Estudo Patográfico de Fernando Pessoa
Patografic Study of the Fernando Pessoa
Suzana Azoubel de Albuquerque1 e Othon Bastos2
RESUMO
Fernando Pessoa, incontestavelmente um dos maiores gênios da literatura universal, é objeto deste
estudo patográfico. Através da análise de sua biografia e obra, os autores buscam delinear seus perfis
psicológico e psicopatológico e caracterizar uma associação entre sua evidente bipolaridade e seu padrão
criativo. Os dados do estudo revelam claramente um componente bipolar e sugerem haver influência de seu
humor de base sobre a atividade literária, quanto ao conteúdo, número de poemas e estilo literário. Verificase
a presença de múltiplas comorbidades: Dependência de Álcool, Transtornos de Ansiedade Generalizada,
de Ansiedade Social, além de Fobias Específicas. Do ponto de vista caracterológico, constata-se um
Transtorno de Personalidade Esquizóide, com evidentes transtornos da psicossexualidade.
Palavras-chave: bipolaridade; espectro bipolar; criatividade.
ABSTRACT
Fernando Pessoa is decidedly one of the greatest genius of the Universal Literature. Here the authors
goes through a patografic analysis of the poet, what means to say that through his biography and work, the
authors seeks to build up a construct which show the relationship between his creative pattern and manic or
depressive episodes. Our data revealed, aside from a bipolar component, also the following comorbidities:
Generalized Anxiety Disorder, Social Phobia, Specific Phobia, Alcohol Dependence. When the social
impairment caused by his pattern of thinking, feeling and acting is considered, we conclude for Schizoid
Personality Disorder as Axis II diagnosis.
Keywords: bipolarity; bipolar spectrum; creativity
Este artigo é desdobramento da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade Federal de Pernambuco em fevereiro de 2009.
1 Coordenadora do Programa de Residência Médica em Psiquiatria do Hospital Ulysses Pernambucano.
2 Professor Titular de Psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco e Professor Titular de Psiquiatria da
Universidade de Pernambuco.
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INTRODUÇÃO
ernando Pessoa reinventou a persona –
máscara usada no teatro pelos atores
da Antiguidade para ocultar a face ao assumir um
personagem5,12, através da criação de heterônimos.
Acontece que a máscara, feita de cera, derrete-se
com o decorrer do espetáculo e, sin cera, o homem
mostra-se sincero – só finge bem quem se conhece.
O heterônimo é um personagem criado pelo poeta,
com direito a uma biografia própria, compleição
física, estilo literário particular e até horóscopo.
Fernando Pessoa é o único caso de heteronímia da
literatura universal. Foi o próprio Fernando Pessoa
quem criou essa designação. Ao criador dos
heterônimos também deu um nome, ortônimo.
Num poema encontrado recentemente,
Pessoa escreve: “Sou uma antologia”. Apesar de,
em vida, ter publicado apenas dois livros, English
Poems (1918) e Mensagem (1934), constaram
publicados em diversas revistas literárias e jornais
da época, 132 textos em prosa e 299 poemas.
Depois de sua morte, foram encontrados na grande
arca em que guardava seus escritos (e que o
acompanhou em suas várias mudanças de
residência), cerca de 27 mil papéis, entre ensaios,
poemas (mais de mil), contos, crônicas, romances
inacabados, diários, projetos, etc21.
Este estudo vai se ocupar do Fernando
Pessoa poeta, prosador, contista, tradutor, filósofo,
crítico literário, ensaísta político; da criança exilada
na África do Sul, do homem de educação inglesa
exilado em seu próprio país, ele – o estrangeiro de
si mesmo. Importa tirar-lhe a máscara e construir
um perfil psicológico e psicopatológico deste, que é
um dos maiores gênios da história da humanidade.
Como analisar, entretanto, o poeta que
dizia ser um” fingidor” ? Será que ele fingia mesmo,
ou fingia fingir? É o próprio Pessoa quem responde:
A atitude que deveis tomar para com
estes livros publicados é a de quem não
tivesse dado [sic] esta explicação, e os
houvesse lido, tendo-os comprado, um a
um, de cima das mesas de uma livraria. [...]
Deveis supor [...] que menti; que ides ler
obras de diversos poetas, ou de escritores
diversos, e que através delas podeis colher
emoções ou ensinamentos deles, em que
eu, salvo como publicador, não estou nem
colaboro. [...] Finjo? Não finjo. Se quisesse
fingir, para que escreveria isto? Estas cousas
passaram-se, garanto; onde se passaram
não sei, mas foi tanto quanto neste mundo
qualquer cousa se passa, em casas reais,
cujas janelas abrem sobre países realmente
visíveis....29 .
Para Kretschmer, as condições maníacodepressivas
em suas formas mais leves têm relação
com a produção criativa. Temos que considerar
aqui, principalmente os sintomas hipomaníacos em
suas formas menos intensas, com seus estados
emocionais inflamados e sua efervescente produção
de idéias, a qual tem a natureza de uma exibição
de fogos de artifício mental. A resposta à pergunta
de Kretschmer, É o gênio, gênio, a despeito do seu
componente psicopático, ou por causa dele?20 ,
poderá receber contribuição, sem dúvida, de
estudos patográficos de pessoas de inteligência e
criatividade excepcionais. Fazendo a ressalva de
que, “não existe algo como arte da loucura, mas
apenas boa e má arte, arte com, e sem, valor
estético. A arte da loucura nada mais é do que a
psicopatologia da arte. Apenas os psicóticos
talentosos irão produzir trabalhos de arte genuínos.
A maioria irá criar trabalhos de grande importância
terapêutica, psicopatológica ou fenomenológica,
mas de reduzido valor artístico”6.
A leitura de textos de matizes contrastantes -
há ali mudanças drásticas não só no estilo literário,
mas no tempo dos poemas e prosas, na celeridade
com que haviam sido escritos, no conteúdo
que ora bradava a todo pulmões o dinamismo
da modernidade, o “sentir tudo de todas as
maneiras”30, ora lamentava o cansaço da vida, o
tédio, o não ser nada – fez com que percebêssemos
haver em Fernando Pessoa uma variação tal de
F
10_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________Albuquerque, S. A. e Bastos, O.
humor que não eram produtos intencionais de suas
dissociações heteronímicas. Poderiam ser, talvez, os
fenômenos patoplásticos do transtorno bipolar.
