terça-feira, 22 de maio de 2012

Quem sou eu Oséias de Lima Vieira Professor de Geografia na rede Pública e particular de ensino. Professor de Geografia geral e Geografia do Mundo Bíblico, História da Igreja e Arqueologia Biblica no Instituto Bíblico de Teologia IBADETRIM. Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Especializaçao em gestão Ambiental pela Faculdade Católica de Uberlândia. Estudos teológico pelo seminário Metodista de Lins- SP. Graduando em Direito pela Universidade de Uberaba. Visualizar meu perfil completo domingo, 25 de março de 2012Os ebionistas O ebionismo nunca foi uma doutrina muito difundida. Parece ter desaparecido na medida em que a igreja foi se tornando cada vez mais gentílica e menos judaica. Isto não significa, contudo, que esse ensino não representou um desafio para a igreja dos primeiros séculos. Pelo contrário, o que estava em jogo aqui era a singularidade de Jesus Cristo, em contraste com a possibilidade de distorcer sua figura de modo tal que pudesse simplesmente ser sobreposto à antiga religião judaica. Dessa forma, segundo o ensino ebionista, Jesus deixava de ser único e central. Ele não era mais o filho unigênito de Deus, mas um mero profeta dentro da sequência de profetas. Ele não era mais o salvador, mas simplesmente um elemento - algumas vezes secundário - da ação de Deus ao longo desta era. Finalmente, em um outro nível, havia discussões sobre o relacionamento entre o Cristianismo e o Judaísmo que tentavam reinterpretar não apenas o Cristianismo em si, mas o Judaísmo também. Esse era o caso de um certo tipo de Cristianismo judaizante que, embora provavelmente permanecesse em íntima relação com o ebionismo, também foi influenciado pelo gnosticismo. O principal expoente desse tipo de Cristianismo judaizante parece ter sido Elcasai (também chamado de Elkesai, Elcesai ou Elchasai). Ele viveu na primeira metade do século 2º, mas dificilmente algo pode ser conhecido sobre sua vida. Sua doutrina é claramente ebionista, embora com uma forte influência gnóstica; baseia-se numa revelação que Elcasai afirmava ter recebido de um anjo que tinha mais de cento e cinquenta quilômetros de altura. Este anjo era o Filho de Deus. Perto dele havia outro anjo de proporções similares, embora feminino, e este era o Espírito Santo. O conteúdo da revelação de Elcasai é conhecido apenas por meio de citações e outras referências encontradas nos escritores cristãos que o atacavam. A partir de seu testemunho pode-se concluir que o ensino de Elcasai era apenas uma forma de ebionismo - era necessário guardar a Lei e ser circuncidado, sendo Jesus um mero profeta - com algumas influências gnósticas: especulações astrológicas, numerologia e tendências dualistas. Sua principal fortaleza parece ter se estabelecido no Oriente, especialmente além do Eufrates, provavelmente a terra natal do próprio Elcasai. De qualquer modo, esta seita, embora pequena, é importante, pois talvez tenha influenciado Maomé, o fundador do Islamismo. GONZÁLEZ, Justo L., "Uma História do Pensamento Cristão". São Paulo: Cultura Cristã, 2004. vol. 1, pp. 121-122 Postado por Oséias de Lima Vieira às 11:49 0 comentários Marcadores: Cristianismo Primitivo quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012A necessidade de um “upgrade” no sistema operacional da Igreja. Em um encontro realizado na Noruega, Neil Cole – autor do livro Igreja Orgânica – nos explica a necessidade de um “upgrade” no sistema operacional da Igreja. Algumas perguntas para a reflexão de todos aqueles que estão atentos ao mover do Espírito em nossa geração: 1) A questão das finanças - É lícito, ético, bíblico a Igreja gastar mais dinheiro em estruturas eclesiásticas (salários, imóveis, eventos, etc) do que com os necessitados da Igreja e com missões? E mais: onde, no NT, encontramos bases bíblicas para cobrar o dízimo como um imposto compulsório? Se a Lei do AT se aplica na questão dos dízimos, quais são os parâmetros desta linha teológica que separa o dízimo malaquiano dos demais preceitos do pacote mosaico (como a circuncisão e a guarda do sábado) cuja obrigatoriedade foi abolida após o advento do Messias? 2) A questão do clericalismo - Desde a Reforma Protestante, “sacerdócio universal” se tornou uma espécie de jargão teológico de cunho meramente posicional, com pouquíssima ou nenhuma expressão prática na Igreja Protestante. Apesar da ruptura com o catolicismo há 500 anos atrás, ainda favorecemos a infame distinção entre cleros e leigos na Igreja. Como devolver o sacerdócio aos discípulos, tornando-os participantes da colheita ao invés de meros expectadores de culto? E mais: como pastorear as ovelhas sem controlá-las ou torná-las co-dependentes, formando obreiros para servir o Reino, ao invés de mantê-las eternamente em simbiose clero-laical? Como mudar a imagem do presbitério, do pastor-sacerdote ao mentor-facilitador? 