segunda-feira, 28 de maio de 2012

MISÉRIA E FOME NO NORDESTE

En la web En eumed.net -------------------------------------------------------------------------------- Este texto forma parte del libro Memorias de Economia de Luis Gonzaga da Sousa Para obtener el texto completo para imprimirlo, pulse aquí -------------------------------------------------------------------------------- NORDESTE: FRENTE E VERSUS O Nordeste brasileiro é relativamente a região mais pobre do país. Relativamente porque o Norte não fica muito atrás; entretanto, é menos povoada do que o Nordeste. Sabe-se, desta maneira, que a pobreza relativa do Nordeste parece proposital; pois, ao se caminhar pelos seus diversos estados, nota-se a grande fartura relativa que apresentam, mas sem uma estrutura que explore suas riquezas, sem depredação, e sem maltratar a mater natureza. O que se nota facilmente, é a busca incessante pela matéria-prima e mão-de-obra barata que no Nordeste abundam, sem o mínimo de esforço e desempenho em manter o seu status quo; todavia, não precisa uma luneta para enxergar que esta região está cada vez mais indo ao fundo do poço de uma depressão proposital. O Nordeste foi e continua sendo, palco das grandes explorações, desde os primeiros habitantes desta região, até a modernidade. Quem não se recorda dos relatos históricos sobre as invasões estrangeiras no Nordeste? Esses povos invasores, quando aqui chegaram, travaram lutas sangrentas contra aqueles habitantes inocentes, que apenas habitavam a região, sem a mínima intenção de obterem grandes fortunas. Quem não se lembra dos grileiros, que invadiram terras e terras para aumentar seus domínios, à custa de expulsões de pequenos posseiros? Outrossim, isto não foi coisa do passado, hoje ainda são praticados atos de violência contra aqueles que nasceram na terra, viveram nela e querem terminar seus últimos dias em seu torrão natal, no entanto, esmolar é sua recompensa em ser nordestino. Neste contexto; ilustres nordestinos levantaram suas vozes na busca de soluções que nunca foram atendidas e isto por causa das atrocidades que se têm praticado a esta gente. Josué de CASTRO mostrou o estado de penúria em que vive o nordestino, enfocando as arbitrariedades exercidas pelo latifúndio e senhores de engenho da região no interior de Pernambuco. Nestes seus gritos de clemência, ele mostra a necessidade de uma reforma agrária para esta gente, que nem possuem onde se enterrar tem, ao relatar que o homem pobre do Nordeste ao morrer é enterrado em plena capoeira, sem caixão, com nada. Com Antonio Barroso PONTES, em seu livro Sertão Brabo, coloca-se a coragem do sertanejo em conviver com todo tipo de intempérie que o tempo deposita nesta região, tão sofrida pela seca. Outros filhos ilustres também sentiram a dor do nordestino sofrido pela seca, como o caso de Raquel de QUEIRÓZ, que em seu livro O Quinze, ela relata a grande seca de 1877. Neste livro, ela conta o estado de penúria que vivia o sertanejo. Sem ter o que comer. Sem ter o que vestir. E sem poder atender suas necessidades de saúde que eram tantas e tantas. Mostra Raquel de QUEIRÓZ o desespero daquela gente em busca de comida; pois, seu prato predileto era xique-xique, fruta de cardeiro, preá, tejuaçú e muitos outros animaizinhos e frutos típicos da região. A fome era tanta que ao se caminhar pela estrada, dificilmente não se encontrariam três ou quatro defuntos sendo levados para sua última morada, ou cemitério, quando não se enterravam ao lado de sua casa. As experiências nordestinas não intimidaram as autoridades nacionais a olharem para esta região, como uma região problema. Neste sentido, Euclides da CUNHA estudou o Nordeste nos seus mínimos detalhes e, em seu livro Os Sertões, também deu seu contributo de alerta às autoridades para a gravidade do problema, no entanto, e como sempre, passou batido, ou foi tido como comunista. É mais uma literatura bem escrita que está nas pratileiras de bons leitores de romances famosos. Euclides da CUNHA foi mais além do que os outros, quando estudou as origens do homem do Nordeste, o porque das secas e como resolver tal problema. Foi mais uma voz dos que clamam no deserto; todavia, a luta continua e não é por pouca coisa que se vai esmorecer e deixar o Nordeste na miséria em que vive. O sofrimento do nordestino não deve ser esquecido assim tão desleixadamente como muito almejam. Devem surgir mais vozes e todo um conjunto de lutadores pela causa nordestina formando uma contenda conjunta; pois, talvez alguma coisa possa ser feita por este torrão tão esquecido. Na mesma linha de Euclides da CUNHA, Manuel Correia de ANDRADE se enveredou, e cientificamente mostrou as veias de brutalidade que as autoridades governamentais desprendem sobre a região. Manuel Correia de ANDRADE trabalha com o sustentáculo da economia nordestina, que é a agricultura e com muita propriedade desenrola as