ESTUDO PATOGRÁFICO
Escrito em 1922 por Karl Jaspers, professor
de Psiquiatria e Filosofia em Heidelberg, o livro
“ Gênio e Loucura – Ensaio de Análise Patográ-
fica Comparativa sobre Strindberg, Van Gogh,
Swedenborg e Hölderlin”, inaugura os estudos
patográficos16:
“A mera interpretação de uma
biografia já se constitui, por si, um tema
suficientemente sugestivo para a psicopatologia
aplicada...” “... ademais, a esse
interesse se acrescenta de forma extraordinária,
pela importância que tem para essa
ciência, as histórias clínicas dos enfermos
de semelhante valor intelectual”17 .
Para Jaspers, toda vida psíquica é um todo
como forma temporal. Se quisermos apreender um
indivíduo, temos de possuir a visão de sua vida
desde o nascimento até a morte1.
Toda história clínica correta vai dar na
biografia. Enraizada no todo existencial, a
doença psíquica não se pode, dele destacada,
apreender. O material mais abundante
para a biografia está, decerto, em
personalidades que são, ao mesmo tempo,
historicamente importantes17 .
O psiquiatra espanhol Juan Antonio Vallejo-
Nágera escreve sobre "o talento e a sua modificação
pela doença" em seu livro Loucos Egrégios.
Diz Vallejo-Nágera que "muitos psiquiatras tiveram
o impulso de fazer a história clínica de personagens
do passado usando os conhecimentos atuais.
Esses estudos se chamam ‘patografias’". Seu pai,
igualmente psiquiatra, Antonio Vallejo-Nágera publicou
em 1946 um livro dessa natureza também
chamado Loucos Egrégios onde reuniu mais de cem
patografias. Segundo Vallero-Nágera, o Juan
Antonio, "Para penetrarmos no psiquismo de uma
pessoa, poucos elementos podem ser tão úteis
quanto a sua correspondência íntima"37.
Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu
em Lisboa em 13 de junho de 1888. Em seu lar
residiam, além de seus pais, a sua avó paterna,
D. Dionísia, a qual tinha perturbadas as suas
faculdades mentais quando nasceu o neto. Foi
internada várias vezes em asilos de loucos. Quando
em crise, D. Dionísia se tornava pornofônica, “tinha
uma loucura intermitente – se não suportava as
crianças quando dava na veneta, Fernando e
MÉTODO
O estudo patográfico utiliza-se da fenomenologia
e da Psiquiatria Clínica para tentar buscar o
sentido do existir humano nos produtos materiais
desse existir e na biografia do indivíduo. Assim, vida
e obra de Fernando Pessoa foram analisadas.
Obedeceu-se à seqüência de: documentação;
leitura exaustiva desta documentação –
poemas, textos em prosa (ensaios, crônicas, críticas
literárias e políticas, textos filosóficos, etc.), cartas,
escritos autobiográficos, biografias sobre Fernando
Pessoa e vasta bibliografia nos mais diversos
enfoques, sobre o poeta; busca de trabalhos
científicos na world wide web com as palavraschaves:
criatividade, bipolaridade, transtorno do
humor bipolar, espectro bipolar; livros de psiquiatria
especializados em transtorno bipolar e na relação
entre criatividade e genialidade com a bipolaridade.
Procedeu-se então à organização do material e
análise de seu conteúdo, utilizando-se o método
clínico-fenomenológico. Por fim, estes dados foram
submetidos à nosografia atual do Diagnostic
and Statistical Manuals of Mental Disorders –
DSM-IV-TR13 para possível classificação diagnóstica.
PATOGRAFIA DE FERNANDO PESSOA
os primos eram tratados, durante os períodos
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pacíficos, com tanto carinho quanto benévola
condescendência”11. Em 1893, logo após o
nascimento do filho Jorge, fica declarada a tísica do
pai do poeta, Joaquim Pessoa. Falece a 13 de
julho, deixando os seus em dificuldades financeiras.
À morte do pai, segue-se, no ano seguinte, a do
irmão Jorge, também tuberculoso. Talvez também
em razão destas perdas, é neste ano que inventa
um amigo invisível – Chevalier de Pas, ou Cavaleiro
do Nada - “por quem escrevia cartas dele a mim
mesmo”, dirá 40 anos depois em carta, a Casais
Monteiro, crítico literário. D. Madalena, sua mãe
casa-se novamente dois anos depois com o
comandante da Marinha de Guerra, João Miguel
Rosa e no ano seguinte a família parte para
Durban, colônia britânica na África do Sul onde o
padrasto exercerá o cargo de Cônsul de Portugal.
Fernando é matriculado em 1896 na escola de
freiras irlandesas da West Street. Três anos depois,
ingressa na Durban High School onde, pelo
extraordinário desempenho, estuda em três anos o
que deveria estudar em cinco. Em 1903, aos 15
anos, é admitido na Universidade do Cabo, mas
não cursa mais que um ano. É neste ano que cria
várias personalidades literárias. Dentre elas,
destacam-se duas: Alexander Search, que tem a
mesma idade de seu criador e Charles Robert Anon,
também adolescente, porém um antípoda de
Pessoa4,11. Em 1904 volta a morar em Portugal
com a tia-avó Maria. Inscreve-se na Faculdade de
Letras que pouco freqüenta por estar muito
envolvido em suas atividades literárias e por preferir
a formação autodidática. Com a morte da avó
Dionísia em 1906, Fernando aplica a pequena
herança integralmente numa tipografia, a Empresa
Íbis – Tipografia e Editora. Íbis é seu apelido de
infância. O empreendimento não demora a
fracassar. Para que os compromissos com horários
não se tornassem empecilho a sua verve criativa,
recusava vários bons empregos, mas aceita ser
correspondente de línguas estrangeiras em casas
comerciais, encarregando-se da correspondência
em inglês e francês de escritórios de importação e
exportação. Não há registro de que o adolescente
Pessoa tenha tido envolvimentos amorosos ou
mesmo puramente sexuais. Em 1908 decide morar
sozinho. Escreve poesia e prosa em português,
inglês e francês. Seus textos causam polêmica ao
criticar a literatura portuguesa da época 8,11,21,34.
Em 30 de outubro de 1908, o jovem
Fernando, como Alexander Search, já mostra
pretensões de grande poeta. Fala de seus inúmeros
projetos, de seu vigor, de sua sensação de força e
da impulsividade que praticamente o paralisa.
