quinta-feira, 11 de outubro de 2012

RICARDO REIS

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Home Poemas De Ricardo Reis (Fernando Pessoa, Alberto Caeiro) Voltar Poemas de Ricardo Reis



Fernando Pessoa

A Abelha

A abelha que, voando, freme sobre

A colorida flor, e pousa, quase

Sem diferença dela

À vista que não olha,

Não mudou desde Cecrops. Só quem vive

Uma vida com ser que se conhece

Envelhece, distinto

Da espécie de que vive.



Ela é a mesma que outra que não ela.



Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! —

Mortalmente compramos

Ter mai vida que a vida.



A Cada Qual

A cada qual, como a 'statura, é dada

A justiça: uns faz altos

O fado, outros felizes.



Nada é prêmio: sucede o que acontece.



Nada, Lídia, devemos

Ao fado, senão tê-lo.



Acima da Verdade

Acima da verdade estão os deuses.



A nossa ciência é uma falhada cópia

Da certeza com que eles

Sabem que há o Universo.



Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,

Não pertence à ciência conhecê-los,

Mas adorar devemos

Seus vultos como às flores,

Porque visíveis à nossa alta vista,

São tão reais como reais as flores

E no seu calmo Olimpo

São outra Natureza.



A Flor que És

A flor que és, não a que dás, eu quero.



Porque me negas o que te não peço.



Tempo há para negares

Depois de teres dado.



Flor, sê-me flor! Se te colher avaro

A mão da infausta esfinge, tu perere

Sombra errarás absurda,

Buscando o que não deste.



Aguardo

Aguardo, equânime, o que não conheço —

Meu futuro e o de tudo.



No fim tudo será silêncio, salvo

Onde o mar banhar nada.



Aqui, Dizeis

Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro,

Não 'stá quem eu amei. Olhar nem riso

Se escondem nesta leira.



Ah, mas olhos e boca aqui se escondem!

Mãos apertei, não alma, e aqui jazem.



Homem, um corpo choro!

Aqui



Aqui, Neera, longe

De homens e de cidades,

Por ninguém nos tolher

O passo, nem vedarem

A nossa vista as casas,

Podemos crer-nos livres.



Bem sei, é flava, que inda

Nos tolhe a vida o corpo,

E não temos a mão

Onde temos a alma;

Bem sei que mesmo aqui

Se nos gasta esta carne

Que os deuses concederam

Ao estado antes de Averno.



Mas aqui não nos prendem

Mais coisas do que a vida,

Mãos alheias não tomam

Do nosso braço, ou passos

Humanos se atravessam

Pelo nosso caminho.



Não nos sentimos presos

Senão com pensarmos nisso,

Por isso não pensemos

E deixemo-nos crer

Na inteira liberdade

Que é a ilusão que agora

Nos torna iguais dos deuses.



Aqui



Aqui, neste misérrimo desterro

Onde nem desterrado estou, habito,

Fiel, sem que queira, àquele antigo erro

Pelo qual sou proscrito.



O erro de querer ser igual a alguém

Feliz em suma — quanto a sorte deu

A cada coração o único bem

De ele poder ser seu.



Ao Longe

Ao longe os montes têm neve ao sol,

Mas é suave já o frio calmo

Que alisa e agudece

Os dardos do sol alto.



Hoje, Neera, não nos escondamos,

Nada nos falta, porque nada somos.



Não esperamos nada

E ternos frio ao sol.



Mas tal como é, gozemos o momento,

Solenes na alegria levemente,

E aguardando a morte

Como quem a conhece.



Aos Deuses

Aos deuses peço só que me concedam

O nada lhes pedir. A dita é um jugo

E o ser feliz oprime

Porque é um certo estado.



Não quieto nem inquieto meu ser calmo

Quero erguer alto acima de onde os homens

Têm prazer ou dores.



Antes de Nós

Antes de nós nos mesmos arvoredos

Passou o vento, quando havia vento,

E as folhas não falavam

De outro modo do que hoje.



