segunda-feira, 18 de junho de 2012

BARÕES DO CAFÉ FLUMINENSE

O Café e a Província Fluminense no Brasil dos Braganças Maria I (1777-1816); João VI (1816-1826); Pedro I (1822-1831); Pedro II (1840-1889) ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Tudo começou nas montanhas da Etiópia, Arábia Saudita ou Pérsia, não se sabe ao certo, antes do século 5 d.C., onde o Cahue = força/vigor em árabe que é o nome do café, chamou a atenção de um pastor de cabras pois os animais comiam, vorazmente, os frutos vermelhos de um arbusto. Mais tarde, os grãos de café eram transformados em uma pasta misturada com uma espécie de manteiga. Daí, foi para a Arábia onde os grãos eram torrados, reduzidos a pó num pilão e este pó era misturado com água fervente, como o café turco que, ainda hoje, é feito pelos descendentes de árabes no Brasil e servia como tônico revigorante para os enfermos debilitados. No final do século 15, em Meca, surgiram os primeiros locais públicos de venda de café. Essas casas de café aparecem também em Constantinopla onde o sucesso é tão grande que os pregadores arengavam contra o Carvão, (café torrado) pedindo aos fiéis que abandonassem as casas de café e voltassem para as Mesquitas. Daí, o café chega a Veneza, a bordo das naus dos comerciantes, onde é modificada a maneira de fazer o café pois, aos venezianos, não agradava a maneira turca e eles alteram o preparo para adaptá-lo ao seu gosto: os grãos torrados, e moídos, são colocados num filtro aonde é derramada a água fervente sobre o pó. Essa maneira de preparar o café cai no gosto geral e o café vira moda na Itália e aparecem os salões de café, com instalações sofisticadas para reuniões de amigos. O café vai para a França e criam-se os saraus literários em torno do café. Até Luís XV era um apreciador e gostava de preparar o seu próprio café. Na Alemanha o sucesso é tão grande que Johann Sebastian Bach compõe uma cantata em sua homenagem. Na Inglaterra as coffe houses não se popularizam e se mantém a primazia inconteste do chá. Os holandeses levam mudas de cafeeiros para o Sri Lanka e Java e, de lá, graças ao comércio das companhias holandesas, o café chega às Guianas onde também chega pelas mãos dos franceses que começam a plantá-lo na Guiana Francesa e, para alguns, detém o mérito de tê-lo introduzido nas Américas graças ao comandante Desclieux que vem da França com várias mudas, que não resistem à longa travessia com exceção de uma única muda, que fora regada pelo comandante durante a viagem. Está preparado o cenário para a chegada do café no Brasil, com um toque de aventura galante pois se diz que, em 1727, o sargento-mor português, Francisco de Mello Palheta consegue as mudas proibidas, graças ao apoio romântico de Madame d’Orvilliers que lhe dá sementes de cafeeiros escondidas do marido, o Governador da Guiana Francesa, e que o oficial faz plantar no Pará. Algumas mudas são transportadas para o Maranhão onde se aclimatam esplêndidamente, permitindo a exportação para Portugal onde é protegido por decreto de João V que determina que no reino, só entra café do Maranhão. É o incipiente início da formidável aventura econômica do ouro verde, do século XIX, na província fluminense. A Implantação do Café no Vale do Paraíba Fluminense Entre 1760 e 1762 foi trazido, do norte, para o Rio de Janeiro mudas dos Cafézeiros, pelo desembargador João Alberto de Castelo Branco que ofereceu algumas mudas ao Governador Geral, Gomes Ribeiro de Andrade, Conde de Bobadella. Dessas mudas só 4 vingaram: uma na casa do Castelo Branco, outra no Convento de Santa Teresa, a terceira no Convento dos frades Barbonos, à rua dos Barbonos