3) A questão missional – O “culto”, em seu formato tradicional, é a vaca sagrada do evangelicalismo. O sermão pregado por um orador profissional foi transformado no “clímax espiritual” da experiência cristã. Na prática, a maioria dos evangélicos entende que ir a um culto, cantar e ouvir uma mensagem é a coisa mais importante na fé cristã. Como resultado, a maior parte dos recursos da Igreja (pessoas, tempo e dinheiro) são gastos na preparação de eventos. Onde estão as bases bíblicas para esta prática? Como canalizar os recursos disponíveis de maneira eficiente para tornar a Igreja mais missional e menos ensimesmada? Como podemos otimizar os recursos na Igreja para gastar mais tempo com os perdidos e com os necessitados, ao invés de gastar a maior parte do tempo entretendo os que já são salvos? 4) A questão da koinonia – No Novo Testamento, a Ekklesia era “costurada por relacionamentos”. Hoje em dia, muitas vezes é composta por um amontoado de estranhos que se reunem uma vez por semana para “adorar a Deus” e ouvir um sermão. A ênfase da Igreja é a pregação ao indivíduo, não o estilo de vida comunitário. O sucesso de uma igreja local é medido pelo número de cabeças em um culto, não pela profundidade dos relacionamentos entre os membros. Como criar ambientes de aprendizado, oração e ministração em que ao mesmo tempo possamos nos conhecer intimamente e “lavar os pés” uns dos outros? Por mais que falemos de reforma e da relevância da Igreja na pós-modernidade, toda mudança que fizermos será meramente cosmética se não mudarmos o sistema operacional da Igreja. É imperativo que dediquemos tempo para refletir e discutir estas questões, esforçando-nos para fornecer respostas sinceras à nossa geração. Disso depende o legado que oferecemos a nossos filhos. Precisamos urgentemente de um upgrade. Ecclesia semper reformanda est. Postado por Oséias de Lima Vieira às 21:24 0 comentários Marcadores: Igreja Porque Jesus seria deixado para trás pelas igrejas? O MUNDO É MINHA PARÓQUIA ( John Wesley) A internet é meu Púlpito ( Oséias Vieira) Porque Jesus seria deixado para trás pelas igrejas? No sábado pela manhã, deparei-me com essa charge no facebook, a mesma foi postada pelo meu amigo, o Teólogo Fernando Marin, em seu perfil. Dei boas gargalhadas, pois esta é realmente uma ótima piada, e que realmente reflete a realidade de muitas instituições eclesiásticas. Então me coloquei a pensar: "Se Jesus estivesse entre nós hoje, Ele ficaria de fora de muitas 'igrejas'. Ostracizado, banido, exilado... Por vários e muitos motivos, inclusive pelo dinheiro." Comecei a enumerar alguns fatos - além do dinheiro - pelos quais os 'pastores' de hoje, deixariam o Cristo de Deus fora das 'suas igrejas': 1. O Cristo bebe vinho; 2. O Cristo de Deus não ostenta riquezas, carrões, e roupas 'chiques'; 3. O Cristo é solteiro - Não poderia ser pastor em algumas denominações; 4. O Cristo andou com prostitutas, bêbados, ladrões... E hoje, ele andaria com esses e com os gays, e os drogaditos (não para fazer o que eles fazem mas para amá-los, e mostrar-lhes o Amor do Pai; 5. O Cristo não prega a malfadada, a esdrúxula, a obscura, a doentia, a tôsca, a perversa, e cancerígena 'teologia da prosperidade' (que eu prefiro chamar de 'teoria da prosperidade'); 6. O Cristo de Deus não destorce a mensagem, para extorquir o fiéis, e encher os bolsos com dinheiro, iates, jatinhos, viagens internacionais, e para pagar as faculdades caríssimas dos filhos em Boston, em New York, em London...; 7. O Cristo fala manso. Ele não grita, não pula, não sapateia - Seria taxado de 'morto espiritualmente','sorveteriano'... Sem 'fogo', sem 'unção', 'frio'... Dir-se-ia dele, que Deus o vomitaria no dia do juízo, e que Ele não é 'sapatinho de fogo', ou 'canela de fogo'... Entre outras coisas; 8. O Cristo de Deus, com certeza faria a opção pelos pobres. Abraçaria a Teologia da Libertação, oEvangelho Social, o Evangelho Político... E seria duramente criticado, excomungado como o Leonardo Boff, banido e demonizado. Seria chamado de 'liberal' e 'libertino'... como fazem com o Reverendo Carlos Calvani e com outros tantos sacerdotes e Teólogos; 9. O Cristo seria chamado de gay, por beijar os seus discípulos, e seria expulso da maioria das denominações - homem não pode beijar homem. Seria chamado de safado por beijar as irmãs, e de pedófilo por beijar e dar carinho às crianças, pondo-as no colo, como fez para demonstrar para Thiago e para Filipe, que para entrar no Reino dos Céus é necessário ser como uma criança; 10. O Cristo de Deus, não poderia entrar em muitas igrejas, e seria expulso, ou severamente punido e esquecido em outras tantas, por usar cabelos e barba grandes. Seus algozes lhe chamariam hostilmente de 'hippie' e'vagabundo', entre outras coisas... Eu poderia ficar aqui o dia todo, enumerando os motivos pelos quais Jesus não poderia adentrar, ou fazer parte de muitas instituições eclesiásticas. Entretanto, deixo para o leitor e para a leitora a tarefa de completar essa lista de dez simples motivos, pelos quais os farizeus de hoje excluiriam o Senhor. Apenas para ilustrar Em algumas 'igrejas', Jesus seria: 1. 'Colocado no banco' - Em disciplina; 2. Fariam uma carta-denúncia contra Ele. Entregariam uma para o pastor presidente, para o presbitério ou para o Bispo, apóstolo, pai-póstolo e uma cópia nas mãos dele; 3. Fariam reuniões para expulsá-lo; 4. Convocariam um concílio, conselho, plebiscito, para fazer-se retratar; 5. Se reuniriam na surdina para tramar contra Ele; 6. Fariam convenções para neutralizá-lo; 7. Mandariam Ele para pastorear em um interiorzinho, ou na favela; 8. 