Passamos e agitamo-nos debalde.



Não fazemos mais ruído no que existe

Do que as folhas das árvores

Ou os passos do vento.



Anjos ou Deuses

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,

A visão perturbada de que acima

De nos e compelindo-nos

Agem outras presenças.



Como acima dos gados que há nos campos

O nosso esforço, que eles não compreendem,

Os coage e obriga

E eles não nos percebem,



A Palidez do Dia

A palidez do dia é levemente dourada.



O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas

Dos troncos de ramos Secos.



O frio leve treme.



Desterrado da pátria antiqüíssima da minha

Crença, consolado só por pensar nos deuses,

Aqueço-me trêmulo

A outro sol do que este.



O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole

O que alumiava os passos lentos e graves

De Aristóteles falando.



Mas Epicuro melhor

Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre

Tendo para os deuses uma atitude também de deus,

Sereno e vendo a vida

À distância a que está.



Atrás Não Torna

Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve

Sua face, Saturno.



Sua severa fronte reconhece

Só o lugar do futuro.



Não temos mais decerto que o instante

Em que o pensamos certo.



Não o pensemos, pois, mas o façamos

Certo sem pensamento.



A Nada Imploram

A nada imploram tuas mãos já coisas,

Nem convencem teus lábios já parados,

No abafo subterrâneo

Da úmida imposta terra.



Só talvez o sorriso com que amavas

Te embalsama remota, e nas memórias

Te ergue qual eras, hoje

Cortiço apodrecido.



E o nome inútil que teu corpo morto

Usou, vivo, na terra, como uma alma,

Não lembra. A ode grava,

Anônimo, um sorriso.



As Rosas

As Rosas amo dos jardins de Adônis,

Essas volucres amo, Lídia, rosas,

Que em o dia em que nascem,

Em esse dia morrem.



A luz para elas é eterna, porque

Nascem nascido já o sol, e acabam

Antes que Apolo deixe

O seu curso visível.



Assim façamos nossa vida um dia,

Inscientes, Lídia, voluntariamente

Que há noite antes e após

O pouco que duramos.



Azuis os Montes

Azuis os montes que estão longe param.



De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa,

Ou verde ou amarelo ou variegado,

Ondula incertamente.



Débil como uma haste de papoila

Me suporta o momento. Nada quero.



Que pesa o escrúpulo do pensamento

Na balança da vida?

Como os campos, e vário, e como eles,

Exterior a mim, me entrego, filho

Ignorado do Caos e da Noite

Às férias em que existo.



Bocas Roxas

Bocas roxas de vinho,

Testas brancas sob rosas,

Nus, brancos antebraços

Deixados sobre a mesa;

Tal seja, Lídia, o quadro

Em que fiquemos, mudos,

Eternamente inscritos

Na consciência dos deuses.



Antes isto que a vida

Como os homens a vivem

Cheia da negra poeira

Que erguem das estradas.



Só os deuses socorrem

Com seu exemplo aqueles

Que nada mais pretendem

Que ir no rio das coisas.



Breve o Dia

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.



Não tarda nada sermos.



Isto, pensado, me de a mente absorve

Todos mais pensamentos.



O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,

Que, inda que mágoa, é vida.



Cada Coisa

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.



Não florescem no inverno os arvoredos,

Nem pela primavera

Têm branco frio os campos.



À noite, que entra, não pertence, Lídia,

O mesmo ardor que o dia nos pedia.



Com mais sossego amemos

A nossa incerta vida.



À lareira, cansados não da obra

Mas porque a hora é a hora dos cansaços,

Não puxemos a voz

Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam

Nossas palavras de reminiscência

(Não para mais nos serve

A negra ida do Sol) —

Pouco a pouco o passado recordemos

E as histórias contadas no passado

Agora duas vezes

Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida

Com outra consciência nós colhíamos

E sob uma outra espécie

De olhar lançado ao mundo.



E assim, Lídia, à lareira, como estando,

Deuses lares, ali na eternidade,

Como quem compõe roupas

O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso

Nos traz às vidas quando só pensamos

Naquilo que já fomos,

E há só noite lá fora.



Cada dia sem gozo não foi teu

Cada dia sem gozo não foi teu

Foi só durares nele. Quanto vivas

Sem que o gozes, não vives.



Não pesa que amas, bebas ou sorrias:

Basta o reflexo do sol ido na água

De um charco, se te é grato.



Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas

Seu prazer posto, nenhum dia nega

A natural ventura!



Cada Um

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,

E deseja o destino que deseja;

Nem cumpre o que deseja,

Nem deseja o que cumpre.



Como as pedras na orla dos canteiros

O Fado nos dispõe, e ali ficamos;

Que a Sorte nos fez postos

Onde houvemos de sê-lo.



Não tenhamos melhor conhecimento

Do que nos coube que de que nos coube.



Cumpramos o que somos.



Nada mais nos é dado.



Como

Como se cada beijo

Fora de despedida,

Minha Cloe, beijemo-nos, amando.



Talvez que já nos toque

No ombro a mão, que chama

À barca que não vem senão vazia;

E que no mesmo feixe

Ata o que mútuos fomos

E a alheia soma universal da vida.



Coroai-me

Coroai-me de rosas,

Coroai-me em verdade,

De rosas —

Rosas que se apagam

Em fronte a apagar-se

Tão cedo!

Coroai-me de rosas

E de folhas breves.



E basta.



Cuidas, Índio

Cuidas, ínvio, que cumpres, apertando

Teus infecundos, trabalhosos dias

Em feixes de hirta lenha,

Sem ilusão a vida.



A tua lenha é só peso que levas

Para onde não tens fogo que te aqueça,

Nem sofrem peso aos ombros

As sombras que seremos.



Para folgar não folgas; e, se leoas,

Antes legues o exemplo, que riquezas,

De como a vida basta

Curta, nem também dura.



Pouco usamos do pouco que mal temos.



A obra cansa, o ouro não é nosso.



De nós a mesma fama

Ri-se, que a não veremos

Quando, acabados pelas Parcas, formos,

Vultos solenes, de repente antigos,

E cada vez mais sombras,

Ao encontro fatal —

O barco escuro no soturno rio,

E os novos abraços da frieza stígia

E o regaço insaciável

Da pátria de Plutão.



Da Lâmpada

Da lâmpada noturna

A chama estremece

E o quarto alto ondeia.



Os deuses concedem

Aos seus calmos crentes

Que nunca lhes trema

A chama da vida

Perturbando o aspecto

Do que está em roda,

Mas firme e esguiada

Como preciosa

E antiga pedra,

Guarde a sua calma

Beleza contínua.



Da Nossa Semelhança

Da nossa semelhança com os deuses

Por nosso bem tiremos

Julgarmo-nos deidades exiladas

E possuindo a Vida

Por uma autoridade primitiva

E coeva de Jove.



Altivamente donos de nós-mesmos,

Usemos a existência

Como a vila que os deuses nos concedem

Para, esquecer o estio.



Não de outra forma mais apoquentada

Nos vale o esforço usarmos

A existência indecisa e afluente

Fatal do rio escuro.



Como acima dos deuses o Destino

É calmo e inexorável,

Acima de nós-mesmos construamos

Um fado voluntário

Que quando nos oprima nós sejamos

Esse que nos oprime,

E quando entremos pela noite dentro

Por nosso pé entremos.



De Apolo

De Apolo o carro rodou pra fora

Da vista. A poeira que levantara

Ficou enchendo de leve névoa

o horizonte;

A flauta calma de Pã, descendo

Seu tom agudo no ar pausado,

Deu mais tristezas ao moribundo

Dia suave.



Cálida e loura, núbil e triste,

Tu, mondadeira dos prados quentes,

Ficas ouvindo, com os teus passos

Mais arrastados,

A flauta antiga do deus durando

Com o ar que cresce pra vento leve,

E sei que pensas na deusa clara

Nada dos mares,

E que vão ondas lá muito adentro

Do que o teu seio sente cansado

Enquanto a flauta sorrindo chora

Palidamente.



De Novo Traz

De novo traz as aparentes novas

Flores o verão novo, e novamente

Verdesce a cor antiga

Das folhas redivivas.



Não mais, não mais dele o infecundo abismo,

Que mudo sorve o que mal somos, torna

À clara luz superna

A presença vivida.



Não mais; e a prole a que, pensando, dera

A vida da razão, em vão o chama,

Que as nove chaves fecham,

Da Estige irreversível.



O que foi como um deus entre os que cantam,

O que do Olimpo as vozes, que chamavam,

'Scutando ouviu, e, ouvindo,

Entendeu, hoje é nada.



Tecei embora as, que teceis, Grinaldas.



Quem coroais, não coroando a ele?

Votivas as deponde,

Fúnebres sem ter culto.



Fique, porém, livre da leiva e do Orco,

A fama; e tu, que Ulisses erigira,

Tu, em teus sete montes,

Orgulha-te materna,

Igual, desde ele às sete que contendem

Cidades por Homero, ou alcaica Lesbos,

Ou heptápila Tebas

Ogígia mãe de Píndaro.



Deixemos, Lídia

Deixemos, Lídia, a ciência que não põe

Mais flores do que Flora pelos campos,

Nem dá de Apolo ao carro

Outro curso que Apolo.



Contemplação estéril e longínqua

Das coisas próximas, deixemos que ela

Olhe até não ver nada

Com seus cansados olhos.



Vê como Ceres é a mesma sempre

E como os louros campos intumesce

E os cala prás avenas

Dos agrados de Pã.



Vê como com seu jeito sempre antigo

Aprendido no orige azul dos deuses,

As ninfas não sossegam

Na sua dança eterna.



E como as heniadríades constantes

Murmuram pelos rumos das florestas

E atrasam o deus Pã.



Na atenção à sua flauta.



Não de outro modo mais divino ou menos

Deve aprazer-nos conduzir a vida,

Quer sob o ouro de Apolo

Ou a prata de Diana.



Quer troe Júpiter nos céus toldados.



Quer apedreje com as suas ondas

Netuno as planas praias

E os erguidos rochedos.



Do mesmo modo a vida é sempre a mesma.



Nós não vemos as Parcas acabarem-nos.



Por isso as esqueçamos

Como se não houvessem.



Colhendo flores ou ouvindo as fontes

A vida passa como se temêssemos.



Não nos vale pensarmos

No futuro sabido

Que aos nossos olhos tirará Apolo

E nos porá longe de Ceres e onde

Nenhum Pã cace à flauta

Nenhuma branca ninfa.



Só as horas serenas reservando

Por nossas, companheiros na malícia

De ir imitando os deuses

Até sentir-lhe a calma.



Venha depois com as suas cãs caídas

A velhice, que os deuses concederam

Que esta hora por ser sua

Não sofra de Saturno

Mas seja o templo onde sejamos deuses

Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios

Nem precisam de crentes

Os que de si o foram.



Dia Após Dia

Dia após dia a mesma vida é a mesma.



O que decorre, Lídia,

No que nós somos como em que não somos

Igualmente decorre.



Colhido, o fruto deperece; e cai

Nunca sendo colhido.



Igual é o fado, quer o procuremos,

Quer o 'speremos. Sorte

Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa

Forma alheio e invencível.



Do que Quero

Do que quero renego, se o querê-lo

Me pesa na vontade. Nada que haja

Vale que lhe concedamos

Uma atenção que doa.



Meu balde exponho à chuva, por ter água.



Minha vontade, assim, ao mundo exponho,

Recebo o que me é dado,

E o que falta não quero.



O que me é dado quero

Depois de dado, grato.



Nem quero mais que o dado

Ou que o tido desejo.