e a última, na propriedade do holandês João Hoppman. Das mudas plantadas pelas freiras de Santa Tereza, pelos frades Barbonos, e João Hoppman saíram as sementes para as plantações na zona rural da Corte, em 1780, nas fazendas do Capão do Bispo, da Mendanha e da Campo Grande. O padre Antonio Lopes da Fonseca e D. Joaquim Justiniano, bispo do Rio de Janeiro, foram grandes difusores da cultura cafeeira; o 1o com extensa plantação em sua fazenda da Mendanha e o 2o distribuindo sementes para João Lopes, de São Gonçalo, subdistrito de Niterói e para o padre Couto, da localidade do Caminho de Campo Alegre que, mais tarde, passa a chamar-se Rezende, onde o café foi largamente cultivado, a partir de 1783, nas regiões de Morro Redondo, Ponte Alta, e Taquaral. Em 1802, as escrituras já se referem à compra e venda de terras e cafezais como aparece na venda da fazenda Ribeirão Raso, feita por João Leite da Silva para Antonio Pereira Leite. Da fazenda de Antonio Bernardes Bahia, em Rezende, saíram as primeiras sementes para o início da cultura cafeeira em Bananal e Campinas, SP. Saint Hilaire relata que, em Macaé, se cultiva o café por dar menos trabalho que a cana de açúcar e exigir menos escravos. Em 1810, ou 1812, D. João VI mandou vir d’África, sementes de cafeeiros e as distribuía entre os fidalgos que tinham terras no vale do Paraíba e norte de São Paulo. Ele mesmo, com as próprias mãos, dava os pequenos sacos com as sementes e estimulava o plantio, num gesto precursor de uma futura era de extraordinária riqueza para a província fluminense, e todo o Brasil, que esse Rei português, tão injustiçado pela história oficial, aprendera a amar. Do êxito das plantações de Rezende vai o café para as Zonas da Baixada, Vale do Paraíba, e a zona montanhosa do centro da província fluminense e começam a surgir os extensos campos verdejantes dos cafezais que, no apogeu, chegaram a conter 500 milhões de pés de café. O Embaixador Raul Fernandes, meu primo, que foi 2 vezes Ministro da Relações Exteriores (1946-51 e 1954-55), filho insígne de Vassouras, RJ, assim fala do café: “o café, no Vale do Paraíba, era uma das colunas mestras da economia do Império; as outras esteiavam-se nos canaviais de Campos da Bahia e de Pernambuco. A riqueza das 3 províncias não era só o dinheiro com que elas abasteciam o Tesouro Imperial mas, também, as elites formadas na sua opulência para as artes, a ciência, a política e que deram, nas últimas décadas do Brasil monárquico, o maior contigente para o verniz de civilização com que elas brilham na história nacional”. A primeira referência sobre a entrada de café na cidade do Rio de Janeiro consta de um almanaque manuscrito do acervo da Biblioteca Nacional que informa: Em 1792 entraram na cidade, tanto de fora como do Recôncavo, 160 arrobas de café. A primeira remessa para o exterior só acontece em 1800, com a saída de 13 sacas de café. Em 1808, saem 8.000 sacas. Em 1810, exportam-se, 66.000 sacas. Em 1820, já são 97.000 sacas. Em 1830, são 484.000 sacas. Em 1840, são 3.463.000 sacas de café que dão o impulso para Vassouras e Valença viverem o seu apogeu de quase ½ século de fausto, luxo e requinte inigualáveis no Brasil. Os presentes de sementes e mudas, eram entregues por D. João VI aos fidalgos amigos; Bernardo Clemente Pinto, Conde de Nova Friburgo, com 2 mudas de café Java, trazidas em 1820, ou 1824, por colonos suíços. Braz Carneiro Leão, Marquês de Baependy, e seu irmão José Inácio Nogueira da Gama, foram os que mais receberam as mudas entregues pelo Rei. José Inácio, 20 anos após, colhia em suas terras 18.000 arrobas de café. No 2o Reinado, foram plantadas novas