sábado, 5 de maio de 2012

EDSON QUEIROZ (EMPRESÁRIO BRASILEIRO)

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O cearense Edson Queiroz é um dos destaques do estudo do professor da USP Jacques Marcovitch, que também inspira uma exposição no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro A história revogou o olhar sobre os grandes homens, preferindo deter-se em movimentos sociais coletivos. Contudo, na história empresarial, a expressão pessoal ainda se impõe. O empresário, para ficar na simples definição do dicionário, é aquele que zela pelo bom funcionamento de uma empresa. Há nessa categoria, no entanto, um número pequeno de homens a que se pode chamar pioneiros e empreendedores. São aqueles que não se conformam com as soluções oferecidas pela tradição e que terminam por inventar saídas para problemas, buscando novas áreas férteis para explorar. Sua atuação, longe de ser egoísta, oferece soluções para a grande maioria de profissionais do meio. É dessa ordem de homens que trata "Pioneirismo Empresarial no Brasil", coleção dividida em três tomos, escrita por Jacques Marcovitch, professor da área de Administração, reitor da USP entre 1997 e 2001 e estudioso do empreendedorismo no Brasil. Personagem incontornável na história econômica do Ceará, o empresário Edson Queiroz (1925- 1982) é um dos protagonistas da obra. Seu perfil é esboçado no tomo 3 - no qual se contam episódios de sua atuação no cenário nacional e a continuidade de seu legado, pela viúva e pelos filhos. "Pioneirismo Empresarial no Brasil" reúne artigos da série "Pioneiros e Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil". A proposta da série é "iluminar o papel desempenhado por figuras marcantes no processo de desenvolvimento do País". A coleção compreende quase dois séculos de trajetória empresarial, permitindo acompanhar o desenvolvimento e a sistematização do setor. A narração começa com os negócios de Antonio da Silva Prado (1778 - 1875), o Barão do Iguape, em meio às transformações da então colônia portuguesa. Ela se estende até os nossos dias, quando as ações se desenraizam e a atuação dos empreendedores ganha magnitude global. Edson Queiroz faz parte do grupo de empreendedores contemporâneos, responsáveis por esse salto que relativiza os limites geográficos. Os pioneiros A série destaca as trajetórias de Nami Jafet, Família Prado, Francisco Matarazzo, Ramos de Azevedo, Jorge Street, Roberto Simonsen, Júlio Mesquita, Leon Feffer, Irineu Evangelista de Souza, Luiz de Queiroz, Attilio Fontana e Valentim Diniz. Guilherme Guinle, Wolff Klabin, Horácio Lafer, José Ermírio de Moraes, João Gerdau, Curt Johannpeter, Herman Lundgren, Luiz Tarquínio, Bernardo Mascarenhas, Delmiro Gouveia, Roberto Marinho, Augusto Trajano de Azevedo Antunes e Samuel Benchimol, além do próprio Edson Queiroz. Ceará empreendedor É no terceiro tomo da coleção que se encontra o ensaio sobre os feitos de Edson Queiroz. O volume traz ainda textos sobre personalidades como o industrial cearense Delmiro Gouveia (1863 - 1917) e Roberto Marinho (1904 - 2003). A engenhosidade de Edson Queiroz parece contagiar o próprio autor, que abre o perfil contando uma das histórias do empresário cearense. Ele chama atenção para a homenagem que o cearense, nascido em Cascavel, levava no nome - referência ao inquieto inventor norte-americano Thomas Edson. O pai, Genésio Queiroz, era comerciante na cidade do Litoral Leste. Levou a família para Fortaleza em 1932, onde continuou no comércio. O livro detalha o modo como, em paralelo aos estudos, Edson Queiroz ajudava o pai na mercearia e, logo, começou a ter seus próprios negócios (ainda garoto, vendia aviamentos e material escolar para os vizinhos). No final de 1941, o empreendedor teve sua primeira grande ideia, que alavancou as vendas do pai, já tornado sócio. Nessa época, as importações haviam sido quase completamente suspensas, por conta dos riscos de ataque de submarinos e embarcações nazistas aos navios mercantes brasileiros. Edson Queiroz encontrou a saída na utilização de pequenas embarcações, que o exército alemão preferia ignorar, por sua insignificância. A tática do cearense deu certo. Assim, produtos como o açúcar pernambucano eram exclusivos no catálogo de pai e filho, em Fortaleza. Como aconteceria em toda a sua vida, o empresário não se contentava em estar à frente de apenas um negócio. O livro conta como, com o fim da guerra, Edson apostou na importação de automóveis dos EUA para vendê-los no Rio de Janeiro, onde a demanda e os preços eram maiores. Relembra a criação da Loteria Estadual do Ceará e a construção do Abrigo Central, centro comercial localizado na Praça do Ferreira. Esses empreendimentos permitiram a Edson Queiroz apostar naquele que foi o grande negócio de sua vida: o comércio de gás de cozinha, no qual o empreendedor investiu todas as suas fichas: vendeu sua parte dos demais negócios ao pai e entrou no nascente comércio. Queiroz viu naquele negócio uma oportunidade que, para outros, mais parecia um barco furado. Vários obstáculos precisavam ser superados: a resistência das donas de casa a substituir o velho fogão a lenha, a dificuldade de obter botijões e de garantir um fornecimento regular do produto, à época disponível apenas através de importação. Edson Queiroz se dedicou com afinco à superação desses obstáculos. Iniciou ele mesmo a venda de fogões, estabeleceu uma parceria com o único fabricante brasileiro de botijões e chegou a supervisionar pessoalmente a instalação e a entrega do gás, conquistando a confiança de seus novos clientes. O último obstáculo foi removido em 1953, quando o empreendedor conseguiu garantir a compra de gás nacional, produzido pela primeira refinaria do País. Pesou a argumentação de Edson Queiroz contra o acordo que a Petrobras pretendia firmar com uma empresa italiana - era a época do slogan "O petróleo é nosso". Não só conseguiu o que queria como, mais tarde, comprou a parte brasileira de sua concorrente italiana, a empresa Heliogás. Expansão A cada problema, Edson Queiroz lhe contrapunha uma solução. Assim, o empresário criou a Esmaltec, para fabricar seus próprios fogões, uma empresa marítima para transporte de suas mercadorias, passou a fabricar seus próprios botijões e assim por diante. Pouco a pouco, o empreendedor foi criando novos negócios. PERFIS Pioneirismo Empresarial no Brasil Jacques Marcovitch EDUSP 2010 1.000 páginas R$ 136 Exposição destaca 24 líderes A trajetória de 24 empreendedores que ajudaram a mudar o País nos últimos dois séculos também é tema da exposição "Pioneiros & Empreendedores", aberta no dia 28 de setembro, no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, onde segue até novembro. Uma carabina do tempo do império, um antigo livro de contabilidade e uma câmera da TV Globo dos anos 70 são exemplos de objetos que marcam o progresso do Brasil nos dois últimos séculos e fazem parte da exposição. O Brasil cresceu com as ideias e inovações de homens que viveram sempre à frente de seu tempo. Eles criaram as grandes empresas brasileiras e têm essa trajetória passada em revista na exposição. Líderes como o Barão de Mauá, que criou estaleiros, ferrovias e a primeira companhia de eletricidade do País, ou o jornalista Roberto Marinho, que aos 20 anos começou a trabalhar no jornal da família e aos 60 iniciou a montagem da Rede Globo. Nas salas do Museu Histórico Nacional, telas interativas mostram as biografias desses pioneiros. Um olhar sobre o passado. Um exemplo para o futuro. "São pessoas que, percebendo as dificuldades, encontraram caminhos para a construção do Brasil contemporâneo", diz o curador Jacques Marcovitch, que credita a escolha de Edson Queiroz para integrar a exposição à grande contribuição do empresário cearense em diferentes campos da vida brasileira. "Edson Queiroz era um homem visionário e irrequieto, que formou um conglomerado a partir da percepção da importância de distribuir o gás de cozinha no Nordeste. Ele tinha o empreendedorismo no sangue e uma absoluta incapacidade de ficar parado", enfatiza Marcovitch, sobre o cearense. Entre os muitos empreendimentos citados estão a Ceará Gás Butano, a Rádio Verdes Mares, a TV Verdes Mares e o Diário do Nordeste. 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