'Queimariam' Ele na primeira oportunidade; 9. Dificultariam ao máximo o Ministério d'Ele, isso se Ele conseguisse chegar ao presbiterato, ou seja, ordenado, ou nomeado, ou 'ungido'; 10. Puxariam o tapete d'Ele na primeira oportunidade, e colocariam a igreja contra Ele... Você pode ajudar a construir essa lista também! Pensando um pouco mais Entretanto depois desse terrível escândalo financeiro envolvendo a fraude e o desvio dos dízimos de Malaquias 3:10 na instituição eclesiástica denominada 'Igreja' (postagens abaixo), também comecei a pensar em alguns motivos pelos quais, Jesus rejeitaria as igrejas de hoje, e se tornaria um 'Cristão Desigrejado', ou um 'Cristão Independente': 1. Pastores ladrões; 2. Desvios, fraudes, enganações, sumiço... Nas finanças das igrejas; 3. Uso abusivo do texto em Malaquias 3.8; 4. 'Teologia da Prosperidade'; 5. G12; 6. Gritaria; 7. 'Profetadas'; 8. 'Reveladas' e 'revelamentos'; 9. Profeteiros' e 'profeteiras'; 10. 'Sapatos e canelas de fogo'; 11. Exageros na homilia, na música, na liturgia...; 12. Arrogância; 13. Desamor; 14. Fofocas; 15. Falta de perdão; 16. Destorção do Evangelho; 17. Falta de ética; 18. Julgamento; 19. Ostracismo e exclusão; 20. Intolerância religiosa; 21. Disseminação do ódio no sermão; 22. Promiscuidade, dissimulação e hipocrisia; 23. Demonização do outro; 24. Falta de misericódia; 25. Falsidade e traição... Que tal você ajudar a contruir essa lista também? Sei que todos têm alguma coisa para acrescentar à cada uma dessas três listas acima. Observem que nessa minha lista de motivos pelos quais Jesus, o Cristo de Deus rejeitaria as igrejas e templos que aí estão, os quatros primeiros ítens giram em torno do dinheiro. Os sete ítens seguintes são sobre dogmas e doutrinas, e os catorze últimos ítens, estão relacionados ao caráter e ao comportamento dos seres humanos. Pretendo publicar (ainda nesse ano) um texto mais elaborado, que vai analizar as pequisas que abordam o crescimento de 'evangélicos não praticantes', mais conhecidos como 'crentes desigrejados', cujo objetivo é refletir o 'Novo retrato da fé no Brasil'. Não é a toa que cresce no Brasil, o número de cristãos que não querem mais ir à igreja. Esse fenômemo sócio-religioso está construindo a 'Nova face da igreja brasileira'. Fonte: Teólogo Fernando Marin Pequenas modificações feita por Oseias de Lima Vieira Postado por Oséias de Lima Vieira às 21:21 0 comentários Marcadores: Porque Jesus seria deixado para trás pelas igrejas? quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012Vida e obra de Martinho Lutero Uma das figuras mais polêmicas do cristianismo e responsável maior pela reforma protestante, Martinho Lutero nasceu em 10 de Novembro de 1483, na cidade de Eisleben, filho de Hans e Margareth Luther. Na manhã seguinte, festa de Martim de Tours, foi batizado com o nome do santo do dia, na igreja de São Pedro e Paulo. Hans Luther, seu pai, foi fazendeiro, mineiro, dono de mina, e posteriormente fez parte do conselho da cidade de Mansfeld, para onde eles se mudaram quando Lutero tinha um ano de vida. O luterano Martin Marty1 descreve a mãe de Lutero como sendo uma grande trabalhadora da classe comerciante, enquanto nota que os inimigos de Lutero a descreviam como prostituta ou atendente de banheiros. Seus pais assinavam alternativamente os sobrenomes de Lüder, Luder, Loder, Ludher, Lotter, Lutter ou Lauther. A forma conhecida hoje como Luther foi escolhida pelo próprio Lutero por volta de 1512. Ele derivou seu nome ou do duque Leuthari ou da palavra grega ελεύθερος (livre), de onde ele tira a palavra flexionada Eleutherios (o livre)2. Lutero frequentou a escola da cidade de Mansfeld de 1488 até 1497. Depois disto ele frequentou a Magdeburger Domschule. Ali ele estudou com os Irmãos da Vida Comum, comunidade religiosa católica que enfatizava uma vida de simples devoção a Jesus. Estes haviam estabelecido na Alemanha e Holanda escolas onde o ensino era oferecido “para o amor de Deus apenas”. Depois disto, em 1498, Lutero é enviado para os franciscanos em Eisenach, onde ele recebeu educação em música e poesia, se destacando como cantor. Desde cedo então, o jovem Lutero recebia influência religiosa. De 1501 até 1505, Lutero vai estudar na faculdade de Erfurt, recebendo o título de “Magister Artium” da faculdade de Filosofia. Ali ele recebe educação básica em latim nas matérias de Gramática, Retórica, Dialética, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Seguindo o desejo de seu pai, Lutero então inicia seus estudos de direito, na mesma faculdade, no ano de 1505. No entanto, abandona os estudos não muito tempo depois. Em 2 de julho daquele ano, depois de uma visita aos seus pais em Mansfeld, retornando para Erfurt durante uma tempestade, Lutero teve medo de morrer quando um raio cai perto dele, e chama Santa Ana, dizendo “Me ajude, santa Ana, e eu me tornarei um monge!”