espécies de cafeeiros: o bourbon, vindo da ilha do mesmo nome; o botucatú; o café amarelo; o guatemala; o maragogipe (com as mais altas cotações da praça mas os pés tinham uma frutificação irregular e com carga menor) e o libéria (com rosetas muito espaçadas e poucos caroços em cada uma delas e com casca grossa e aquosa o que tornava a secagem do grão muito demorada) e, por último, o montanhas azuis. De todas as espécies, a chamada crioulo, que viera da costa africana, foi sempre a favorita por ser mais resistente, de maior duração, e com a produção mais abundante e, junto com a espécie bourbon, se constituem em 90% das plantações da região, no ocaso do Império. O Cafeeiro é uma planta perene, isto é, uma vez bem tratada não precisa de plantio anual, produzindo continuamente por muitos anos e germina em vários tipos de terra, quando se evita a erosão. Em compensação, é frágil, sensível às geadas, aceita temperaturas limites de 5° a 33°, precisa de chuvas regulares, não produz imediatamente após o plantio, demora de 4 a 5 anos, necessita de muito mais capital inicial que a cana de açúcar e muita mão de obra para o seu trato. Cronologia da implantação do café e a sociedade dos Barões do Café fluminenses. Foi essa a rotina dos fazendeiros da região fluminense: primeiramente, pôr a mata virgem abaixo, depois, plantar, colher, exportar. Depois, produzir muito e dispender pouco, consigo mesmo e com a família, apenas o estritamente necessário, o imprescindível, e assim conseguia-se alcançar a abastança. E, então, vinha o palacete nos fundos de uma extensa fila de palmeiras imperiais, cercado de jardins, com capelão e mordomo como os barões medievais porém, sem nunca esquecer a vida dura do passado que era sempre recordada com emoção, como nos relatos do 2o Barão do Rio das Flores, primo irmão de meu bisavô materno. As fazendas tinham, em média, 120 alqueires, sendo o alqueire equivalente a 48.000 m2. Para os grandes proprietários as fazendas tinham, em média, de 250 a 600 alqueires, e, os latifundiários possuíam 2, ou mais, sesmarias, que tinham, cada uma, a área em torno de 1 légua quadrada, que eqüivale a 4.356 hectares. 1727: chega o café no Brasil, pelas mãos do sargento Francisco de Mello Palheta, com plantações no Pará, daí para o Maranhão, donde é exportado para Portugal protegido por decreto de D. João V que apenas permite o café do Maranhão em Portugal. 1760/62: o café chega ao Rio de Janeiro pelas mãos de João Alberto de Castelo Branco que oferece algumas sementes ao Governador Geral, o Conde de Bobadella. Só 4 mudas florescem: na casa do Castelo Branco, na casa de João Hoppman, no Convento de Santa Teresa e nos Frades Barbadinhos. 1780: o café vai para a região rural, próxima à Corte, começando pelas plantações de Rezende. 1792: é o 1o registro da chegada à cidade do Rio de Janeiro de café, são 160 arrobas. 1802: são exportadas para o exterior 50 arrobas de café. 1808: são exportadas 8.000 sacas de café. 1810: são exportadas 66.000 sacas de café. 1810/12: D. João VI manda trazer sementes de cafeeiro d’África e as distribui pelas próprias mãos aos fidalgos proprietários de terras, Conde de Nova Friburgo, Marquês de Baependy, e outros. 1817: John Luccok registra sua visita às fazendas de café no interior fluminense. 1822: é registrada a 1a geada na lavoura de café. 1825: o estado de São Paulo produz 250 contos de réis de café. Porém, o grande problema paulista era a distância dos portos e o altíssimo custo do transporte da produção que eqüivalia a quase 70% do valor de venda da arroba em 1830 o que quase inviabiliza o retorno financeiro. 