Mostra-se, transbordante, assertivo, convicto,
inflamado, taquipsíquico – em hipomania:
...Além dos meus projectos patrióticos
– escrever <
[Regicídio Português] para provocar aqui
uma revolução, escrever panfletos em
português, editar obras literárias nacionais
mais antigas, fundar um periódico, uma
revista científica, etc. – outros planos que
me consomem com a necessidade de serem
em breve postos em prática – projectos de
Jean Seul, crítica de Binet-Sanglé, etc. –
conjugam-se para produzir um impulso
excessivo que me paralisa a vontade. Não
sei se o sofrimento que isto produz poderá
ser descrito como estando do lado de cá da
loucura25 .(...)
Impulsos, uns criminosos outros
dementes – que chegam, no meio da minha
agonia, a uma tendência horrível para a
acção, uma terrível musculosidade, sentida
nos músculos, quero eu dizer – são em mim
frequentes e o horror deles e da sua
intensidade, agora maiores do que nunca
tanto em número como em intensidade, é
indescritível25 .
Com o pré-heterônimo francês Jean Seul,
Fernando “confessa o inconfessável”. Nos fragmentos
de texto encontrados a temática é só uma: a
sexualidade em seus desvios e perversões. Também
datados da mesma época foram encontradas sátiras
12_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________Albuquerque, S. A. e Bastos, O.
à sociedade onde, por exemplo, o incesto é
obrigatório, está na moda medir o pênis, etc. Sua
primeira elegia em língua portuguesa, datada de
novembro de 1908 e intitulada Dolora, faz o
balanço de sua adolescência como um atestado de
fracasso:
Dolora
Dantes quão ledo afectava
Uma atroz melancolia!
Poeta triste ser queria
E por não chorara chorava
Depois tive que encontrar
A vida rígida e má.
Triste então chorava já
porque tinha que chorar... 8
Em fins de 1908 “morre” Search, porém escreve o
próprio epitáfio:
“Aqui jaz A[Lexander] S[earch]
de Deus e homens abandonado
Da natureza troçado em dor;
Não acreditou em igreja ou estado,
Em deus, homem, mulher ou amor,
Nem na terra aqui ou no céu além.
Nada no mundo há de sincero
Salvo luxúria, ódio, medo e dor (...)4
Por volta de 1910-1911, o jovem, como
lhe acontecerá muitas vezes, está cansado, deprimido,
sem horizontes. Num diário anota sua
indiferença fundamental, seu ódio aos “atos
decisivos” e aos pensamentos definidos”, às
realizações e às conclusões. Já 1913 é um ano
profícuo; de intensa atividade criadora. Envolve-se
na vanguarda da arte. É difícil acompanhá-lo no
vai-e-vem que faz pela cidade. Trabalha em vários
escritórios comerciais, frequenta os café da Baixa,
vai ao Martinho e à Brasileira. Nunca teve tantos
projetos e se relacionou com tanta gente. Em 08 de
março de 1914 é o “Dia Triunfal” de sua vida,
quando escreve “trinta e tantos poemas a fio, numa
espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei
definir...” . Após a Ode Triunfal e os Dois Excertos
de Odes, em menos de dois anos, do verão de
1914 à primavera de 1916, Álvaro de Campos vai
escrever, sucessiva e simultaneamente, seis outras
grandes odes, das quais duas, Ode Marítima e
Saudação a Walt Whitman, têm cada uma um
milhar de versos; três, Ode Marcial, Passagem das
Horas e A Partida, muitas centenas cada uma, e a
que começa por “Afinal, a melhor maneira de viajar
é sentir” pouco mais de cem. Se considerarmos que
no mesmo período, Caeiro termina sua obra e Reis
continua a sua, que Soares trabalha no Livro do
Desassossego, que o “próprio” Pessoa escreve
cerca de vinte poemas do Cancioneiro, outros
tantos do Mad Fiddler (em inglês) e muitas
centenas do Fausto, sem contar com as numerosas
páginas de ensaios filosóficos, políticos ou críticos,
que se pode ter uma idéia da incrível fúria de
escrever que se apossou do jovem escritor após o
“Dia Triunfal” 8.
É importante que se perceba que primeiro
surgiram os poemas e só depois a “ coterie”.
Isto pode significar que, como já dissera Pessoa, dar
a cada estado de alma, uma alma. Em nossa
leitura, significa nomear cada estado de espírito,
cada estado de ânimo, portanto, cada humor.
Do ponto de vista ontológico, os heterônimos
simbolizam as diversas possibilidades do ser.
Consciente de que um ser apenas não daria conta
de todas as realidades possíveis, multiplicou-se para
poder reproduzir um número maior de verdades,
ainda que estas teimem em desmentir-se recíprocamente35
.
Em (1930?) explica como surge a
inspiração para a fala de seus personagens poetas
– os heterônimos:
Como escrevo em nome desses
três?... Caeiro por pura e inesperada
inspiração, sem saber ou sequer calcular
que iria escrever. Ricardo Reis, depois de
uma deliberação abstrata, que subitamente
se concretiza numa ode. Campos, quando
sinto um súbito impulso para escrever e não
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sei o quê. (O meu semi-heterônimo
Bernardo Soares, que aliás em muitas
coisas se parece com Álvaro de Campos,
aparece sempre que estou cansado ou
sonolento, de sorte que tenha um pouco
suspensas as qualidades de raciocínio e de
inibição; aquela prosa é um constante
devaneio.(...)29 .
Segue abaixo excerto de Ode Marítima de
Campos modernista: pulsões de vida e morte em
devaneio sadomasoquista homoerótico:
Ode Marítima
(...)
Levar pra Morte com dor, voluptuosamente,
Um corpo cheio de sanguessugas, a sugar,
a sugar,
De estranhas verdes absurdas sanguessugas
marítimas!
Façam enxárcias das minhas veias!
Amarras dos meus músculos!
Arranquem-me a pele, preguem-na às
quilhas.
E possa eu sentir a dor dos pregos e nunca
deixar de sentir!
Façam do meu coração uma flâmula de
almirante
(...)
Ser no meu corpo passivo a mulher-todasas-
mulheres
Que foram violadas, mortas, feridas,
rasgadas plos piratas!
Ser no meu ser subjugado a fêmea que tem
de ser deles!