Domina ou Cala

Domina ou cala. Não te percas, dando

Aquilo que não tens.



Que vale o César que serias? Goza

Bastar-te o pouco que és.



Melhor te acolhe a vil choupana dada

Que o palácio devido.



Estás só. Ninguém o sabe.

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.



Mas finge sem fingimento.



Nada 'speres que em ti já não exista,

Cada um consigo é triste.



Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,

Sorte se a sorte é dada.



Este Seu Escasso Campo

Este, seu ‘scasso campo ora lavrando,

Ora solene, olhando-o com a vista

De quem a um filho olha, goza incerto

A não-pensada vida.



Das fingidas fronteiras a mudança

O arado lhe não tolhe, nem o empece

Per que concílios se o destino rege

Dos povos pacientes.



Pouco mais no presente do futuro

Que as ervas que arrancou, seguro vive

A antiga vida que não torna, e fica,

Filhos, diversa e sua.



É tão Suave

É tão suave a fuga deste dia,

Lídia, que não parece, que vivemos.



Sem dúvida que os deuses

Nos são gratos esta hora,

Em paga nobre desta fé que temos

Na exilada verdade dos seus corpos

Nos dão o alto prêmio

De nos deixarem ser

Convivas lúcidos da sua calma,

Herdeiros um momento do seu jeito

De viver toda a vida

Dentro dum só momento,

Dum só momento, Lídia, em que afastados

Das terrenas angústias recebemos

Olímpicas delícias

Dentro das nossas almas.



E um só momento nos sentimos deuses

Imortais pela calma que vestimos

E a altiva indiferença

Às coisas passageiras

Como quem guarda a c'roa da vitória

Estes fanados louros de um só dia

Guardemos para termos,

No futuro enrugado,

Perene à nossa vista a certa prova

De que um momento os deuses nos amaram

E nos deram uma hora

Não nossa, mas do Olimpo.



Feliz Aquele

Feliz aquele a quem a vida grata

Concedeu que dos deuses se lembrasse

E visse como eles

Estas terrenas coisas onde mora

Um reflexo mortal da imortal vida.



Feliz, que quando a hora tributária

Transpor seu átrio por que a Parca corte

O fio fiado até ao fim,

Gozar poderá o alto prêmio

De errar no Averno grato abrigo

Da convivência.



Mas aquele que quer Cristo antepor

Aos mais antigos Deuses que no Olimpo

Seguiram a Saturno —

O seu blasfemo ser abandonado

Na fria expiação — até que os Deuses

De quem se esqueceu deles se recordem —

Erra, sombra inquieta, incertamente,

Nem a viúva lhe põe na boca

O óbolo a Caronte grato,

E sobre o seu corpo insepulto

Não deita terra o viandante.



Felizes

Felizes, cujos corpos sob as árvores

Jazem na úmida terra,

Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem

Das doenças da lua.



Verta Eolo a caverna inteira sobre

O orbe esfarrapado,

Lance Netuno, em cheias mãos, ao alto

As ondas estoirando.



Tudo lhe é nada, e o próprio pegureiro

Que passa, finda a tarde,

Sob a árvore onde jaz quem foi a sombra

Imperfeita de um deus,

Não sabe que os seus passos vão cobrindo

O que podia ser,

Se a vida fosse sempre vida, a glória

De uma beleza eterna.



Flores

Flores que colho, ou deixo,

Vosso destino é o mesmo.



Via que sigo, chegas

Não sei aonde eu chego.



Nada somos que valha,

Somo-lo mais que em vão.



Frutos

Frutos, dão-os as árvores que vivem,

Não a iludida mente, que só se orna

Das flores lívidas

Do íntimo abismo.



Quantos reinos nos seres e nas cousas

Te não talhaste imaginário! Quantos,

Com a charrua,

Sonhos, cidades!

Ah, não consegues contra o adverso muito

Criar mais que propósitos frustrados!

Abdica e sê

Rei de ti mesmo.



Gozo Sonhado

Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.



