terça-feira, 6 de novembro de 2012

A INVENCÍVEL ARMADA ESPANHOLA

Recuemos...


ARTIGOS DO SEMANÁRIO REGIONAL TORREJANO, "O ALMONDA". por Carlos Leitão Carreira



Quarta-feira, Maio 24, 2006

- A “Invencível Armada” -





No Verão de 1588, dava-se a maior batalha naval alguma vez assistida desde a época clássica. Um conjunto de 130 navios de guerra entrava em águas inglesas, a mando de Filipe II de Espanha, com o objectivo de depor a “rainha herege” e restituir a coroa britânica à Igreja Católica. Assinalam-se, agora, 418 anos da sua partida desde o porto de Lisboa.



É discutível até que ponto Portugal se pode ou não integrar nesta expedição. Na verdade, haviam oito anos desde a união dos dois tronos ibéricos sob o comando do rei de Espanha. Desde 1580 que Portugal deixara de existir enquanto reino soberano e dono dos seus desígnios, agora entregues às mãos dos administradores e burocratas espanhóis. Assim, oficiais, marinheiros, mercadores, artesãos, etc., todos passam ao serviço de D. Filipe II de Espanha, o I de Portugal. Da mesma forma, também seus tratados e alianças são quebrados e vilipendiados, em benefício das novas fidelidades. Recuemos…



Unificada a Ibéria, pretende este rei alastrar os seus domínios e influência pela Europa e mundo conhecido. Estabelecidas alianças com outros reinos europeus e garantido o incondicional apoio do Papa, havia, antes de mais, que garantir o completo domínio das rotas marítimas e relações comerciais inerentes, sua principal fonte de riqueza. Contudo, subsistia nessa altura um importante entrave a esse plano, a pirataria inglesa. Ao Norte, a Inglaterra vinha, internamente, vivendo tempos muito conturbados. Um tempo em que se acendiam já fogueiras na rua, para queimar os apologistas do Protestantismo. Estes autos de fé e outras perseguições, foram apoiados e instigados por Roma, como forma de luta contra a deriva anti-católica que grassava na Inglaterra. Desde Henrique VIII que o reino estava de relações cortadas com o Vaticano, por questões religiosas e políticas, contudo, seriam as suas duas filhas a protagonizar o referido período de conturbação social na Inglaterra quinhentista. D. Maria I, católica, ao contrário de seu pai, reabilita as relações com o Papa, declarando-lhe fidelidade e perseguindo os defensores do protestantismo no seu reino. Contudo, este reinado não durará muito, encurtado por uma doença mortal que leva a rainha sem que deixasse descendência. Suceder-lhe-ia, assim, a irmã mais nova, Elisabete, filha de segundo casamento e protestante como seu pai. Este novo reinado reiniciará, assim, o corte nas relações com o Vaticano, bem como com todos os reinos fiéis ao Papa. Ora, entre esses reinos fiéis a Roma, encontrava-se a poderosa Espanha, dona dos mares e principal difusora do catolicismo no mundo.





Elisabete I de Inglaterra.



Então, e em conluio com o Papa, o rei de Espanha inicia um plano para substituir Elisabete I por Maria I da Escócia, católica e rebelada contra Inglaterra, mobilizando a aristocracia inglesa católica. O facto de, em 1587 e por ordem de Elisabete, Maria I e outros destacados católicos terem sido executados, leva a que o rei espanhol mobilize todos os católicos da Europa contra a “rainha herege”. Trata-se de uma sucessão de revezes que levam D. Filipe II a tomar esta decisão. Acumulando com a questão religiosa da permanente desobediência de Inglaterra ao Papa, a Espanha sofria então pesadas perdas ao longo das suas rotas comerciais no mar. Na verdade, Elisabete I dava cobertura à acção de piratas e corsários ingleses, que infestavam o Atlântico e o Pacífico, em busca de galeões espanhóis carregados de riquezas variadas, que pilhavam sucessivamente. A própria coroa inglesa reservava para si parte importante desses roubos, apesar de receber as críticas e apelos dos espanhóis contra esses actos.





Rei D. Filipe II de Espanha.



É então que o rei de Espanha decide atacar Inglaterra, tomar o reino e atribuir-lhe um monarca católico. Para tal, começa a reunir uma armada de fortes e pesados navios, chegando a um total de 130 unidades, entre 22 galeões e 108 navios mercantes, que rumam ao estuário do Tejo, ao largo de Lisboa. Aí, e a despeito da antiga aliança entre Portugal e Inglaterra, juntam-se as embarcações portuguesas, num total de 31, sendo que o próprio comandante da armada, o Duque de Medina Sidónia, se deslocaria no galeão português S. Martinho. Da mesma forma, mobiliza um total de cerca de 30 mil homens, prontos a integrar a, então chamada, “Invencível Armada”. A 28 de Maio (1588), levantam âncora os primeiros navios, partindo de Lisboa rumo ao Canal da Mancha, onde se haveriam de encontrar com a frota inglesa. A partir de 20 de Julho dão-se as primeiras refregas ao largo de Inglaterra. Os ingleses, detentores de uma frota com cerca de 100 unidades, menores que as espanholas e nem todas preparadas para combate, adoptam uma estratégia de prudência, mantendo-se à distância e procurando envolver a armada espanhola, que se dispunha em meia-lua. Lideradas pelo famoso corsário, Francis Drake, as embarcações inglesas surgem por detrás, mais velozes e ligeiras, atacando e retirando-se, numa estratégia que obriga os espanhóis a dispersar a armada, desorganizando-se.







Tendo os maiores galeões espanhóis de se dirigir ao porto de Calais, para arranjos, são surpreendidos por uma ideia do referido corsário inglês. Um inaudito episódio naval que arrumaria para sempre as aspirações espanholas ao domínio dos mares, e marcando, por outro lado, o início de uma ascensão da armada britânica que culminará nos séculos seguintes com a construção de um verdadeiro império. Sucede que, na calada da noite de 27 de Julho, encontrando-se esses pesados navios alinhados no cais, é ordenado o lançamento de oito “bulotes” em direcção aos mesmos. Essas pequenas embarcações, apenas contendo o seu piloto, estavam atestadas de explosivos e todo o tipo de combustíveis, que, levadas velozmente até ao centro do cais, chocam entre os navios espanhóis, explodindo com tudo em redor. É tão grande o alarido e a mortandade, que, aos espanhóis, resta uma confusa debandada para Sul, num total de 53 navios que Lisboa acolhe, alguns dias depois.

posted by Recuemos... @ Quarta-feira, Maio 24, 2006



3 Comments:

At 11:45 p.m., CVJ said…



Obrigado pela visita e pelo link.

É bom haver também páginas mais eruditas e com conteúdo histórico. Isso exige esforço, tempo, dedicação.

Só posso desejar as maiores felicidades.

Passarei certamente mais vezes à procura de novos documentos históricos.

Abraço

Leonel





At 6:45 a.m., Anónimo said…



Vc esqueceu de falar das grandes e misteriosas tempestades, que foram as verdadeiras responsáveis pelo destroçamento da armada.





At 4:26 a.m., Anónimo said…



- Tudo bem que houve a tempestade e destruiu parte do que sobrou dos navios espanhóis, mas não é motivo pra tentar justificar a derrota da "invencível armada", melhor dizendo, a derrota da Espanha e a decepção de Filipe II, com sua arrogância e intolerência religiosa apoiada pelo papa.

- Os ingleses tiveram melhor estratégia de guerra, bem como conheciam bem os seus mares.





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