E sentir tudo isso – todas as coisas de uma
só vez – pela
[espinha!
Ó meus peludos e rudes heróis da aventura
e do crime!
Minhas marítimas feras, maridos da minha
imaginação!
Amantes causais da obliqüidade das minhas
sensações!
Queria ser Aquela que vos esperasse nos
portos,
A vós, odiados amados do seu sangue de
pirata nos sonhos!
(...)32
Neste outro poema de Campos, também
liberto de censuras, Pessoa saúda seu irmão em
Universo Walt Whitman - utilizando vários sinônimos
da palavra homossexual para referir-se a ele:
pederasta, paneleiro de Deus, soutener do
Universo. Em absoluto estado de elação, utiliza uma
profusão de onomatopéias. Depois, em loucura
furiosa, grita e urra que o espírito que dá a vida
neste momento sou EU:
Saudação a Walt Whitman
Portugal – Infinito, onze de junho de mil
novecentos e quinze...
He-lá-á-á-á-á-á-á!
De aqui, de Portugal, todas as épocas no
meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em
Universo,
Ó sempre moderno e eterno, cantor dos
concretos absolutos,
Concubina fogosa do universo disperso,
Grande pederasta roçando-se contra a
diversidade das coisas,
Sexualizado pelas pedras, pelas árvores,
pelas pessoas, pelas profissões,
Cantor da fraternidade feroz e terna com
tudo,
Grande democrata epidérmico, contíguo a
tudo em corpo e alma,
Carnaval de todas as ações, bacanal de
todos os propósitos
(...)
Soutener de todo Universo,
14_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________Albuquerque, S. A. e Bastos, O.
Rameira de todos os sistemas solares,
paneleiro de Deus!
(...)
Pra frente!
Meto esporas!
Sinto as esporas, sou o próprio cavalo em
que monto,
Porque eu, por minha vontade de me
consubstanciar com Deus,
Posso ser tudo, ou posso ser nada, ou
qualquer coisa,
Conforme me der na gana... Ninguém tem
nada com isso...
Loucura furiosa! Vontade de ganir, de
saltar,
De urrar, de zurrar, dar pulos, pinotes,
gritos com o corpo,
De me cramponner às rodas dos veículos e
me meter por baixo,
De me meter adiante do giro do chicote
que vai bater,
(...)32
Em carta dirigida a Mário Beirão, assombra-
se, ele próprio, com tamanho estado de rapidez
ideativa, uma verdadeira crise de abundância,
altamente produtiva em que idéias, ou ainda,
inspiração para redação de poemas, projetos,
raciocínios, surgem e se sucedem a uma velocidade
impressionante, ao ponto de perderem-se da bruma
para a bruma, revelando assim taquipsiquismo que
desemboca em fuga de idéias – típico da
hipomania:
Lisboa, 1 de Fevereiro de 1913
MEU QUERIDO MÁRIO BEIRÃO:
(...)
Estou atualmente atravessando uma
daquelas crises a que, quando se dão na
agricultura, se costuma chamar “crise de
abundância”.
Tenho a alma num estado de rapidez
ideativa tão intenso que preciso fazer da
minha atenção um caderno de apontamentos,
e, ainda assim, tantas são as folhas
que tenho a encher, que algumas se
perdem, por elas serem tantas, e outras se
não podem ler depois, por com mais que
muita pressa escritas. As idéias que perco
causam-me uma tortura imensa, sobrevivem-
se nessa tortura, escuramente outras.
V. dificilmente imaginará que Rua do
Arsenal em matéria de movimento, tem sido
a minha pobre cabeça. Versos ingleses,
portugueses, raciocínios, temas, projetos,
fragmentos de coisas que não sei o que
são, cartas que não sei como começam ou
acabam, relâmpagos de críticas, murmúrios
de metafísicas... Toda uma literatura, meu
caro Mário, que vai da bruma – para a
bruma – pela bruma...29
Dezembro de 1914 é para ele uma “noite
de tempestade”. Exibe quadro depressivo do qual
padecerá outras tantas vezes. D. Madalena sofre
um ataque apoplético em dezembro de 1915 e o
poeta fica desolado. Em abril de 1916 seu amigo
Sá-Carneiro se mata em Paris tomando estricnina 8.
Deprimido escreve:
Cheguei, assim, ao meu 28° aniversário
sem nada ter feito na vida – nada na vida, nas
letras ou na minha própria individualidade. Até
agora conheci o insucesso absoluto. Durante
quanto tempo, aí de mim!, terei de conhecê-lo
ainda?
Quanto mais examino a minha consciência,
menos me absolvo do nada que é a minha
vida.(...) 25
13-6-1916
O sentimento de não pertencer a nada fez
dele um estrangeiro onde quer que estivesse. Em
sua capacidade singular de se transmutar em
outrem, percebia como tantas as verdades e tantas
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as possibilidades de sentir, que não poderia limitarse
a nenhuma delas:
“ Em todos os logares da vida, [...] eu
fui sempre, para todos, um intruso. Pelo
menos, fui sempre um extranho. No meio
de parentes, como no de conhecidos, fui
sempre sentido como alguém de fóra. [...]
Fui sempre [...] tratado com sympathia. [...]
Mas a sympathia com que sempre me
trataram, foi sempre isenta de affeição. Para
os mais naturalmente íntimos fui sempre um
hospede, que por hospede é bem tratado,
mas sempre com a attenção devida ao
extranho e a falta de affeição merecida pelo
intruso. [...] Se um dia amasse, não seria
amado.”
O depoimento de Fernando Pessoa abaixo
é praticamente uma descrição dos critérios diagnósticos
para Ansiedade Social: desconforto ao
expor-se em situações sociais, medo de críticas e
comportamento de evitação:
O isolamento talhou-me à sua imagem e
semelhança. A presença de outra pessoa –
de uma só pessoa que seja – atrasa-me
imediatamente o pensamento,(...). Sou
capaz, a sós comigo, de idear quantos ditos
de espírito, respostas rápidas a que
ninguém disse, fulgurações de uma
sociabilidade inteligente com pessoa
nenhuma; mas tudo isso se me some se
estou perante um outrem físico, perco a
inteligência, deixo de poder dizer, e, no fim
de uns quartos de hora, sinto apenas sono.
Sim, falar com gente dá-me vontade de
dormir....