Nós o que nos supomos nos fazemos,

Se com atenta mente

Resistirmos em crê-lo.



Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,

Nos seres e no fado me consumo.



Para mim crio tanto

Quanto para mim crio.



Fora de mim, alheio ao em que penso,

O Fado cumpre-se. Porém eu me cumpro

Segundo o âmbito breve

Do que de meu me é dado.



Inglória

Inglória é a vida, e inglório o conhecê-la.



Quantos, se pensam, não se reconhecem

Os que se conheceram!

A cada hora se muda não só a hora

Mas o que se crê nela, e a vida passa

Entre viver e ser.



Já Sobre a Fronte

Já sobre a fronte vã se me acinzenta

O cabelo do jovem que perdi.



Meus olhos brilham menos.



Já não tem jus a beijos minha boca.



Se me ainda amas, por amor não ames:

Traíras-me comigo.



Lenta, Descansa

Lenta, descansa a onda que a maré deixa.



Pesada cede. Tudo é sossegado.



Só o que é de homem se ouve.



Cresce a vinda da lua.



Nesta hora, Lídia ou Neera Ou Cloe,

Qualquer de vós me é estranha, que me inclino

Para o segredo dito

Pelo silêncio incerto.



Tomo nas mãos, como caveira, ou chave

De supérfluo sepulcro, o meu destino,

E ignaro o aborreço

Sem coração que o sinta.



Lídia

Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros

Onde que quer que estejamos.



Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros

Onde quer que moremos, Tudo é alheio

Nem fala língua nossa.



Façamos de nós mesmos o retiro

Onde esconder-nos, tímidos do insulto

Do tumulto do mundo.



Que quer o amor mais que não ser dos outros?

Como um segredo dito nos mistérios,

Seja sacro por nosso.



Melhor Destino

Melhor destino que o de conhecer-se

Não frui quem mente frui. Antes, sabendo,

Ser nada, que ignorando:

Nada dentro de nada.



Se não houver em mim poder que vença

As Parcas três e as moles do futuro,

Já me dêem os deuses o poder de sabê-lo;

E a beleza, incriável por meu sestro,

Eu goze externa e dada, repetida

Em meus passivos olhos,

Lagos que a morte seca.



Mestre

Mestre, são plácidas

Todas as horas

Que nós perdemos,

Se no perdê-las,

Qual numa jarra,

Nós pomos flores.



Não há tristezas

Nem alegrias

Na nossa vida.



Assim saibamos,

Sábios incautos,

Não a viver,

Mas decorrê-la,

Tranqüilos, plácidos,

Lendo as crianças

Por nossas mestras,

E os olhos cheios

De Natureza ...



À beira-rio,

À beira-estrada,

Conforme calha,

Sempre no mesmo

Leve descanso

De estar vivendo.



O tempo passa,

Não nos diz nada.



Envelhecemos.



Saibamos, quase

Maliciosos,

Sentir-nos ir.



Não vale a pena

Fazer um gesto.



Não se resiste

Ao deus atroz

Que os próprios filhos

Devora sempre.



Colhamos flores.



Molhemos leves

As nossas mãos

Nos rios calmos,

Para aprendermos

Calma também.



Girassóis sempre

Fitando o sol,

Da vida iremos

Tranqüilos,tendo

Nem o remorso

De ter vivido.



Meu Gesto

Meu gesto que destrói

A mole das formigas,

Tomá-lo-ão elas por de um ser divino;

Mas eu não sou divino para mim.



Assim talvez os deuses

Para si o não sejam,

E só de serem do que nós maiores

Tirem o serem deuses para nós.



Seja qual for o certo,

Mesmo para com esses

Que cremos serem deuses, não sejamos

Inteiros numa fé talvez sem causa.



Nada Fica

Nada fica de nada. Nada somos.



Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos

Da irrespirável treva que nos pese

Da humilde terra imposta,

Cadáveres adiados que procriam.



Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —

Tudo tem cova sua. Se nós, carnes

A que um íntimo sol dá sangue, temos

Poente, por que não elas?