dificuldades do setor rural, indicando os pontos vulneráveis, e propondo soluções, tais como reforma agrária e algumas transformações para o homem do campo. Diante de tantos sofrimentos e dores, surgiram aqueles que procuraram fazer justiças com as suas próprias mãos, como foi o caso de Lampião (José Virgolino), de Chico Pereira, de Antonio Silvino e muitos outros que resolveram mostrar ao mundo o modus vivendi do pobre nordestino, cabra da peste que vive sob exploração do capitalismo selvagem. O mito dos cangaceiros tomou conta do país; mas, simplesmente pelo lado do terrorismo, do barbarismo e dos saques que costumavam praticar em todo sertão nordestino. Na ótica do misticismo, o cangaço inspirou Franklin TÁVORA, em O Cabeleira, explicar algumas linhas que trilharam os cangaceiros no Nordeste, e nas entrelinhas ver-se claramente a face da revolta que deu origem ao cangaço regional. É esta dor que ainda perdura no sangue do nordestino sofrido pela seca, e explorado pelos latifúndios prepotentes que ainda hoje insistem em continuar com as aberrações da fome e miséria que campeiam nas terras quentes deste Nordeste esquecido por quem faz a política de desenvolvimento nacional. É preciso que os gritos de alerta, dados pelos bravos nordestinos sobre a estrutura política e econômica praticada nesta região, não fiquem nos anais da literatura. É importante que a mente desse povo mude, porém mude de verdade. Não é necessário ser comunista para saber que o Nordeste é uma Biafra na América Latina; pois, são poucos os homens nativos que lutam por uma mudança neste status quo vigente. Não dar mais para esperar, o povo tem que mudar rapidamente o modo em que vive o nordestino, especificamente do campo. Todavia, tem-se que mostrar ao povo nordestino a realidade em que se vive. A época de corrupção passou. A fase do empreguismo também se foi. E o que resta agora é todo o povo em conjunto, lutar por um Nordeste forte e independente, para que, com tecnologia própria, se possa explorar eficientemente suas terras, suas tecnologias humanas, e, sobretudo, a experiência trazida pela gente que deu tudo e não conseguiu nada em troca. Contrariamente ao que contou Gracialiano RAMOS em Vidas Sêcas, deve-se enfocar mais ardentemente esse problema; contudo, o homem sofredor do Nordeste deve desaparecer e surgir aquele aguerrido e consciente das potencialidades da região. O Nordeste não deve ser visto como emergenciado, mas como uma região que tem progresso e vocação produtiva. O Nordeste é uma região por essência, minifundista. E, como tal, não se sabe até que ponto uma reforma agrária beneficiaria a essa gente. Uma reforma agrária é muito importante quando acompanhada por uma política agrícola que proporcione ao pequeno e médio agricultor, condições de trabalho e de financiamento a sua produção; porque, o interessante não é somente terra distribuída, é o que produzir e para quem consumir. A estrutura oligárquica nordestina pode ensaiar uma reforma agrária e ela mesma entravar sua evolução para mostrar a ineficácia de tal estrutura. Como se sabe, o poderio é imbatível, pelo menos no médio prazo e politicamente falando, ele aposta em qualquer tipo de descontrole para desestruturar qualquer sistema. Já no campo industrial, o Nordeste tem passado os mais terríveis problemas que uma região pobre tem suportado, tendo em vista que, a composição industrial regional, em sua maioria, é de micros, pequenos e médios industriais com tecnologia artesanal e arcaica. Com objetivo de melhor orientar a industrialização na região, é que surgiu a SUDENE; no entanto, ela veio dispersar muito mais os caminhos que deveria trilhar o processo industrial do nordeste. Basta ver as estatísticas, que se nota facilmente o direcionamento da política de incentivos industriais ao grande capital; porém, as indústrias intensivas em mão-de-obra não tiveram o beneplácito da campanha desenvolvimentista do governo federal e o sofrimento do trabalhador homem do Nordeste continua. E o que fazer? É participar de uma política séria. É eleger os candidatos identificados com os sofrimentos dessa gente. É sufocar o empreguismo e partir para o aumento da produtividade média da terra, do homem, do capital e da tecnologia. E, finalmente, é conscientizar a população da seriedade de que os destinos da nação, da região e do Estado dependem de seu povo, de sua gente. Enquanto existem os aproveitadores da fraqueza da gente nordestina, essa região viverá sempre sob o julgo dos aproveitadores que vêem no Nordeste, um campo de miséria e desgraças. Portanto, não se deve radicalizar sobre as questões da região, mas precisa-se deixar claro que o nordestino é forte e altaneiro, como coloca Che GUEVARA: hay que enderecerse, pero sin perder la ternura jamás. -------------------------------------------------------------------------------- COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas