quinta-feira, 24 de maio de 2012

EMPREENDEDORISMO

IMPRIMIRImprimir Tamanho do texto: HISTÓRIA Redescobrindo Schumpeter: o poder do capitalismo O economista Joseph Schumpeter talvez tenha sido o pensador mais influente de todos os tempos sempre que se pensa em inovação, empreendedorismo e capitalismo. Ele foi também uma das personalidades mais incomuns do século 20, como mostra Thomas K. McCraw, professor emérito de Harvard em uma nova biografia. Leia a entrevista com o autor e um excerto do livro. Principais conceitos discutidos: As idéias de Schumpeter sobre o capitalismo, o empreendedorismo e a inovação. Ainda hoje elas encontram eco entre estudantes e homens e mulheres de negócios. Partindo pressuposto de que o sistema capitalismo foi a força econômica e social mais influente do século 20 (e é ainda hoje), não há melhor guia para entender sua influência e sua complexidade do que as idéias do célebre economista Joseph Schumpeter, diz Thomas K. McCraw, da Harvard Business School. “Creio que Schumpeter é o analista mais penetrante que já tivemos do capitalismo. Ele viu coisas que as pessoas não viam.” McCraw, laureado com o Prêmio Pulitzer de história, é autor de uma nova biografia: Prophet of innovation: Joseph Schumpeter and creative destruction (Profeta da inovação: Joseph Schumpeter e a destruição criativa), em que reunindo histórias de cunho social, empresarial e econômico, lança luz sobre a vida e a obra de Schumpeter. Um tema central da obra mostra como os insights de Schumpeter nos ajudam a compreender de que modo a força do capitalismo, da inovação e do empreendedorismo continua a transformar o mundo hoje. O que torna a narrativa ainda mais interessante é a personalidade carismática do economista. Um tipo elegante, Schumpeter (1883-1950) fazia sucesso com as mulheres, era adorado por seus alunos, e ganhou e perdeu uma fortuna em poucos anos. Certa vez, enfrentou à espada um bibliotecário, e venceu. McCraw, professor emérito de História Econômica da cátedra Isidor Strauss, discorre sobre a pesquisa que fez para o livro e reflete sobre o legado de Schumpeter em entrevista concedida por e-mail. Sean Silverstone - O que o levou a pesquisar e a escrever sobre Schumpeter? E por que o título Profeta da inovação? Thomas McCraw - Meu primeiro contato com Schumpeter ocorreu há muitos anos, quando ainda estava na universidade. Desde então, sempre gostei muito de ler seus livros. No entanto, a principal razão que me levou a escrever sua biografia foi a tremenda ressonância de suas idéias junto a meus alunos da Harvard Business School e entre homens e mulheres de negócios. Creio que Schumpeter é o analista mais penetrante do capitalismo de todos os tempos. Ele viu coisas que as outras pessoas não viam, em parte porque viveu em sete países diferentes. Ele foi também durante algum tempo ministro das Finanças da Áustria e trabalhou três anos no ramo de investment banking, onde fez uma fortuna que perdeu subitamente em um colapso da bolsa. Portanto, ele não era o acadêmico típico, embora tenha dedicado grande parte de sua carreira ao ensino, tendo lecionado durante quase 20 anos em Harvard. Com relação ao título do meu livro, a seguinte citação me serviu de inspiração: “Sem inovações, não há empreendedores; sem empreendedorismo, o capitalismo não gera retorno, e tampouco há o que possa impulsioná-lo.” Schumpeter escreveu isso durante a Grande Depressão dos anos 1930. Muita gente bastante inteligente daquela época acreditava que a tecnologia havia chegado ao seu limite, e que o capitalismo atingira seu auge. Schumpeter acreditava exatamente no oposto, e é claro que ele estava com a razão. Silverstone - Schumpeter introduziu o termo “destruição criativa” e defendeu o papel do empreendedor tanto em empresas iniciantes quanto em companhias já estabelecidas. O que os líderes de empresas podem extrair do desdobramento dessas idéias de Schumpeter? McCraw - O principal desdobramento diz respeito