. Sua promessa pode ser explicada tanto pelo medo da morte e do julgamento divino, que posteriormente ele confessa a seu pai, como também pela educação religiosa que recebeu até então. Assim, em 17 de julho, contra a vontade de seu pai (que via aquilo como um desperdício de toda a educação que Lutero recebeu), ele entra em um monastério agostiniano em Erfurt. Ali ele se dedica com tando afinco à vida monástica, se devotando a jejuar, passar horas orando, em peregrinação e em frequente confissão. Posteriormente ele diria que “Se alguém pudesse ganhar o céu como monge, eu certamente estaria entre eles”3. Foram anos de desespero espiritual que ele posteriormente descreveria: “Eu perdi contato com Cristo o Salvador e Confortador e fiz dele o carcereiro e carrasco da minha pobre alma”4. Tanta dedicação o faz diácono já em 27 de fevereiro de 1507, e padre em 4 de abril do mesmo ano. O motivo de tanto desespero espiritual se encontrava no sacramento da penitência. Os pré-requisitos deste sacramento eram arrependimento sincero, falta de medo diante da punição divina e a confissão de todos os pecados, inclusive os pecados secretos, mesmo os desconhecidos pela pessoa. Estes pré-requisitos Lutero levava bastante a sério, chegando posteriormente a duvidar da sua capacidade de cumpri-los, o que o levou a duvidar ainda do perdão de Deus. Assim Johann von Staupitz, seu confessor e vicário geral da congregação, concluiu que Lutero precisava de mais trabalho para distraí-lo de excessiva introspecção, ordenando ele a buscar uma carreira acadêmica em Wittemberg, em 1508, onde entra em contato com a teologia de Guilherme de Ockham. Em março de 1509 recebe o grau de bacharelado em Estudos Bíblicos, que o permitiu ler alguns trechos bíblicos com os acadêmicos. Poucos meses depois recebe outro grau de bacharelado nas Sentenças de Pedro Lombardo, que o permitiu expô-las. Pouco depois disto retorna para Erfurt. Em 1510, Lutero viaja para Roma, em uma missão em nome de seu convento. A casa de Erfurt e seu prior, Johann Nathin, pertenciam a um movimento de reforma dentro da ordem Agostiniana que buscava expandir uma observância mais estrita da Regra. Em setembro de 1510, uma união entre as ordens foi anunciada, o que para estes monastérios reformados como o de Erfurt, significava uma perda do que já havia sido obtido. Por este motivo, estas congregações decidiram apelar para o vicário geral, Giles (Egidio) de Viterbo, em Roma. Assim, Lutero foi escolhido para levar a apelação ao vicário geral. Viagens assim não poderiam ser feitas sozinho, pois isto era proibido pela ordem. Provavelmente foi acompanhado por Anton Kresz da casa de Nuremberg, que estava encarregado da missão. Foi em Roma que Lutero teve grande decepção. Segundo relatos de seu filho Paulo, que ouviu isto de seu pai em 1541, Lutero ali subiu a famosa Scala Santa de joelhos, pedindo penitência por ele e seus parentes. Arrependido de seus atos, volta a Alemanha. Em setembro de 1511, retorna a Wittenberg. Em 19 outubro de 1512 ele recebe o título de Doutorado em Teologia, e em 21 de outubro de 1512 recebeu o convite para ocupar a posição de Doutor na Bíblia na mesma faculdade, título que manteve até o fim de sua vida. CONTRA A VENDA DE INDULGÊNCIAS Um ano antes da elaboração das 95 teses, Lutero já pregava abertamente contra as indulgências. No verão de 1517, ele recebe uma carta do cardeal Albrecht, intitulada Instructio Summarium, permitindo a venda de indulgências no país. Parte das rendas serviria para pagar as dívidas dele com a família Fugger, que financiaram seu príncipe eleitor. Para esta tarefa, ele envia Johann Tetzel. No dia 4 de setembro de 1517, Lutero distribui 97 teses entre seus discípulos e colegas sobre uma disputa com a teologia escolástica. Depois disto Lutero elabora suas 95 teses a respeito das indulgências, que, segundo Filipe Melanchthon, teriam sido fixadas na porta principal da Igreja de Todos os Santos, em Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517, evento que ficou mais tarde conhecido como o estopim para a reforma protestante. Tal fato é hoje muito questionado. Alega-se por um lado que Filipe Melanchthon não poderia ser testemunha ocular do evento, pois chegou à universidade como professor apenas em 1518. Além disto se alega também que tal ato seria interpretado como uma provocação aos seus superiores. Havia sim o costume de se fixar teses nas portas da Igreja, mas isto acontecia apenas depois de se verificar as reações de bispos ao trabalho fixado. Lutero não desejava confrontar seus superiores, mas sim, esclarecer alguns pontos sobre as indulgências. Por outro lado, Filipe Melanchthon era amigo muito próximo de Lutero. Mesmo não sendo testemunha ocular, ele poderia muito bem ter ouvido o relato do próprio Lutero. Além disto, ele nunca fez disto um fato extraordinário, ficando difícil entender por que Melanchthon poderia mentir ou até mesmo se enganar sobre este ponto. Sabe-se no entanto que Lutero escreveu uma carta ao arcebispo Albrecht de Mainz e Magdeburg em 31 de outubro de 1517, onde ele denunciava a venda de indulgências e exigia o esclarecimento de mal-entendidos. Com a carta ele enviou 95 teses, as quais serviram de base para uma discussão sobre o assunto. Mas Albrecht não respondeu esta carta, enviando-a para