Pesa-me, aliás, toda a idéia de ser forçado
a um contato com outrem. Um simples
convite para jantar com um amigo me
produz uma angústia difícil de definir. A
idéia de uma obrigação qualquer, - ir a um
enterro, tratar junto de alguém de uma
coisa no escritório, ir esperar à estação uma
pessoa qualquer, conhecida ou
desconhecida – só essa idéia me estorva os
pensamentos de um dia, e às vezes é desde
a mesma véspera que me preocupo, e
durmo mal, e o caso real, quando se dá, é
absolutamente insignificante, não justifica
nada; e o caso repete-se e eu não aprendo
nunca a aprender (...)..25
O texto abaixo revela sua fobia a
trovoadas:
Destaco de coisas psíquicas de que tenho
sido o lugar, o seguinte fenômeno que julgo
curioso. V. sabe, creio, que de várias fobias
que tive guardo unicamente a assaz infantil
mas terrivelmente torturadora fobia das
trovoadas. O outro dia o céu ameaçava
chuva e eu ia a caminho de casa e por
tarde não havia carros. Afinal não houve
trovoada, mas esteve iminente e começou a
chover – aqueles pingos graves, quentes e
espaçados – ia eu ainda a meio do
caminho entre a Baixa e minha casa. Atireime
para casa com o andar mais próximo
do correr que pude achar, com a tortura
mental que v. calcula, perturbadíssimo,
confrangido eu todo25 .
Autodiagnose: em carta dirigida a dois
psiquiatras franceses, Fernando Pessoa descreve-se
como histero-neurastênico, abúlico, indeciso, meticuloso,
cerebral interior, emocionalmente instável e
perturbado por mil pensamentos e projetos dos
quais não consegue realizar ou concluir em razão
do seu deficiente pragmatismo. Agir para ele era
violentar-se:
Lisboa, 10 de junho de 1919
Senhores:
Do ponto de vista psiquiátrico, sou
um hístero-neuroastênico, mas, felizmente,
16_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________Albuquerque, S. A. e Bastos, O.
minha neuropsicose é bastante fraca; o
elemento neuroastênico domina o elemento
histérico, e isto concorre para que não
tenha eu os traços histéricos exteriores –
nenhuma necessidade de mentir, nenhuma
instabilidade mórbida nas reações com os
outros, etc. Minha histeria é apenas interior,
é bem minha mesma; na minha vida
comigo mesmo tenho toda a instabilidade
de sentimentos e de sensações, toda a
oscilação de emoção e de vontade que
caracterizam a neurose proteiforme. Exceto
nas coisas intelectuais onde cheguei a
conclusões que tenho como firmes, mudo
de opinião dez vezes por dia; só tenho o
juízo assentado a respeito de coisas em que
não haja possibilidade de emoção. Sei o
que pensar de tal doutrina filosófica, ou de
tal problema literário; nunca tive opinião
firme sobre não importa qual de meus
amigos, sobre não importa qual forma de
minha atividade exterior.
Já viram sem dúvida onde está o
ponto fraco; um temperamento tal como
lho descrevi está profundamente atingido,
não na emoção, não na Inteligência, mas
na vontade. (...)29
Neste rascunho de uma carta ao diretor da
Answers, Pessoa confessa o grande desconforto de
sua homossexualidade, pois ainda que ela não
tenha “descido ao corpo”, humilha-o:
Não encontro dificuldade em definirme:
sou um temperamento feminino com
uma inteligência masculina. A minha
sensibilidade e os movimentos que dela
procedem, e é nisso que consistem o
temperamento e a sua expressão, são de
mulher. As minhas faculdades de relação –
a inteligência, e a vontade, que é a
inteligência do impulso – são de homem.
Reconheço sem ilusão a natureza do
fenômeno. É uma inversão sexual fruste.
Pára no espírito. Sempre, porém, nos
momentos de meditação sobre mim, me
inquietou, não tive nunca a certeza, nem a
tenho ainda, de que essa disposição do
temperamento não pudesse um dia descerme
ao corpo. Não digo que praticasse
então a sexualidade correspondente a esse
impulso, mas bastava o desejo para me
humilhar. (...)29
Morre o padrasto em outubro de 1919 e no
primeiro trimestre de 1920, Fernando faz os
preparativos para o retorno da mãe. No mesmo
ano conhece e começa a namorar Ophélia
Queiroz. Em outubro inicia uma fase depressiva tão
intensa que o faz pensar em internar-se em
sanatório psiquiátrico. Rompe com Ophélia. Depois
de 5 anos desfrutando da companhia da mãe e
irmãos, o estado de D. Madalena piora e ela falece
em março de 1925. O luto do filho poeta se faz
sentir, sobretudo, na amargura de Álvaro de
Campos que deixa de ser o entusiasta da
modernidade e passa a ser um homem cheio de
cansaço e tédio. Tem, mais uma vez, a impressão
de estar enlouquecendo. . A obra de Pessoa é toda
permeada pelo tema do fracasso, mas é nessa fase
de grande desolamento que esse sentimento,
encontra maior expressão25,26,27,29,30,31,32,33. Em abril
de 1926, Pessoa escreve o segundo Lisbon Revisited
e outro poema sem título que anunciam a negra
matiz que reinará daí em diante: a idéia de morte,
aqui claramente dita:
Se te queres matar, por que não te queres
matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a
morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me
mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das
imagens externas
A que chamamos o mundo?
(...)
_____________________________________________________________________________17
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De que te serve o teu mundo interior que
desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças
finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
(...)
Ah, pobre vaidade de carne e osso
chamada homem,
Não vês que não tens importância
absolutamente nenhuma?
(…)32 26/4/1926
O famoso poema Tabacaria, uma espécie
de epopéia do fracasso e que iria se chamar a
princípio Marcha da Derrota, viria a ser também
escrito nessa fase. O Álvaro de Campos da
maturidade já não tem entusiasmo pela vida.
Perdeu o elã, agora é poeta niilista. Seu vazio é
preenchido pelo nada, pela culpa e pela idéia de
morte. Diante da incomensurabilidade da vida,
Álvaro de Campos sente-se diminuído, (um nada
que dói), a quem só é permitido o sonho8:
Não sou nada
Nunca
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos
do mundo... (TABACARIA)
Em 1929, a pretexto de uma foto de
Fernando bebendo no Abel Pereira da Fonseca que
Ophélia vira com o sobrinho e pedira uma cópia
para si, eles se reaproximam e reatam o namoro 8.
