quinta-feira, 18 de outubro de 2012

JOSÉ SARAMAGO

Fundação José Saramago

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Sexta-feira, 14 de Setembro de 2012

Chega sempre um momento em que é preciso dizer não

A palavra de que eu gosto mais é não. Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. É o momento em que é necessário dizer não. A fatalidade do não - ou a nossa própria fatalidade - é que não há nenhum não que não se converta em sim. Ele é absorvido e temos que viver mais um tempo com o sim. José Saramago , in "Folha de S. Paulo" (1991)







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Quarta-feira, 22 de Agosto de 2012

Cão com lágrimas

22 de agosto de 1994

Pela primeira vez em tanto subir e descer de avião, pudemos ver, do alto, a casa. Com a família toda ausente, em férias, e Luis a trabalhar à hora a que chegámos, só tínhamos o Pepe a receber-nos. O pobre animal nem podia acreditar que estávamos ali. Saltava de um para outro, enroscava-se nos nossos braços, gemia de um modo quase humano, e diabos me levem se não eram lágrimas, das autênticas, o que víamos correr-lhe dos olhos. A este cão, com perdão da vulgaridade, só lhe falta falar. Mais tarde, conversando com Pilar, manifestei uma pena: ter vivido sem cães até agora. Na Azinhaga não faltavam, já se sabe, houve-os em casa dos meus avós, mas não eram meus, olhavam-me desconfiados quando eu lá aparecia depois de uma ausência e só passados uns dias é que começavam a tolerar-me. Além disso, estavam ali para guardar a casa e o quintal, valiam pela utilidade que tinham e só enquanto a tivessem. Não me lembro de que algum deles chegasse a velho. Pensei nos golfinhos de Edmonton, tão bem ensinados, e, embora não goste de ver exibições de animais amestrados, achei que alguma razão profunda terá de haver para que certos animais consigam suportar a presença humana... Perdi essa confiança à noite, vendo na televisão como um elefante, num circo, matava a patadas e golpes da tromba o domador, enquanto a música tocava e o público cria que tudo aquilo fazia parte do espetáculo. À noite, quando me deitei, extenuado por uma viagem de quase vinte e quatro horas entre voos e esperas de aeroporto, custou-me a adormecer: via os golfinhos sorridentes, o elefante enfurecido calcando o corpo já destroçado do domador. Foi então que me lembrei de uma velha crónica, de 1968, Os Animais Doidos de Cólera, em que imaginei a insurreição de todos os animais e a morte do último homem devorado por formigas, pela primeira vez lutando, não contra a humanidade, mas, agora já inutilmente, para defender o que restava dela... E também me lembrei do poema 12 de O Ano de 1993, aquele que acaba assim: «Privadas dos animais domésticos as pessoas dedicaram-se ativamente ao cultivo de flores / Destas não há que esperar mal se não for dada excessiva importância ao recente caso de uma rosa carnívora»... Alguma coisa está definitivamente errada no ser humano. Morrerei sem saber o quê.

(Cadernos de Lanzarote, 2)





Categorias: cadernos de lanzarote





publicado por Fundação Saramago às 17:39

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Quinta-feira, 16 de Agosto de 2012

Salvar Badajoz

9 de fevereiro de 1995



Para a história da aviação. Em Badajoz foi hoje dado nome a uma rua. O motivo, a causa, o pretexto, a razão, ou como se quiser chamar-lhes, já têm mais de cinquenta

anos, e muito fortes terão sido para sobreviverem aos olvidos acumulados de duas gerações, justificados estes, em geral, pelo facto de as pessoas terem mais em que pensar. Não direi eu que os habitantes de Badajoz levaram este meio século e picos a transmitir uns aos outros o certificado de uma dívida que um dia teria de ser paga,

o que digo é que algum badajoceño escrupuloso deve ter tido um rebate de consciência mais ou menos nestes termos: «Muitos dos que hoje vivem estariam mortos, outros não teriam chegado a nascer.» Parecerá um enigma da Esfinge, e afinal é só uma história da aviação.