Roma. Johann Tetzel reagiu escrevendo contra-teses, com a ajuda do teólogo Johannes Eck, professor da cidade de Ingolstadt. A resposta do papa foi colocar a questão debaixo da jurisdição dos agostinianos, cuja próxima reunião capitular seria em 26 de abril de 1518, conhecida hoje como a Disputa de Heidelberg, cidade onde aconteceu. Para lá foi Lutero, temendo por sua vida, mas encontrando amplo apoio por parte dos monges ali. Nesta disputa, Lutero pôde elucidar sua teologia, onde pregava a graça de Deus. A questão é que Lutero via seu entendimento sobre esta graça como o alicerce para seu ataque às indulgências. Foi em Heidelberg que Lutero convenceu muitos futuros reformadores, entre eles Martin Bucer, sobre a veracidade de sua teologia. Assim, o papa Leão X teve que tomar outro caminho. Se reuniria em Augsburgo, em outubro de 1518, a dieta do império, ou seja, a assembléia de todos os potentados alemães, sob presidência do imperador Maximiliano. O legado papal para esta dieta era o cardeal Cajetano, cuja grande missão era convencer os príncipes alemães da necessidade de empreender uma cruzada contra os turcos, que ameaçavam a Europa, e de promulgar um novo imposto para este fim. O papa então comissionou Cajetano a se entrevistar com Lutero e o obrigar a se retratar. Se o monge negasse, deveria ser levado prisioneiro a Roma. No entanto, o príncipe eleitor Frederico, o Sábio da Saxônia, em cuja jurisdição vivia Lutero, obteve um salvo conduto do imperador Maximiliano para Lutero, a quem se dispôs a ajudar em Augsburgo, mesmo sabendo que pouco mais de cem anos antes, e em circunstâncias muito parecidas, Jan Huss tinha sido queimado em violação a um salvo-conduto imperial. A entrevista, que ocorreu entre 12 e 14 de outubro, não rendeu o resultado desejado. O cardeal se recusava a discutir com o monge e exigia sua renúncia. Por outro lado, Lutero não estava disposto a se retratar antes de ser convencido de seu erro. Quando descobriu que Cajetano poderia levá-lo a Roma como prisioneiro, abandonou a cidade às escondidas na noite do dia 20 para o dia 21. Frederico ajudava Lutero não por que estava convencido por suas doutrinas, mas sim por que ele desejava que fosse dado um tratamento justo a Lutero. Ele desejava evitar o que havia acontecido com Jan Huss anos antes. Assim estavam as coisas, quando em janeiro de 1519, morre o imperador Maximiliano. A escolha de sucessores ao trono alemão não era feita por sucessão, e sim por eleição. Logo começou-se a discutir quem seria o sucessor de Maximiliano. Os dois candidatos mais poderosos eram Carlos I da Espanha e Francisco I, da França. Para o papa, nenhum dos dois candidatos convinha ser eleito, já que o império alemão fortaleceria qualquer um dos dois de forma desproporcional. Roma precisava de um candidato cujos atrativos residiam não no poder, mas sim, na sabedoria e justiça. E por isto não havia candidato melhor que Frederico. Desta forma, como Frederico defendia Lutero até que este tivesse um julgamento justo pelo menos, Leão X prorrogou a condenação de Lutero, enquanto se aproximava do eleitor que o protegia. Por fim, Karl von Miltitz, parente de Frederico, foi enviado pelo papa à Alemanha, para obter uma solução amigável. Em entrevista com Lutero, conseguiu deste a promessa de não continuar a controvérsia desde que seus inimigos fizessem o mesmo. Isto trouxe uma breve trégua. Isto durou até que Johannes Eck desafiasse, não Lutero, mas sim Karlstadt, colega de Lutero na universidade de Wittenberg, a um debate em Leipzig a cerca das doutrinas do livre-arbítrio e da graça, que ocorreu em Junho de 1519. Karlstadt havia se convencido das doutrinas de Lutero, porém era muito mais impetuoso e exagerado que Lutero. Como suas doutrinas seriam discutidas em Leipzig, Lutero declarou que participaria também do debate. Quando chegou o momento de Eck e Lutero debaterem, ficou claro que Lutero conhecia mais sobre as Escrituras, enquanto Eck estava mais à vontade nas matérias de Direito Canônico e Teologia Medieval. O assunto do debate foi expandido, e Eck foi mais hábil em levar a discussão para as áreas que dominava. Assim, Eck obrigou Lutero a declarar que o Concílio de Constança havia se enganado ao condenar Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu entender, tem mais autoridade que todos os papas e os concílios contra ela. Isto foi o suficiente para Eck acusar Lutero de herege, por apoiar um herege condenado (Huss) por um concílio ecumênico. Neste tempo, Carlos I da Espanha já havia sido eleito imperador alemão, por isto o papa não precisaria mais adiar nenhuma condenação de Lutero. Por outro lado, os defensores da causa de Lutero souberam aproveitar bem as condições políticas em seu favor. Além do número sempre crescente de seus seguidores, Lutero tinha as simpatias dos humanistas, que viam nele um defensor da reforma que eles mesmos propunham, e dos nacionalistas, para quem o monge era o porta-voz do protesto alemão diante dos abusos de Roma. EXCOMUNHÃO Assim, o papa tardiamente agiu, enviando a bula Exsurge domine, em 15 de junho de 1520, onde ordenava que os livros de Lutero fossem queimados, dando ainda sessenta dias