1828: é o primeiro ano que a província fluminense registra uma produção de café maior que a de açúcar. São 5.122 contos de réis de café contra 3.466 contos de açúcar. 1835/36: o Estado de São Paulo registra uma produção de 1.000 contos de réis de café. 1850: o Brasil já é o maior exportador mundial, são exportadas 213.000 toneladas de café das quais 133.000 toneladas, ou seja, 62% eram fluminenses. Com destaque para Pati do Alferes, Paraíba do Sul, Barra Mansa, Rezende, Valença e Vassouras, esta, a verdadeira capital do café na era em que o Brasil era o Vale Fluminense. 1852: a produção fluminense foi de 7.193.000 arrobas ou seja, 77,10% da produção brasileira. 1856/1859: a produção fluminense de café neste período foi de 63.804.764 arrobas de café, contra 9.904.705 arrobas de São Paulo e de 6.333.493 arrobas de Minas Gerais, ou seja, os fluminenses produziram, sózinhos, 4 vezes mais que São Paulo e Minas Gerais juntos !!!!! 1860: a produção fluminense foi de 8.746.361 arrobas ou seja, 81,57% da produção brasileira. O apogeu da produção cafeeira fluminense foi de 1830 a 1875 e, nesses 45 anos, eqüivaleu, em média, a 65% da produção brasileira. Essa produção gerou uma extraordinária riqueza para os fazendeiros fluminenses que souberam aproveitá-la muito bem, construindo suas casas, como palácios rurais, e mantendo um trem de vida onde, o luxo, o requinte e o fausto eram os apanágios corriqueiros desses ricos fazendeiros que são a grande maioria dos Barões do Café, agraciados por D. Pedro II no 2o Reinado, (1840-1889). São eles que financiam a guerra contra o Paraguai e são o esteio do Império se constituindo numa aristocracia genuinamente rural, de caráter imperial. Eles são conseqüência direta do estímulo premonitório de D. João VI, distribuindo as sementes que mandara vir d’África e da facilidade com que a planta se desenvolve, inicialmente, nas terras de Rezende e daí, para o Vale Fluminense. Oliveira Viana assim descreve o patriciado fluminense: Não tinha esse, o fluminense, nem o orgulho do paulista, nem o democratismo do mineiro. Era mais fino, mais polido, mais socialmente culto pela proximidade, convívio e hegemonia da Corte, cuja ação o absorve. O polimento urbano lhe corrigiu a rusticidade e pela finura, pelo senso do meio-termo, acabou por desempenhar, no Sul, o papel dos atenienses da política e das letras. A fazenda de café fora indispensável àquele resultado de elegância espiritual e polimento urbano. Dos meados dos oitocentos, sobressaem já os proprietários enriquecidos pela lavoura cafeeira. Eram palacetes cercados por jardins, prados à entrada, com pequenos lagos com renques de palmeiras imperiais soberbas que conduziam os visitantes à porta do solar. A rotina da vida numa fazenda começava cedo, antes das 5 horas acordando as pessoas e predispondo-as para a jornada. As festas são memoráveis. Delas participam convidados da corte e vizinhos, também proprietários. Os banquetes tinham uma vintena de pratos diferentes, com vinhos raros, importados da França, que eram guardados nas adegas das casas, algumas famosas como a do Visconde do Rio Preto, em sua fazenda Paraiso, a jóia de Valença que é emblemática como referência para o período do fausto cafeeiro fluminense: Em uma rua de 400 metros, ladeadas por palmeiras imperiais, que se abrem no final, em gracioso semicírculo, encontra-se o palacete com a placidez de um solar. Dentro resplandece o luxo, no estilo do mobiliário, na pureza dos cristais e dos espelhos, nas finas tapeçarias, na sobriedade dos damascos, nas pratarias lavradas. Galerias de quadros de valor, museu de raridades, tudo continha a Paraiso do Visconde. Há no térreo, 2 salões, de bilhar