Há cinquenta e tantos anos, durante a guerra civil, um aviador republicano teve ordem de ir bombardear Badajoz. Foi lá, sobrevoou a cidade, olhou para baixo. E que viu quando olhou para baixo? Viu gente, viu pessoas. Que fez então o guerreiro? Desviou o avião e foi largar as bombas no campo. Quando regressou à base e deu conta do resultado da missão, comunicou que lhe parecia que tinha matado uma vaca. «Então, Badajoz?», perguntou o capitão. «Nada, havia lá gente», respondeu o piloto. «Pois», fez o superior, e, por impossível que pareça, o aviador não foi levado a conselho de guerra... Agora há em Badajoz uma rua com o nome de um homem que um dia teve pessoas na mira da sua bomba e pensou que essa era justamente uma boa razão para não a largar.

Chove depois de quatro meses sem cair uma gota. O vento tinha começado a rodar para noroeste ontem ao princípio da noite. Esta manhã, nuvens baixas, cinzentas, avançavam das bandas de Femés. Para leste, o céu ainda estava meio descoberto, mas o azul já tinha um tom aguado, sinal de chuva para breve. A meio do dia o vento cresceu, as nuvens desceram mais, começaram a descair pelas encostas dos montes, quase roçando o chão, e em pouco tempo taparam todo o horizonte daquele lado. Fuerteventura sumiu-se no mar. A primeira chuva limitou-se a umas esparsas e finas gotas, menos do que um chuvisco, uma poeira de água, mas quinze minutos depois já caía em fios contínuos, depois em cordas grossas que o vento vinha empurrando na nossa direção. Víamos avan- çar a chuva em cortinas sucessivas, passava diante de nós como se não tivesse intenção de deter-se, mas o chão res- sequido respirava sofregamente a água. O mais puro de todos os odores, o da terra molhada, embriagou-nos durante um instante. «Que bonito é o mundo», disse eu. Pilar, em silêncio, apoiou a cabeça no meu ombro. Agora são oito horas da noite, continua a chover. A água já deve ter chegado às raízes mais fundas.



Cadernos de Lanzarote III





Categorias: badajoz, cadernos de lanzarote





publicado por Fundação Saramago às 12:43

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Quinta-feira, 2 de Agosto de 2012

“Entra, encontraste a tua casa”

De Saramago para Pepe, Greta e Camões. Os cães de Saramago são três. E os três, por essa ordem, tocaram um dia à sua porta. Cães que vieram corrigir um medo de infância na memória do escritor. Cães que, na realidade, são um único: o imaginário.







O cão é o melhor amigo do homem, Ensinaram-me isso nos tempos da velha instrução primária, com aulas de manhã e folga às quintas. O professor era um homem alto e calvo, grave na sua posição de diretor, mas amigo dos alunos e nada exagerado na disciplina. Punha muito empenho em questões de formação moral, e o cão era um dos seus grandes temas. Uma vez por mês, no mínimo, havia uma lição sentimental sobre as proezas do povo canino: “pilotos” abandonados que regressavam a casa do dono depois de percorrer centenas de quilómetros, abnegados “guadianas” que se lançavam à água para salvar crianças (“pagai o mal com o bem”) das quais, porventura, tinham recebido alguns maus-tratos. Enfim, ideias educativas de há cem anos.



Não me serviram de muito as lições do meu professor. Os cães que fui conhecendo ao longo da minha existência sempre fizeram gala de uma obstinada animadversão em relação a mim. Ou porque cheiravam o medo, ou porque os irritava a falta de jeito com que tentava dissimulá-lo, sempre houve entre os cães e eu, se não a guerra aberta de que só eu saía a perder, pelo menos uma relação de mútua e desconfiada reserva. Recordo com despeito, por exemplo, aquele chucho castanho que vinha a correr pela ruela estreita e sem proteção, arrastando atrás de si uma trela partida, e que, sem aviso, ou talvez por um qualquer gesto brusco que eu fiz, (“o cão só ataca se for provocado”), se é que não mostrei simplesmente temor (“nunca se deve fugir de um cão, é um animal nobre e não ataca pelas costas”), ferrou-me os dentes quando passou por mim e, depois de me arranhar as canelas, deixando-me a escorrer sangue, seguiu o seu caminho, abanando o rabo de pura alegria. Alguns anos mais tarde, andava eu a vaguear, como era meu hábito, pelos arredores da aldeia, entre árvores e canaviais, quando de repente me dou de caras com um cão. Conhecia-o de vista e da má fama que tinha, um gigante de raça indefinida e caráter avesso que não tolerava intrusos no seu território e se divertia quebrando a espinha em menos tempo do que leva a dizê-lo, qualquer bicho que lhe aparecesse pela frente. ((Tal como o chucho castanho, também ele não tinha estado nas aulas do meu professor). Ora bem, quis o acaso, ou a providência, que eu tivesse comigo uma cana grossa e comprida para me apoiar nas subidas e descidas da caminhada. Quando aquele fantasma me apareceu à frente, só tive tempo de levantar a cana num movimento instintivo, com a ponta a um palmo do focinho do malvado, e ali ficámos os dois durante não sei quanto minutos, o dragão aos saltos, fintando e grunhindo, simulando indiferença para depois voltar à carga, eu a suar de pavor, com a voz embargada na garganta, longe de qualquer socorro, abandonado ao negro destino.