Somos contos contando contos, nada.



Não a Ti



Não a Ti, Cristo, odeio ou te não quero.

Em ti como nos outros creio deuses mais velhos.



Só te tenho por não mais nem menos

Do que eles, mas mais novo apenas.



Odeio-os sim, e a esses com calma aborreço,

Que te querem acima dos outros teus iguais deuses.



Quero-te onde tu stás, nem mais alto

Nem mais baixo que eles, tu apenas.



Deus triste, preciso talvez porque nenhum havia

Como tu, um a mais no Panteão e no culto,

Nada mais, nem mais alto nem mais puro

Porque para tudo havia deuses, menos tu.



Cura tu, idólatra exclusivo de Cristo, que a vida

É múltipla e todos os dias são diferentes dos outros,

E só sendo múltiplos como eles

'Staremos com a verdade e sós.



Não a Ti, Cristo



Não a Ti, Cristo, odeio ou menosprezo

Que aos outros deuses que te precederam

Na memória dos homens.



Nem mais nem menos és, mas outro deus.



No Panteão faltavas. Pois que vieste

No Panteão o teu lugar ocupa,

Mas cuida não procures

Usurpar o que aos outros é devido.



Teu vulto triste e comovido sobre

A 'steril dor da humanidade antiga

Sim, nova pulcritude

Trouxe ao antigo Panteão incerto.



Mas que os teus crentes te não ergam sobre

outros, antigos deuses que dataram

Por filhos de Saturno

De mais perto da origem igual das coisas.



E melhores memórias recolheram

Do primitivo caos e da Noite

Onde os deuses não são

Mais que as estrelas súbditas do Fado.



Tu não és mais que um deus a mais no eterno

Não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo.



Panteão que preside

À nossa vida incerta.



Nem maior nem menor que os novos deuses,

Tua sombria forma dolorida

Trouxe algo que faltava

Ao número dos divos.



Por isso reina a par de outros no Olimpo,

Ou pela triste terra se quiseres

Vai enxugar o pranto

Dos humanos que sofrem.



Não venham, porém, 'stultos teus cultores

Em teu nome vedar o eterno culto

Das presenças maiores

Ou parceiras da tua.



A esses, sim, do âmago eu odeio

Do crente peito, e a esses eu não sigo,

Supersticiosos leigos

Na ciência dos deuses.



Ah, aumentai, não combatendo nunca.



Enriquecei o Olimpo, aos deuses dando

Cada vez maior força

P'lo número maior.



Basta os males que o Fado as Parcas fez

Por seu intuito natural fazerem.



Nós homens nos façamos

Unidos pelos deuses.



Não Canto

Não canto a noite porque no meu canto

O sol que canto acabara em noite.



Não ignoro o que esqueço.



Canto por esquecê-lo.



Pudesse eu suspender, inda que em sonho,

O Apolíneo curso, e conhecer-me,

Inda que louco, gêmeo

De uma hora imperecível!



Não Consentem

Não consentem os deuses mais que a vida.



Tudo pois refusemos, que nos alce

A irrespiráveis píncaros,

Perenes sem ter flores.



Só de aceitar tenhamos a ciência,

E, enquanto bate o sangue em nossas fontes,

Nem se engelha conosco

O mesmo amor, duremos,

Como vidros, às luzes transparentes

E deixando escorrer a chuva triste,

Só mornos ao sol quente,

E refletindo um pouco.



Não Queiras

Não queiras, Lídia, edificar no spaço

Que figuras futuro, ou prometer-te

Amanhã. Cumpre-te hoje, não 'sperando.



Tu mesma és tua vida.



Não te destines, que não és futura.



Quem sabe se, entre a taça que esvazias,

E ela de novo enchida, não te a sorte

Interpõe o abismo?

Não Quero



Não quero as oferendas

Com que fingis, sinceros

Dar-me os dons que me dais.