e de visitas, 4 quartos, escritório, biblioteca, sala de almoço, copa, salão de costura, capela e várias dependências: banheiros, dispensa e cozinha. No sobrado, salão de recepções, alcançado por majestosa escada (cujos lados tem dois negros de bronze, de tamanho natural, sustentando nas mãos ricos candelabros) e que bifurca para a esquerda e direita, há ainda, sala de armas, sala de jantar, vasto dormitório, alcova, 20 quartos para hóspedes e vários banheiros. Na fazenda trabalhavam 500 escravos e havia uma banda de música com 50 figuras. A casa começou a ser construída em 1845 e tinha iluminação a gás. Domingos Custódio Guimarães, nascido em 1800, 1o Barão de Rio Preto a 6/12/1854 e Visconde do Rio Preto a 14/3/1867, é um perfeito exemplo do grand seigneur do patriciado fluminense. Ele ficara riquíssimo no comércio da carne mineira para a cidade do Rio de Janeiro com o seu sócio João Francisco de Mesquita, Marquês de Bonfim em 1872 que foi um dos signatários, quando era Visconde, do atestado para Pedro II recomendando João Gualberto de Carvalho a receber o título de 1o Barão de Cajurú, em 1860. Desfeita a sociedade, resolveu investir em terras para o plantio de café. Para tal, mandou o seu sobrinho, Joaquim Custódio Guimarães, procurar fazendas e foram compradas 13 fazendas: Sta. Quitéria, Montacavalo, Mirante, São Bento, Sta. Genoveva, Jequitibá, Criméia, São Leandro, São Policarpo, União, São José, e 2 mais, compradas de João Pedro Maynard (que fora companheiro de Dom Pedro I e Dom Miguel, nas farras da juventude), a Loanda e a Paraiso, que foi comprada por indicação de Domingos Antonio, (futuro sogro de Joaquim) que é filho de João Ribeiro do Valle, o qual é irmão do meu 6o avô, Felisberto Ribeiro do Valle, ambos netos de André do Valle Ribeiro. As fazendas do Visconde produziam 60.000 arrobas de café. Com a morte do Visconde a 7/7/1868, que deixa uma fortuna de 4.000 contos de réis, as fazendas vão para seu filho, o 2o Barão de Rio Preto a 23/09/1874 que é casado com uma filha do marquês de Bonfim, que mantém a Paraiso até sua morte em 1876. Seu filho, Domingos, a mantém até 1895, quando a vende para o sogro, o Barão d’Aliança, (sobrinho do 1o Barão do Rio das Flores que é cunhado de João Antonio de Avellar e Almeida e Silva, meu bisavô), que a mantém até 1912, vendendo-a para o Major Galileu Belfort de Arantes, sobrinho do Visconde de Arantes e neto dos 1os Barões de Cabo Verde, Antonio Belfort de Arantes e sua mulher, Maria Custódia Ribeiro do Valle que é irmã de Ana Inácia Ribeiro do Valle, mulher de João Gualberto de Carvalho, 1os Barões de Cajurú a 30/06/1860, meus tetravós. Hoje a Paraiso não é mais de café, mas de gado leiteiro, e ainda mantém muito do seu esplendor inicial, que tanta admiração causou em Taunay e no Conde d’Eu, e se mantém nas mãos de um Arantes, trineto do 1o Barão de Cabo Verde. A partir de 1870 as coisas começam, lentamente, a mudar na província fluminense. A lavoura ainda tem produção expressiva tanto é que, de 1870 a 1881, os fluminenses produzem 1.398.990.752 de quilos de café o que é 1,7 vez mais que os 840.115.553 quilos produzidos por São Paulo, Minas, Espirito Santo e Bahia juntos, no mesmo período !. Em 1872, Rezende produziu 500.000 arrobas de café, (cada arrôba = 14,7 kg.) 1879-1884: a província fluminense exporta o equivalente a 55,91% da produção brasileira. 1880: São Paulo tem a produção de café consolidada e dando lucro. O trabalho é apoiado no braço do imigrante que veio num total de 33.310 pessoas, entre 1822 a 1887 das quais, 28.840 italianos. 