos ensinaste emsegredo é publicado e comunicado a todos. Desejo que saibas que eu preferiria superaros outros no conhecimento das coisas elevadas e sublimes, e não em poder. Adeus". Aoque Aristóteles, para atenuar esse ambicioso descontentamento, respondeu-lhe que ostais livros não tinham sido publicados(11)nem o seriam; pois, na verdade, em todo otratado que ele chama de metafísica, como se dissesse ciência segundo a natureza, nãohá nenhuma evidente instrução e expressão que possa ser útil, nem para ser aprendidapor si, nem para ser ensinada a outrem, de maneira que foi escrito para aqueles que jásão sábios e foram instruídos desde o começo. E me parece também que foi Aristóteles,mais que qualquer outro, quem o fez tomar gosto e afeição pela arte da medicina, poisdesta ele não apreciava somente a inteligência e a teoria, mas exerceu-lhe também aprática socorrendo os amigos quando ficavam doentes, e compôs algumas receitas de
medicamentos e alguns regulamentos de vida, como se pode verificar por suas cartasmissivas. Por natureza, era ele homem estudioso e gostava de ler.(10)Não se conhece sua posição; Berkeley, em suas sábias notas sobre Estêvão, acha queela deve situar-se perto de Estagira.XII. Quis também ter a Ilíada de Homero na correcão de Aristóteles, que se chama acorre-ta(12), como tendo passado sob a verga, e a punha sempre com seu punhaldebaixo da cabeceira da cama, estimando-a e chamando-lhe nutrição ou entretenimentoda virtude militar, como escreveu Onesícrates(13). Quando esteve nas altas províncias daÁsia, não podendo obter prontamente outros livros, escreveu a Harpalo, para que lhosenviasse. Ele enviou-lhe as histórias de Filisto, com várias tragédias de Eurípides,Sófocles e Esquilo, e alguns hinos de Telesto e Filóxeno(14). Assim honrou e amoudesde o começo a Aristóteles, não menos que ao próprio pai, como dizia, porque de umrecebera o viver e do outro o bem-viver; mas depois o teve um pouco suspeito, não aponto de causar-lhe desgosto, mas somente deixando de lhe fazer tão amigáveis eafetuosas carícias, como antes aprendera, o que se presumiu ser sinal de algumaalienação da vontade. Todavia, nem por isso lhe saíram da alma o desejo e o amor dafilosofia, que desde a infância lhe impregnara o coração e que com a idade lhecresceram, como testemunharam mais tarde a homenagem que prestou ao filósofoAnaxarco e os cinquenta talentos(15)que mandou a Xenócrates, do mesmo modo que aDandamis e Calano(16), os quais teve em grande conta.(11)Quer dizer: Estão publicados, e assim não o são. — Amyot. Tanto poderia estar essatradução no texto como em nota, pois é o sentido exato do grego.(12)Ek toy nárthekos. Querem alguns que essa passagem se refira ao rico cofreencontrado entre as jóias de Dário, dentro do qual Alexandre quis que se guardassem oslivros de Homero. — Amyot. Vide as Observações.(13)Seu verdadeiro nome é Onesícrito. Acompanhou Alexandre na expedição à Pérsia eescreveu-lhe a história. Era piloto de seu navio. Alexandre enviou-o junto aos chamadosfilósofos brâmanes, da índia. Sua história foi acusada, pelos antigos, de muitasinfidelidades; Plutarco alude a isso na continuação da Vida de Alexandre.(14)Ambos floresciam na 95ª olimpíada.(15)Trinta mil escudos. — Amyot. 233.437 libras francesas.(16)Eram ambos filósofos hindus, aos quais Onesícrito fora enviado. Vieram, emseguida, encontrar Alexandre na Pérsia, onde Calano, pondo termo à vida, queimou-sevoluntariamente à vista dos persas e dos macedônios. Vide Estrabão, 2. XV, pág. 1.042e seguintes. Aquele a quem Plutarco chama aqui Dandamis é chamado Mandanis porEstrabão, Ibid., e pelo próprio Plutarco nesta Vida de Alexandre, final.XIII.Tendo Felipe partido para a guerra contra os da cidade de Bizâncio, e ele na idadede dezesseís anos ficado na Macedónia como lugar-tenente e guarda do seu segredo, alidominou e subjugou os medários(17), que se haviam rebelado; e, tendo-lhes tomado deassalto a cidade, dali expulsou os bárbaros habitantes, alojando em seu lugar outros devárias nações e dando à cidade o nome de Alexandrópolis, isto é, a cidade de Alexandre.Também esteve, com o pai, na batalha de Queronéia, contra os gregos, onde se diz tersido o primeiro que combateu dentro da chamada praça sagrada dos tebanos; e até aomeu tempo ainda se via ali um velho carvalho que os do país chamavam comumente decarvalho de Alexandre, porque o seu pavilhão estava estendido debaixo dele; e não
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