Escapei. Por fim, o bruto cansou-se. Depois de me observar longamente e com minúcia, como se me tomasse as medidas, pareceu-lhe que eu não era digno da sua cólera. Dei meia volta e desapareceu num trompicar curto e desdenhoso, sem olhar para trás. Fui-me afastando devagar, às arrecuas, ainda a tremer, até que cheguei a casa e contei o sucedido a uma tia minha que não acreditou na história. Era tal a reputação do monstro que eu dizer que o tinha vencido com uma simples cana deve ter-lhe parecido a mais descarada das mentiras...



A partir de então, e crendo que assim seria para sempre, perdi a confiança na apregoada bondade dos cães, a tal de que o meu velho professor tinha sido um tão convicto propagandista.



Provavelmente nunca pensou que entre os cães e os homens não há grandes diferenças: uns são bons, outros maus, outros nem uma coisa nem outra. Perguntei-me algumas vezes que lição poderia ele dar-nos a respeito de certos canídeos que andam por aí, bem tratados, com pelo brilhante, pata forte e dente afiado, dotados de um profundo conhecimento da anatomia humana e dos modos mais eficazes de danificá-la. Ele que tanto gostava de nos explicar os complementos-circunstanciais-de-lugar, sem saber em que lides nos ia meter...



Passados muitos muitos anos, noutra terra, debaixo de outro céu, um cão apareceu à minha porta. Tinha fome e sede. Demos-lhe água e comida, e deixámo-lo. Voltou poucas horas depois e olhou para nós. Então dissemos-lhe: “Entra, encontraste a tua casa”. Não foi o único. Outros dois, cada um por seu lado, vieram perguntar se a casa também estava aberta para eles. Dissemos-lhes que sim. Chamam-se, por ordem, Pepe, Greta e Camões. São os nossos cães, e está tudo dito.



Não, não está tudo dito. Este homem que não se envergonha de confessar que tinha medo dos cães dedicou parte do seu trabalho de escritor a criar, a inventar, a modelar figuras de cão, como se, já que temia os outros, estivesse na sua mão corrigir os erros da natureza. Assim pôs no mundo da literatura o cão Constante de Levantado do chão, o cão do fio de lã azul da Jangada de pedra, o cão das lágrimas do Ensaio sobre a Cegueira. Esse sobre o qual eu disse que, se o que escrevi caísse no esquecimento, ao menos que de mim restasse a memória de ter dado vida a um cão em que palpitava o coração do melhor dos humanos...







Categorias: cão camões





publicado por Fundação Saramago às 14:00

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Segunda-feira, 28 de Maio de 2012

Memórias de 1934

Encontro na Caminho algumas cartas de leitores que ainda não conhecem o meu endereço... Uma delas traz no remetente um apelido que me é familiar desde há mais de sessenta anos, desde 1934 precisamente, quando, tendo deixado o Liceu de Gil Vicente, comecei a frequentar a Escola Industrial de Afonso Domingues, donde sairia com o curso de serralheiro mecânico. Durante o tempo que ali andei, foi meu professor de Mecânica e de Matemática o engenheiro Jorge O’Neill, que, catorze anos mais tarde, viria a dar-me emprego na Companhia Previdente (de que era administrador-delegado), quando, na sequência da campanha presidencial de Norton de Matos, me demiti, antes que fosse demitido, da Caixa de Previdência onde trabalhava. Um certo Dr. Góis Mota, ajudante da Procuradoria-Geral da República, comandante da Brigada Naval da Legião Portuguesa e «fiscal» do comportamento político dos empregados da Caixa, de que era assessor jurídico, instaurou-nos, a mim e a outro colega, uma caricatura de processo disciplinar, durante o qual me disse (sic) que se os meus camaradas tivessem ganho ele estaria pendurado num candeeiro da Avenida... A minha culpa visível tinha sido, simplesmente, a de não acatar a ordem de que todo o pessoal deveria concentrar-se, no dia da eleição, à porta da secção de voto do Liceu de Camões, porque ele, Góis Mota, segundo dizia, requerera e tinha em seu poder as certidões de eleitor de todos nós, de modo a que pudéssemos ir votar a uma secção que não fosse a nossa. O legionário Góis Mota, ajudante do Procurador da República, estava a mentir: votei na Graça, como devia, e ninguém me disse que, por ter sido passada certidão de eleitor, não podia votar ali. (Na eleição seguinte o meu nome deixaria de constar dos cadernos eleitorais...)