Dais-me o que perderei,

Chorando-o, duas vezes,

Por vosso e meu, perdido.



Antes mo prometais

Sem mo dardes, que a perda

Será mais na 'sperança

Que na recordação.



Não terei mais desgosto

Que o contínuo da vida,

Vendo que com os dias

Tarda o que 'spera, e é nada.



Não Quero

Não quero, Cloe, teu amor, que oprime

Porque me exige amor. Quero ser livre.



A 'sperança é um dever do sentimento.



Não Quero



Não quero recordar nem conhecer-me

Somos demais se olhamos em quem somos.



Ignorar que vivemos

Cumpre bastante a vida.



Tanto quanto vivemos, vive a hora

Em que vivemos, igualmente morta

Quando passa conosco,

Que passamos com ela.



Se sabê-lo não serve de sabê-lo

(Pois sem poder que vale conhecermos?)

Melhor vida é a vida

Que dura sem medir-se.



Não Só Vinho

Não só vinho, mas nele o olvido, deito

Na taça: serei ledo, porque a dita

É ignara. Quem, lembrando

Ou prevendo, sorrira?

Dos brutos, não a vida, senão a alma,

Consigamos, pensando; recolhidos

No impalpável destino

Que não 'spera nem lembra.



Com mão mortal elevo à mortal boca

Em frágil taça o passageiro vinho,

Baços os olhos feitos

Para deixar de ver.



Não só quem nos odeia ou nos inveja

Não só quem nos odeia ou nos inveja

Nos limita e oprime; quem nos ama

Não menos nos limita.



Que os deuses me concedam que, despido

De afetos, tenha a fria liberdade

Dos píncaros sem nada.



Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada

É livre; quem não tem, e não deseja,

Homem, é igual aos deuses.



Não Sei



Não sei de quem recordo meu passado

Que outrem fui quando o fui, nem me conheço

Como sentindo com minha alma aquela

Alma que a sentir lembro.



De dia a outro nos desamparamos.



Nada de verdadeiro a nós nos une

Somos quem somos, e quem fomos foi

Coisa vista por dentro.



Não Sei se é Amor que Tens



Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,

O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta.



Já que o não sou por tempo,

Seja eu jovem por erro.



Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.



Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva

É verdadeira. Aceito,

Cerro olhos: é bastante.



Que mais quero?



Não Tenhas

Não tenhas nada nas mãos

Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem

Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos

Nada te cairá.



Que trono te querem dar

Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem

Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem

Da estatura da sombra

Que serás quando fores

Na noite e ao fim da estrada.



Colhe as flores mas larga-as,

Das mãos mal as olhaste.



Senta-te ao sol. Abdica

E sê rei de ti próprio.



Nem da Erva

Nem da serva humilde se o Destino esquece.



Saiba a lei o que vive.



De sua natureza murcham rosas

E prazeres se acabam.



Quem nos conhece, amigo, tais quais fomos?

Nem nós os conhecemos.



Negue-me

Negue-me tudo a sorte, menos vê-la,

Que eu, 'stóico sem dureza,

Na sentença gravada do Destino

Quero gozar as letras.



Ninguém a Outro Ama

Ninguém a outro ama, senão que ama

O que de si há nele, ou é suposto.



Nada te pese que não te amem. Sentem-te

Quem és, e és estrangeiro.



Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.



Firme contigo, sofrerás avaro

De penas.



Ninguém



Ninguém, na vasta selva virgem

Do mundo inumerável, finalmente

Vê o Deus que conhece.



Só o que a brisa traz se ouve na brisa

O que pensamos, seja amor ou deuses,

Passa, porque passamos.



No Breve Número

No breve número de doze meses

O ano passa, e breves são os anos,

Poucos a vida dura.



Que são doze ou sessenta na floresta

Dos números, e quanto pouco falta

Para o fim do futuro!

Dois terços já, tão rápido, do curso

Que me é imposto correr descendo, passo.



Apresso, e breve acabo.



Dado em declive deixo, e invito apresso

O moribundo passo.

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