para se submeter à autoridade romana, sob pena de excomunhão e anátema. As obras do Reformador foram queimadas em muitos lugares onde foi recebida. No entanto, quando Lutero a recebeu, a queimou juntamente com outros livros com as doutrinas dos papistas. Este era o rompimento definitivo. DIETA DE WORMS Embora o imperador Carlos V fosse católico fervoroso, não hesitou em usar o caso de Lutero para obter o apoio papal. Em todo caso, decidiu-se que Lutero deveria comparecer à dieta de Worms, que ocorreu de 28 de janeiro até 25 de maio de 1521. Esta dieta reunia vários súditos do império, e o príncipe eleitor Frederico obteve salvo-conduto para que Lutero pudesse comparecer à dieta, o que ocorreu no dia 18 de abril. No interrogatório, Lutero foi apresentado a vários livros de sua autoria, para ser questionado se eles eram realmente seus livros, o que ele confirmou. Sendo confirmada a autoria dos livros, o interlocutor perguntou a ele se ele continuava sustentando as doutrinas ensinadas naqueles livros. Este era um momento muito difícil para Lutero, que temia não o imperador ou o papa, mas sim a Deus, que os ordenara. Assim, pediu um dia para refletir sobre sua resposta. No dia seguinte, a pergunta foi refeita. Em sua resposta, Lutero dividiu seus escritos em três categorias: a primeira não era mais que a doutrina cristã que tanto ele como seus inimigos sustentavam, e portanto ninguém deveria pedir-lhe que se retratasse daquilo. A segunda parte tratava sobre a tirania e as injustiças a que estavam submetidos os alemães, e também disto não se retrataria, pois tal não era o propósito da dieta, e tal negação somente contribuiria para aumentar a injustiça que se cometia. A terceira parte, que consistia em ataques a certos indivíduos e em pontos de doutrina que seus oponentes refutavam, certamente não havia sido escrita com demasiada aspereza. E assim tão pouco dela se retrataria, a não ser que lhe convencessem de que estava enganado. Seu interlocutor insistiu: “Retratas-te, ou não”? E Lutero lhe respondeu em alemão mesmo “Não posso nem quero retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é justo nem seguro. Deus me ajude. Amém”. Alguns ainda dizem que ele acrescentou as palavras: “Aqui estou e não posso fazer diferente”. Mas atualmente se acredita que tais palavras foram adicionadas posteriormente. Nos próximos 5 dias conferências foram mantidas para se decidir o destino de Lutero. Temendo pela própria vida, Lutero fugiu de Worms, antes que sua condenação fosse declarada. Durante a fuga, Lutero foi sequestrado por um grupo de homens armados, a mando de Frederico, o sábio, e foi levado ao castelo de Wartburg, em segredo. Ali Lutero passaria um bom tempo escondido. TRADUÇÃO DA BÍBLIA Lutero ficaria no castelo de Wartburg até 1 de março de 1522, sob o pseudônimo de Junker Jörg. Dedicaria seu tempo a escrever, e entre as obras mais importantes de Lutero, está o início da tradução do Novo Testamento para o alemão, obra que ele terminaria 2 anos depois (o Velho Testamento levaria mais de 10 anos). Esta importante obra deu forma ao idioma alemão, além de permitir o povo a ler as Escrituras. Enquanto Lutero estava no exílio, vários de seus colaboradores continuaram seu trabalho em Wittenberg, entre eles Karlstadt e Phillip Melanchthon. Lutero era tão temente a Deus que tinha vacilado em dar os passos concretos que seguiam sua doutrina. Em sua ausência, estes passos foram dados de forma mais rápida. Muitos monges e freiras deixaram seus conventos e se casaram, o culto foi simplificado, usava-se o alemão no culto, abandonou-se as missas pelos mortos, cancelaram-se os dias de abstinência e jejum. Melanchthon começou a oferecer a comunhão de ambos os modos, dando o cálice para os leigos também. Isto era bem visto para Lutero no começo, mas quando Karlstadt começou a se dedicar a derrubar imagens, Lutero lhes aconselhou moderação. O clima instável em Wittenberg facilitou a entrada de três leigos conhecidos por Profetas de Zwickau, que diziam que Deus lhes falava diretamente, e não tinham necessidade das Escrituras. Melanchthon não sabia responder a estas pretensões, então pediu conselhos a Lutero em Wartburg. Este percebeu que o que estava em jogo era nada mais nada menos que o Evangelho, e retornou a Wittemberg, em 6 de março de 1522. O retorno a Wittenberg pôde ser feito em segurança, por causa das condições políticas. Pouco tempo depois da dieta de Worms, o papa Leão X morria. Carlos V, embora quisesse acabar com o protestantismo luterano, tinha problemas com Francisco I, da França, e não podia molestar seus súditos alemães. Por oito dias ele pregou 8 sermões conhecidos por Sermões Invocavit, onde ele se concentrou nos valores cristãos do amor, paciência, caridade e liberdade, lembrando os cidadãos para que confiem em Deus e não na violência para que eles consigam as mudanças necessárias. O efeito da intervenção de Lutero foi imediato. CASAMENTO E FAMÍLIA Em abril de 1523, Katharina von Bora e outras 8 freiras fogem do convento cisterciense de Nimbschen, na Saxônia. Desde então, elas vivem em Wittenberg. Posteriormente, em 13 de junho de 1525, Katharina e Lutero se casam, adiando