A carta que tinha agora nas mãos estava assinada por Madalena O’Neill e recordava-me, como se recorda um sonho, os dias em que, a pedido do pai, eu frequentara a sua casa da Junqueira para organizar, classificar e arrumar a velha biblioteca da família. Eis a história:



«Há uns anos, não tão poucos como isso, que uma menina, ainda criança, esperava ansiosamente por um senhor que, aos olhos dela, era muito alto e muito magro, com uns óculos de aro castanho e uma camisa branca. Talvez uns suspensórios a segurar as calças!!! Tenho essa impressão, mas já não sei.



«Essa menina tinha uma paixão secreta por esse senhor, digo paixão porque não encontro outra palavra mais adequada, nada tem que ver com a de um adulto. Recusava ir para o quarto antes de ele chegar, mas, quando ele chegava, sua timidez tornava-a muda, e limitava-se a ficar ali em silêncio a vê-lo trabalhar.



«Um dia seu pai recebeu de presente um pisa-papéis que ela achava uma beleza. Era todo de vidro e tinha um efeito colorido lá dentro, não sei se não tinha também qualquer anúncio de qualquer produto, o que com certeza estragava a peça, mas para todos os efeitos ela gostava imenso daquela bola de vidro e não tirava os olhos dela. O pai, quando reparou na validade que aquele objeto tinha para sua filha, deu-lho, e foi esse um dos dias mais felizes da vida dela. Nunca mais se separou da tal bola, que para ela era mágica.



«Um dia chegou em que ela quis que o tal senhor soubesse o que ela sentia por ele e, despedindo-se da sua querida bola, que também tinha tido um lugar no seu coração, entregou-lha sem pestanejar. O tal senhor, que olhava para tudo admirado, ainda perguntou: “Tem a certeza de que mo quer dar?” Ao que ela, embaraçada, mas com firmeza, disse que sim. Não foi capaz de dizer mais nada e ficou felicíssima por ter tido a coragem de fazer tal gesto.



«Passaram-se algumas dezenas de anos e a tal criança de outrora, que agora já é bem crescida, continua a lembrar-se de tudo, porque tudo de importante que se passa num coração que ainda não está muito estragado com esta vida cheia de obstáculos, fica lá registado para sempre. Não sei se poderei dizer o mesmo do tal senhor, que, apesar de ter recebido um presente saído dum coração tão aberto, talvez não lhe tenha dado qualquer valor, não digo ao objeto, mas ao ato daquela criança. Eu gostaria de saber que sim, mas tenho quase a certeza de que a resposta é não, porque as pessoas, quando chegam a adultos, fecham os corações e abrem as cabeças, onde só passa a existir o racional.»



A partir daqui, a carta trata de um assunto de natureza profissional, que não tem que entrar nestes Cadernos. Responderei a Madalena O’Neill um destes dias, depois de ter posto em ordem a minha própria memória. Uma coisa eu sei: que não usava suspensórios...



Vou andando em direção à Escola Secundária dos Anjos, onde terei um encontro com alunos para lhes falar do Ano da Morte de Ricardo Reis, vou a pensar, agradecido, na menina que gostava de mim e me ofereceu, como prova do seu amor, há quarenta anos, o pesa-papéis de vidro que lhe tinha sido dado pelo pai, e eis que uma outra menina vem direita a mim com uma flor na mão, dessas sem nome que a primavera faz nascer entre as pedras, e pergunta-me: «Quer?»







in "Cadernos de Lanzarote - volume IV, 28 de maio de 1996









publicado por Fundação Saramago às 13:13

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