No ano seguinte escreve a carta do rompimento
definitivo. Nela, Pessoa faz troça de si mesmo,
abusa de onomatopéias, diz estar louco e insinua
que irá matar-se na Boca do Inferno, área de falésia
em Cascais ou até mesmo que deve ser internado
no Hospital de Alienados de Rilhafoles ou na Casa
de Saúde do Telhal, também hospital psiquiátrico
sendo este em Sintra e aquele em Lisboa:
“ Bebé fera: Peço desculpinha de a arreliar.
Partiu-se a corda do automóvel velho que
trago na cabeça, e o meu juízo, que já não
existia, fez tr-tr-r-r-r-r...
Logo a seguir a telefonar-lhe, estou a
escrever-lhe, e naturalmente telefonarei
outra vez, se não lhe faz mal aos nervos; e
naturalmente será, não a qualquer hora,
mas à hora em que lhe telefonarei.
Gosta de mim por mim ser mim ou por
não? Ou não gosta mesmo sem mim nem
não? Ou então?
Todas essas frases, e maneiras de não
dizer nada, são sinais de que o ex-Íbis.
O extinto Íbis, o Íbis sem conserto nem
gostosamente alheio, vai para o Telhal, ou
para Rilhafoles, e lhe é feita uma grande
manifestação à magnífica ausência.
Preciso cada vez mais ir para Cascais –
Boca do Inferno mas com dentes, cabeça
para baixo, fim, e pronto, e não há mais
Íbis nenhum. E assim que era para esse
animal ave esfregar a sua fisionomia
esquisita no chão.
Mas se Bebé desse um beijinho, o Íbis
agüentava a vida um pouco mais. Dá? – Lá
está a corda partida – r-r-r-r-r-r-r-r—r-r-r-rr-
r-
A valer 9-10-1929 Fernando” 24
Ao rompimento com Ophélia, segue - se
mais um período sombrio. Os poucos poemas
escritos são odes niilistas, lamentos e expressões de
derrota e fracasso. O poema Aniversário foi
escrito na data de nascimento de Fernando, mas
como da mesma veia melancólica do Campos da
maturidade, considerado como escrito em 15 de
outubro de 1929, data de nascimento que criara
para aquele heterônimo, e não em 13 de junho,
data de seu aniversário. Amargura:
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos
meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
18_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________Albuquerque, S. A. e Bastos, O.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma
tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava
certa com uma religião
[qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos
meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber
coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros
tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia
ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o
sentido da vida.
(...)
O que eu sou hoje é como a umidade no
corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me
amaram treme através
[das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como
um fósforo frio...
(...)
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado
na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia de meus
anos!...32
Na primavera daquele ano, entretanto,
passa a escrever incessantemente. Este é um
período prodigioso só comparado àquele que foi de
1914 a 1916. Porém, de setembro a dezembro de
1930 há um arrefecimento em sua produção, o que
faz Bernando Soares escrever no livro de sua vida
que “ Há muito tempo que não escrevo. Teem
passado mezes sem que viva, e vou durando, entre
o escriptorio e a psicologia, nua estagnação íntima
de pensar e de sentir. Isto, infelizmente, não
repousa: no apodrecimento há fermentação”27 .
Numa carta de 31 de agosto de 1931
escreve a um amigo confessando-lhe “ Creio estar
sofrendo um acesso – ligeiro, suponho, e, se, assim,
curável – de loucura psicastênica(...). É recomendável
o internamento em manicômio.
Em seus últimos anos de vida, morando
sozinho no apartamento da família, recebe todas as
manhãs o barbeiro para fazer-lhe a barba. É
encontrado muitas vezes ainda diante de mesa de
trabalho, com cara de quem não se deitara,
rodeado de livros e papéis, e em meio a isso, uma
garrafa de aguardente vazia que será enchida no
Trindade. Algumas semanas antes de sua morte, em
visita a sua irmã Henriqueta no Estoril, apresenta
delirium tremens. No poema D.T., descreve perfeitamente
o quadro clínico:
D.T.
The other Day indeed,
With my shoe, on the wall,
I killed a centipede
Which was not there at all.
I killed a centipede
Which was not there at all.
How can that be?
It’s very simple, you see—
Just the beginning of D.T.
When the pink alligator
And the tiger without a head
Begin to take stature
And demanded to be fed,
As I have no shoes
Fit to kill those,
I think I’ll start thinking:
Should I stop drinking?
(…)
Then the centipede come
Without trouble. (...)30
_____________________________________________________________________________19
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Morre no dia 30 de novembro de 1935,
aos 47 anos, de cirrose hepática. Sua última frase -
“I know not what tomorrow will bring”21.
AFETIVOGRAMA:
1913 a 1916 – Intensa atividade literária; tertúlias;
Supra-Camões; Orpheu.
1920 – Episódio depressivo grave que o faz pensar
em internamento psiquiátrico.
1921 a 1924 – Período fecundo: literatura, projetos
comerciais. Funda a Editora Olisipo.
1925 – Deprimido após a morte da mãe. Mais uma
vez pensa em internar-se em “manicômio”.
1930 – Ideação suicida. Crise criativa. Poemas
niilistas.
1930 – Primavera de extraordinária atividade
literária, só comparada àquela do período de 1914
a 1916.
1930 – Outono: “Há muito tempo que não
escrevo...”
DISCUSSÃO
Falar sobre Fernando Pessoa em números é
ser superlativo. Foi cerca de 27 mil, o número de
papéis encontrados na arca. Dentre eles mais de mil
poemas. Nunca teve domicílio fixo ou emprego
estável. Mudou-se de endereço várias vezes. Ao
todo, morou em 25 lugares diferentes. Colaborou
em 42 jornais e revistas.
Na época de sua morte era um ilustre
desconhecido. Publicou sim, em vida, dois livros –
Mensagem 28, cuja leitura demasiado hermética
para uma sociedade ainda provinciana, dificilmente
fez muitos leitores, e Poemas Ingleses, que foi lido
por quase ninguém. De maneira dispersa, teve
publicado 132 textos em prosa e 299 poemas em
revistas e jornais. Foi graças ao empenho de seus
amigos Luís de Montalvor e Gaspar Simões, que a
jovem Editora Ática publicou em 1953 Obras
Completas, cujo título hoje sabemos equivocado11.
Sua atuação na revista Orpheu rendeu-lhe
alguma notoriedade no meio literário e jornalístico,
inclusive a de maluco, como a de todos da revista.
Sua família e amigos não tinham a menor idéia de
que conviviam com um gênio. D. Madalena, sua
genitora, chegou a comentar em família que seus
outros filhos não eram inteligentes como o
Fernando, mas pelo menos eram “normais”. Foi um
eterno exilado, eterno estrangeiro, desconfortável
até em sua própria “carcaça”. Em adulto vivia na
tertúlia, mas teve que fabricar uma coterie.
Envolveu-se em dezenas de projetos que não
foram adiante, muitos por sua tibieza de vontade.
De inteligência extraordinária, começou a interessar-
se pelas letras do alfabeto aos oito meses, a ler
aos quatro anos e já aos cinco anos estava a se
dedicar à leitura. Foi um leitor voraz até certo dia
em que deixou de achar que fosse de algum
proveito a leitura de livros, fossem quais fossem,
fazendo exceção para o livro de Charles Dickens
“Pickwick Papers” do qual conservou a lembrança
de uma leitura prazerosa. Não podia aprender
ou apreender mais dos livros, do que de sua
observação de tudo o que o cercava e de si
mesmo11.
Foi sempre “o menino de sua mãe”. Nutria
um amor doentio por ela. Aos cinco anos perdeu o
pai e um irmão para a tísica (tuberculose) e a mãe
para o comandante Rosa. Morou na África do Sul
durante quase oito anos e de lá não trouxe revelada
qualquer recordação, nenhuma linha. Recebeu
educação inglesa em Durban, então colônia
britânica. Pouco se sabe sobre esse período. Sabese
que tendo desempenho extraordinário, foi
promovido de turma a certa altura da High School.
Estudou em 3 anos o que se estuda em 5.
Participou com uma redação em inglês, da qual
concorreu com cerca de mil estudantes, em sua
maioria anglófonos, no Matriculation Examination
da Universidade do Cabo pelo qual ganhou um
prêmio literário do qual se orgulhou muito, o
Prêmio Rainha Vitória. Parece que o jovem
Fernando não teve amigos ou amores. A saudade
de Lisboa era a saudade da infância em Lisboa. Foi
solitário, ensimesmado. Soube, por correspondência
com um professor antigo e com ex-colega da
20_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________Albuquerque, S. A. e Bastos, O.
Durban High School, que era visto como inteligente,
mas esquisito8,11.
Após a morte do pai passou a contar com a
companhia de amigos invisíveis (imagens eidéticas),
“desde criança tinha essa tendência para a
despersonalização”, comportamento freqüente na
infância de muita gente (eidetismo). Só que seus
amigos invisíveis começaram a escrever literatura e
a colaborar em revistas juvenis. Desde ali, nasceram
os heterônimos. Entre os seus era galhofeiro,
gostava de divertir os sobrinhos e pregar peças nas
irmãs. Tinha como apelido de infância Íbis, nome
de uma ave que se punha a ficar longo tempo com
uma das pernas encolhidas e que, numa perna só,
não saia do lugar. Será o símbolo de sua infância,
do seu desajuste para as coisas da vida prática. Da
infância na África guardou a lembrança traumática
das chuvas tropicais torrenciais com seus trovões
estrondosos e relâmpagos. Daí em diante
transformava-se quando ocorriam tais fenômenos.
Ficava apavorado, procurava um abrigo, às vezes
até insólito, e se esvanecia. “Sua irmã Henriqueta
diz que ‘ o Fernando era um tanto estranho; não era
muito acriançado(...)’. Continua a sua irmã
Henriqueta a informar : ‘o Fernando toda a sua vida
teve o pavor de enlouquecer como a avó, ou de
morrer tuberculoso como o pai. E: ‘De quando em
quando davam-lhe acessos de excitação
cerebral’.”11,21,34. Na fobia há um medo persistente
e irracional de um objeto específico, atividade, ou
situação considerada objetivamente sem perigo,
que resulte em necessidade incontrolável de
esquivar-se ou de evitar o estímulo. Se isto não é
possível, o confronto é precedido por ansiedade
antecipatória e realizado com grande sofrimento. As
fobias simples ou específicas são restritas a
situações particulares, como certos animais, altura,
trovões, avião, espaços fechados, certos alimentos,
visão de sangue ou ferimentos, etc. Fernando
Pessoa tinha brontofobia – fobia a trovão e outra, a
manifobia que vem a ser medo da loucura e uma
forma de nosofobia ou medo de doenças. A
convivência com a avó Dionísia – sua avó louca –,
fez com que temesse a loucura pelo resto da vida e
que se interessasse muitíssimo por livros de
Psiquiatria. Leu Lombroso e Max Nordau34.
Também era tímido e introvertido ao ponto de
sentir-se muito constrangido na frente de
desconhecidos e de perder a naturalidade e as
palavras. Quando sozinho era capaz de argumentar
com inteligência, mas tivesse ele que enfrentar a
situação de ter que falar com estranhos, não
conseguia concatenar as idéias e titubeava. Na
f obia social ou ansiedade social há medo excessivo
associado à necessidade de evitar situações onde o
indivíduo possa ser observado ou avaliado pelos
outros, pelo temor de se comportar de modo
embaraçoso ou humilhante. Caso seja impossível
evitar a situação, ocorre ansiedade intensa, que
pode culminar em ataque de pânico.
Na caracterização que Kretschmer faz do
temperamento esquizóide, ele coloca que o homem
esquizóide é aquele com quem se pode conviver
durante muitos anos e ainda assim não sermos
capazes de dizer ao certo quem são. Nas pesquisas
de Kretschmer sobressaíram como características
estatisticamente mais significativas dos esquizóides
os seguintes arranjos:
1. Não sociável, calmo, reservado, sério,
excêntrico;
2. Tímido, com sentimentos bons, sensível,
nervoso, excitável, apreciador da
natureza e dos livros;
3. Flexível, dócil, honesto, indiferente,
calado, sombrio.
Para ele ainda, os esquizóides seriam ao
mesmo tempo extremamente sensíveis e frios ou,
como chamava, do tipo Höderlin: extremamente
sensíveis, anormalmente meigos, constantemente
feridos, naturezas mimosas, “todo nervos” e ao
mesmo tempo com intangível sopro de distância e
frigidez aristocrática, com uma tendência autística
de respostas afetivas para um círculo limitado de
homens e coisas19. Este “tipo mimosa”, como
Kretschmer nomeia, pode ser melhor estudado nos
gênios, embora possamos encontrá-lo em qualquer
parte. E Pessoa foi um esquizóide.
A angústia era uma tônica na sua vida.
Tenso, sentindo-se deslocado, muitas vezes, mesmo
em família. Sem dúvida, uma das causas de sua
_____________________________________________________________________________21
NEUROBIOLOGIA, 73 ( 2 ) abr./jun., 2010_________________________________________________________
insônia. No transtorno de ansiedade generalizada,
o desconforto psíquico e, muitas vezes somático, é
persistente e não está atrelado necessariamente a
situações ou objetos específicos36.
Nunca se soube que tenha tido amores ou
paixões arrebatadoras. Teve um namorico com
Ophélia Queiroz, em dois tempos: de janeiro a
novembro de 1920, época que coincidiu com os
preparativos para e o regresso de D. Madalena a
Portugal em razão de sua viuvez, e em 1929,
também por menos de um ano. Desse relacionamento
sobraram “50 Cartas de Amor”, publicadas
em 1978. Anos depois, Pessoa diria que “As
cartas de amor são ridículas...”. Pessoa gostava de
a tratar por “Bébé”, ”Bonequinha” e a si, como Íbis.
Diz Pessoa em carta a Ophélia, datada de 9 de
outubro de 1929: “ Eu gostava que a Bébé fosse
uma boneca minha, e eu fazia como uma creança,
despia-a”24, fazendo alusão a posse sexual de uma
menina impúbere. De vez em quando, dava-lhe na
cabeça de apresentar-se a Ophélia como Álvaro de
Campos: “Fernando era um pouco confuso,
principalmente quando se apresentava como Álvaro
de Campos (...). Portava-se, nestas alturas, de uma
maneira totalmente diferente. Destrambelhava-se,
dizendo “coisas sem nexo”. Em outra carta, esta
datada de 5 de abril de 1920, fala em “dar-lhe
açoites” e de ser açoitado. Quando encarna Álvaro
de Campos, é como se tirasse a máscara, e não
como se a colocasse. A violência, o clamor à
luxúria, ao sadomasoquismo, a relações homoeróticas
brutais, aparece em vários poemas de Campos.
Fernando Pessoa é o corpo-prisão onde a sua alma
se esconde. Campos é a liberdade. Tudo pode
ousar em seus versos – devaneios - literários. Em
imaginação, se permite tudo: o ser feminino e
passivo, sarcástico e cru.
Pessoa cumpria seu ritual, vagueando todos
os dias pelas ruas da Baixa, encontrando os
“amigos” nos bares. Ia metodicamente aos mesmos
bares à mesma hora. Gostava de vinho e de
aguardente de uva, bagaceira. Não se sabe
quando isto virou em dependência. Soube perfeitamente
descrever um delirium tremens no poema
D.T.. Chegou de fato, a ter esse quadro clínico, já
no ano de sua morte, em 1935. Talvez o convívio
com o General Henrique Rosa, poeta irmão do
padrasto, que vivia rodeado de livros e garrafas,
tenha tido alguma influência em seu alcoolismo.
Pensou seriamente, pelo menos duas vezes, em ser
internado em sanatório psiquiátrico em suas
“crises” depressivas. Quando estava assim, sumia.
Os amigos não lhe encontravam, isolava-se.
Sentia um profundo cansaço. Sentia-se um nada.
A inspiração mitigava, trabalhava menos e
tinha mais dificuldades financeiras. Precisou várias
vezes pedir dinheiro emprestado aos amigos.
Há, em sua obra e cartas, referências à ideação
suicida24,25,27,32.. Em outros períodos de sua vida,
acontecia o inverso. Tinha mil projetos, envolvia-se
em movimentos literários, escrevia incessantemente,
numa verdadeira graforréia. Fazia e se envolvia
em tanta coisa ao mesmo tempo, que pensar
nisto chega a ser vertiginoso. Tinha “consciência
de missão” e a certeza de sua genialidade.
Este comportamento caracteriza claramente o
Transtorno Bipolar do Humor tipo II1,2,3,38.
Não temos como saber, ao certo, quanto
tempo duravam seus períodos expansivos; decerto
nunca teve um quadro de mania franca, pelo
menos não em sua forma pura. Pode ter
apresentado episódios mistos? Claro que sim.
A angústia, a grande dificuldade para as coisas
práticas da vida, ou, a simples e complexa
dificuldade de existir, nunca lhe abandonaram
mesmo nos períodos de euforia. Teve episódios de
hipomania, não há como duvidar, mas pelo que
sabemos, nunca chegou a ter comportamentos dos
quais se constrangesse depois e, assim, caracterizasse
um episódio de mania1,2,3,13,14,15.
CONCLUSÃO
Procedemos neste estudo a uma investigação
psiquiátrica para traçar os perfis psicológico
e psicopatológico do poeta português Fernando
Pessoa e estabelecer um possível padrão de atividade
criativa que pudesse se correlacionar com os
22_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________Albuquerque, S. A. e Bastos, O.
altos e baixos do seu humor. Para isto, fizemos uma
extensa análise de sua biografia e obra, tanto
poética quanto em prosa, ou seja, um estudo
patográfico.
Foi tido como esquisito pela família,
colegas e amigos. Seu padrão de funcionamento
esquizóide é revelado pela preferência por atividades
solitárias, por sua introspecção, por sua
timidez, por sua grande sensibilidade, por seu
sentimento de ser estrangeiro por entre a família e
amigos, pelo fato de nunca ter tido de fato amigos
verdadeiramente íntimos e até pelo desconhecimento
que sua própria família tinha dele – não
tinham a menor percepção de seus sentimentos e
muito menos de sua genialidade. Esquizóide com
marcantes dificuldades na esfera sexual: é patente a
constatação, em Campos, de suas tendências
homossexuais egodistônicas, fetichistas, sadomasoquistas
e voyeuristas.
Quanto ao eixo I do DSMIV-TR, podemos
afirmar com ampla segurança, que Fernando
Pessoa padecia de Transtorno de Ansiedade Social,
de Manifobia, de Brontofobia e dos Transtornos de
Ansiedade Social, Bipolar do Humor tipo II e de
Dependência de Álcool.
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