à inexorabilidade absoluta da destruição criativa e do empreendedorismo. Em uma economia livre, essas duas coisas jamais têm fim - jamais. Schumpeter disse que as empresas devem tentar, o tempo todo, “se manter em pé, firmes no solo que insiste em escorregar debaixo delas”. Portanto, nenhum profissional que esteja envolvido com uma empresa qualquer pode se dar ao luxo relaxar totalmente. Alguém, em algum lugar, está sempre pensando em uma maneira de realizar o trabalho de uma forma melhor em todos os pontos da cadeia de valor. O que quer que tenha sido construído será destruído por um produto melhor, um método melhor, uma empresa melhor ou por uma estratégia melhor. Trata-se de uma lição extremamente difícil de aceitar, sobretudo no caso de pessoas bem-sucedidas. Os negócios, porém, seguem um processo darwiniano, e Schumpeter sempre os comparava à evolução. A destruição criativa pode ocorrer dentro de uma empresa inovadora de grande porte (Toyota, GE, Microsoft), mas é bem mais provável que ocorra em empresas iniciantes, principalmente porque hoje elas têm muito mais acesso ao capital de risco. Schumpeter, a propósito, foi um dos primeiros economistas a usar o termo. Ele escreveu um artigo em 1943 em que faz referência ao “capital de risco”. Silverstone - Capitalismo, socialismo e democracia talvez seja a obra mais conhecida de Schumpeter. O que a torna tão profunda e interessante mesmo depois de meio século? McCraw - O capítulo 7, “O processo da destruição criativa”, tem apenas seis páginas, mas captura com perfeição a essência do capitalismo. Os dois capítulos precedentes e dos dois seguintes, esclarecem a argumentação. Portanto, em um pequeno espaço de pouco mais de 40 páginas, temos provavelmente o mais rico material jamais escrito sobre o vasto tema do capitalismo. O resto do livro é repleto de idéias provocativas sobre política, economia e sociedade, desde os tempos mais remotos até o presente. Schumpeter escreveu partes do livro sob o signo da sátira. Em sua longa análise do socialismo, por exemplo, ele parece dizer que se trata de um sistema superior. Contudo, toda essa seção é na verdade um blefe muito bem elaborado. Conforme disse Jonathan Swift, um dos maiores autores satíricos da língua inglesa, “a sátira é uma espécie de espelho em que as pessoas costumam sempre vêem o rosto do outro, e nunca o seu”. Houve leitores que ao terminar a leitura do livro de Schumpeter concluíram que ele era socialista. Na verdade, ele foi um dos mais ardentes defensores do capitalismo do seu tempo. No entanto, tratava a questão com muita sutileza, esforçando-se sobretudo para fazer com que seus leitores pensassem por si mesmos. Silverstone - O sr. compara a leitura dos livros de Schumpeter a uma sinfonia de Beethoven. Quais eram as qualidades de Schumpeter como escritor? McCraw - Faço essa comparação por dois motivos. Em primeiro lugar, a música de Beethoven nem sempre é fácil de entender se comparada, por exemplo, à de Mozart. (Mozart é o compositor clássico mais gravado no mundo todo; Beethoven aparece em segundo lugar). É preciso ter paciência com Beethoven, ouvi-lo com muita atenção inúmeras vezes para captar sua mensagem por completo. Outro motivo para a comparação é que a música de Beethoven é grandiosa e extremamente romântica. O mesmo se pode dizer da escrita de Schumpeter - ela é bastante incomum para um economista. Mas como o capitalismo é muito mais do que um simples sistema econômico, Schumpeter não se contentou em ser apenas economista. Ele foi o estudioso de economia mais erudito de sua época, e possivelmente de todos os tempos. Silverstone - O que Schumpeter nos diz hoje sobre a evolução do capitalismo no século 21? McCraw - Diversos economistas, entre eles Larry Summers e Brad DeLong, disseram que o século 21 será o “século de Schumpeter”, e eu concordo. A razão disso é que a inovação e o empreendedorismo prosperam no mundo todo de uma forma sem precedentes - não apenas na Índia e na China, conforme se vê o tempo todo na mídia, mas por toda parte - com exceção daqueles lugares que, numa atitude tola, insistem em rejeitar o capitalismo. O termo “globalização” é bastante preciso mas, de certa forma, não faz justiça ao que se propõe descrever, em parte por causa da revolução da informação introduzida pela Internet. Esse quadro torna a administração um processo muito mais complexo e mais desafiador do que nunca. Como historiador, sei como é sério o que estou dizendo. Silverstone - Schumpeter tinha uma personalidade fascinante - era um conquistador, dono um intelecto fabuloso e professor admirável. Quantos economistas de renome desafiaram um bibliotecário a enfrentá-los em um duelo de espada? Ao mesmo tempo, porém, conforme mostra seu livro, Schumpeter tinha suas próprias dúvidas. O que o sr. acha pessoalmente dele? Suas impressões sobre Schumpeter foram mudando à medida que o sr. escrevia? McCraw - Uma das alegrias que tive ao escrever o livro foi ter de lidar com a vida pessoal do meu biografado. Eu sabia que seria interessante, mas nem de longe imaginava quanto. Paul Samuelson, aluno de Schumpeter e o primeiro americano a ganhar o Prêmio Nobel de economia, disse certa vez que Schumpeter era fantástico tanto como scholar quanto por sua personalidade, mas que talvez esta última fosse seu trunfo maior. Não concordo com esse juízo, mas não como negar que Schumpeter exercia uma atração pessoal, sobretudo junto às mulheres, a outros estudiosos e aos alunos de ambos os sexos. O duelo a que você faz referência, aliás, foi motivado por uma proibição que impedia seus alunos de consultarem livros. Schumpeter havia passado um grande volume de atividades a seus alunos, e o bibliotecário recusara-se a permitir que eles consultassem os livros indicados. Como Schumpeter ficasse irado com isso (ele tinha só 26 anos e havia começado a lecionar há pouco tempo), o bibliotecário o desafiou a um duelo. Schumpeter venceu depois de arrancar um “bife” do ombro do desafiante. Mais tarde, os dois se tornaram bons amigos, e os estudantes puderam consultar os livros sempre que era preciso. A exemplo de muitos gênios, Schumpeter estabelecia para si padrões difíceis de atingir, e se queixava com freqüência por não viver à altura deles. Houve uma tensão extraordinária entre sua devoção à racionalidade (“Consagrei minha vida à razão”, escreveu ele certa vez em seu diário), e o poder avassalador de suas emoções. Ele era um prodígio intelectual e, como muitos ex-garotos prodígios, ficou surpreso ao constatar que não conseguia trabalhar aos 40 e aos 50 anos da mesma forma que aos 20. Mesmo assim, escreveu algumas de suas melhores obras na meia idade. Capitalismo, socialismo e democracia, por exemplo, foi publicado quando ele estava com 59 anos. Schumpeter passou também por algumas tragédias pessoais terríveis, como a morte da esposa ao dar à luz. Ela tinha 23 anos, e o filho recém-nascido morreu quatro horas depois do parto. Esse foi o acontecimento mais marcante de sua vida. Nos meses e anos que se seguiram, Schumpeter foi buscar forças nas profundezas do seu caráter - de uma profundidade muito maior do que ele suspeitava -, redobrando seus esforços para compreender toda a complexidade do capitalismo em seus aspectos econômicos, culturais e sociais. Com relação ao que penso pessoalmente a seu respeito, acho que Schumpeter é um desses personagens da história com quem qualquer um adoraria jantar, como muitos já disseram em relação a Benjamin Franklin. Ele era tão espirituoso, culto e interessante que não havia como não se sentir enriquecido depois de estar com ele. Juntar as partes da história fascinante de sua vida e, ao mesmo tempo, procurar entender sua obra monumental, fez com que meu livro fosse mais do que um desafio, transformando-o em algo extremamente prazeroso também. COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO

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