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Autores e Antologia...Agustina Bessa-Luís Alexandre Herculano Almada Negreiros Almeida Faria Almeida Garrett Antero de Quental António Lobo Antunes António Nobre António Ramos Rosa Aquilino Ribeiro Augusto Abelaira Bernardim Ribeiro e a Menina e Moça Camilo Castelo Branco Camilo Pessanha Camões Carlos de Oliveira Cesário Verde David Mourão-Ferreira Eça de Queirós Eugénio de Andrade Fernando Pessoa Fernão Lopes Gil Vicente Herberto Helder Irene Lisboa Jorge de Sena José Cardoso Pires José Gomes Ferreira José Rodrigues Miguéis José Saramago Maria Gabriela Llansol Maria Judite de Carvalho Maria Velho da Costa Mário Cláudio Mário de Carvalho e Luísa Costa Gomes Mário de Sá-Carneiro Miguel Torga Nuno Bragança Outros Romancistas e Poetas Contemporâneos Raul Brandão Sophia de Mello Breyner Andresen Urbano Tavares Rodrigues Vergílio Ferreira Vitorino Nemésio Autores e antologia
Vitorino Nemésio (1901-1978)
Foi professor da Faculdade de Letras de Lisboa e ensaísta reputado, mas o seu prestígio na nossa história literária advém-lhe sobretudo do romance açoriano Mau Tempo no Canal, 1944, história de amor e de sinuosidades familiares e sociais, e dos vários livros de poesia que o consagram como um dos grandes líricos do nosso século (O Verbo e a Morte, 1959, Sapateia Açoriana, Andamento Holandês e Outros Poemas, 1976), que equaciona o sentido da existência humana perante os diversos conflitos que a centram: o sagrado e o profano, o saber e a ingenuidade, a cultura e a natureza, o amor excessivo e os desapegos da banalidade quotidiana.
Ilha de S. Miguel, Açores
«O Futuro Perfeito»
A neta explora-me os dentes.
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiência,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada à inocência.
E tira, tira puxando
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo de sua vida.
O Verbo e a Morte
© Instituto Camões, 2001
Vergílio Ferreira (1916-1996)
Notabilizou-se como romancista e ensaísta (Espaço do Invisível, 1965, Invocação ao Meu Corpo, 1969), tendo os seus romances de início sofrido a influência neorrealista (O Caminho Fica Longe, 1943), para prosseguirem no sentido do existencialismo de Sartre e Heiddeger (Mudança, 1949, Aparição, 1959).
Simultaneamente lírico e de libelos violentos em relação à sua contemporaneidade, exerce uma reflexão sobre o tempo, romanesco e existencial, que orienta para a valorização da vida (Alegria Breve, 1965), para o protesto em relação a todas as acomodações políticas e sociais (Signo Sinal, 1979) ou para a perceção da articulação entre os opostos do ser humano no seu decurso (morte/vida, beleza/fealdade, sagrado/profano, criação/destruição), em torno das noções da sua existência e do seu limiar (Até ao Fim, 1987, Em Nome da Terra, 1990).
Desenho de Mário Eloy [1900-1951]
Estou só - estás só. Não penses. Não fales. És em ti apenas o máximo de ti. Qualquer coisa mais alta do que tu te assumiu e rejeitou como a árvore que se poda para crescer. Que te dá pensares-te o ramo que se suprimiu? A árvore existe e continua para fora da tua acidentalidade suprimida. O que te distingue e oprime é o pensamento que a pedra não tem para se executar como pedra. E as estrelas, e os animais. Funda aí a tua grandeza se quiseres, mas que reconheças e aceites a grandeza que te excede.
Para Sempre
© Instituto Camões, 2001
Urbano Tavares Rodrigues (1923) escreve regularmente desde os anos cinquenta, durante os quais se revelou como contista talentoso (Uma Pedrada no Charco, 1958) e como romancista recetivo ao estado da sociedade contemporânea e à evolução da escrita literária (ex. Bastardos do Sol, 1959, e A Hora da Incerteza, 1995). O amor, a intervenção social e política, a cidade de Lisboa e a região do Alentejo são os seus temas dominantes, cuja natureza e circunstância persegue com insistência e insatisfação:
Almoço (a Adriana está a reaprender as comidas alentejanas) uma fabulosa sopa de beldroegas com queijo e ovo escalfado. É a minha infância que regressa, quase intacta, nesse sabor. Os cílios da minha irmã a baterem muito, interrogativos e indignados, quando lhe roubo do prato, à sorrelfa, o bocado de queijo de ovelha, delicioso, que de direito, direitíssimo, lhe cabia. Já está com lágrimas nos doces olhos castanhos e eu, repeso, de colher no ar, a querer-lhe restituir o objecto da sua mágoa.
A Hora da Incerteza
© Instituto Camões, 2001
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