1886: é o 1o ano que a produção de café em São Paulo supera a produção de açúcar; o que acontecera 58 anos antes no Rio, em 1828. A produção paulista chega à média de 60.043.000 arrobas/ano no período de 1928/32 entretanto, o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929 devasta a elite cafeeira paulista que queima as safras sem compradores para evitar o custo da estocagem. FAZENDA BAGUARY, 1890-1938 Situada no Distrito de Américo Brasiliense, sesmaria do Rancho Fundo, em Araraquara, SP, com 450 alqueires paulistas, formada para a cultura do café pela família Arantes de Almeida.Comprada em 1890 quando o casal, Joaquim (1886-1937) e Bernardina (1869-1936) Arantes de Almeida, chegou do Rio de Janeiro, após a queda da Monarquia e a derrocada do café fluminense com a exaustão das terras. No auge da produção teve 600.000 pés de café e ajudo u criar os 12 filhos do casal entre eles 3 filhos, que após a morte, são nome de rua em Araraquara: Mário Arantes de Almeida, Luiz Arantes de Almeida e Bernardino Arantes de Almeida. A Baguary foi vendida em 1938.As fotos, abaixo mostram a queima do café da Baguary, em 1937, assistida por membros da família Arantes de Almeida num nefasto ritual que se repetia desde o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929, que solapou as bases financeiras da maior parte da aristocracia cafeeira paulista mudando toda a hierarquia social do estado e marcando o fim da época agrária dos barões do café. Na frente vemos sentadas: à direita a mãe (1907-1987) de Anibal e Almeida Fernandes; sua tia Alzira (1900-1984) de luto pela morte do avô Joaquim e uma amiga. Do lado esquerdo em pé, de terno branco e gravata borboleta, seu tio Orlando (1914-1959).Do lado direito em pé, de calça branca, paletó e chapéu escuro, seu tio Joaquim (1905-1977) que está atrás da irmã Rachel (*1930) e a irmã Ana Maria (1928-1999) sentadas ao lado de Raphael Luiz, que era colega do seu tio Orlando, no Largo São Francisco e que foi padrinho do filho dele, Caio Luiz. Raphael Luiz é filho de Washington Luis Pereira de Souza, (13º Presidente do Brasil). 1894: a produção fluminense despenca para 20% da produção brasileira. Diz Viçoso Jardim: A situação Fluminense teve a alimentar-lhe o berço, o café; cresceu com ele e é ainda no café que se nutre o seu progresso. O desgosto dos proprietários, novos e antigos, diante dessa decadência teve outra conseqüência, mais fundamente prejudicial à lavoura: os fazendeiros do Império moravam em suas fazendas, nelas procuravam ter todo conforto e vangloriavam-se da sua profissão; posteriormente não. Os que podiam iam morar nas cidades, colocando administradores em seu lugar, um filho, um genro, um estranho, freqüentemente incompetente e indiferente. Desapareceram os antigos predicados que caracterizavam os velhos fazendeiros: a rija resistência, a tenacidade, as ambições de um título nobiliárquico; o amor àquele pedaço de terra. Tinham orgulho de sua profissão, recebida como um legado que deviam honrar, como seus pais e seus avós fizeram percorrendo com prazer e alegria as suas terras. A decadência expulsa do lugar os proprietários, eles “queimam“ suas fazendas de terras exaustas por qualquer preço e as famílias se dispersam e, com o passar do tempo, esmaece e acaba a memória do passado, o conhecimento desta época de fausto e requinte, que teve uma qualidade inigualada em qualquer outra província brasileira nos 67 anos do Império. O paulista Martinho Prado, expressa muito bem o risco da lavoura do café ao dizer: Lavoura essa que, se dava a casaca, tirava, também, a camisa. E há o dito popular: Si estiveres morto, pega o teu porco. Si estiveres quebrado, pega o teu gado. Mas com o café, não tenho fé. Há uma