as festividades para o dia 27. Nesta época, alguns pastores já haviam se casado, como Andreas Karlstadt e Justus Jonas, mas o casamento de Lutero deu o selo de aprovação ao casamento clerical. Lutero já havia condenado o celibato usando bases bíblicas, mas mesmo assim a decisão de se casar pegou todos de surpresa. Katharina passa então a ser de grande ajuda aos problemas pessoais de Lutero. Através do abrigo de estudantes e da anotação de vários discursos de Lutero, ela preveniu várias dificuldades econômicas. Juntos tiveram 6 filhos: Johannes, nascido em 7 de junho de 1526 em Wittenberg, falecido em 27 de Outubro de 1575 em Königsberg (Preußen),Elisabeth, nascida em 10 de dezembro de 1527 em Wittenberg, falecida em 3 de agosto de 1528 em Wittenberg,Magdalena, nascida em 4 de maio de 1529 em Wittenberg, falecida em 20 de setembro de 1542 em Wittenberg,Martin, nascido em 7 de novembro de 1531 em Wittenberg, falecido em 4 de Março de 1565 em Wittenberg,Paul, nascido em 28 de janeiro de 1533 em Wittenberg, falecido em 8 de Março de 1593 em Leipzig,Margarethe, nascida em 17 de dezembro de 1534 em Wittenberg, falecida em 1570 em Mühlhausen/Ostpreußen.REBELIÃO DOS CAMPONESES Em 1525, estoura a rebelião dos camponeses. Estes tinham sofrido por várias décadas uma opressão sempre crescente e já haviam ocorrido rebeliões em 1476, 1491, 1498, 1503 e 1514. Porém nenhuma delas teve a magnitude da de 1525. Além disto, a baixa nobreza acabara de perder suas poucas terras para a alta nobreza. A esta nova rebelião, um novo fator se somou: a pregação dos reformadores. Embora Lutero não cria que sua pregação devesse ser aplicada em termos políticos, houve muitos que não estiveram de acordo com ele nesse ponto. Entre eles estava Tomás Muntzer, natural de Zwickau, tendo doutrinas que se pareciam muito com as dos profetas de Zwickau. À parte de Muntzer, a revolta também possuía um caráter religioso. Quando elaboraram seus “doze artigos”, os camponeses apresentaram várias demandas econômicas, mas outras eram religiosas. Porém tratavam de baseá-las todas nas Escrituras, e seu último artigo declarava que, caso fosse provado que algum de seus pedidos era contrário às Escrituras, ele seria retirado. Em todo caso, Lutero não sabia como responder a essa nova situação. Possivelmente sua doutrina dos dois reinos era mais difícil de entender do que praticar. Quando primeiramente leu os “doze artigos”, ele se dirigiu aos príncipes, dizendo-lhes que o que se pedia era justo. Mas quando a rebelião tomou forma, e os camponeses se armaram, Lutero tratou de dissuadi-los e posteriormente instou aos príncipes que tomassem medidas repressivas. No entanto, quando a rebelião foi sufocada com violência, o Reformador exigiu misericórdia para com os vencidos. As consequências de tudo isto foram funestas para a causa da Reforma. Os príncipes católicos culparam o luteranismo pela rebeldia e, a partir de então, proibiram todo intento de pregar-se a reforma em seus territórios. E quanto aos camponeses, muitos deles abandonaram o luteranismo, e regressaram à velha fé ou se tornaram anabatistas. ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA Os problemas políticos continuavam impedir que Carlos V aplicasse as resoluções da dieta de Worms. Isto deu a Lutero tempo suficiente para organizar o culto. Assim, de 1525 a 1529, Lutero estabeleceu um corpo eclesiástico supervisório, estabeleceu uma nova forma de adoração, e elaborou dois catecismos. Para não confundir muito o povo, Lutero não fez mudanças muito drásticas no culto. Isto não foi bem visto por outros reformadores, que viam no culto de Lutero um culto muito papista. Por outro lado, Lutero escreveu vários hinos, se destacando como escritor de hinos. COLÓQUIO DE MARBURGO Em outubro de 1529, Filipe I de Hesse, adepto do protestantismo, convoca uma reunião de teólogos alemães e suíços no Colóquio de Marburgo, a fim de estabelecer a unidade dos Estados protestantes emergentes. Após discussões, 14 dos 15 pontos discutidos tiveram concordância por parte de todos. A única exceção seria sobre a natureza da Eucaristia, onde Lutero e Zuínglio discordavam, e se relacionava estritamente com o restante de suas teologias. Além de Lutero e Zuínglio, o Colóquio contou com a participação de Johannes Agricola, Johannes Brenz, Martin Bucer, Caspar Hedio, Justus Jonas, Filipe Melanchthon, Johannes Oecolampadius, e Andreas Osiander. Sobre a questão Eucarística, os teólogos alemães e suíços nunca chegaram a um consenso. No entanto, o colóquio de Marburgo foi importante para a formulação da confissão de Augsburgo. CONFISSÃO DE AUGSBURGO A dieta de Spira, em 1529, tomou um rumo muito diferente das dietas anteriores, que não tomaram nenhuma medida em relação às decisões da dieta de Worms. Naquele momento o imperador Carlos V era mais poderoso e vários príncipes que antes tinham sido moderados passaram para o lado católico. Ali se reafirmou o edito de Worms. Foi então que os príncipes luteranos protestaram formalmente e, por isso, a partir desse momento, começaram a chamá-los “protestantes”. Finalmente, Carlos V regressou à Alemanha em 1530, para a celebração da dieta de Augsburgo. Na