correspondência, inequívoca, entre a força da província fluminense com o seu poderio econômico, alicerçado no café, e a força do Império dos Braganças pois, enquanto a província foi poderosa o Império brilhou e quando a província enfraquece o Império acaba. Hoje a região fluminense de Vassouras e Valença é uma sombra do que foi, não mais se avistam os extensos cafezais, os palacetes das cidades estão em ruínas e as soberbas sedes de fazenda estão, todas, nas mãos de novos proprietários que, em alguns casos, fizeram intervenções, restaurando parte do esplendor do passado, porém em outros casos, nada foi feito e as sedes estão em plena decadência, arfando nos estertores finais de uma centenária trajetória que conheceu um tempo de prestígio e glória para a cultura brasileira que hoje, através do governo estadual, deveria valorizar essa região cujo potencial de atração é imenso e transformá-la em uma área de preservação histórica, e vigoroso polo turístico, para o turista estrangeiro, principalmente o europeu, que já admira essas casas solarengas desde o século XIX, nesta região que pode ser chamada, sem exagero, de Vale do Loire Brasileiro. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fontes: O Vale do Paraíba, Eloy de Andrade, Real Gráfica, Rio de Janeiro, 1989. Essa fonte foi a coluna mestra desse trabalho, tanto pelas suas informações técnicas, quanto pela sensibilidade com que retrata o passar do tempo na província fluminense e sua decadência inexorável. História do Café no Brasil, Afonso de E. Taunay. O Homem e a Serra, Alberto Ribeiro Lamego, IBGE, 1950. A Cidade e o Planalto, Gilberto Leite de Barros, São Paulo,1967. História de Valença, 1803-1924, Luís Damasceno Ferreira, 1925. As Barbas do Imperador, Lillian Schwarcz, São Paulo, 1996. Ensaio Geral, 500 Anos de Brasil, Heródoto Barbeiro, Bruna Cantele, São Paulo, 1999. Titulares do Império, Carlos Rheingantz, Rio de Janeiro, 1960. Anuário Genealógico Brasileiro, Vol. IX, (Penúltimo), 1947. 500 Anos de Sabor, Eda Romio, São Paulo, 2000. O Jornal, Júlio do Valle Bittencourt, Rio de Janeiro, 15/10/1927. Anibal de Almeida Fernandes, Novembro, 2003. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- História de Vassouras O sertão fluminense, ao longo do século XVIII, foi cortado por caminhos abertos pelos tropeiros em direção às zonas de produção de ouro, entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro, o que acabou por derrubar a proibição de abertura de estradas na Capitania do Rio de Janeiro imposta pelo Conselho Ultramarino cujo objetivo era impedir o contrabando do minério. O “Caminho Velho” ou “Caminho dos Guaianás” partia de Parati e atravessava a Serra do Mar chegando às Minas Gerais via Taubaté e Guaratinguetá. O “Caminho Novo”, aberto no início do século XVIII por Garcia Rodrigues Paes, atravessava a Serra do Mar chegando às Minas Gerais via Pati do Alferes, Paraíba do Sul e Paraibuna. Este novo caminho ganhou inúmeros caminhos variantes como o “Caminho de Bernardo Proença”, o “Caminho de Terra Firme”, o “Caminho do Comércio”, entre outros. Inicialmente, dois tipos de ocupação aconteceram ao longo destes caminhos decorrentes do movimento de tropas por esta região, alguns, solicitaram e receberam sesmarias ou concessões de terra da Coroa Portuguesa e outros, posseiros, atraídos pelo mercado, construíram ranchos para tropeiros e seus animais de carga, fizeram roças de milho, feijão, cana e pasto, para atender ao movimento de tropas na região. Data de 1782 a doação da “Sesmaria de Vassouras e Rio Bonito” ao açoriano Francisco Rodrigues Alves, primeiro proprietário das terras que hoje conhecemos como a cidade de Vassouras quem, a partir de 1792, já tinha cafezais em sua propriedade para abastecer à família. Sua filha, Ana Barbosa de Sá, falecida a 12/8/1868, casou-se, com José de Avelar e Almeida, falecido a 26/3/1872, Barão do Ribeirão a 22/6/1867, que é filho de Manoel de Avellar e Almeida, patriarca da família Avellar e Almeida de Vassouras, meu tetravô. Francisco Rodrigues Alves teve, entre filhos, netos e bisnetos, 11 descendentes titulares no 2o Reinado do Império: Baronesa do Ribeirão, 1o, 2o, e 3o Barão de Santa Justa, Baronesa de Meneses, Viscondessa de Ibituruna, Barão de Santa Fé, Barão de Massambará, Barão e Visconde de Cananéia, Barão de Avelar e Almeida, Baronesa de Werneck, todos eles ligados ao café. Em 1828, a produção cafeeira no Rio é de 5.122 contos e supera pela 1a vez a produção de açúcar que é 3.446 contos. Em 1825 São Paulo produzira 250 contos de café e só em 1886 é que o café paulista superará a produção de açúcar neste Estado, 58 anos após o Rio. A 15 de janeiro de 1833, Pati do Alferes perde o título de Vila para o povoado de Vassouras por decreto da Regência Trina. Em função do grande progresso decorrente das plantações de café na região, Vassouras se desenvolve em poucas décadas sendo então elevada à categoria de cidade no dia 29 de Setembro de 1857, data esta, na qual se comemora o seu aniversário, nesta época tinha aproximadamente 3.500 moradores. Entre 1856 e 1859 o Rio produziu 63.804.764 arrobas de café e, neste mesmo período São Paulo e Minas produziram juntos apenas um quarto deste total de arrobas. A alta cotação do café no mercado internacional teve como resultado o rápido enriquecimento dos produtores desta região que foram, a partir de 1825 até 1870, os maiores exportadores brasileiros de café responsáveis por 65% do total da exportação, com 500 milhões de pés de café em produção no apogeu. Entre 1879 a 1884 ainda contribuíram com 55,91% do total da exportação cafeeira. Em 1894 a produção despenca para apenas 20% do total exportado pelo Brasil. Estes fazendeiros, donos de grandes fortunas, refinaram-se, sofisticando seus modos de vida, polindo suas maneiras e construindo verdadeiros palácios rurais em suas fazendas que, até hoje, impressionam pela sua imponência. Como conseqüência, por volta de meados do século XIX, a cidade de Vassouras viveu seu apogeu recebendo o título de “Princezinha do Café” e pela quantidade de títulos concedidos aos seus fazendeiros é também conhecida como a “Cidade dos Barões”. Cabe lembrar que o nome Vassouras está associado a um arbusto muito utilizado para confecção de vassouras, abundante na região, pertencente à família das escrofularíneas e também conhecido como “tupeiçaba” ou “guaxima”. Hoje, Vassouras nos fascina pela sua beleza que muitas décadas não conseguiram apagar. O seu conjunto histórico urbanístico e paisagístico está protegido pelo processo de tombamento 566-T-57 de 26.06.1958 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN-MinC, guardando e testemunhando, desta forma, parte importante da história do Brasil. A 24 de dezembro de 1984, Vassouras foi declarada, por força de lei, em Estância Turística. Entretanto, o café abandonou totalmente a paisagem rural e não mais se tem: lavoura essa que, se dava a casaca tirava, tambem, a camisa. Fontes: www.bbsvp.com.br/pmvrj O Vale do Paraíba, Eloy de Andrade, Real Gráfica, Rio de Janeiro, 1989. Com colaboração de Anibal de Almeida Fernandes, Setembro, 2003. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- anterior//Índice//próxima COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO

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