dieta de Worms, o Imperador não tinha desejado ouvir sobre o que se tratava o debate. Porém agora, tendo em vista o curso dos acontecimentos, pediu que lhe apresentassem uma exposição ordenada dos pontos em discussão. Esse documento, preparado primeiramente por Melanchthon, é o que se conhece como a “Confissão de Augsburgo”. No princípio representava somente os protestantes da Saxônia. Porém, pouco a pouco outros foram firmando-o e logo chegou a servir para apresentar ao Imperador uma frente quase que totalmente unida (havia outras duas confissões minoritárias que não concordavam com esta da maioria dos protestantes). Novamente o Imperador encolerizou-se e deu aos protestantes um prazo até abril do ano seguinte para se retratar. Diante da ameaça imperial, Lutero chegou à conclusão que era lícito pegar as armas em defesa própria contra o Imperador. Os territórios protestantes formaram então a União de Esmalcalda, cujo propósito era fornecer resistência ao edito imperial, se Carlos V decidisse impô-lo pelas armas. No entanto, questões políticas impediram novamente de Carlos V fazer o que prometia. Sendo ameaçado pelos turcos e por Francisco I, teve que recorrer aos súditos alemães, iniciando as negociações entre protestantes e católicos, chegando-se então à paz de Nuremberg, em 1532. Segundo o acordo, era permitido aos protestantes continuar com sua fé, sem estendê-la a outros territórios. O edito imperial de Augsburgo seria suspenso e os protestantes ofereceriam ao Imperador seu apoio contra os turcos. O PROBLEMA DA BIGAMIA DE FILIPE DE HESSE Filipe de Hesse, que havia de ser um forte aliado dos protestantes, tinha porém uma vida muito licenciosa. Assim que casou com a doente Christina da Saxônia, Filipe passou a cometer adultério. Já em 1526, Filipe considerava a permissividade da bigamia. Desta forma ele escreve a Lutero, alegando precedência dos patriarcas. Lutero escreve em 28 de novembro de 1526, que não era suficiente considerar os atos dos patriarcas, mas que ele deveria ter sanção divina para tal ato. Como não havia tal sanção, Lutero desencorajou tal ato, principalmente para cristãos, a menos que houvesse necessidade extrema, como por exemplo se a esposa fosse leprosa ou tivesse qualquer outra anormalidade. Mesmo com o desencorajamento, Filipe continuou sua determinação em obter aprovação para a bigamia. Para isto, contribuiu muito os discursos de Lutero sobre o Gênesis, assim como precedentes históricos onde algo não cristão não fosse punido por Deus no caso dos patriarcas, que são chamados no Novo Testamento de modelo de fé. Assim ele propõe casamento a Margarethe von der Saale, que só concorda com isto caso seja aprovado pelos teólogos e o príncipe eleitor da Saxônia. Filipe então ameaça o príncipe Butzer de se aliar ao Imperador, caso este não consiga convencer os teólogos a lhe ajudar. Lutero e Melanchthon são convencidos então pelos pedidos de necessidades éticas de Butzer. Assim, o “conselho secreto de um confessor” foi obtido de Lutero e Melanchthon em 10 de dezembro de 1539, sem que os dois soubessem que a esposa já tinha sido escolhida. Butzer e Melanchthon foram chamados, sem nenhuma razão apontada, para irem a Rotenburg no Fulda, onde em 4 de março de 1540, Filipe e Margarethe se uniram. Posteriormente este caso foi revelado pela irmã de Filipe, e se tornou um escândalo, onde a reputação de Lutero sairia manchada. ÚLTIMOS ANOS Lutero já vinha sofrendo de várias doenças perto do fim de sua vida. Lutero teria pregado seu último sermão em Eisleben, em 15 de fevereiro de 1546. A viagem final de Lutero foi para Mansfeld, a fim de resolver problemas de parentes seus na mina que era de seu pai. Tudo foi resolvido de forma bem sucedida em 17 de fevereiro de 1546. Depois das 8 da noite do mesmo dia, Lutero começou a sentir fortes dores no peito. Ele morreria então no dia 18 de fevereiro de 1546. Seu funeral foi feito pelos seus amigos Johannes Bugenhagen e Filipe Melanchthon, sendo enterrado na igreja do castelo de Wittenberg, embaixo do púlpito. REFERÊNCIAS GONZALEZ, Justo L., A Era dos Reformadores, Uma história ilustrada do Cristianismo, Editora Mundo Cristão.http://en.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther, acessado em 15 de setembro de 2010.http://de.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther, acessado em 15 de setembro de 2010.http://www.ccel.org/ccel/schaff/encyc09.html?term=Philip%20of%20Hesse, acessado em 15 de setembro de 2010.NOTAS 1 Marty, Martin. Martin Luther. Viking Penguin, 2004, p. 1. 2 Horst Herrmann: Martin Luther. Ketzer und Reformator, Mönch und Ehemann. München 1999, p. 14 3 Kittelson, James. Luther The Reformer. Minneapolis: Augsburg Fortress Publishing House, 1986), 53 4 Kittelson, James. Luther The Reformer. Minneapolis: Augsburg Fortress Publishing House, 1986, 79. Postado por Oséias de Lima Vieira às 18:49 0 comentários Marcadores: Lutero Postagens mais antigas Início Assinar: Postagens (Atom) Arquivo do blog ▼ 2012 (5) ▼ Março (1) ▼ Mar 25 (1) Os ebionistas ► Fevereiro (3) ► Fev 16 (2) A necessidade de um “upgrade” no sistema operacion... 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